607: A Fundação Insegura da Doutrina de 1914

Jan S. Haugland

Tradução do Irmão Brasileiro

Índice


Introdução

A Sociedade Torre de Vigia (daqui em diante: STV) tem provido o que pode ser chamado de uma armação teológica para as Testemunhas de Jeová. Como nós veremos, esta armação baseia-se inteiramente na data de 1914. Atualmente, as Testemunhas de Jeová (TJ's) asseguram que em 1914, Jesus Cristo foi colocado num trono nos céus, e começou a "subjugar no meio dos seus inimigos" (Salmos 110:2). O fim do mundo começou naquele ano.

Até ao número de 1º de Novembro de 1995 de A Sentinela, a STV também argumentava que alguns daqueles que foram testemunhas oculares dos eventos de 1914 estariam também vivos para ver o fim. Como esta doutrina agora está abandonada, a importância de 1914 foi reduzida. Não obstante, um bom número de doutrinas estão construídas na data de 1914:

  • A STV alega que a liderança das TJ's, os tão chamados "ungidos", foram selecionados por Cristo como seu único canal de comunicação com a humanidade, e que isto aconteceu em 1919. Isto é baseado na premissa que Cristo retornou em 1914, e fez uma inspeção nos grupos cristãos e 3 anos e meio depois, mandou a liderança da STV para o "cativo babilônico" (na verdade, prisão) e então finalmente os selecionou em 1919. Sem 1914, a STV não tem nenhuma posição relativa a Cristo.
  • TJ's alegam que apenas elas cumprem Mateus 24:14 por proclamar as "boas novas" a todo o mundo no nosso tempo. Estas "boas novas" são que Cristo começou a reinar em 1914, e que o fim virá "breve". Se isto é falso, as Testemunhas de Jeová estão pregando um falso evangelho (boas novas) (Gálatas 1:6-9).
  • As interpretações das TJ's da maior parte da Bíblia estão baseadas na idéia da presença invisível de Cristo desde 1914. Se isto estiver errado, sua interpretação é falsa, e qualquer alegação de ser dirigido pela vontade de Deus será provada horrivelmente falsa.
  • Não há nenhuma evidência que nosso tempo tenha qualquer profecia bíblica importante se as alegações sobre 1914 estiverem erradas.
  • Até doutrinas como o sistema de "duas classes", que é uma interpretação única das Testemunhas de Jeová, estão dependentes da data de 1914. A STV alega que o "ajuntamento" da "grande multidão" (não-unigidos vivendo na terra) começou em 1935, e que isto aconteceu depois que o "tempo do fim" começou. Então, sem esta cronologia, esta doutrina estranha também cai.

As TJ's alegam que o ano de 1914 foi predito por Charles Taze Russell, o fundador do movimento, desde 1870, e isto é usado como a maior evidência de que Russell era dirigido por Deus.


Tempos dos Gentios: A História de uma Doutrina

É verdade que Russell tinha 1914 como uma parte importante de sua cronologia. Ele predisse o fim do mundo e o pleno estabelecimento do reino de Deus para esta data. Isto não foi o que aconteceu, mas ainda assim as TJ's argumentam que algo importante aconteceu quando a Primeira Guerra Mundial começou.

Que evidência cronológica Charles Taze Russell usou? Seu argumento cronológico foi completamente emprestado do segundo-adventista Nelson Barbour. Eles tinham uma longa lista de datas, uma das quais era 1914.

Nelson Barbour construiu todos os seus argumentos sobre sua completa cronologia bíblica, a qual colocava a criação de Adão em 4127 AEC. Barbour (e Russell) pensavam que versículos bíblicos diferentes contendo números eram mensagens "codificadas" de Deus sobre as datas de vários eventos.

Um destas passagens era Daniel capítulo 4. O profeta Daniel aqui diz ao rei Nabucodonosor:

Daniel 4:24, 25: "E expulsar-te-ão de entre os homens e tua morada virá a ser com os animais do campo, e vegetação é o que te darão para comer, como a touros; e tu mesmo virás a ser molhado pelo orvalho dos céus, e passarão mesmo sete tempos sobre ti, até saberes que o Altíssimo é Governante no reino da humanidade e que ele o dá a quem quiser." [NWT]

Barbour de alguma forma (e as Testemunhas de Jeová hoje) interpretam que isto significa mais do que anos (ou "tempos") de insanidade para Nabucodonosor. A expressão em português "tempos" também é usada em traduções de Revelação 12:6, 14. Aqui ela pode ser interpretada como se três tempos e meio sejam iguais a 1260 dias. Um tempo é definido como 360 dias, e sete tempos serão 2520 dias. A STV então apela para a regra de "ano-dia", baseada em Números 14:34 e Ezequiel 4:6 (que interessantemente não é mais aplicado pela STV para a interpretação de Revelação 12!) para chegar a 2520 anos.

Mas o que durou 2520 anos? Barbour, sem nenhuma evidência, aplicou isto ao período das palavras de Jesus sobre a queda de Jerusalém, cumprida em 70 EC:

Lucas 21:24: "e cairão pelo fio da espada e serão levados cativos para todas as nações; e Jerusalém será pisada pelas nações, até se cumprirem os tempos designados das nações"

Apesar do fato de que as palavras de Jesus "será" nos informa que o início destes "tempos das nações" ou "tempos dos gentios" (maioria das traduções) seria quando Jerusalém cairia no futuro, Barbour argumentou que estes "tempos dos gentios" começaram quando Jerusalém caiu séculos antes, no 19º ano do reinado de Nabucodonosor (Jeremias 52:12). Quando foi isso?

Barbour disse que Jerusalém foi destruída em 606 AC.

Contando 2520 anos desde 606 AC nos dá 1914, certo?

Errado!

Barbour era, como Russell, muito ignorante a respeito de cronologia e história. Quando o calendário que usamos (juliano, depois melhorado pelo gregoriano) foi criado, não havia ano zero, então 1 AEC foi seguido de 1 EC. 2520 anos de 606 AEC nos daria 1915, o qual Russell de fato usou ao invés de 1914 por alguns anos. Mas então a Primeira Guerra Mundial começou em 1914. Russell tinha perdito algo para 1914, e algo tinha de fato acontecido, então Russell pensou que ele tinha estado certo. Russell então "esqueceu" do ano-zero, e mudou a cronologia para 1914 novamente.

Mas cedo ou tarde isto tinha de ser corrigido. Como? Por mover a destruição de Jerusalém um ano para trás, de 606 para 607 AC. Isto é fácil de fazer no papel.

O livro da Sociedade Torre de Vigia Revelação -- Seu Grandioso Clímax Está Próximo! (1988) cita uma brochura antiga de Barbour na página 105:

"'Foi em 606 AC que terminou o reino de Deus, que se removeu o diadema e toda a terra foi entregue aos gentios. 2.520 anos contados desde 606 AC terminarão em AD 1914.' -- The Three Worlds, publicado em 1877, página 83."

Uma nota de rodapé nos informa:

"Providencialmente, estes estudantes da Bíblia não se haviam dado conta de que não existe ano zero entre "AC" e "EC" (ou "AD"). Mais tarde, quando uma pesquisa feita tornou necessário ajustar 606 AC para 607 AEC, eliminou-se também o ano zero, de modo que ainda valia a predição de "AD 1914". -- Veja "A Verdade Vos Tornará Livres", publicado em português em 1946 e distribuído pela Sociedade Torre de Vigia, página 242."

Não é isto impressionante? "Providencialmente" -- pela direção de Deus -- eles tinham cometido dois erros que se cancelavam um ao outro!

Que nova "pesquisa" mudou esta data? Nenhuma, é claro. Se você examinar os livros da STV, você não encontrará evidência alguma para esta nova data.

Esta mudança era necessária para manter a data de 1914, sobre a qual toda a superestrutura doutrinária da Torre de Vigia está baseada.

O fato é que Jerusalém caiu para os Babilônios em 587 AC, não em 607 AC. A ignorância de Barbour e Russell em cronologia e história deu à STV um tremendo problema. The Encyclopaedia Britannica, uma fonte frequentemente usada pela Soceidade, diz:

"Em 587/586 AC a cidade e o templo foram completamente destruídos por Nabucodonosor, e o cativeiro começou. Este terminou em 538 AC quando Ciro II, o Grande, da Pérsia, que tinha derrotado Babilônia, permitiu aos judeus, liderados por Zerubabel, da linhagem Davidica, retornarem a Jerusalém." (versão on-line)

É claro, a STV admite que eles estão bem sozinhos no mundo dizendo que Jerusalém caiu em 607 AC. Eles argumentam que isto é assim porque somente eles realmente aderem à Bíblia acima de fontes "seculares".

A STV, no livro "Venha o Teu Reino" (1981), página 187, diz:

"Os cristãos, que crêem na Bíblia, têm vez após vez encontrado que a palavra dela suporta a prova de muita crítica e tem-se mostrado exata e fidedigna. Reconhecem que, sendo a Palavra inspirada de Deus, ela pode ser usada como medidor na avaliação da história e dos conceitos seculares."

Isto pode soar muito belo para um cristão, mas é isto verdade? Será que a Sociedade Torre de Vigia realmente acredita que a Bíblia é "exata e fidedigna"? Será que eles usam a Bíblia como medidor na avaliação?


Será Que a Bíblia Ensina Que Jerusalém Caiu em 607 AC?

A Bíblia não contém nenhuma data absoluta, visto que o nosso calendário ainda não tinha sido inventado quando qualquer parte do Velho Testamento foi escrito. Não é possível, portanto, datar eventos diretamente. Porém, a Bíblia provê muitas datas relativas.

Um exemplo pode ser encontrado em:

Daniel 1:1: "No terceiro ano do reinado de Jeoiaquim, rei de Judá, chegou a Jerusalém Nabucodonosor, rei de Babilônia, e passou a sitiá-la."

Então segue um relato de como as coisas sagradas do templo foram levadas para Babilônia, e também alguns Israelitas proeminentes -- entre eles Daniel -- foram levados cativos. Jerusalém não foi destruída neste momento. Em Daniel 2:1, nós encontramos um evento igualmente datado no 2º ano de Nabucodonosor. Logicamente, isto significa que a deportação de Daniel e outros ocorreu no ano de ascensão (ou, teoricamente, o primeiro ano, mas o versículo 5 do capítulo 1 mostra o contrário, visto que três anos de educação estão entre Daniel 1:1 e 2:1) do reinado de Nabucodonosor.

Esta era a forma em que os eventos eram datados nos tempos Bíblicos. Se nós pudermos datar os reinados dos Reis, neste caso Jeoiaquim e Nabucodonosor, nós poderemos datar os eventos.

Qualquer datação, no entanto, requer alguma evidência não-bíblica independente. Apenas datas relativas podem ser retiradas da própria Bíblia. Posteriormente veremos como estas datas absolutas são obtidas.


Será Que a Sociedade Torre de Vigia Defende a Cronologia Bíblica?

Como vimos, a STV alega que eles seguem a Bíblia e a defendem contra o criticismo. É isto verdade? Algumas vezes, mas não neste caso.

Nós notamos que Daniel 1:1 disse que Nabucodonosor levou prisioneiros de Jerusalém no 3º ano de Jeoiaquim (sistema de ano de ascensão).

De acordo com a cronologia da Torre de Vigia, isto não é possível.

A enciclopédia bíblica da Torre de Vigia, Estudo Perspicaz das Escrituras, Volume 2 (1991), página 489, afirma:

"Evidentemente, é a este terceiro ano de Jeoiaquim como rei vassalo de Babilônia que Daniel se refere em Daniel 1:1. Não podia ser o terceiro ano do reinado de 11 anos de Jeoiaquim sobre Judá, pois, naquele tempo, Jeoiaquim não era vassalo de Babilônia, mas sim do Faraó Neco, do Egito."

"Evidentemente," dizem eles. Uma pessoa não versada na Bíblia pode achar possível que Daniel se referira a "o terceiro ano" desde um evento específico do reinado do rei. Mas quando nós sabemos que esta era a forma em que o tempo era contado naqueles dias, nós entendemos quão extremamente improvável isto é. Para usar um exemplo: É provável que qualquer pessoa vivendo nos nossos dias possa datar o começo de Segunda Guerra Mundial para 1869, simplesmente porque ele achou que a queda de Jerusalém para os romanos era um evento mais interessante para iniciar o começo de nosso calendário? Se Daniel tivesse feito tal declaração estranha, ele teria sabido que certamente seria mal entendido. Também, Daniel, como muitos outros escritores da Bíblia, usa esta forma de datação freqüentemente (Daniel 7:1; 8:1; 9:1; 10:1; 11:1).

Daniel 2:1 tem o profeta interpretando os sonhos de Nabucodonosor no seu 2º ano. Novamente, a STV tem apelar para uma acrobacia, quando o próprio texto diz "no segundo ano do reinado de Nabucodonosor", o que é algo muito claro.

Esta recusa de pôr as escrituras à frente do dogma se torna especialmente embaraçosa no livro "Venha o Teu Reino", o qual, no seu apêndice, tenta refutar a crítica contra a cronologia da STV. Na página 188, eles tentam refutar o valor das crônicas babilônicas de Beroso:

"Embora Beroso afirme que Nabucodonosor levou cativos judaicos no seu ano de ascensão, não há nenhum documento cuneiforme que confirme isso."

Não é espantoso ver que apenas alguns parágrafos depois de a STV se anunciar como o único defensor da Bíblia, eles propositadamente falham em reconhecer que a própria Bíblia, em Daniel, apóia Beroso contra a cronologia da STV?

Estes não são certamente os únicos exemplos. O profeta Zacarias desfere o golpe mais forte contra a cronologia da STV:

Zacarias 1:7: "No vigésimo quarto dia do décimo primeiro mês, que é o mês de sebate, no segundo ano de Dario, veio a haver a palavra de Jeová para Zacarias, filho de Berequias, filho de Ido, o profeta."

Desta vez, a STV concorda com todas as fontes disponíveis que o evento deve ser datado em fevereiro de 519 AC. Afinal de contas, a data de 607 AC da STV usa o reinado de Ciro como um "ponto de âncora", de modo que seria tolice negar isto.

O que o profeta Zacarias vê e ouve?

Zacarias 1:12: "De modo que respondeu o anjo de Jeová e disse: 'Ó Jeová dos exércitos, até quando não terão misericórdia com Jerusalém e com as cidades de Judá, que verberaste por estes setenta anos?'"

Sim, durante 70 anos Deus tinha denunciado as cidades de Judá. Isto faz-nos recuar a 589 AC. De acordo com cronologia a Sociedade, nada de significante aconteceu neste ano. Na cronologia estabelecida, este era o ano em que Nabucodonosor começou o cerco a Jerusalém (2 Reis 25:1; Ezequiel 24:1, 2; Jeremias 52:4).

Além disso, teria sido sem sentido para este anjo dizer que as cidades tinham sido denunciadas durante "setenta anos" se este período tivesse começado dezoito anos depois da completa destruição da capital! Por outro lado, se este anjo estivesse falando sobre um período de setenta anos de 607 a 537 -- como uma TJ argumentará sem nenhuma dúvida -- por que o anjo perguntaria "até quando"? Estas mesmas palavras demonstram que neste ponto, o período de denúncia ainda não tinha terminado. E visto que ainda continuava, deve ter começado com um evento importante em 589 AC.

Como se isto não fosse o bastante, Zacarias depois desfere um golpe ainda mais fatal para a cronologia da Sociedade Torre de Vigia:

Zacarias 7:1-5: "Além disso, sucedeu no quarto ano de Dario, o rei, que veio a haver a palavra de Jeová para Zacarias, no quarto [dia] do nono mês, [quer dizer,] em quisleu. E Betel passou a enviar Sarezer e Regem-Meleque, e seus homens, para abrandar a face de Jeová, dizendo aos sacerdotes que pertenciam à casa de Jeová dos exércitos, e aos profetas, sim, dizendo: 'Chorarei no quinto mês, observando abstinência, assim como fiz, oh!, por tantos anos?'. E continuou a vir a haver para mim a palavra de Jeová dos exércitos, dizendo: 'Dize a todo o povo da terra e aos sacerdotes: 'Quando jejuastes e houve lamentação no quinto [mês] e no sétimo [mês], e isto por setenta anos, jejuastes realmente para mim, sim, para mim?'"

A evidência cronológica nestes versículos é surpreendente e dá uma riqueza de informação. Até mesmo a literatura da STV tem que concordar que nestes eventos, claramente marcados na Bíblia, os judeus estão lamentando e jejuando. Eles estavam jejuando no quinto mês "a fim de comemorar que naquele dia Nebuzaradã, chefe da guarda pessoal de Nabucodonosor, depois de dois dias de inspeção, havia queimado a cidade de Jerusalém e seu templo", como a STV declarou no seu livro O Paraíso Restabelecido Para a Humanidade -- Pela Teocracia!, na página 235. Eles também jejuaram no sétimo mês "para comemorar o assassinato do Governador Gedalias, que era da casa real do Rei Davi, e a quem Nabucodonosor constituíra governador do país, para os judeus pobres que se permitiu que permanecessem depois da destruição de Jerusalém." (O Paraíso Restabelecido Para a Humanidade -- Pela Teocracia!, 1974, pp. 235, 236)

Isto deixa a STV com um problema óbvio, visto que eles alegam que isto aconteceu em 607 AC. Novembro de 518 AC, no 4º ano de Dario, quando Zacarias teve esta visão, está 90 anos depois de 607 AC. A STV concorda que os setenta anos de lamentação começaram quando Jerusalém foi destruída. O texto bíblico acima mostra tão claramente quanto qualquer outro texto possa fazer, que os setenta anos correram até o ano 518 AC. Os Israelitas perguntaram se deviam continuar este jejum. Se eles tivessem parado vinte anos mais cedo, esta pergunta não faria sentido. Também, em Zacarias 1:12, os setenta anos foram chamados "estes setenta anos" ao invés de "aqueles setenta anos" que seria a palavra escolhida se eles tivessem terminado vinte anos antes (em Zacarias 7:5 RSV diz "durante estes setenta anos", NIV diz "durante os últimos 70 anos").

Como a STV responde a esta séria objeção contra sua cronologia? Com respeito ao anjo em Zacarias capítulo 1, eles dizem:

"Portanto, queria aquele anjo de Jeová dizer que aqueles setenta anos ainda não haviam terminado ou que acabavam de terminar? Historicamente, não podia ser assim." (O Paraíso Restabelecido Para a Humanidade -- Pela Teocracia!, 1974, p. 131; o grifo é nosso)

Sim, realmente! Todo historiador e todo comentador da Bíblia, apoiados por milhares de documentos cuneiformes, documentos antigos e inscrições, afirmam que 586/7 AC é a data correta para a queda de Jerusalém. Agora, quando o próprio Deus e o anjo de Deus dizem a mesma coisa pelo profeta Zacarias, a Sociedade Torre de Vigia declara ousadamente que "historicamente, não podia ser assim".

Não devem ser necessários mais exemplos para demonstrar que a STV não apóia a Bíblia.

Não obstante, vamos examinar os argumentos usados pela STV para estabelecer a data de 607 AC.


Os Setenta Anos Para Babilônia

Para contrabalançar a riqueza de evidência contra a cronologia deles, a STV apela para alguns textos biblicos. "Venha o Teu Reino", página 188, diz:

"O profeta Jeremias predisse que os babilônios destruiriam Jerusalém, e transformariam a cidade e o país numa desolação. (Jeremias 25:8, 9) Ele acrescentou: "E toda esta terra terá de tornar-se um lugar devastado, um assombro, e estas nações terão de servir ao rei de Babilônia por setenta anos." (Jeremias 25:11) Os 70 anos expiraram quando Ciro, o Grande, no seu primeiro ano, libertou os judeus e estes voltaram à sua pátria. (2 Crônicas 36:17-23) Cremos que a leitura mais direta de Jeremias 25:11 e de outros textos é que os 70 anos contam desde quando os babilônios destruíram Jerusalém e deixaram a terra de Judá desolada."

Os 70 anos de Jeremias estão aqui completamente aplicados ao período desde a destruição de Jerusalém por Nabucodonosor até ser permitido aos judeus voltar de Babilônia para casa. A queda de Babilônia para Ciro foi em 539 AC. Isto não está em questão. A STV argumenta que os judeus voltaram para casa em 537 AC. Isto é possível, embora 538 AC seja um ano mais provável. O que segue então, como argumenta a STV, é que Jerusalém caiu 70 anos antes, em 607 AC.

Os setenta anos são um período profético usado por Jeremias, assim, é natural examinar primeiro como esta expressão é usada no seu livro. Conforme vimos acima, a primeira menção está em Jeremias 25:11. Este texto não diz o que a STV alega.

Jeremias 25:11: "E toda esta terra terá de tornar-se um lugar devastado, um assombro, e estas nações terão de servir ao rei de babilônia por setenta anos."

Nós iremos notar imediatamente que Jeremias em nenhum lugar diz que Jerusalém ficaria desolada durante setenta anos. Estes setenta anos eram um tempo de servidão, não de desolação. Embora o contexto fale sobre a devastação, os setenta anos somente se aplicam a servidão. O texto citado acima em "Venha o Teu Reino" ignora isto completamente. Além disso, a servidão não foi limitada aos israelitas: "estas nações" naturalmente inclui muitas, se não todas, as nações nesta área Siro-Palestina.

O que Jeremias quis dizer com as palavras "setenta anos"? Naturalmente, a expressão pode se referir a um período de exatamente 70 anos, ao invés de 71 ou 69 anos. Esta é a maneira como o assunto é entendido pela STV, e é bem possível que este entendimento esteja correto.

Porém, pode da mesma maneira ser um número redondo, aplicado a um período aproximado. Um exemplo é o texto em Salmos 90:10: "Os dias dos nossos anos são em si mesmos setenta anos." Ninguém irá, baseando-se neste texto, argumentar que a vida de um ser humano é de exatamente setenta anos. Em Isaias 23:15 nós vemos que "setenta anos" são igualados a "os dias de um rei", o que naturalmente é algo aproximado. Este princípio, sendo conhecido por Jeremias, pode simplesmente significar que ele disse que as nações serviriam a Babilônia pela duração de uma vida, aproximadamente setenta anos.

"Estas nações" começaram servindo Nabucodonosor nada mais nada menos que em 605 AC, quando -- como vimos -- ele até mesmo levou os prisioneiros e o saque de Jerusalém. Neste ano Nabucodonosor derrotou o faraó Neco (Jeremias 46:2), e as nações daquela área tiveram que pagar tributo ao rei de Babilônia desde aquele ano. O período terminou abruptamente em 539 AC, quando a Babilônia caiu para Ciro. Este período de servidão é de sessenta e seis anos, que ninguém pode negar, é de aproximadamente setenta.

É bastante possível, porém, aplicar o começo destes setenta anos ao ano 609 AC, dando exatamente setenta anos. Neste ano, caiu Harran, e o império assírio deu definitivamente espaço para a Babilônia ser o poder dominante desta área. Assim, em 609 AC o domínio de "estas nações" mudou da Assíria para a Babilônia. Algumas nações ficaram imediatamente sob o poder de Babilônia, e com pouco tempo, outras entraram na mesma condição.1

É claro que não é possível saber exatamente o que Jeremias quis dizer. Porém, note que não importa que interpretação nós escolhamos para os setenta anos, a "leitura mais direta" de Jeremias 25:11 nos dá o término dos setenta anos em 539 AC, quando Babilônia caiu para Ciro. Também, o começo destes anos não tem nada a ver com a queda de Jerusalém, mas com a supremacia de Babilônia.

Jeremias menciona os setenta anos em outro versículo:

Jeremias 29:10: "Pois assim disse Jeová: 'De acordo com o cumprimento de setenta anos em Babilônia, voltarei minha atenção para vós, e vou confirmar para convosco a minha boa palavra por trazer-vos de volta a este lugar.'" [NWT]

Neste ponto, a Tradução do Novo Mundo mostra seu tendencialismo para com a interpretação da Sociedade. Há-de ser notado, no entanto, que na discussão dos "setenta anos" este é o único lugar onde a Tradução do Novo Mundo é controversa.

Com a única exceção da King James Version (ou Authorized Version [Versão Autorizada]) de 1611, e novas traduções derivadas dela, a Tradução do Novo Mundo está completamente sozinha em afirmar "em Babilônia" aqui.

Em todas as outras traduções que conseguimos consultar, o texto diz "para Babilônia" ou similar:

Jeremias 29:10: "Pois assim disse o SENHOR: Quando os setenta anos para Babilônia estiverem completados, eu vos visitarei, e irei cumprir para convosco a minha promessa e vos trarei de volta para este lugar." [RSV]

Carl Olof Jonsson enviou uma carta a vários reconhecidos estudiosos da lígua hebraica na Escandinávia, perguntando qual era o significado exato da expressão hebraica "LeBabel" que ocorre aqui. Sem exceções, eles responderam que a tradução "para Babilônia" estava correta. Estes estudiosos eram Dr. Seth Erlandson em Uppsala, Dr. Hans M. Berstad, Prof. Tryggve Mettinger e Dr. Tor Magnus Amble. Os estudiosos são unânimes nesta pergunta, o que deveria ser óbvio pelo fato de que toda tradução moderna tem este significado.

Fora isso, não é possível de forma alguma interpretar este texto para que ele signifique que os setenta anos correram da destruição de Jerusalém até Ciro ter livrado os judeus da Babilônia. O contexto deste versículo é que esta passagem é parte de uma carta enviada por Jeremias a esses que foram levados cativos de Jerusalém na segunda (de três) deportações (2 Reis 24:10-17; 2 Crônicas 36:10).

Isto foi dez anos antes da destruição de Jerusalém.

Nesta carta (Jeremias 24:9-11) Jeremias diz aos cativos que eles deveriam fixar residência na Babilônia e que não deveriam esperar um retorno rápido como alguns falsos profetas tinham predito. Eles ficariam na Babilônia até que os setenta anos "estivessem completados para Babilônia". Só então eles iriam voltar.

Isto só faz sentido se os setenta anos já tivessem começado.

Esta interpretação de Jeremias 29:10 é apoiada pelo Dr. Avigdor Orr:

"O sentido original em hebraico poderia até mesmo ser interpretado assim: 'Depois que os setenta anos (do domínio) de Babilônia estiverem completados, etc. ' Os setenta anos contados aqui evidentemente se referem à Babilônia e não aos Judeus ou ao seu cativeiro. Isto queria dizer setenta anos de domínio Babilônico, no fim do qual, será visto a redenção dos exílados." 2

Se os setenta anos deveriam começar no futuro, dez anos depois de Jeremias ter escrito estas palavras, isto significaria que Deus já tinha decidido que Jerusalém seria destruída. Neste caso, as mais recentes advertências de Jeremias não teriam tido nenhuma razão:

Jeremias 38:17, 18: "Jeremias disse então a Zedequias: 'Assim disse Jeová, o Deus dos exércitos, o Deus de Israel: 'Se tu, sem falta, saíres para ir ter com os príncipes do rei de babilônia, então a tua alma certamente continuará a viver e esta mesma cidade não será queimada com fogo, e tu mesmo e os da tua casa certamente continuarão vivendo. Mas, se não saíres para ir ter com os príncipes do rei de babilônia, então esta cidade terá de ser entregue na mão dos caldeus e eles realmente a queimarão com fogo, e tu mesmo não escaparás da sua mão.'"

Se Deus já tivesse decidido queimar a cidade dez anos que antes de dizer isto, tal advertência teria sido fútil. O exemplo no livro de Jonas mostra que Deus mudará seus planos quando se deparar com arrependimento.

Nós vimos que Jeremias nunca fala a respeito de setenta anos de devastação para Jerusalém. Nós devemos ter isto em mente quando examinamos as próximas duas referências onde Daniel e Esdras aplicam estas palavras. Naturalmente, nenhuma interpretação destes textos deveria estar contrária a das palavras do próprio Jeremias.

O profeta o Daniel vivenciou o cumprimento dramático da profecia de Jeremias. Ele possivelmente estava entre os judeus cativos que receberam a carta de Jeremias (Jeremias 29:4-14). Pelo menos ele soube dos conteúdos desta carta, promentendo um retorno à terra santa depois de 70 anos de supremacia babilônica.

Em uma noite em 539 AC, o tempo acabou para o poderoso império babilônico, quando o Rei de Babilônia viu a escrita na parede -- literalmente. Daniel interpretou estas escritas misteriosas:

Daniel 5:25-28: "E esta é a escrita que se escreveu: MENE, MENE, TEQUEL e PARSIM. Esta é a interpretação da palavra: MENE: Deus contou os dias do teu reino e acabou com ele. TEQUEL: foste pesado na balança e achado deficiente. PERES: teu reino foi dividido e dado aos medos e aos persas".

Sim, Deus tinha "contado os dias" do reinado babilônico. Exatamente setenta anos depois de eles finalmente derrotarem os assírios, os medos e os persas sob o rei Ciro puseram um fim ao domínio de Babilônia. Daniel conclui: "Naquela mesma noite foi morto Belsazar, o rei Caldeu" (versículo 30).

Não há nenhuma dúvida que isto se refere às profecias anteriores de Jeremias. Esta "contagem de dias" foi claramente revelada com antecedência e não foi mantida em segredo:

Amós 3:7: "Pois o soberano Senhor Jeová não fará coisa alguma sem ter revelado seu assunto confidencial aos seus servos, os profetas".

Note a ordem dos eventos como descritos por Jeremias:

Jeremias 25:11, 12: "E toda esta terra terá de tornar-se um lugar devastado, um assombro, e estas nações terão de servir ao rei de babilônia por setenta anos." "E terá de acontecer que, quando tiverem cumprido setenta anos, ajustarei contas com o rei de Babilônia e com aquela nação, é a pronunciação de Jeová.""

Primeiro, os setenta anos tinham que correr, e só então é que o rei de Babilônia seria chamado para o ajuste de contas. De acordo com interpretação da STV, os setenta anos terminaram dois anos depois do "ajuste do contas" do rei. Isto é, como qualquer um pode facilmente notar, uma contradição do texto.

Os judeus que estavam no exílio babilônico, indubitavelmente apreciaram o fim daquele império. Eles souberam que isto teria que acontecer antes que eles pudessem voltar para Jerusalém a fim de reconstruir o templo e a cidade. Então, como Jeremias tinha dito, eles retornariam. Deus tinha prometido que iria "confirmar para convosco a minha boa palavra por trazer-vos de volta a este lugar" (Jeremias 29:10).

Isto foi o que Daniel descobriu quando começou a examinar estas profecias imediatamente após a queda de Babilônia:

Daniel 9:2: "no primeiro ano do seu reinado, eu, Daniel, compreendi pelos livros o número de anos a respeito dos quais viera a haver a palavra de Jeová para Jeremias, o profeta, para se cumprirem as devastações de Jerusalém, a saber, setenta anos." [NWT]

A STV tem usado freqüentemente estas palavras para apoiar a sua interpretação dos setenta anos, isto é, que estes anos eram os anos desde a destruição de Jerusalém até os judeus retornarem. Em algumas traduções (NIV é um exemplo), o teor é inexato e dá a impressão que setenta anos tiveram que passar enquanto Jerusalém estava em ruínas. Porém, a NWT retém de alguma forma o teor um pouco ambíguo do original.

Daniel simplesmente diz que setenta anos tinham que passar antes que as devastações de Jerusalém pudessem terminar. Ele não diz que estes setenta anos começaram quando Jerusalém foi destruída. Note esta tradução importante:

Daniel 9:2: "no primeiro ano do reinado dele eu, Daniel, estava estudando as escrituras, contando o número de anos -- como revelados por Yahweh ao profeta Jeremias -- que tinham de passar antes da desolação de Jerusalém chegasse a um fim, a saber, setenta anos." [NJB]

Outra tradução precisa:

Daniel 9:2: "no primeiro ano do reinado dele, eu, Daniel, percebi nos livros o número de anos que, de acordo com a palavra do SENHOR para Jeremias o profeta, teriam de passar antes do fim das desolações de Jerusalém, a saber, setenta anos." [RSV]

Note que tanto a RSV como a NWT usam o plural, "devastações". A STV argumenta que a devastação de Jerusalém aconteceu quando a cidade foi destruída por Nebucodonosor. Mas Daniel fala a respeito de várias devastações. A Bíblia de Jerusalém usa até mesmo a expressão "as devastações sucessivas de Jerusalém".

A palavra para "devastação" é chorbah. Ela não significa, como nós veremos, destruição completa. Nós vimos que Nebucodonosor já tinha levado prisioneiros e saque de Jerusalém em 605 AC, no seu ano de ascensão. Todos os anos depois disto o exército dele atravessou a terra, sem duvida alguma causando mais destruição, e a Bíblia fala até mesmo a respeito de uma equipe de saqueadores de nações diferentes que causaram assolamento naquele tempo (veja 2 Reis 24:2; Jeremias 35:11).

Se nós virmos como esta expressão é usada em todos os outros lugares na Bíblia, o argumento da STV cai completamente. O profeta Ezequiel fala sobre "os habitantes destes lugares devastados" (Ezequiel 33:24, 27), o que consequentemente torna bastante óbvio que a palavra não precisa de se referir necessariamente a lugares que estão completamente vazios de pessoas. Quando também vemos, em Neemias 2:17, que a Bílbia chama a Jerusalém "devastada" mesmo depois de os judeus terem retornado a ela, percebemos que a aplicação que a STV faz desta palavra está errada.

Nós vimos agora que Daniel 9:2 não dá nenhum apoio a interpretação da STV. Primeiro, Daniel em nenhuma parte diz que os setenta anos começaram quando Jerusalém foi finalmente destruída. Segundo, as devastações de Jerusalém começaram muitos anos antes da destruição final em 587 AC.

O versículo final da Bíblia que nós examinaremos com respeito aos setenta anos também trata do cumprimento da profecia de Jeremias. Novamente, o texto deve ser examinado com as palavras do próprio Jeremias em mente. Esdras, o escriba, conclui as crônicas dele sobre os reis de Judá com estas palavras:

2 Crônicas 36:20, 21: "Além disso, ele levou cativos a Babilônia os que foram deixados pela espada, e eles vieram a ser servos dele e dos seus filhos até o começo do reinado da realeza da Pérsia; para se cumprir a palavra de Jeová pela boca de Jeremias, até que a terra tivesse saldado os seus sábados. Todos os dias em que jazia desolada, guardava o sábado, para cumprir setenta anos."

Novamente, estas palavras podem subentender que a terra foi devastada durante exatamente setenta anos. Como nós vimos acima, as devastações começaram antes da destruição final de Jerusalém, então, de qualquer forma, isto não dá nenhum apoio à interpretação da STV.

Além disso, Esdras não disse que o período de setenta anos correu em paralelo com o período que o país caiu em devastação. Ele simplesmente disse que os setenta anos tiveram que terminar antes do tempo de desolação estivesse finalizado. Isto também se aplica à referência de Esdras ao sábados.

Jeremias não menciona em nenhum lugar anos de sábado em relação aos setenta anos. Esdras sem dúvida se referiu a profecia em Levitico 26:33-35. Esdras não iguala o tempo necessário para pagar integralmente os sábados com os setenta anos. Ele se refere a duas profecias diferentes, e diz que dois períodos tiveram que ser completados antes que os judeus pudessem retornar: o descanso sabático e os setenta anos de supremacia babilônica.

Há dois princípios em relação ao descanso sabático dignos de nota. Se a terra tivesse que descansar durante setenta anos, isto teria que significar que por 490 (7 x 70) anos, os judeus não tinham guardado o sábado. Isto nos leva de volta a 1077 AC (ou 1097 AC na cronologia da STV). Isto foi antes do reinado do justo Davi, até mesmo antes de Saul que foi o primeiro rei. Seria isto provável, que o país não guardou o sábado sagrado durante um único ano durante os reinados de: Saul, Davi, Salomão e Josias? Por outro lado, usando a cronologia estabelecida, o país estava desolado (neste sentido, não sendo usado para agricultura) durante 50 anos. Isto (7 x 50 anos) nos leva de volta para 937 AC, muito próximo do tempo da divisão do reino que foi atribuída à falta de fé do rei. Muita ênfase em detalhes nesta profecia tem um valor duvidoso, mas é um fator que vale a pena considerar.


A Bíblia Ensina 587 AC Como a Data Para Destruição

A conclusão acima tem de ser que não há nada na Bíblia que contradiga a cronologia estabelecida ("secular") que data o ano de ascensão de Nabucodonosor como 605 AC. A Bíblia diz que a queda final e destruição de Jerusalém ocorreu no 19º ano do reinado de Nabucodonosor (Jeremias 52:12; 2 Reis 25:1-4; 2 Crônicas 26:11, 19).

Isto é 587 AC.3

Por outro lado, a STV falhou em fazer um sistema que fosse internamente consistente com o testemunho Bíblico a respeito dos setenta anos. Além disso, a cronologia deles contradiz diretamente declarações claras de Daniel e Zacarias.

Embora a própria Bíblia seja suficiente para se rejeitar a cronologia da Sociedade Torre de Vigia, nós tomaremos o nosso tempo para examinar a enorme quantidade de evidência arqueológica para a cronologia estabelecida.


A Evidência Arqueológica

(Veja sumário da evidência e linha do tempo abaixo.)

Como nós vimos antes, a Bíblia não contém nenhuma data absoluta. Contém datas relativas e períodos de tempo, e apenas se pudermos definir ao menos um dos eventos e datas relativas para o nosso calendário, é que chegaremos a uma data absoluta.

Este problema sem dúvida alguma a STV também encara. Eles se focalizaram em uma data-chave, um evento que é testemunhado em fontes históricas seculares e a própria Bíblia: A queda de Babilônia para Rei Ciro em 539 AC.

Como é que se chegou a esta data? Historiadores usaram as listas de reis de Ptolomeu e Beroso. Estes são considerados precisos e fidedignos, e eles datam o reinado de Ciro sobre Babilônia a partir de 539 AC. Isto tem sido confirmado pelo método de datação mais fidedigno conhecido em toda a história: documentos contemporâneos com observações astronômicas.


Observações Astronômicas

A fonte mais segura de datas absolutas vem de uma inscrição contemporânea com observações astronômicas. Os babilônios colocaram, como muitos outros povos, muita ênfase em astrologia, e eles observaram cuidadosamente os fenômenos celestiais e escreveram a colocação exata dos planetas em relação ao zodíaco. Estas inscrições eram datadas precisamente ao reinado de um rei. Muitas de tais observações podem ser encontradas em inscrições separadas, formando uma "impressão digital" única durante um ano, visto que as observações não poderiam de modo nenhum acontecer em qualquer outra data por milhares de anos em qualquer direção. Astrônomos hoje podem calcular o fenômeno astronômico descrito nas inscrições astronômicas com precisão, e verificarão que é impossível que estas observações sejam falsas ou que possam se aplicar a qualquer outro ano.

Assim, a única chance para uma inscrição com observações astronômicas corretas ser "falsa", é ter sido datada erroneamente. Visto que a cronologia da STV está consistentemente com vinte anos perdidos, os registros astronômicos contemporâneos teriam de estar datados errados por vinte anos. Pode alguém imaginar os astrólogos e cronistas na era neobabilonica fazerem tal coisa? O trabalho envolvido em forjar apenas uma destas tábuas astronômicas é enorme, considerando que eles mencionam numerosas datas e eventos na vida de um rei, e apenas uma mudança nas próprias observações ou nas datas fariam destas observações inajustáveis em qualquer constelação ou em fenômenos astronômicos na história conhecida.

A STV considera que tais cálculos astronômicos são extremamente fidedignos:

"Certa tabuinha babilônica de argila é util para relacionar a cronologia babilônica com a cronologia bíblica. Esta tabuinha contém a seguinte informação astronômica sobre o sétimo ano de Cambises II, filho de Ciro II: "Ano 7, tamuz, noite 14, 1 2/3 hora dupla [três horas e vinte minutos] após o cair da noite, um eclipse lunar; visível no seu trajeto inteiro; abrangeu a parte setentrional do disco [da lua]. Tebete, noite 14, duas e meia horas duplas [cinco horas] à noite, antes da madrugada [na última parte da noite], o disco da lua ficou eclipsado; o trajeto inteiro visível; o eclipse atingiu as partes meridional e setentrional." (Inschriften von Cambyses, König von Babylon [Incrições de Cambises, Rei de babilônia], de J. N. Strassmaier, Leipzig, 1890, N.º 400, linhas 45-48; Sternkunde und Sterndienst in Babel [Astronomias e Veneração das Estrelas em Babel], de F. X. Kugler, Münster, 1907, Vol. I, pp. 70, 71). Estes dois eclipses lunares podem ser identificados com os eclipses lunares visíveis em Babilônia em 16 de julho de 523 AEC e em 10 de janeiro de 522 AEC. (Canon of Eclipses [Canon de eclipses], de Oppolzer, traduzido para o inglês por O. Gingerich, 1962, p. 335). De modo que esta tabuinha especifica o sétimo ano de Cambises II como tendo início na primavera setentrional de 523 AEC. Esta data é confirmada pela astronomia." (Estudo Perspicaz das Escrituras, Volume 1, 1990, p. 607)

Esta data astronomicamente confirmada deve permanecer acima de qualquer dúvida. Sem isto, a data-chave da STV, 539 AC para a queda de Babilônia para Ciro, não teria de fato nenhum fundamento. Nós não temos nenhuma dúvida quanto a isto. Mas a STV é grotescamente desonesta quando aceita este pedaço de evidência como definitiva e sem dúvida, e então descartam exatamente o mesmo tipo de evidência para a era neo-babilônica. Como nós veremos, a evidência astronômica para cronologia neo-babilônica é ainda mais direta e até mesmo mais forte.

Um amplo diário astronômico, VAT 4956, datado no 37º ano de Nabucodonosor, dá observações definidas que não podem se ajustar a nenhum outro ano além de 568 AC. Isto está além de qualquer dúvida; nem um único ano por milhares de anos antes ou depois dele pode se ajustar a toda evidência, e a chance de observações fabricadas que por acidente se ajustam a este ano nem vale a pena se considerar. Considerando que a Bíblia estabelece que Jerusalém caiu no 19º ano de Nabucodonosor (Jeremias 52:12; 2 Reis 25:1-4; 2 Crônicas 26:11, 19), isto certamente deve ter acontecido em 587/6 AC, e com certeza não 20 anos mais cedo.

A STV não pode aceitar isto. Eles tentam desacreditar este diário:

"VAT 4956: Trata-se duma tabuinha cuneiforme que fornece informações astronômicas datando até 568 A.E.C. Diz que as observações eram desde o 37.º ano de Nabucodonosor. Isto corresponderia à cronologia que coloca seu 18.º ano de reinado em 587/6 A.E.C. Todavia, essa tabuinha é admitidamente uma cópia feita no terceiro século A.E.C., de modo que é possível que sua informação histórica seja simplesmente a que era aceita no período selêucida." ("Venha o Teu Reino", 1981, pp. 186, 187)

Esta é realmente uma cópia, mas de forma alguma é "possível" que a informação histórica seja o que foi aceito neste místico "período selêucida" o qual vemos novamente sendo assumido como um período duvidoso para falsificação extensa de evidencias cronológicas. O copista não adicionou informação, o que fica evidente pelo fato de que nos dois lugares onde a tabuinha está danificada, o copista inseriu as palavras "rompidas, apagadas". Isto mostra quão extremamente improvável seria para o copista inserir alguns detalhes cronológicos "aceitos" posterioremente. Também, há aproximadamente quarenta datas no texto, e deveria estar além de consideração que um copista que é tão consciencioso que chega a indicar onde a fonte original é ilegível, estaria ocupado em falsificação indiscriminada por inserir o nome de um rei que estava morto em 568 AC num registro histórico.

Isto está até mesmo fora de discussão, pois bem recentemente o diário astronômico nomeado BM 32312 foi descoberto. Ele contém observações astronômicas exatas de 652/651 AC. Aqui, nenhum copista poderia ter feito qualquer mudança à data, porque o diário está quebrado! Porém, a tabuinha menciona a batalha de Hirit no "mês 12, dia 27" onde o Rei de Babilônia estava envolvido. E um diário mais famoso, a crônica de Akity, declara que esta data ocorreu no 16º ano de rei o reinado de Shamashshamukin (667-648 AC). Assim, nós temos uma recente e independente confirmação, incluindo duas sólidas peças de evidência, que a cronologia estabelecida da era neo-babilônica está correta. Como uma curiosidade a mais, podemos acrescentar que este texto babilônico nos informa que o rei de Babilônia perdeu esta batalha, minando seriamente as reinvindicações da STV que os cronistas babilônicos eram desonestos.

O que nós vimos, é que a STV aceita a evidência que apoia a sua cronologia, enquanto rejeita o mesmo tipo de evidência quando contradiz as idéias deles. Além disso, a tabuinha do reinado de Cambyses II só estabelece indiretamente a data para conquista de Babilônia por Ciro, por consultar listas régias a fim de descobrir quanto tempo Ciro reinou e que ele foi sucedido pelo seu filho Cambyses II em 529 AC. Por outro lado, VAT4956 estabelece o reinado de Nabucodonosor diretamente, e uma pessoa que não se permitirá duvidar da cronologia bíblica, não poderá rejeitar isto de modo nenhum. Então, se a STV estivesse correta quando afirmou que a Bíblia declarou 70 anos desde a queda de Jerusalém até o retorno dos judeus (que, como já vimos, não está!), eles teriam que negar 539, e não 587/6. Então, é claro, eles perderiam 607 como uma data chave, e seria ingênuo acreditar que toda esta distorção da evidência pela STV é por qualquer outra razão alem de mater a data de 607, novamente para salvar 1914.


Listas de Reis

Uma peça principal de evidência contra a cronologia da STV é lista de reis que nós temos segundo Beroso e Ptolomeu. Beroso era um sacerdote babilônico que viveu no 3º século AC. Ele escreveu um livro em três volumes da história de Babilônia, dos quais só fragmentos são conhecidos por citações em trabalhos posteriores, como os escritos por Josefo e Eusébio. Ptolomeu (70-161 EC) era um estudioso multifacetado que viveu no Egito. Ptolomeu escreveu um trabalho matemático conhecido em latim como Almagesto, onde ele incluiu o cânon, uma lista de reis. A Encyclopaedia Britannica diz:

"A fonte da qual a exploração da cronologia Mesopotâmica começou em um texto chamado o Cânon de Ptolomeu. Esta lista de reis sobre um período de cerca de 1000 anos, começando com os reis de Babilônia depois da ascensão de Nabonasar em 747 AC. O próprio texto pertence ao período do Império Romano e foi escrito por um astrônomo grego residente no Egito. Prova da justeza fundamental do Cânon de Ptolomeu veio das tabuinhas cuneiformes antigas escavadas na Mesopotâmia, incluindo algumas que se referem a eventos astronômicos, principalmente eclipses da Lua. Assim, até que escavações começassem, um quadro bastante detalhado da cronologia babilônica já estava disponível para o período posterior a 747 AC." (Tópico: "O Estudo de História, Babilônica e Assíria, cronologia da Mesopotâmia, 747 a 539 AC". Versão on-line.)

Beroso e Ptolomeu, vivendo em partes diferentes do mundo e em tempos diferentes, e ambos sendo respeitados como fontes fidedignas pelos historiadores modernos, dão os mesmos dados de reinos:

Rei Beroso Ptolomeu Data AC
Nabopolasar 21 anos 21 anos 625-605
Nabucodonosor 43 anos 43 anos 604-562
Evil-Merodaque 2 anos 2 anos 561-560
Neriglisar 4 anos 4 anos 559-556
Labashi-Marduque (9 meses) - 556
Nabonido 17 anos 17 anos 555-539

Não é nenhuma surpresa, então, que a Sociedade Torre de Vigia esteja tentando desacreditar estas fontes. Mesmo isso não ajudaria muito se se pudesse demonstrar que estas fontes são independentes umas das outras. Assim, em Ajuda ao Entendimento da Bíblia, de 1971, a Sociedade Torre de Vigia afirma que Ptolomeu tinha copiado Beroso:

"Ao preparar seu canon, pensa-se que Ptolomeu tenha usado os escritos de Beroso" (página 328 da edição en inglês).

A voz passiva esconde o fato que só os próprios escritores da Sociedade Torre de Vigia alguma vez "pensaram" isto! Há evidência substancial que Ptolomeu fez seu trabalho sobre registros anteriores. Depois deste argumento ter sido refutado, a STV teve que usar outro:

"Evidentemente, Ptolomeu baseou suas informações históricas em fontes que remontam ao período selêucida, que começou mais de 250 anos depois de Ciro capturar Babilônia. Portanto, não surpreende que as cifras de Ptolomeu concordem com as de Beroso, um sacerdote babilônio do período selêucida." (Estudo Perspicaz das Escrituras, Volume 1, 1990, página 609; mesmo texto em "Venha o Teu Reino", 1981, p. 186)

É difícil entender como ligar Ptolomeu e Beroso com o "período selêucida" pode desacreditá-los, como se este fosse um tempo em que foram forjados muitos registros. A própria Sociedade Torre de Vigia depende 100% da data 539 AC. Como nós vimos, isto vem de Ptolomeu e Beroso também. Vendo este problema, a STV foi para lugares estranhos para achar apoio adicional depois de ter desacreditado Ptolomeu:

"Pode-se chegar à data 539 AEC para a queda de Babilônia não somente pelo cânon de Ptolomeu, mas também por outras fontes. O historiador Diodoro, bem como Africano e Eusébio, mostram que o primeiro ano de Ciro, como rei da Pérsia, correspondia à Olimpíada 55, ano 1 (560/559 AEC), ao passo que o último ano de Ciro é situado na Olimpíada 62, ano 2 (531/530 AEC)". (Estudo Perspicaz das Escrituras, Volume 1, 1990, p. 608)

Isto é bastante interessante, visto que Diodoro (1º século AC) viveu bem depois do "período Selêucida", e usou fontes deste período. Um dos problemas com Diodoro é que ele freqüentemente não menciona suas fontes, reduzindo a possibilidade para o conferir. Africano é um escritor cristão do 3º século AD. Ele usa Diodoro como uma fonte. Vivendo no 3º e 4º século encontramos Eusebio que diz que usa Diodoro e Africano como fontes!

Isto não significa, é claro, que 539 AC não é uma data bem estabelecida. Mas o fato é que, é menos segura que 586/7 AC como a data para a destruição de Jerusalém.


Documentos Comerciais

Uma da peças de evidência mais extensas e significativas é a quantidade enorme de documentos de negócios e administrativos desenterrados da era neo-babilônica. Estes são documentos contemporâneos, não cópias posteriores, e pode haver pelo menos 50.000 (!) destes documentos, muitos deles armazenados no Museu Britânico em Londres. Alguns milhares destes documentos estão documentados. A STV admite:

"Tabuinhas comerciais: Milhares de tabuinhas cuneiformes, neobabilônicas, contemporâneas, foram encontradas com simples registros de transações comerciais, mencionando o ano do rei babilônico em que ocorreu a respectiva transação. Tabuinhas desta espécie foram encontradas para todos os anos de reinado dos reis neobabilônicos conhecidos na cronologia aceita do período." ("Venha o Teu Reino", 1981, p. 187)

Assim, para todo ano conhecido nesta era, existem tais documentos contemporâneos. Porém, a STV afirma que vinte anos estão faltando. Onde estão os documentos comerciais cobrindo este período? Eles não existem. Se algum rei reinasse por mais anos que aqueles nomeados a eles nas listas de reis estabelecidas, ou se algum rei desconhecido reinasse durante vinte anos (ou uma combinação), deveria ter havido centenas se não milhares de documentos comerciais com datas deste período. Não há realmente nenhum. Os documentos contêm detalhes de centenas de milhares de transações empresariais triviais e não tão-triviais -- comprando e vendendo -- e a idéia que isto não aconteceu durante este período é absurda. Além disso, nós podemos localizar transações empresariais desde entrega de bens até o pagamento dos mesmos. Nós podemos estabelecer quem é o cabeça da companhia em determinado ano. É perfeitamente óbvio que acreditar que a cronologia da STV pode ser defendida contra esta evidência faz a infame "conspiração illuminati" parecer provável em comparação. Não só envolveria centenas de escribas, cronistas, funcionários e astrólogos do período neo-babilônico em diante através dos séculos, mas também requereria um silêncio conspiratório de milhares de empresários de em um império inteiro!

É mais do que óbvio que não há nenhum registro para os "vinte anos perdidos" porque eles nunca existiram. Nem um único pedaço de texto cuneiforme alguma vez indicou que eles existiram. Nenhum cronista ou astrólogo ouviu falar deles. E como nós demonstramos acima, se eles existissem, a própria Bíblia se contradiria em muitos detalhes cronológicos, e a profecia de Jeremias teria falhado.


Inscrições Reais Contemporâneas

Evidências mais diretas da era neo-babilônica também foram encontradas. Uma inscrição da era selêucida, a Lista dos Reis de Uruk, descoberta em 1959/60, confirma os reinados de Nabopolasar, Nabucodonosor, Amel-Marduque e Labashi-Marduque. Outras partes do texto infelizmente estão danificadas. Embora não tenhamos listas de reis semelhantes a essa de eras anteriores, temos várias inscrições que confirmam a cronologia de modo mais direto.

Nabon N.º 18 menciona um eclipse lunar que estabelece o segundo ano de Nabonido para 554/53, confirmando assim a cronologia estabelecida.

Nabon N.º 8 (estela de Hillah) confirma a cronologia para a era inteira de Nabopolasar até Nabonido, dando o período total dos reis como todas as outras fontes estabeleceram. Também dá detalhes de eventos astronômicos estabelecendo adicionalmente as datas exatas do reinado de Nabonido.

Nabon H 1, A e H 1, B. A STV admite:

"Estela de Nabonido, de Harã (NABON H 1, B): Esta estela ou coluna contemporânea com uma inscrição foi descoberta em 1956. Menciona os reinados dos reis neobabilônicos Nabucodonosor, Evil-Merodaque e Neriglissar. As cifras para estes três concordam com as do Cânon de Ptolomeu." ("Venha o Teu Reino", 1981, p. 186)

A cópia mais recente da mesma estela (B), nos dá detalhes do que tinha sido danificado na peça original encontrada. Também dá detalhes do rei assírio Assurbanipal e Nabopolassar, estabelecendo assim a cronologia neo-babilônica mais uma vez.

A Crônica de Nabonido (BM 35382) é freqüentemente usada pela STV para argumentar a exatidão da Bíblia em detalhes históricos (veja Estudo Perspicaz das Escrituras, Volume 1, pp. 148, 283-284, 566 [edição em inglês] e muitos outros lugares). Obviamente não é ignorância que nunca os faz mencionar esta crônica famosa neste debate. O fato é, esta crônica dá os reinados de todos os reis desta era, e eles são exatamente iguais aos determinados por Ptolomeu e Beroso. Todos os argumentos que os mais recentes cronistas usaram apenas cronologia "popular" nas listas deles são assim quebrados, porque esta crônica é contemporânea com os próprios reis neo-babilônicos! Não admira que a STV não mencione este pedaço de evidência devastador, apesar de estar bem consciente do que diz.


Textos de Eclipses Lunares (Saros)

Como temos visto, a STV está mais que ansiosa em aceitar evidência "secular" para a era persa posterior, da qual estão dependentes para sua própria cronologia, mas eles rejeitam a mesma -- e mais forte -- evidência que estabelece a cronologia da era neo-babilônica. Agora nós examinaremos um pedaço de evidência intocado pela STV que nos leva diretamente da era neo-babilônica adentro a era persa posterior sem qualquer possibilidade para "interrupção" dos "vinte anos perdidos" que a STV precisa para manter a data de 607 AC.

Alguns textos babilônicos conhecidos como textos "saros", ou textos de eclipses da lua, contêm detalhes de eclipses lunares. Os eclipses acontecem em grupos, que se repetem aproximadamente em intervalos de 18 anos. Eles podem ser apontados precisamente a datas absolutas específicas, porque as observações precisas são únicas e não podem ser repetidas por milhares de anos. Um documento particular abrange todo o período de tempo desde o 17º ano de Nabopolasar até o 18º ano do rei persa Artaxerxes!

Rei Ano Real Data AC
Nabopolasar 17º 609/8
Nabucodonosor 14º 591/0
Nabucodonosor 32º 573/2
Nabonido 555/4
Ciro 537/6
Dario 519/8
Dario 21º 501/0
Xerxes 483/2
Xerxes 21º 465/4
Artaxerxes 18º 447/6

O impacto desta evidência é esmagador por si só. Nós vemos um registro contínuo de observações astronômicas. Estas podem ser apontadas a uma data absoluta, e por causa da própria natureza do nosso sistema solar nada pode ser deslocado vinte anos sem quebrar esta lista longa de datas de eclipses lunares que conduzem a um período em que a STV concorda com a cronologia "secular". Novamente, nós temos uma confirmação independente e segura da cronologia estabelecida, não deixando na realidade nenhum espaço para a data de 607 AC da STV.


Concordância com a Cronologia Egipcia

Como nós vimos, a cronologia neo-babilônica está solidamente estabelecida por si mesma. Porém, nós temos uma oportunidade excelente para testar este corpo de evidência contra um conjunto de evidência completamente independente. A cronologia contemporânea do Egito foi estabelecida baseada numa evidência diferente. Nós já usamos muito espaço para entrar na evidência detalhada da cronologia egípcia, assim, para este trabalho, é suficiente notar que esta evidência consiste em muitas estelas de túmulos, o historiador grego Heródoto e o sacerdote egípcio Maneto (terceiro século AC), e vários papiros, incluindo alguns detalhes astronômicos (i.e. Papiro Demótico Berlim 13588). Esta cronologia está solidamente fundamentada, e mais ainda, é completamente independente da cronologia neo-babilônica.

A Sociedade Torre de Vigia está consistentemente errada em cerca de 20 anos também em relação à cronologia egípcia.

Há vários sincronismos entre a cronologia bíblica, egípcia e babilônica, e nestes é evidente que a cronologia da STV está errada. 2 Reis 23:29 nos faz saber que Josias morreu durante o reinado do faraó Neco. Neco começou o reinado dele em 610 AC, mas de acordo com a STV Josias morreu 19 anos mais cedo. Jeremias 46:2 nos informa de uma batalha entre Nabucodonosor e o faraó Neco no quarto ano de Jeoiaquim. Na cronologia da STV isto seria 625 AC, mas como nós vimos, Neco não começou o reinado dele antes de 610 AC! Jeremias 44:30 nos informa que logo após a morte de Gedalias, o faraó Hophra (em outro lugar chamado Aphries) era o rei no Egito. Ele regeu o Egito entre 589-570 AC, então isto se ajusta perfeitamente com a data da queda de Jerusalém em 587 AC mas não 607 AC. Finalmente, nós temos o texto cuneiforme BM33041, que nos conta que Nabucodonosor fez uma campanha contra o faraó Amasis do Egito no 37º ano de seu reinado. Amasis reinou entre 570-526 AC, assim, isto não pode ter acontecido em 588/87 AC como a cronologia da STV afirma.

A STV tem que admitir:

"A diferença entre as datas acima e as geralmente atribuidas pelos historiadores hodiernos chega a um século, ou mais, quanto ao Êxodo, e depois se reduz a uns 20 anos no tempo do Faraó Neco." (Estudo Perspicaz das Escrituras, Volume 1, 1990, p. 604)

Seria uma coincidência para além de tudo o que é possível imaginar se a cronologia da STV estivesse correta e toda essa evidência estivesse errada. Isto nos recorda uma mãe orgulhosa de um escoteiro que exclamou durante uma grande parada: "Imagine, dos três mil escoteiros, só meu filho está no passo correto".


Sumário da Evidência Arqueológica Para a Cronologia Estabelecida

  1. Crônicas, Registros Historicos, e Inscrições Reais do período neo-babilônico, começando com o reinado de Nabopolasar and terminando com os renados de Nabonido and Belsazar, mostram que o período correu de 626 até 539 AC, e não de 645 até 539 AC como afirma a Sociedade.
  2. Documentos Comerciais e Administrativos
    • Existem tabuinhas que são datadas para cada ano do período neo-babilônico como estabelecido por Beroso, Ptolomeu e estelas contemporaneas; nenhuma tabuinha está datada inconsistentemente. Cerca de 5000 foram publicadas e restam cerca de 50.000. Estes são documentos contemporâneos do período neo-babilônico.
  3. Diários Astronômicos
    • VAT 4956 fixa o 37º ano de Nabucodonosor para 568 AC por um conjunto único de observações astronômicas, estabelecendo o seu ano de ascensão em 605 AC.
    • BM 32312 mais a Crônica de Aquito fixam o 16º ano de Shamashshumukin (um rei babilônico anterior ao período neo-babilonico) para 652/1 AC. Isto, junto com documentos comerciais, o canon de Ptolomeu, a crônica de Aquito e a lista de Reis de Uruk combinam para datar o reinado de Nabucodonosor para 605/4-562/1, com o seu 18º ano (destruição de Jerusalém, Jeremias 52:28-30) em 587/6 AC.
  4. Textos Saros (Eclipses Lunares)
    • Quatro textos independentes fornecem datas absolutas dentro do período neo-babilônico. O 18º ano de Nabucodonosor é fixado em 587/6 AC.
  5. Sincronismos com a Cronologia Egipcia Contemporânea mostram que a cronologia da Sociedade está consistentemente fora da realidade por 20 anos.
    • Josias morreu durante o reinado do faraó Neco, que começou em 610 AC. A Sociedade data a morte de Josias para 629 AC.
    • Alguns judeus fugiram para o Egito sob o faraó Hophra (Apries) imediatamente depois da destruição de Jerusalém. Visto que ele começou a reinar em 589 AC, Jerusalém não poderia ter sido destruida em 607 AC.
    • Um texto cuneiforme fragmentado menciona uma batalha por Nabucodonosor no seu 37º ano contra o faraó Amasis, que começou a reinar em 570 AC. A Sociedade diz que Nabucodonosor morreu em 582 AC.


Linha do Tempo: Uma Visão Geral

Cronologia STV Datas AC Cronologia Estabelecida Evidência
630 Milhares de tabuinhas cuneiformes, incluindo documentos comerciais
628: ano de ascensão de Jeoiaquim

624: Ano de ascensão de Nabucodonsor
620
617: Nabucodonosor leva cativos judeus no 3º ano de Jeoiaquim (!). Daniel 1:1, 2; 2 Reis 24:10-17; 2 Crônicas 36:10 610
607: QUEDA DE JERUSALÉM; inicio dos 70 anos 600 609: Queda de Harran. Babilônia potência mundial. Possivelmente o INICIO DOS 70 ANOS. Josias morto em batalha com o faraó Neco (2 Reis 46:2)

605: Ano de ascensão de Nabucodonosor. Primeira deportaçao dos Judeus (Daniel 1:1, 2; 2:1).
590 597: Nabucodonosor leva prisioneiros. Segunda deportação. Jeoiaquim no exílio; o reinado de Zedequias começa. BM21946:11-13; 2 Reis 24:10-17; 2 Crônicas 36:10.
580 587: QUEDA DE JERUSALÉM
570 BM33041. Concordância com cronologia egipcia independente
560 561-560: Evil-Merodaque VAT4956: observações astronômicas fidedignas para datar 568/67 como o 37º ano de Nabucodonosor

Estela de Hillah
550 559-556: Neriglissar

555: Ano de ascensão de Nabonido
Nabon N.º 18

BM35382. Crônica de Nabonido
540 Nabon H 1, B
539: Queda de Babilônia

537: Judeus retornam do exílio, terminam os 70 anos.
530 539: QUEDA DE BABILÔNIA para Ciro; FIM DOS 70 ANOS. Faraó Hophra reina no Egito neste tempo; Jeremias 44:30

Nota: Ano de Ascensão

  • Nas crônicas babilônicas, o ano em que um rei ascende ao trono é chamado de ano de ascensão, o ano seguinte é o primeiro ano e asim por diante. Isto é chamado de sistema de ano de ascensão. Crônicas judaicas, seguindo um sistema sem ano de ascensão, contam o ano inicial como o primeiro ano régio, o próximo como o segundo e assim por diante. O terceiro ano do reinado de Jeoiaquim nas crônicas babilônicas seria o quarto ano nas crônicas de Israel.

Abreviaturas

  • NWT: New World Translation of the Holy Scriptures (Tradução do Novo Mundo das Escrituras Sagradas). Tradução da Bíblia da Sociedade Torre de Vigia. Citações da versão em CD-ROM, 1993. Todas as citações bíblicas neste documento são da NWT exceto quando indicado.
  • NIV: New International Version of the Holy Bible (Nova Versão Internacional da Bíblia Sagrada), pela International Bible Society (1973, 1978, 1984).
  • RSV: Revised Standard Version (Versão Padrão Revisada)
  • NJB: The New Jerusalem Bible (A Nova Biblia de Jerusalém) (1985). Católica.

Notas

1 A queda de Harran em 609 AC geralmente é entendida como estando relacionada com o livro de Jeremias. Veja o Professor D. J. Wiseman no The New Bible Dictionary, 2ª ed, 1982, p. 101; e Prof. Guy P. Couturier em The Jerome Biblical Commentary, Englewood Cliffs, NJ, 1968, p. 300; Dr. J. A. Thompson: The Book of Jeremiah, Grand Rapids, Michigan, 1980, p. 21, 533.

2 Avigdor Orr: The Seventy Years of Babylon, Vetus Testamentum, Vol VI, 1956, p. 305. O mesmo argumento, que os setenta anos foram para a supremacia de Babilônia e não para o exílio judaico, também é enfatizado por outros especialistas. Veja o Dr. Peter R. Ackroyd no Journal of Near Eastern Studies, Vol XVII, 1958, p. 23; Prof. Norman K. Gottwald: All the Kingdoms of the Earth, New York, Evanston, London 1964, p. 265, 2666; Dr. Otto Plöger: Aus der Spätzeit des Alten Testaments, Göttingen, 1971, p. 68.

3 De fato, algumas fontes dizem 586 AC, o qual é apenas causado por uma aparente contradição entre 2 Reis 24, 25 e Jeremias 52:12 de um lado e Jeremias 52:28-30 do outro. Visto que o livro de Jeremias foi obviamente completado por um judeu que vivia na babilônia, é provável que ele tenha usado o sistema de ano de ascensão enquanto Jeremias que escreveu Reis usaria o sistema judaico.


Créditos

  • A pessoa responsável por 99% da pesquisa por trás desta página é Carl Olof Jonsson. Seu livro The Gentile Times Reconsidered (Os Tempos dos Gentios Reconsiderados) (Atlanta: Commentary Press, 1986) contém a mais extensiva e exaustiva discussão disponível para este tópico.

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