The Sign of the Last Days -- When? (O Sinal dos Últimos Dias -- Quando?) (Atlanta: Commentary Press, 1987) de Carl Olof Jonsson e Wolfgang Herbst, pp. 237-248.

Apêndice A: Correspondência Com Sismólogos

Carl Olof Jonsson e Wolfgang Herbst


Existe ao menos um sismólogo versado em história dos sismos que concorde com os actuais anunciadores do fim dos tempos, e nomeadamente com a Watch Tower Society, quando afirma que o nosso século tem presenciado um número anormalmente grande de terramotos destrutivos?

Os autores escreveram a vários reputados simólogos ao redor de todo o mundo para o descobrir. As respostas recebidas foram notavelmente unânimes. De facto, não encontrámos um único sismólogo que pense que os terramotos têm aumentado dramaticamente em número durante este século.

Mais de cem anos de pesquisa em sismicidade histórica parecem ter estabelecido um consenso geral entre as autoridades no assunto apontando para o facto de a sismicidade da terra não ser marcadamente diferente hoje do que tem sido sempre por milhares de anos.

Por considerações de espaço nós podemos apenas publicar uma selecção das cartas recebidas, mas aquelas não publicadas contêm a mesma mensagem. Em geral, nós explicámos a natureza da nossa investigação e colocámos algumas perguntas. As mais típicas foram as seguintes:

1. Sente que tem havido um aumento tremendo de grandes terramotos durante este século em comparação com séculos anteriores?

2. Sente que a actividade sísmica neste século é de alguma forma única?

3. Sabe de algum sismólogo que sustente que o nosso tempo tem visto um número invulgarmente grande de terramotos?

A primeira carta publicada, do Professor Båth, faz referência a um artigo de Howard D. Burbank intitulado "Haverá terramotos." Aquele artigo foi publicado no periódico Adventista Review de Dezembro de 1977. O artigo continha um gráfico elaborado para mostrar que o número de terramotos tem aumentado de forma explosiva, especialmente no nosso século vinte. Nós pedimos ao Professor Båth que comentasse as declarações de Burbank, o que ele faz na sua resposta:

SECÇÃO SISMOLÓGICA
BOX 12019
S-750 12 UPPSALA
SUÉCIA
Uppsala, 17 de Junho de 1983

Sr. Carl Olof Jonsson
Box 281
433 25 Partille

Muitos agradecimentos pela sua carta de 6 de Junho e pelo artigo anexo "Haverá terramotos" de Howard D. Burbank. -- É evidente que o senhor está completamente certo nas suas objecções a este artigo. O autor comete o erro catastrófico de contar apenas o número de tremores de terra. Em vez disso ele devia ter tentado ir pelas magnitudes de Richter e portanto pela energia libertada. O resultado teria sido então bastante diferente.

Como o senhor correctamente assinala, só em épocas recentes é que nós temos uma rede de estações sismológicas melhor e consequentemente uma melhor observação. De facto, dados instrumentais fiáveis remontam apenas a cerca de 1900. Mas podemos fazer um exame estatístico do período desde então.

Para isto junto um periódico -- Tectonophysics 54 (1979) T1-T8 -- em cuja Fig. 2 se mostra a libertação de energia e o número de terramotos com magnitudes de 7.0 ou mais. Os primeiros 20 anos (até cerca de 1920) tiveram cerca de duas vezes tanta energia libertada por ano como todo o período desde então. O número de tremores de terra com magnitudes de 7.0 ou mais também não mostra nenhum aumento assinalável em anos posteriores.

Para séculos anteriores não temos as mesmas estatísticas fiáveis, mas não há indicações nenhumas de qualquer aumento na actividade ao longo do tempo. -- Sem a menor hesitação o artigo (de Burbank) tem de ser rejeitado.

Com respeitosos comprimentos,

Markus Båth

A seguinte carta bastante detalhada foi recebida de Wilbur A. Rinehart do World Data Center A (Centro Mundial de Dados A) em Boulder, Colorado:

CENTRO MUNDIAL DE DADOS A
CENTROS BOULDER
Centro Nacional de Dados Geofísicos
Administração Nacional Oceânica e Atmosférica
325 Broadway
Boulder Colorado 80303 E.U.A.
TELEX: 45893 SOLTERWARN-BDR
8 de Agosto de 1985

Drs. Wolfgang Herbst & Carl O. Jonsson
Box 14037
S-14037
S-400 20 Goteborg, Suécia

Prezados Drs. Herbst e Jonsson:

O Dr. Ganse deixou o Data Center há cerca de três anos e pediram-me para responder às perguntas que os senhores colocaram na vossa carta de 7 de Julho de 1985.

A sismologia instrumental começou por volta do virar do século. Antes disso, o relato tanto dos grandes terramotos como dos pequenos recaía sobre a população em geral, uma pequena comunidade científica e os media. Grandes terramotos ocorrendo em áreas escassamente povoadas passaram despercebidos e raramente foram catalogados.

A localização sistemática de terramotos começou com a Pesquisa Sismológica Internacional em Inglaterra em 1913 por Herbert Hall Turner, seguindo a orientação estabelecida por John Milne que era encarado com o pai da sismologia Inglesa. O trabalho deles foi continuado por muitos outros, incluindo a Sr.ª Ethel Bellamy e Sir Harold Jefferys que continuaram a publicar relatórios anuais e quinquenais de terramotos localizados pela PSI desde 1918. Eles usaram dados instrumentais para determinar as localizações destes terramotos. Naquele tempo, existiam menos de duas centenas de observatórios sismológicos no mundo e os instrumentos eram todos de alcance reduzido, na ordem dos 100 a 200. Mesmo com esta grande contribuição para as observações sismológicas, os instrumentos eram demasiado insensíveis para determinar mesmo alguns grandes terramotos em áreas remotas do mundo.

A sismologia não recebeu realmente um grande alargamento instrumental até ao princípio da década de 1960 quando a pesquisa costeira e geodética dos Estados Unidos instalou uma rede de 111 conjuntos duplos de instrumentos exactos, por todo o mundo 'livre', principalmente com o objectivo de detectar a detonação de bombas nucleares subterrâneas. A resposta de todos estes instrumentos foi a mesma; a sua precisão variava dependendo do ruído do chão no local. Naquele tempo atingiu-se a possibilidade de detectar todos os terramotos grandes e significativos e provavelmente nenhum no mundo passou sem ser detectado.

O uso incorrecto das estatísticas que os senhores citam na vossa carta é comum da parte de muitos que desejam provar alguma coisa. É sabido que a ocorrência de terramotos não é uniforme no tempo, mas ninguém sabe com certeza qual é a distribuição temporal. O nosso período de tempo estatístico para grandes terramotos é simplesmente muito pequeno para permitir determinar taxas de repetição ou para sugerir que em qualquer período há mais abalos do que noutro período de tempo. Olhando para áreas específicas, parecem haver aglomerados de grandes terramotos no tempo e depois não aparecem nos registos mais nenhuns na área. Um exemplo perfeito disto é o grupo de terramotos com uma magnitude provável de 8+ em 1811-1812 na área de New Madrid nos Estados Unidos centrais. Mesmo a nossa famosa falha de Sto. André tem estado fechada desde 1916, e no entanto houve grandes choques em 1838, 1857 e 1866.

Em resposta às vossas perguntas, eu não concordaria com o uso dos números de terramotos tal como apresentados no 'Catálogo de Terramotos Significativos 2000 AC -- 1979' para provar qualquer taxa de ocorrência ou de repetição de terramotos. Os autores concordariam certamente que a completude do catálogo varia com o tempo, sendo mais pobre nos anos antes da sismologia instrumental. Não conheço nenhuns sismólogos ou estatísticos competentes que usassem os números citados da maneira que a Watchtower Society os usou. Eu certamente concordaria com os Professores Båth e Richter quando afirmam que não houve nenhum aumento significativo no número de terramotos durante este ou qualquer outro século. E eu terminaria com a famosa citação de Mark Twain

"Existem três tipos de mentiras -- mentiras, mentiras malditas, e estatísticas."

Sinceramente seu,

Wilbur A. Rinehart
Sismólogo

Uma vez que a Watch Tower Society na sua publicação The Watchtower de 15 de Maio de 1983, página 6, apelou expressamente para a opinião do Professor Keiiti Aki do Departamento de Ciências Geológicas da Universidade do Sul da Califórnia, a correspondência seguinte é duplamente significativa. Depois de receber uma carta do Professor Aki, nós enviámos uma carta respeitosa, datada de 22 de Setembro de 1985, para a Watch Tower Society, pedindo-lhes uma cópia da declaração completa de Aki para eles. Como era de esperar, eles não estavam dispostos a fornecer tal cópia. Nós somos portanto obrigados a concluir que eles não desejam que outros saibam o conteúdo exacto da declaração a que eles se referiram na sua revista.

Nós apresentamos aqui, apesar de tudo, uma cópia da carta do Professor Aki para a Watch Tower Society que nos foi amavelmente enviada pelo próprio Professor Aki, e isto é seguido por outra correspondência entre o Professor Aki e os autores do presente trabalho. (Para detalhes sobre a maneira como o ponto de vista do Professor Aki foi deturpado nas publicações da Watch Tower Society, veja o Capítulo 3, páginas 66, 67.)

30 de Setembro de 1982

Watchtower Society
25 Columbia Heights
Brooklyn, NY 11201

Prezado Senhor:

Esta é a resposta ao seu inquérito sobre terramotos [EC: ESH 24 de Setembro de 1982]. O aparente aumento em intensidade e frequência de terramotos maiores nos últimos cem anos é, com toda a probabilidade, devido ao melhor registo de terramotos e à vulnerabilidade crescente da sociedade humana aos estragos provocados por terramotos. A razão principal é a bem estabelecida placa tectónica que indica um movimento muito estável ao longo dos últimos milhões de anos.

Uma medida da força dos terramotos mais objectiva do que as baixas é a escala de Richter. É em geral difícil atribuir a terramotos que ocorreram à mais de cem anos magnitudes na escala de Richter. Uma tentativa, contudo, foi feita na China, onde registos históricos são mantidos em melhor forma do que em outras regiões. A figura anexa mostra a escala de Richter (M) dos terramotos na China durante o período de cerca de 2000 anos. Os últimos cem anos são certamente activos, mas houve períodos tão activos como este, por exemplo, de 1500 a 1700.

Sinceramente seu,

Keiiti Aki

O uso pela Watch Tower Society de uma parte seleccionada da carta acima na sua revista The Watchtower resultou numa troca de correspondência entre os autores do presente trabalho e o Professor Aki. Apresentamos aqui o resultado desta correspondência:

DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS GEOLÓGICAS
TELEFONE: (213) 743-2717

5 de Setembro de 1985

Srs. W. Herbst & C. O. Jonsson
Box 14037
S-400 20 Goteborg
SUÉCIA

Prezados Srs. Herbst e Jonsson:

Obrigado pelas vossas perguntas referentes à minha declaração para as Testemunhas de Jeová. Eu penso firmemente que a sismicidade tem estado estacionária por milhares de anos. Eu estava a tentar convencer as Testemunhas de Jeová sobre a estacionaridade da sismicidade, usando os dados obtidos na China para o período de 1500 até 1700, mas eles só deram fraca ênfase à declaração publicada. Evidência geológica excelente para a estacionaridade foi obtida pelo Prof. Kerry Sieh do Caltech, para a falha de Sto. André.

Sinceramente seu,

Keiiti Aki

Wolfgang Herbst e
Carl Olof Jonsson
Box 14037
S-400 20 Göteborg
Suécia

Professor Keiiti Aki
Departamento de Ciências Geológicas
Universidade do Sul da Califória
Parque Universitário
LOS ANGELES
Califórnia 90089-0741
E.U.A.

19 de Abril de 1986

Prezado Senhor,

Muitos ageadecimentos pela sua valiosa carta de 5 de Setembro, em resposta ao nosso inquérito sobre a declaração acerca da frequência dos grandes terramotos tal como citada pela Watchtower Society.

Nós queríamos descobrir até que ponto a Watchtower Society tinha deturpado a sua opinião profissional, portanto eu, Wolfgang Herbst, escrevi à sede da Watchtower em Brookyn pedindo-lhes uma fotocópia da sua declaração completa para eles.

Estranhamente, em vez de nos mandarem a informação desejada eles mandaram-na para o escritório da filial deles na Suécia, que por sua vez o mandou para um ancião local das Testemunhas em Göteborg, chamado Börje Silfverberg. Este representante local escreveu-me e queria-se encontrar comigo num dos seus Salões do Reino, onde me mostrariam a informação que eu tinha pedido. Como isto não era possível no momento eu sugeri que ele simplesmente mandasse uma cópia da correspondência entre eles e o senhor, sublinhando que "quando eu escrevi ao Professor Aki ele não propôs uma reunião inconveniente" mas "prontamente mandou a informação que eu lhe tinha pedido."

Contudo, o Sr. Silfverberg, agindo de acordo com o escritório da Watchtower, mesmo assim não mandou a informação. Distorcendo as coisas, ele escreveu que uma vez que eu tinha a informação de si já não havia nenhuma necessidade "de mostrar a correspondência em questão" e que por conseguinte ele ia mandar a informação de volta para o escritório da filial.

Naturalmente nós tomámos este estranho modo de proceder da parte deles como indicando que se aperceberam que deturparam a sua declaração e que agora estão a tentar abafar todo o assunto. A Watchtower Society afirma, mesmo nas suas publicações mais recentes, que a frequência de grandes terramotos tem aumentado vinte vezes desde 1914!

Uma vez que nós tentamos apresentar os verdadeiros factos sobre a matéria no nosso próximo livro sobre calamidades na história humana, nós gostaríamos de saber se o senhor ainda possui cópias da correspondência que teve com a Watchtower Society e se seria possível para nós obter cópias Xerox de si? Como compreenderá a Watchtower Society não nos quer dar nenhuma ajuda. Entre outras coisas nós gostaríamos de determinar o que é que o senhor quer dizer quando lhes escreve sobre "a aparente vaga em intensidade e frequência dos maiores terramotos durante os últimos cem anos" -- se o senhor escreveu qualquer coisa parecido com aquilo de todo. Se o fez, usou a palavra "aparente" no sentido de "ilusório" (não real), ou no sentido de "evidente, palpável", como a Watchtower Society indica e ainda menos ambiguamente o traduz em outras línguas. A Watchtower sueca, por exemplo, usa uma palavra que significa "visível".

Nós já temos declarações dos seus colegas, doutores Båth, Ambraseys, Person, Kanamori e outros que concordam com o que o senhor já nos escreveu. Mas a deturpação pela Watchtower Society das suas declarações a eles torna a sua opinião significativa num sentido especial. Se o senhor nos poder ajudar uma vez mais nós ficaremos contentes por lhe enviar uma cópia do nosso livro quando for publicado em Atlanta, Georgia, mais tarde este ano,

Sinceramente seus,

Wolfgang Herbst
Carl Olof Jonsson

DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS GEOLÓGICAS
TELEFONE: (213) 743-2717

16 de Junho de 1986

Wolfgang Herbst
Carl Olof Jonsson
Box 14037
S-40020 Goteborg
SUÉCIA

Prezados Senhores:

Encontrarão em anexo uma cópia da minha carta para a Watchtower Society. Apesar do primeiro parágrafo estar de alguma forma incompleto, (a principal razão por que eu penso que a actividade sísmica é constante é abreviada para "A principal razão"), é claro que eles citaram a parte que queriam, eliminando a minha mensagem principal.

Sinceramente seu,

Keiiti Aki

Visto que a área do Mediterrâneo é uma das maiores áreas de terramotos do mundo, a carta seguinte do professor N. N. Ambraseys, do Imperial College of Science and Technology (College Imperial de Ciência e Tecnologia) em Londres, Inglaterra, discutindo a sismicidade naquela área, é de particular interesse:

COLLEGE IMPERIAL DE CIÊNCIA E TECNOLOGIA

N. N. Ambraseys
DSc(Eng) FGS FRGS FICE
Professor de Engenharia Sismológica
Departamento de Engenharia Civil
Imperial College Road
London SW7 2BU
Telephone 01-589 5111 Ext.4718
Telex 261503

9 de Agosto de 1985

Prezados Srs. Herbst e Jonsson,

Obrigado pela vossa carta de 5 de Agosto. A minha resposta geral ao vosso inquérito é que muitas das respostas podem ser encontradas com algum detalhe no livro que escrevi com C. Melville, intitulado "A history of Persian earthquakes" ("Uma história dos terramotos Persas"), Cambridge University Press, 1982.

Com toda a certeza, não houve nenhum aumento na actividade sísmica do Mediterrâneo durante este século. Muito pelo contrário, no Mediterrâneo Oriental a actividade deste século foi anormalmente baixa quando comparada com a dos séculos 10-12 e 18. Eu não penso que tenhamos perdido algum acontecimento importante naquela região durante os últimos 24 séculos.

Anexo algumas publicações que poderão achar de alguma ajuda na preparação do vosso livro,

Sinceramente seu,

N. N. Ambraseys

No seu número de 8 de Junho de 1984, página 29, sob o cabeçalho "Significant" Earthquakes Up (Terramotos "Significativos" Até ao Presente), a revista Awake! da Watch Tower Society referiu-se ao geofísico Waverly Person da United States Geological Survey (Pesquisa Geológica dos Estados Unidos). Esta é a resposta dada ao nosso inquérito pelo Dr. Person, que é o coordenador do National Earthquake Information Service (Serviço Nacional de Informação Sísmica), no Colorado:

Departamento do Interior dos Estados Unidos
PESQUISA GEOLÓGICA
BOX 25046 M.S. 967
CENTRO FEDERAL DE DENVER
DENVER, COLORADO 80225
Escritório de Sismologia & Geomagnetismo Globais
Centro Nacional de Informação Sobre Terramotos
8 de Outubro de 1985

Dr. Carl Olof Jonsson
Box 14037
S-400 20
Goteborg, Suécia

Prezado Dr. Jonsson:

A sua carta para o Dr. Frank Press, acerca de um aumento significativo dos grandes terramotos durante este século foi-me submetida para uma resposta.

Eu não estou certo de qual é a sua qualificação de grandes terramotos, mas para nós grandes terramotos são aqueles que têm magnitudes de 8.0 ou superiores.

Os nossos registos não mostram nenhum aumento significativo nos grandes terramotos. Anexa está uma lista de todos os grandes terramotos de magnitude 8.0 ou maior que temos nos arquivos.

Se o podermos ajudar em mais alguma coisa, por favor volte a contactar-nos.

Sinceramente seu,

Waverly J. Person
Director, Serviço Nacional
de Informação Sobre Terramotos

Junto com esta carta, o Dr. Person enviou uma lista completa dos "grandes terramotos," quer dizer, "todos os terramotos com magnitude 8.0 ou superior," que tinham nos arquivos. Esta lista engloba todos os "grandes terramotos" de 1897 em diante, mais sete terramotos dispersos anteriores àquela data.1 De facto a lista mostra um número gradualmente decrescente de grandes terramotos durante este século, com o número proporcionalmente maior durante o período anterior a 1914. Isto está de acordo com as conclusões de outros sismólogos proeminentes, como é mostrado no nosso capítulo sobre terramotos.2

A lista fornecida pelo Dr. Person está resumida abaixo em intervalos de 17 anos:

Período de 17 anos N.º de grandes terramotos Média anual
1897-1913
1914-1930
1931-1947
1948-1964
1965-1981
49
28
28
14
10
2,9
1,6
1,6
0,8
0,6

De 1982 a 1985, inclusive, só ocorreu um "grande" terramoto, aquele no México em 19 de Setembro de 1985. Naturalmente, esta dimunuição grandual do número de grandes terramotos neste século, representa simplesmente uma variação normal quando vista numa perspectiva de longo prazo. A tendencia pode portanto mudar rapidamente para uma tendencia oposta a qualquer altura, de acordo com o ciclo natural dos tremores de terra.

Por ter a publicação da Worldwide Church of God (Igreja Mundial de Deus) The Good News of the World Tomorrow (As Boas Novas do Mundo de Amanhã) feito uma afirmação espantosa segundo a qual de 1901 a 1944 "apenas sete terramotos mediram magnitude 7 ou superior," foi escrita uma carta ao Dr. Seweryn J. Duda, Professor de Geofísica na Universidade de Hamburgo, pedindo os seus comentários. A resposta do Professor Duda é apresentada aqui:

UNIVERSIDADE DE HAMBURGO
INSTITUTO DE GEOFÍSICA

Sr. Wolfgang Herbst
Carl Olof Jonsson
Box 14037
S-400 20 Göteborg
Suécia

7 de Julho de 1986

Prezado Sr. Wolfgang Herbst,
prezado Sr. Carl Olof Jonsson,

Isto é com referência à carta do Sr. Wolfgang Herbst datada de 7 de Junho de 1986. As vossas perguntas podem ser respondidas como se segue:

ad 1) No período de 1901-1944 cerca de 1000 (mil) terramotos com magnitude 7 ou superior ocorreram por todo o mundo.

ad 2) Não é justificada a afirmação segundo a qual os grandes terramotos têm aumentado dramaticamente dos anos cinquenta até ao presente. Há indicações que apontam para um decréscimo constante da actividade sísmica ao redor do mundo -- se expressa em termos de terramotos com magnitude 7 ou superior -- no período que vai do princípio do século 20 até agora. Seria contudo especulativo extrapolar o padrão seja de que maneira for para o futuro.

ad 3) Não há indicações de que o século vinte seja radicalmente diferente de séculos anteriores, no que diz respeito à actividade sísmica global.

O que é diferente, porém, é a maior densidade populacional (em áreas propensas à ocorrência de terramotos, e consequentemente o maior potencial de perda de vidas humanas em caso de um terramoto, compensado contudo em geral por um melhor padrão de construção de casas.) Também, a melhor comunicação aumenta o conhecimento das calamidades envolvidas em caso de desastre natural.

Agradecendo-lhe por ter perguntado a minha opinião acerca do problema acima, sou

Sinceramente seu,

Seweryn J. Duda
Professor de Geofísica

Todas estas cartas escritas por reputadas autoridades em terramotos estão assim em forte contraste com as afirmações extremas, muitas vezes irresponsáveis, feitas por vários anunciadores do fim dos tempos nos nossos dias.


Notas

1 A escolha de 1897 como o ponto de partida não é acidental. Foi na década de 1890 que sismógrafos capazes de registar terramotos longínquos começaram a ser usados. Portanto um registo razoavelmente completo de grandes terramotos de todas as partes da terra só está disponível de 1897 em diante.

2 O sismólogo Seweryn J. Duda, no seu estudo aprofundado do período 1897-1964, conclui: "Portanto, a libertação anual de energia sísmica no mundo mostra uma clara tendencia de decréscimo no intervalo 1897-1964 .... A libertação anual de energia sísmica tem diminuído de forma significativa nos 68 anos desde 1897 tanto à volta do Pacífico como nas outras regiões." (Tectonophysics [Física Tectónica], Vol. 2, 1965, p. 424) Destes 68 anos, os de 1905-1907 tiveram o maior número de terramotos. O geólogo Haroun Tazieff explica: "O período 1905-1907 foi o mais conturbado nos tempos modernos, um período marcado por onze abalos de magnitude 8 ou mais; e só durante o ano 1906 o mundo suportou estes terramotos sucessivos: Honshu, Japão, magnitude 8 ...; fronteira da Colômbia com o Equador, magnitude 8.6; São Francisco, 8.2; Aleutians, 8; Valparaíso no Chile, 8.4; Nova Guiné, 8.1; Sinkiang, China, magnitude 8. Segundo Gutenberg e Richter a energia libertada por terramotos em 1906 foi cinco vezes maior do que a média do século vinte, baseada nos anos 1904-1952." (When the Earth Trembles [Quando a Terra Treme], Londres 1964, p. 134)


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