The Sign of the Last Days -- When? (O Sinal dos Últimos Dias -- Quando?) (Atlanta: Commentary Press, 1987) de Carl Olof Jonsson e Wolfgang Herbst, pp. 11-45.

Capítulo 2: Fome — Está Pior Hoje?

Carl Olof Jonsson e Wolfgang Herbst


Muitos escritos que tratam do tempo do fim transmitem um quadro muito negro da situação dos alimentos no mundo. Alguns escritores entendem as palavras de Jesus "haverá fomes", e os símbolos em Revelação capítulo seis, como predizendo fome global de proporções enormes e sem paralelo.

Em 1982, o autor de best-sellers Hal Lindsey escreveu em The Promise [A Promessa] (página 198):

Jesus predisse um grande surto de fome mundial numa escala que o homem nunca antes conheceu. Hoje os títulos da [revista] Time, da Newsweek e dos jornais anunciam de forma dramática os factos devastadores de que milhões estão a morrer de fome neste exacto momento. E a previsão é que outros milhões morrerão de fome nos próximos anos ...

Em Approaching Hoofbeats [Passos Que Se Aproximam], páginas 151 e 153, o Dr. Billy Graham declara:

A seguir aos cavalos branco e vermelho, a fome prevalecerá sobre a terra. Milhões morrerão de fome. Outros milhões sofrerão de má nutrição.... O cavalo e o cavaleiro negro são o aviso de Deus quanto ao sofrimento humano que jaz à frente se o Homem se recusar a obedecer aos Seus mandamentos.

O cavalo negro e o seu cavaleiro trovejam na nossa direcção. Os passos de aviso são os gritos de crianças morrendo de fome e de doença.

O autor Robert Pierson, Adventista do Sétimo Dia, avisa:

... em pelo menos trinta e dois países da terra actualmente, ... segundo algumas estimativas, setecentos milhões (mais de três vezes a população dos Estados Unidos da América) estão a enfrentar a morte devido à fome neste exacto momento....

Ao falar dos sinais da Sua segunda vinda, Jesus disse: 'Haverá fomes ... por todo o lado.'...

Outro sinal inconfundível dos tempos em que vivemos. Jesus vem em breve! -- Good-bye, Planet Earth [Adeus, Planeta Terra], páginas 22, 24.

Uma publicação da Worldwide Church of God [Igreja Mundial de Deus], The Black Horse Famine [O Cavalo Negro: Fome] (1976), na página 48 faz estas afirmações notáveis:

Sempre houve fomes, mas nunca foram semelhantes às que o mundo está a experimentar hoje. Em geral, as fomes do passado ocorriam associadas a secas, guerras e outras perturbações naturais ou provocadas pelo homem.... Hoje a fome mundial está embutida na estrutura da sociedade mundial. A fome é agora um modo de vida para milhões de pessoas....

As fomes de hoje também diferem das do passado tanto na sua natureza como na sua extensão. Nunca antes várias centenas de milhões de pessoas sofreram de fome e má nutrição num dado período da história como acontece hoje.

É inegável que, no caso de algumas áreas da terra, a situação é realmente grave. É igualmente inegável que "milhões estão a morrer de fome neste exacto momento" e que milhões de "crianças estão a morrer de fome." A pergunta é: será que esta situação é uma singularidade do nosso tempo ou do século XX? Será que é incomum -- suficientemente distintiva para ser apontada como constituindo um sinal divino de desastre iminente?

Os autores anteriormente citados apresentam aquilo que acham ser evidência de mau agouro de uma fome mundial predita, já presente ou muito próxima. A Sociedade Torre de Vigia é tão explícita como a Worldwide Church of God, anunciando repetidamente nas suas publicações que uma época de fome sem paralelo na história humana chegou definitivamente. De facto, eles alegam que tal época de fome sem paralelo para a humanidade tem visto um cumprimento dramático desde a segunda década deste século.

Qual é a verdade sobre este assunto?

Quantos estão realmente a morrer de fome hoje?

Parece haver uma confusão considerável sobre o número exacto de pessoas que estão realmente a morrer à fome actualmente no mundo. Na publicação Felicidade -- Como Encontrá-la? (1981) é citada uma notícia dizendo que "Pelo menos uma dentre cada oito pessoas na terra ainda sofre de alguma forma de subnutrição." (Página 149) Contudo, na mesma página citam outra notícia dizendo que "mais de um bilhão de pessoas não terão o suficiente para comer este ano."1 Isto seria uma de entre cada quatro pessoas na terra. Uma publicação anterior, Do Paraíso Perdido ao Paraíso Recuperado (1959), citou Josué de Castro, um perito em alimentação, das Nações Unidas, que diz que dois terços da raça humana sofrem de subnutrição ou, como a Sociedade Torre de Vigia "explica" o termo, estão "morrendo aos poucos de fome". Segundo de Castro, outro perito, W. P. Forrest, calculou o número como sendo 85 por cento da população do globo. A partir desta declaração, a Sociedade Torre de Vigia concluiu que "Desde 1914, a escassez de víveres ou as fomes têm afectado duas vezes tantas pessoas como nos 900 anos anteriores", e "Nunca antes do ano 1914 faltava alimento ao mundo inteiro."2

Existe alguma verdade por detrás destas declarações? Quantos estão realmente a morrer de fome ou têm "escassez de víveres" hoje: "uma dentre cada oito" pessoas (12,5 por cento), "mais de um bilhão de pessoas" (25 por cento), "dois terços da raça humana" (67 por cento), "85 por cento" ou o "mundo inteiro" (100 por cento)?

Fome e má nutrição — uma distinção

Ao discutir a ampla variedade de opiniões entre os peritos acerca do alcance da fome, o Dr. Pandurang V. Sukhatme observa: "A primeira dificuldade básica surge devido à inexistência de uma definição precisa de fome."3 Até aos tempos modernos, fome significava simplesmente [estar em vias de] morrer à fome devido à falta de comida. Assim, a Encyclopaedia of the Social Sciences [Enciclopédia das Ciências Sociais] define fome como "um estado de fome extrema sofrido pela população de uma região em resultado da ruptura do suprimento de alimentos normal."4

Contudo, a ciência moderna ampliou o conceito de "fome" para incluir também a chamada "fome escondida" ou má nutrição, que se refere a uma falta de um ou mais nutrientes essenciais na dieta, como vários tipos de aminoácidos, sais minerais e vitaminas. Esta "fome escondida" era, naturalmente, pouco conhecida em séculos anteriores devido à falta de conhecimento acerca destes nutrientes essenciais, embora tal "fome escondida" estivesse ainda mais espalhada no passado do que actualmente, conforme este estudo demonstrará.

Portanto, quando modernos peritos em alimentos falam acerca de fome hoje, em geral é neste sentido mais abrangente. Josué de Castro, citado pela Sociedade Torre de Vigia como dizendo que dois terços da raça humana sofrem de má nutrição, usa "fome" neste sentido, conforme Lord Boyd Orr, o primeiro Director da FAO (Organização para Alimentação e Agricultura das Nações Unidas), explica no prefácio do livro de Castro, Geography of Hunger [Geografia da Fome]:

O termo 'fome', usado pelo autor, precisa de ser definido. No passado este termo foi usado para significar falta de alimentos para satisfazer o apetite e o número de mortes devidas à fome foi limitado aos casos de pessoas num estado de enfraquecimento extremo, que morreram devido a fome pura e simples. Contudo, o autor usa o termo na acepção moderna de falta de qualquer dos cerca de quarenta constituintes da alimentação necessários para manter a saúde. A falta de qualquer destes constituintes causa morte prematura embora não necessariamente de enfraquecimento extremo devido à falta de qualquer tipo de alimento que se possa comer.

Mostrando o efeito que esta definição ajustada de fome tem nas estimativas da fome no mundo, ele acrescenta:

Se o termo fome for usado nesta acepção, então, segundo as melhores estimativas anteriores à guerra, dois terços da população do mundo estão famintos. Um Comité Americano recente colocou este número nos 85 porcento.5

Assim, é necessário distinguir claramente entre a fome no sentido antigo (que ainda é comum) e este conceito moderno de má nutrição.6 Então, quantas pessoas estão hoje realmente morrendo à fome e quantas estão mal nutridas?

O alcance da fome e da má nutrição hoje

Investigações mais recentes e mais cuidadosas acerca do alcance da fome na actualidade mostraram que estava errada a estimativa anterior à guerra, segundo a qual dois terços da Humanidade sofrem de má nutrição. O Dr. P. V. Sukhatme, por exemplo, depois de uma investigação muito extensa acerca do alcance da fome na Índia, concluiu que cerca de 50 porcento da população da Índia sofre de subnutrição ou de má nutrição ou de ambas as coisas.7

Se isto é verdade no caso da Índia, que até recentemente era um dos países mais afectados pela fome no mundo, então é claro que a proporção de pessoas mal nutridas no mundo todo tem de ser inferior, ou seja, tem de ser consideravelmente inferior a 50 porcento.

Provavelmente a investigação mais autorizada sobre o alcance da fome hoje é aquela publicada antes da World Food Conference [Conferência Alimentar Mundial] em Roma, em 1974.8 A investigação mostrou que entre 460 e 900 milhões de pessoas no mundo sofrem em vários graus de má nutrição ou de subnutrição, isto é, entre 12,5 e 25 porcento da humanidade. Metade destes eram crianças, das quais cerca de 10 milhões sofriam de subnutrição grave, ou fome.

As mesmas estimativas que indicam que cerca de um bilião de pessoas sofrem de má nutrição e subnutrição também mostram que, destes, não são mais de cerca de 40 milhões os que estão realmente a morrer à fome. Isto é menos de um porcento da Humanidade!9

Portanto, a pergunta é esta: Quando Jesus, nas suas palavras introdutórias de aviso, disse que, além de guerras e terramotos, "haverá escassez de víveres [na edição inglesa: famines ou fomes] ... num lugar após outro" (Mateus 24:7), será que ele pensava em fome no sentido antigo e comum -- catástrofes de fome recorrentes e agudas em vários lugares? Ou pensava em fome no sentido moderno, ou seja, subnutrição ou má nutrição crónicas devido a insuficiente assimilação de calorias e/ou falta de um ou mais nutrientes essenciais na dieta?

A resposta é óbvia. A palavra grega traduzida por "fome", limós, refere-se a fome no sentido antigo: [morrer à] fome devido à falta de alimento. Também é digno de nota que a palavra é usada no plural, limoí ("fomes"). Isto não indica uma condição crónica de subnutrição, indica catástrofes agudas de fome "num lugar após outro".

Aplicar o termo bíblico ao estado de subnutrição e má nutrição crónico prevalecente em algumas partes do mundo hoje, como faz a Sociedade Torre de Vigia, e limitar esta aplicação ao período desde 1914, não apenas entra em conflito com o entendimento natural da declaração de Jesus, como também está em conflito com o facto de a maior parte da Humanidade ter evidentemente sofrido de má nutrição e subnutrição desde tempos imemoriais, incluindo a própria época em que Jesus pronunciou a sua profecia.

Então, será que hoje vemos mais e piores fomes reais do que a Humanidade alguma vez viu no passado? Será que a fome "em bruto" -- ou até mesmo a "fome escondida" -- agora corrói as partes vitais da Humanidade como nunca antes? Estas perguntas serão respondidas na discussão que se segue, primeiro através de um exame da história das fomes em várias partes do mundo. Depois examinaremos mais de perto a má nutrição, e especialmente a mortalidade infantil causada por má nutrição e subnutrição, comparada com este problema no passado.

"A maior fome de toda a história" — antes ou depois de 1914?

Durante décadas a Sociedade Torre de Vigia tem afirmado que a maior fome e a pior escassez de víveres na história humana ocorreu pouco depois da Primeira Guerra Mundial:

A pior escassez de víveres na história humana deu-se na sequência da Primeira Guerra Mundial. -- The Watchtower [A Sentinela], 15 de Outubro de 1975, página 634 [em inglês].

... na esteira da Primeira Guerra Mundial veio a maior fome de toda a história. -- "Venha o Teu Reino", 1981, página 122; veja também Poderá Viver Para Sempre no Paraíso na Terra, 1982, página 150.

Que fomes ou escassez de víveres ocorreram na esteira da Primeira Guerra Mundial? The Watchtower [A Sentinela] de 15 de Abril de 1983 [em inglês], explica:

Em 1921, a fome provocou a morte de cerca de 5 milhões de pessoas na U.R.S.S. Em 1929, estima-se que a fome tenha causado 3 milhões de mortes na China. Na década de 1930, 5 milhões morreram de fome na U.R.S.S. (Página 5)

Mas será que estas foram as piores fomes de toda a história? Não, não foram. Nesse mesmo número da Watchtower [Sentinela], o autor, que evidentemente tinha feito alguma pesquisa sobre o assunto, sentiu-se compelido a contradizer todas as declarações anteriores nesse sentido e a admitir:

... é verdade que a história está cheia de relatos de fomes, desde os dias de Abraão e de José até à maior fome de todos os tempos que está registada, aquela que atingiu a China entre 1878 e 1879. (Génesis 12:10; 41:54) As estimativas sobre o número de chineses que morreram nessa fome variam entre 9 e 13 milhões. -- The Watchtower [A Sentinela], 15 de Abril de 1983, página 3 [em inglês].

Esta admissão é tanto mais interessante porque as publicações da Sociedade Torre de Vigia tinham afirmado durante anos que a maior fome na China ocorrera depois da Primeira Guerra Mundial! Aludindo à seca no norte da China em 1920-1921, o livro Do Paraíso Perdido ao Paraíso Recuperado (1959) declarou: "Pouco depois da Primeira Guerra Mundial, a China sofreu a maior fome que já teve -- 15.000 pessoas morriam cada dia e 30.000.000 de pessoas ficaram afectadas por ela."10 Os 15.000 mortos cada dia podem parecer impressionantes à primeira vista -- até sabermos que a situação foi em breve aliviada pelo governo e por esforços filantrópicos privados. Segundo a melhor informação que é possível obter, meio milhão (500.000) morreram nessa fome.11 Embora este seja um número assustador, o tributo da morte em muitas outras fomes na China anteriores a 1914 foi muito maior, como se mostra a seguir.

Consequentemente, "a maior fome" e "a pior escassez de víveres" na história humana não se deram "na sequência da Primeira Guerra Mundial", como a Sociedade Torre de Vigia tinha estado a dizer aos leitores das suas publicações durante décadas. E a China não teve a sua "maior fome" "pouco depois da Primeira Guerra Mundial". As maiores e piores fomes ou escassez de víveres ocorreram todas antes do século XX.

Contudo, mesmo que o tamanho de cada fome, considerada separadamente não tenha aumentado desde 1914, talvez alguns afirmem que o número total de fomes aumentou desde essa data. Isto é indicado pelo autor do mesmo artigo da Watchtower [Sentinela] citado acima:

Será que temos presenciado mais de tais escassez de víveres do que gerações anteriores? Não podemos dize-lo com certeza pois as estatísticas são incompletas. Mas este século tem tido a sua quota parte de calamidades naturais e tem sofrido mais devido à guerra do que qualquer outra geração da história. Por isso, pode ser que no total tenha havido mais escassez de víveres do que no passado.12

Nesta declaração o escritor da Torre de Vigia faz outra admissão surpreendente que não se pode encontrar em publicações anteriores da Sociedade. Ele admite que não se pode dizer com certeza que as fomes aumentaram em número, só se pode dizer que talvez isto tenha acontecido! Se não existe uma prova definitiva de que as fomes aumentaram em tamanho ou em número desde 1914, então, como é que se pode afirmar que são um "sinal" de alguma coisa?

Mas o autor, apesar desta cautela, não apresentou toda a verdade sobre as fomes no passado. Mesmo sendo verdade que as estatísticas estão incompletas, existe informação suficiente preservada para demonstrar que o número de fomes diminuiu no nosso século, em comparação com séculos anteriores! Isto tornar-se-á evidente na pesquisa que se segue, sobre fomes no passado na China, Índia, Europa e outras partes do mundo.

O estudo das fomes

Das três calamidades, guerra, fome e pestilência, a fome tem sido a menos estudada. Conforme de Castro observou, muito pouco fora escrito sobre a fome até ao final da Segunda Guerra Mundial: "Por cada estudo sobre os problemas da fome, havia um milhar de publicações sobre o problema da guerra."13

A razão pela qual os estudiosos pareciam evitar o assunto não era porque a fome fosse um problema menor no passado. Antes pelo contrário! A "destruição humana que resultou da fome é consideravelmente maior do que a produzida pelas guerras e epidemias em conjunto."14 Foi dito acertadamente que a história "nunca será compreendida até que seja escrito um livro terrível -- a História da Fome." Se tal livro fosse escrito, observou E. P. Prentice, "seria lançada uma nova luz sobre a história ... de todo o mundo -- porque em todas as épocas, e em todas as partes do mundo, o Homem sofreu devido à fome."15

A primeira investigação cuidadosa acerca das fomes foi feita por Cornelius Walford da Royal Historical Society [Sociedade Histórica Real] em Londres, que publicou dois extensos artigos sobre o assunto no Journal of the Statistical Society [Jornal da Sociedade de Estatística] em 1878 e 1879.16 No primeiro artigo Walford incluiu uma lista de mais de 350 grandes fomes em várias partes do mundo, desde 6 A.D. até 1878 A.D.17

Desde então apareceram outros estudos, normalmente limitados a certas áreas ou países e cobrindo diferentes períodos de tempo. Em 1892 o Dr. Alwin Schultz publicou uma tabela de fomes na Alemanha durante os anos 1300-1499.18 Um extenso estudo sobre as fomes na Europa, desde 700 até 1317 A.D. foi publicado por Fritz Curschmann em 1900.19 E Léopold Delisle publicou uma lista de fomes em França em 1903, cobrindo o período 1053-1414 A.D.20 Mais recentemente, apareceram trabalhos sobre fomes na China, Índia e outras partes do mundo, que foram consultados para a informação apresentada nas secções seguintes.

China, "terra da fome"

A China, lar de cerca de um quarto dos habitantes da terra, é -- e parece ter sido durante a maior parte dos últimos 2.000 anos -- a parte mais populosa do mundo.

Este país tem sido atingido tão frequentemente por fomes destrutivas que chegou a ser conhecido em todo o mundo como "a terra da fome".21 Conforme foi demonstrado por um estudo completado na década de 1920, o país tinha sofrido quase uma fome por ano nos últimos 2.000 anos:

O problema da fome é antigo na China; desde os tempos mais remotos as fomes têm sido uma praga recorrente. Um estudo recentemente completado pela Student Agricultural Society [Sociedade Agrícola dos Estudantes] da Universidade de Nanking trouxe à luz o facto surpreendente e significativo de entre os anos 108 A.C. e 1911 A.D. ter havido 1828 fomes, ou quase uma cada ano em algumas das províncias. Incontáveis milhões morreram de fome."22

A fome mais terrível de entre estas resultou das grandes secas periódicas: "Dos mil anos entre 620 e 1620, 610 foram anos de seca numa província ou noutra e 203 destes foram anos de fomes graves."23 Pelo menos quinze destas fomes foram tão graves que os chineses recorreram ao canibalismo.24 Em muitas destas fomes, devem ter morrido milhões de pessoas. Contudo, em geral faltam os números, parcial ou totalmente. Durante os quatro anos entre 1333 e 1337, por exemplo, os registos chineses relatam que "4.000.000 de pessoas pereceram de fome só na vizinhança de Kiang." Milhões adicionais morreram em outras áreas.25

No caso dos séculos mais próximos, está disponível informação melhor. Várias fomes muito destrutivas afligiram a China durante o século XIX. "Diz-se que as quatro fomes de 1810, 1811, 1846 e 1849 custaram pelo menos 45.000.000 de vidas."26 De entre estas, "diz-se a de 1849 custou perto de 14 milhões de vidas".27 Pensa-se que entre 1854 e 1864 "outros 20 milhões pereceram".28 Depois, em 1876-1879, veio a grande fome mencionada pela The Watchtower [A Sentinela], citada anteriormente, como sendo a "maior fome de todos os tempos que está registada", na qual pereceram entre nove e treze milhões de seres humanos.29

A afirmação de que esta foi a "maior" de todas as fomes não é, porém, muito exacta. Mallory, escrevendo em 1926, descreve-a mais correctamente como sendo a "pior fome que ocorreu na China presente na memória dos actuais habitantes."30 Sabe-se que algumas fomes anteriores foram ainda mais mortíferas, como por exemplo aquela na China em 1849 (cerca de 14 milhões de mortos), ou a que atingiu a Índia em 1769-1770 (que pode ter custado dezenas de milhões de vidas).

Perto do fim do século XIX, já muito flagelado pela fome,

CANIBALISMO -- UMA OCORRÊNCIA COMUM DURANTE
A GRANDE FOME CHINESA DE 1876-1879

Ilustração publicada em The Famine in China [A Fome na China] (Committee of the China Famine Relief Fund, Londres: C. Kegan Paul and Co., 1978). (Reproduzido em P. R. Bohr, Famine in China and the Missionary [Fome na China e os Missionários], Cambridge, 1972, depois da página 20.)

ainda ocorreu outra fome severa na China, nos anos 1892-1894, que custou aproximadamente um milhão de vítimas adicionais.31

Assim, o século XIX foi marcado por fomes desastrosas para a China, visto que durante esse século, segundo a estimativa de de Castro, "cerca de cem milhões de indivíduos morreram à fome"!32

Quantos daqueles que hoje lêem livros com títulos sensacionalistas e declarações fantásticas acerca de sinais do tempo do fim conhecem estes duros factos da história? Quanto aos milhões de Testemunhas de Jeová ao redor do mundo, é duvidoso que mesmo um punhado delas estejam familiarizadas com a evidência factual sobre este assunto.

Que se pode então dizer sobre a China no século XX? Será que experimentou um aumento de fomes, quer em tamanho quer em número (frequência)? Será que a fome ali é maior desde 1914 do que antes dessa data? O registo mostra um desenvolvimento muito interessante.

A primeira fome severa na China depois de 1914 teve lugar em 1920-21, conforme foi mencionado. Como o número de mortos foi cerca de meio milhão, obviamente não foi de maneira nenhuma a maior fome da China. Depois ocorreu a grande fome de 1928-29, causando mais de três milhões de mortos.33 Nenhuma destas duas fomes se aproximou do tamanho de algumas das grandes fomes do século XIX que discutimos anteriormente.

Durante as décadas de 1930 e 1940, a China, sob a liderança de Chiang Kai-shek, tentou elevar o nível de vida do povo chinês, ajudada por empréstimos das potências ocidentais. Apesar destes esforços, a situação não melhorou muito a não ser depois da vitória da revolução comunista sob Mao Tse-tung, em 1949. Depois disso, o novo governo tomou medidas enérgicas para aumentar a produção agrícola com o objectivo de acabar com a fome. A luta revelou-se notavelmente bem sucedida:

No espaço de sete anos, a China quase duplicou a sua produção de cereais, com um aumento médio anual de cerca de 8 porcento, que espantou todo o mundo.... Este tremendo aumento da produção e os custos mais baixos que resultaram das taxas de produtividade crescentes, melhoraram os padrões das dietas e libertaram o povo chinês das garras da fome.... Através de acção política organizada e efectiva, a nova China resolveu o seu maior problema dentro de dez anos: a alimentação dos seus 700 milhões de habitantes.34

Porém, a vitória ainda não estava completa. Uma série de secas excepcionalmente severas em 1960 e 1961 -- mesmo a meio da infeliz experiência económica chamada "o grande passo em frente" -- forçou a China a importar grandes quantidades de cereais dos países ocidentais. Já se sabia há muito tempo que esta crise causou um enorme sofrimento e uma fome severa. Mas foi só em 1984, quando os chineses publicaram os resultados do censo de 1964, que a dimensão real do desastre pôde ser estimada por peritos demográficos. As estimativas do número de mortes devidas à fome, má nutrição e mortalidade infantil durante os quatro anos 1958-61 variam entre 8 e 30 milhões.35

Portanto, esta fome foi perfeitamente comparável a algumas das piores fomes do passado. No entanto, constitui uma mancha negra num quadro brilhante que tende a melhorar. E, note-se, não torna de maneira nenhuma a situação da fome na China tão crítica como no desastroso século XIX.

Descontados os recuos temporários mencionados, a situação alimentar na China tem melhorado constantemente. Castro, perito mundial em alimentos, escreveu em 1973:

Desde 1962, apesar de um aumento populacional de 2 porcento ao ano, a agricultura expandiu-se a uma taxa anual de 4 porcento, e tem sido capaz de manter o passo suficientemente bem para banir o espectro da fome completamente.36

Assim, a China, antiga "terra da fome", já não merece essa designação. Tendo sido atingida por fomes quase anualmente durante milhares de anos, este país conseguiu no século XX -- pela primeira vez na sua longa história -- atingir gradualmente uma assinalável liberdade da praga da fome. A população aumentou para mais de um bilião de pessoas, mas estão agora a ser tomadas medidas enérgicas para limitar este crescimento. A afirmação de que as fomes têm aumentado desde 1914 não é verdadeira no caso desta quarta parte de toda a humanidade. Pelo contrário, a fome nesta terra tem diminuído, praticamente desapareceu, nesta que era até recentemente a parte do mundo mais afectada pela fome!

Fomes na Índia

A seguir à China, a Índia era e ainda é o país mais populoso do mundo. Se o Paquistão e o Bangladesh, que até 1947 eram partes da Índia, fossem incluídos na sua actual população, esta seria quase 900 milhões, ou cerca de um quinto da população da terra. A seguir à China, a Índia também tem experimentado mais fomes extremas do que qualquer outro país.

A Índia tem sofrido de fomes desde tempos imemoriais. Embora não tenhamos um registo sequencial e completo de todas as fomes que ocorreram no período da história indiana anterior à presença britânica, a evidência disponível sugere que nos tempos antigos ocorreu uma grande fome em cada 50 anos.37

Os registos da antiguidade mencionam fomes devastadoras, por vezes acompanhadas de canibalismo entre as vítimas esfomeadas. Diz-se que províncias inteiras ficaram despovoadas em 1022 e em 1052 A.D. "Em 1555, e de novo em 1596, a fome violenta por todo o noroeste da Índia resultou em cenas de canibalismo, segundo cronistas contemporâneos."38 Em 1630, uma seca devastadora "atingiu a província de Gujarat e centros inteiros ficaram despovoados."39

Talvez a maior fome de que há registo tenha sido a catástrofe de 1769-1770, durante a qual, segundo algumas estimativas, um terço da população indiana pereceu. Só em Bengal, pereceram dez milhões, e possivelmente várias dezenas de milhões morreram em toda a Índia.40

A frequência das fomes na Índia parece ter aumentado depois de ter começado a colonização britânica, em 1756. Desde 1765 até 1858, o país passou por doze fomes e quatro períodos de escassez grave. Outras seis grandes fomes ocorreram durante os vinte anos desde 1860 até 1880. Dos quarenta e nove anos entre 1860 e 1908, vinte foram anos de fome ou escassez.41 Várias destas fomes causaram milhões de mortes cada uma. "As fomes das primeiras décadas de 1800, segundo Andre Philip, mataram metade dos habitantes de Madras, Mysore e Hyderabad."42 A fome de 1865-66 custou cerca de três milhões de vidas, e a de 1876-78 custou mais de cinco milhões.43 O século dezanove terminou com duas das fomes mais desastrosas de século: mais de cinco milhões pereceram na fome de 1896-98 e outros 3,25 milhões durante os anos 1899-1900.44

O que estamos interessados em saber é se este século vinte presenciou algum aumento no número de fomes na Índia, e particularmente desde 1914. A resposta será certamente uma surpresa para alguns: "Não houve qualquer grande fome no país depois de 1908 até à fatídica tragédia de Bengal em 1943," indica o Dr. Bhatia, o principal perito em fomes na Índia.45

Assim, durante cerca de três décadas imediatamente depois da Primeira Guerra Mundial -- no período em que, de acordo com o "sinal composto" da Sociedade Torre de Vigia, haveria mais fomes do que nunca -- a vasta península da Índia, tão frequentemente afectada pela fome, não contribuiu com uma fome sequer para este "sinal"! Porquê? Bhatia explica:

A fome de 1907-08 ... revelou-se um ponto de viragem na longa história do problema dos alimentos e da fome na Índia. De aqui em diante, a seca deixou de ser um problema de séria preocupação. A atenção voltou-se, por outro lado, para o preço da comida, disponibilidade de emprego e a taxa dos salários.

Explicando o que isto significou para a fome na Índia, ele diz:

A fome já não significava mortes de fome em massa devido à falta de comida; passou a significar, como em algumas outras economias modernas, preços altos dos cereais sem um correspondente aumento proporcional dos salários, resultando em consumo reduzido de cereais por parte dos mais pobres e, por isso, semi-fome. A fome transformou-se em Problema Alimentar, que desde então nos tem acompanhado.46

Consequentemente, durante um período de trinta e cinco anos, de 1908 a 1942, a Índia passou por alguns períodos de escassez mas não teve grandes fomes envolvendo qualquer perda de vidas considerável."47 Assim, a fome de Bengal em 1943 foi um choque, e a Índia não estava preparada para ela. Antes de a situação ficar sob controlo, um milhão e meio de pessoas pobres e sem recursos morreram à fome.48 Em 1974 Bengal (então separada da Índia com o nome de Bangladesh) passou de novo por uma fome na qual várias centenas de milhares morreram de fome, uma fome que, segundo observadores, teve causas políticas e poderia ter sido evitada.49

Em 1965 Bhatia escreveu sobre a Índia nas suas actuais dimensões: "Ao longo das duas últimas décadas fomos bem sucedidos em evitar mortes provocadas pela fome em todo o país."50 Isto foi possível através de grandes importações de cereais e ajuda internacional.

Desde 1966, os líderes indianos lutaram arduamente para libertar o seu país da dependência da caridade internacional, e a situação melhorou gradualmente. De Castro escreveu em 1973:

Graças a medidas técnicas e organizativas, a situação nutricional da Índia, que até 1966 estava entre as piores do mundo, começou a mostrar sinais de que tinha alcançado um ponto de viragem. Durante os últimos dois anos a produção agrícola aumentou a uma taxa de 8 porcento, o que é um verdadeiro milagre.51

Que dizer da situação hoje? A Índia ainda é um país muito pobre; não obstante, o desenvolvimento económico tem continuado. Em 1985, a revista Time podia relatar:

Os avanços mais importantes deram-se na produção alimentar. Há quinze anos atrás, a Índia dependia muito dos cereais importados para alimentar os seus milhões de famintos e a seca era frequentemente um caso de vida ou de morte. Agora o país é auto-suficiente em alimentos. Desde 1971, a produção de cereais aumentou 40%, largamente em resultado da 'revolução verde,' o programa científico que usa sementes de elevado rendimento e irrigação intensiva, que começou em meados da década de 1960.52

Portanto, tal como na China, o quadro da fome na Índia revela um desenvolvimento notável. Tendo sido flagelada por fomes recorrentes durante a maior parte da sua história, esta península vasta e populosa deu grandes passos em direcção a libertar-se da fome severa ao longo do século XX. Estão a ser feitos grandes esforços para controlar a expansão da população e para eliminar o eterno problema da pobreza na Índia.

Resumindo, certamente que a má nutrição ainda existe na Índia. Isto não é uma novidade nem é incomum na sua história. O que é novo e incomum é o facto de, em vez de estar a piorar, a situação estar definitivamente a melhorar no nosso século.

Até este ponto, a nossa investigação demonstrou que os dois países mais populosos e flagelados pela fome em todo o mundo, a China e a Índia, ambos revelam uma assinalável diminuição no tamanho e número de fomes desde 1914, e isto é exactamente o contrário da tendência que deveríamos encontrar se as afirmações peculiares de várias fontes religiosas estivessem correctas! Em ambos os países o século XIX foi muito pior do que o século XX no que diz respeito às fomes. Voltemos então a nossa atenção para outro grande centro populoso da terra actualmente -- o terceiro em ordem de grandeza: a Europa.

A história da fome na Europa

A Europa tem uma fronteira a leste que chega à União Soviética e cobre uma área superior à península indiana, mas tem apenas pouco mais de metade do número de habitantes da Índia: 500 milhões. Durante mais de um século, as fomes têm sido praticamente inexistentes no continente europeu. As pessoas hoje estão geralmente bem alimentadas, muitas vezes até estão sobrealimentadas, e até a má nutrição é um problema muito pequeno na maior parte dos países da Europa, comparativamente a outras partes do mundo. A maioria das pessoas felizmente desconhece a assustadora história passada do continente no que diz respeito às fomes. Talvez estas pessoas se considerassem ainda mais afortunadas se conhecessem algo sobre essa história.

Em nítido contraste com as condições actuais, desde os tempos mais remotos a fome atingiu constantemente o continente europeu, muitas vezes matando multidões e devastando parcial ou totalmente largas áreas. Parece que se atingiu um clímax durante a Idade Média. Durante os 600 anos que vão do século X ao XVI, "cerca de 400 grandes fomes atormentaram os países do Continente e das Ilhas Britânicas."53 Muitas destas foram tão temíveis e tiveram efeitos tão desmoralizadores, que mesmo nestes países cristianizados as pessoas recorreram ao canibalismo. Ao longo destes séculos, diz Bhatia, "a Grã-Bretanha e países da Europa Ocidental ... foram ameaçados por fomes mais frequentemente do que qualquer outra parte do globo."54

A situação melhorou um pouco do século XVII em diante, mas fomes locais ou mais extensas continuaram a causar destruições tremendas de tempos a tempos até bem dentro do século XIX.55

A impressão de que durante estes séculos a Europa foi mantida num estado de fome quase permanente é fortalecida se olharmos mais de perto para o estado de coisas em cada um dos países. O historiador Fernand Braudel escreve:

Qualquer cálculo racional revela uma triste história. A França, um país privilegiado seja qual for o padrão considerado, passou por 10 fomes gerais durante o século X; 26 fomes no século XI; 2 fomes no século XII; 4 fomes no século XIV; 7 fomes no século XV; 13 fomes no século XVI; 11 fomes no século XVII e 16 fomes no século XVIII. Embora não possamos garantir a exactidão deste cálculo feito no século XVIII, o único risco que se corre é de este cálculo ser optimista, porque omite as centenas e centenas de fomes locais.... O mesmo se poderia dizer de qualquer outro país da Europa.56

As fontes antigas geralmente não mencionam o número de mortos, os autores limitam-se a fazer comentários gerais, tais como "grande mortandade", "morreram multidões infindáveis", "aldeias inteiras ficaram vazias", "o chão cobriu-se de cadáveres", e assim por diante. Em vários casos diz-se que pereceu "um terço da população" do país.57 Para transmitir ao leitor uma ideia da miséria quase indescritível que prevaleceu na Europa durante estas catástrofes alimentares, a lista seguinte apresenta alguns exemplos das centenas de fomes devastadoras que atingiram o continente durante os séculos passados.58 A lista é acompanhada de comentários retirados de fontes antigas:

A.D. Comentários
192 Irlanda: Escassez geral, "de tal forma que terras e casas, territórios e tribos, ficaram vazios."
310 Inglaterra: 40.000 morreram.
450 Itália: "Pais comeram os seus filhos."
695-700 Inglaterra, Irlanda: Fomes e pestilências, "de tal forma que os homens se comeram uns aos outros."
836 Gales: "O chão ficou coberto de cadáveres de homens e animais."
879 Prevaleceu uma fome universal.
936 Escócia: Depois da passagem de um cometa, fome durante quatro anos, "até que as pessoas se começaram a devorar umas às outras."
963-964 Irlanda: Uma fome intolerável, "a ponto de pais terem vendido os seus filhos em troca de comida."
1004-1005 Inglaterra: "Prevaleceu uma fome como não havia memória de outra igual."
"Este ano foi [aquele em que ocorreu] a maior fome em Inglaterra."59
1012 Inglaterra, Alemanha: Multidões infindáveis morreram de fome.
1016 Europa: Fome aflitiva por toda a Europa.
1069 Inglaterra: Ampla fome, "de tal forma que o homem, acossado pela fome, comeu carne humana, de cães e de cavalos."
1073 Inglaterra: Fome, seguida de mortalidade tão severa que os vivos não conseguiam tomar conta dos doentes, nem enterrar os mortos.
1116 Irlanda: Grande fome, "durante a qual as pessoas até se comeram umas às outras."
1239 Inglaterra: Grande fome, "pessoas comeram os seus filhos."
1316 Europa: Morte universal, e seguiu-se uma mortalidade tal, especialmente entre os pobres, que os vivos quase não conseguiam enterrar os mortos.
1347 Itália: Uma fome assustadora varreu um vasto número de habitantes. Seguiu-se a pestilência.
1437 França e outros países: Uma grande fome varreu a França e muitos outros países, durando dois anos. "Multidões nas grandes cidades morrendo em pilhas em montes de estrume."
1586-1589 Irlanda: Grande período de fome, "quando se comeram uns aos outros devido à fome."
1693 França e países vizinhos: "Uma fome apocalíptica do tipo medieval que matou milhões de pessoas em França e nos países vizinhos."
1696-1697 Finlândia: Uma das fomes mais assustadoras na história da Europa. Entre um quarto e um terço da população do país pereceu.
1709 França: Cerca de um milhão morreu à fome.
1846 Irlanda: Toda a colheita de batatas apodreceu. Um milhão de pessoas morreram à fome e mais de um milhão fugiram do país para escapar ao mesmo destino. Esta foi a última grande fome na Europa.

Depois de lermos estas descrições, temos de nos considerar afortunados por estarmos a viver no século XX. Onde é que, em qualquer parte da Europa na actualidade, lemos acerca de milhões -- ou milhares, ou mesmo centenas -- de pessoas morrendo por causa da fome? Onde é que actualmente, mesmo em áreas atingidas pela fome, lemos sobre pessoas "comendo-se umas às outras", "comendo os seus filhos", ou "vendendo os seus filhos em troca de comida"? É verdade que algumas áreas da terra ainda são flageladas por fomes severas, mas as condições melhoraram claramente. Os progressos feitos em métodos de armazenagem e nas comunicações contribuíram muito para esta melhoria, e a ajuda internacional através das Nações Unidas, Cruz Vermelha, e muitas outras organizações caritativas pode chegar rapidamente -- desde que haja dinheiro suficiente -- a áreas carenciadas numa escala que era completamente inimaginável apenas há cem anos atrás.

Conforme Bhatia indica, a fome "foi quase banida da Europa depois de 1850."60 A última grande fome nessa parte do mundo foi a calamidade irlandesa de 1846-47.61

É verdade que situações de fome ameaçaram partes da Europa durante

A ÚLTIMA GRANDE FOME NA EUROPA: IRLANDA, 1846-47

A fome irlandesa de 1846-47 reduziu os camponeses à fome e forçou-os a mendigar junto dos albergues. Mais de um milhão morreu à fome e muitos mais emigraram para o estrangeiro. Esta, que foi a última grande fome da Europa, ocorreu há cerca de 140 anos atrás. (Ilustração da Coolier's Encyclopedia, edição de 1974, Vol. 9, p. 553.)

e depois da Segunda Guerra Mundial, especialmente na Polónia e na Holanda, onde dezenas de milhares enfrentaram a fome, e muitos morreram mesmo de fome ou de subnutrição.62 Contudo, medidas de auxílio iniciadas pelos E.U.A. mudaram rapidamente a situação. Auxiliada pelo Plano Marshall Americano em 1947, "a economia europeia recuperou rapidamente e as marcas da fome diminuíram rapidamente em toda a área. Em breve, a Europa tinha alcançado novamente o seu nível alimentar anterior à guerra."63 Desde esse tempo o continente tem experimentado um firme aumento de prosperidade durante quase uma geração.

O nosso exame das fomes nos três maiores centros populacionais da terra, que têm uma população total de mais de metade da humanidade, mostra assim um desenvolvimento notável: tendo sido as áreas da terra mais flageladas pela fome, o século XX viu estes centros libertarem-se gradualmente da praga da fome!

A diminuição fenomenal das fomes nestes países é mais do que suficiente para mostrar que qualquer alegado aumento das fomes no século XX, ou em particular desde 1914, simplesmente não tem fundamentação nos factos. Mas para resolver a questão por completo, também será apresentado um breve sumário sobre a situação alimentar passada e presente no resto do mundo. Será que a Rússia, o Japão, a África, a América e outras áreas têm contribuído para o alegado "sinal da fome"?

Fomes em outras partes do mundo

Até este ponto, a nossa procura de um suposto aumento das fomes no século XX não revelou qualquer aumento, apesar do facto de ter sido considerada cerca de metade da humanidade. Em vez de aumentos da fome, o que encontrámos foram tremendas diminuições. Voltando agora a nossa atenção para a outra metade da humanidade, seremos confrontados com a mesma tendência palpável numa área após outra: diminuições em vez de aumentos. Muitas áreas vastas e populosas estão hoje completamente libertas das fomes. Estas áreas incluem a América do Norte, a União Soviética, o Japão, a Indonésia, as Filipinas, e a maioria dos países do Sudoeste da Ásia a oeste do Afeganistão.

Estas áreas, que têm hoje uma população total de cerca de um bilião de pessoas, foram flageladas por numerosas fomes nos séculos passados.

Na Rússia, por exemplo, a fome sempre desempenhou um papel decisivo. "A Rússia Imperial ... sofreu fomes praticamente todos os anos."64 É verdade que o país foi atingido por algumas grandes fomes nas duas décadas que se seguiram à Primeira Guerra Mundial, uma em 1921 na qual morreram entre 1 e 3 milhões de pessoas, outra em 1932-33, que matou cinco milhões.65 Contudo, estas foram apenas as últimas numa longa série de outras grandes fomes. "A Rússia foi flagelada por grandes fomes onze vezes entre 1845 e 1922."66 Entre as fomes mais severas na história do país estiveram as três que ocorreram em 1891, 1906 e 1911, todas antes de 1914.67 Desde a década de 1940, avanços na agricultura melhoraram constantemente a situação alimentar, e a fome deixou de ameaçar o país.

Quanto à América do Norte, com a excepção de certas comunidades de Índios Americanos, como os Pueblo Indians, parece que grandes fomes têm sido inexistentes nesta vasta área desde os dias de Colombo!68 Nos E.U.A., mesmo os problemas de má nutrição estão largamente limitados a algumas áreas muito pequenas, principalmente no sul. A comida é notavelmente abundante em todo o continente.

O Japão é outro país que foi atingido por fomes periódicas no passado. A vitória sobre a fome começou com a abolição do feudalismo na década de 1860, seguida de reformas agrárias e da introdução de métodos científicos na agricultura. Muito antes da Segunda Guerra Mundial, estes avanços tinham "posto fim a fomes que dizimavam periodicamente a população e deixavam os sobreviventes com sinais de degeneração física por toda a vida".69 Não só a fome desapareceu como também a melhoria do padrão de vida e da dieta, especialmente desde a década de 1950, libertou o Japão da má nutrição e da subnutrição.70

O Sudoeste da Ásia é ainda outra área com um passado marcado pela fome. "No fim da década de 1860 e início da década de 1870 ocorreu uma fome epidémica em toda a faixa de países desde a Índia a leste, até à Espanha a ocidente."71 A Pérsia "perdeu entre 1,5 e 2 milhões na grande fome de 1871-3."72 A má nutrição e a subnutrição ainda prevalecem em muitos países da região mas, com a excepção de uma grave fome no Afeganistão na década de 1970, acabaram-se as grandes fomes que no passado afligiam esta vasta área.73

Isto não significa que as fomes severas pertencem inteiramente ao passado. Por vezes desenvolvem-se condições de fome aguda em certas partes da terra, especialmente em África e na América do Sul, que são as regiões onde a má nutrição e a subnutrição estão mais espalhadas. Das duas áreas, a África é a mais afectada. No início da década de 1980, três ou quatro anos de secas em vastas áreas atingiram o continente, afectando milhões de pessoas em 24 países, sendo evidentemente a Etiópia o país que sofreu de forma mais dramática. Das cerca de 40 milhões de pessoas no país, a seca afectou entre 6 e 7 milhões, e os peritos estimam que no fim de 1985 cerca de um milhão de pessoas tinha morrido à fome. Milhares de outros morreram no Sudão, em Moçambique e em outros países. Contudo, os esforços internacionais dos órgãos das Nações Unidas (o UNDP e UNICEF), da Cruz Vermelha e de muitas outras organizações de caridade foram bem sucedidos em evitar uma catástrofe muito maior. Assim, estima-se que a ajuda alimentar à Etiópia em 1985 tenha salvado cerca de cinco milhões de pessoas de morrer à fome. Para a maioria dos países de África, a crise agora acabou, mas ainda é necessária muita ajuda nos anos à frente para evitar uma catástrofe recorrente.

As fomes hoje normalmente geram muita publicidade. A verdade é que boa parte disto se deve ao facto de a fome se ter tornado cada vez mais numa raridade entre a Humanidade. Hoje o interesse público é despertado para as necessidades que existem em partes distantes do mundo e muitos são movidos a contribuir para organizações de caridade e a tomar parte nas actividades que se destinam a aliviar o sofrimento. No passado, os jornais não podiam igualar o impacto visual dos relatos televisivos sobre as condições em áreas remotas; meios de comunicação inadequados impediam nitidamente uma grande ajuda. A publicidade que foi dada a fomes recentes em África tornou-as "oficiais," conhecidas do público em geral, em contraste com as fomes de tempos anteriores. A consequência disso é que alguns acreditam que as fomes recentes são as piores de sempre em África.

Por exemplo, uma série de secas atingiram a África no início da década de 1970, afligindo a Etiópia e os países à volta do Deserto do Sahara; a fome que daí resultou causou cerca de 100.000 mortos.74 A revista Awake! [Despertai!] de 22 de Julho de 1974 chamou-lhe "o maior desastre 'natural' da história de África." (Página 6) Tais declarações, que aparecem muitas vezes em diferentes artigos de jornais durante catástrofes de vários tipos, revelam mais sobre a ignorância dos autores desses artigos -- e dos que os citam -- do que sobre a história do país.

Muitas fomes que devastaram África no passado foram muito maiores do que aquelas que flagelaram esse continente no século XX.

Atendendo à proeminência actual da fome na Etiópia, talvez seja instrutivo examinar mais de perto algumas das fomes que ocorreram no passado nesse país.

Em Fevereiro de 1984, representantes de muitos países africanos reuniram-se em Addis Abeba, Etiópia, para discutir a situação climática e a seca nesse continente. Na conferência, a delegação etíope distribuiu um documento sobre estes assuntos, que incluía uma tabela de ocorrências de fomes no seu país, cobrindo o período desde 253 A.C até 1982 A.D.75 Embora o documento indique que falta muita informação para os séculos anteriores a 1800 A.D., a tabela apresenta uma imagem aterradora do passado da Etiópia.

Muitas das fomes enumeradas afectaram não só a Etiópia mas também "o Sudão, o Egipto e [aparentemente] também o resto da África e da região Saeliana." (Página 14) Muitas destas fomes sem dúvida custaram milhões de vidas mas "Relatos sobre mortalidade humana são praticamente inexistentes no caso das secas do período antes da primeira metade do presente século." (Página 25) Para o século XIX, a tabela revela 9 grandes fomes, cinco das quais afectaram toda a Etiópia. Sobre uma destas, a fome de 1888-92, a tabela declara: Cerca de 1/3 da população pereceu." (Página 16) Em contraste, a fome recente na Etiópia afectou cerca de 15 porcento das pessoas e cerca de 2,5 porcento da população morreu -- isto é muito menos do que os 33 porcento de vítimas da fome do século XIX. É claro que se deve ter em mente que a população actualmente é consideravelmente maior do que no passado. A seriedade da situação actual, conforme o documento etíope mostra, deve-se ao facto de os intervalos entre as secas recorrentes tenderem a ser cada vez menores, e ao facto de a erosão do solo causada por mau tratamento humano (desflorestação e pastos excessivos) agravar ainda mais a situação.

Portanto, a fome é reconhecidamente um problema corrente e sério em África. Isto é verdade. O que não é verdade é a afirmação de que isto é uma singularidade do nosso tempo. A África tem sofrido devido a fomes "desde a antiguidade remota."76 Melhor conhecidas são as fomes no Egipto. Uma série de fomes severas varreu o Egipto do século X ao século XII, quando os maometanos governavam o país. A fome de 968 A.D. "varreu 600.000 pessoas na vizinhança de Fustat."77 Outra fome mais ampla e mais desastrosa ocorreu em 1025. Uma fome ainda mais terrível começou em 1064 e durou sete anos. As pessoas desesperadas por fim recorreram ao canibalismo e foi vendida carne humana no mercado aberto. O mesmo sofrimento e degradação foi provocado pela assustadora fome dos anos 1201 e 1202, quando "as próprias sepulturas do Egipto foram rebuscadas para se encontrar alimento."78 Fomes severas também atingiram outros países em África. Nas fomes que ocorreram entre 1861 e 1872, a população muçulmana da Argélia "diminuiu mais de 20 porcento." Marrocos perdeu três milhões de pessoas -- perto de um terço da sua população -- na fome de 1878-79. Muitas outras fomes flagelaram a Argélia, Tunísia, Marrocos e países do norte de África ao longo dos séculos, conforme mostrado por estudos feitos pelo Dr. Charles Bois.79

No século XX as condições alimentares melhoraram nos países no extremo norte de África e na África do Sul. Estes países não são afligidos pela fome, embora o problema nutricional ainda seja sério em algumas áreas.80

Analogamente, na América Latina, uma alta percentagem da população sofre de subnutrição e de má nutrição, e vários países têm uma alta taxa de mortalidade infantil. No entanto, mais uma vez, esta situação não é algo novo nessa parte do mundo. "Vem do passado," diz de Castro, "do tempo da descoberta mais antiga destas terras." E, falando da América Central, ele explica: "A dieta de toda a América Central, com várias deficiências, e a resultante fome crónica são em certo sentido uma herança da cultura indígena pré-Colombiana, embora a situação se tenha agravado desde então em muitos aspectos pelos pouco previdentes métodos de exploração colonial," que começou no século XVI.81

A fome e a escassez de alimentos têm flagelado a América Latina "ao longo de toda a história," e as condições de fome ainda se desenvolvem em várias áreas.82 Portanto, nada parece ter mudado basicamente nestes aspectos no século XX.

A nossa análise das fomes no mundo, passadas e presentes, termina aqui. A evidência revelada durante a nossa investigação só permite tirar uma conclusão, nomeadamente, que a nível mundial as fomes têm diminuído, e têm diminuído muito acentuadamente, no século XX, incluindo o período desde 1914.

Esta evolução não nos devia surpreender. As fomes no passado eram principalmente uma consequência de métodos agrícolas primitivos (que frequentemente provocavam perda de colheitas devido a serem afectados mais facilmente por mudanças de tempo) e uma consequência dos meios de comunicação primitivos, que muitas vezes tornavam inalcançável a ajuda de áreas adjacentes. A Revolução Industrial trouxe melhores implementos agrícolas, variedades de sementes mais resistentes, e melhores comunicações, e a situação alimentar começou a mudar:

Cerca de 1800 A.D. começou na Europa Ocidental e na América do Norte um desenvolvimento que quase aboliu as fomes e as epidemias e também baixou o nível normal de mortalidade, de tal forma que a duração média da vida aumentou de 30 anos nesse tempo para 75 anos hoje.83

Contudo, a má nutrição crónica ainda continua a ser o maior problema relacionado com a fome, conforme o grande demógrafo (perito em assuntos da população) europeu Alfred Sauvy indica:

Ao passo que a fome aguda e desastrosa quase desapareceu, a má nutrição crónica ainda é um problema em muitas partes do mundo.84

Somos assim confrontados com a questão de saber se a má nutrição e a subnutrição estão de facto mais difundidas hoje do que no passado.

Má nutrição e mortalidade infantil no passado e hoje

Como foi mostrado anteriormente, cerca de um porcento da humanidade está a morrer de fome hoje, o que é provavelmente a proporção mais baixa de sempre na história conhecida. Porém, um número muito maior, que talvez chegue aos 25 porcento, estão mal nutridos ou subnutridos ou ambas as coisas.85

Cerca de metade destes são crianças. A maioria dos que morrem de má nutrição ou doenças indirectamente causadas por má nutrição ou subnutrição são crianças com menos de seis anos de idade.

Ao discutir a cavalgada do cavalo negro de Revelação, que simboliza a fome, o Dr. Graham chama a atenção para a condição das crianças, dizendo que "os passos de aviso são os gritos de crianças morrendo de fome e de doença," e cita um relatório do Mennonite Central Committee que estima que "doze milhões de crianças morrem dos efeitos da má nutrição cada ano nos países em vias de desenvolvimento." (Approaching Hoofbeats, páginas 153, 154) É certo que esta situação é impressionante, profundamente perturbadora. Não há dúvida sobre isso. Contudo, a pergunta que deve ser feita é: será que a situação é uma singularidade do nosso tempo?

A Sociedade Torre de Vigia tenta claramente apoiar o seu "sinal da fome" recorrendo a dados sobre a mortalidade infantil, usando estes para contrariar a evidência de que a fome era ainda maior no passado:

Um relatório do United Nations Children's Fund [Fundo das Nações Unidas Para as Crianças] estima que 17 milhões das crianças do mundo morreram de fome e doenças em 1981. Isso é mais do que a estimativa de mortes durante a terrível fome chinesa dos anos 1878-9.86

Mas comparar a mortalidade infantil em todo o mundo em 1981 com a grande fome na China em 1878-79 -- se o objectivo da comparação for distinguir o nosso tempo como sendo mais afectado pela fome -- é, na melhor das hipóteses, um sinal de ignorância, e na pior das hipóteses é sinal de desonestidade. Porquê? Porque, embora certamente não estivesse identificada de modo tão claro como hoje, a má nutrição, com a resultante mortalidade infantil, definitivamente coexistiu a par com a fome no passado.87 E, tal como a fome, a má nutrição evidentemente não era um problema menor em séculos passados. A evidência diz que era maior.

Isto é indicado pelo facto inegável de que a mortalidade em todas as faixas etárias, em especialmente a mortalidade infantil, tem diminuído continuamente durante todo o século vinte em quase todos os países!88

O demógrafo sueco Professor Erland Hofsten estima que a mortalidade infantil antes do século XX chegava aos 40-50 porcento em muitos países, sendo possivelmente ainda maior em algumas áreas!89

Na Suécia, onde têm sido mantidas estatísticas ininterruptas sobre a mortalidade infantil desde 1749, a taxa de mortalidade infantil era 20-25 porcento entre 1749 e 1814, mas depois começou a descer. Em 1985 tinha sido reduzida para 0,7 porcento!90 Ocorreu um desenvolvimento similar em outros países, especialmente na Europa e na América do Norte.

O progresso tem sido mais lento em países em vias de desenvolvimento, mas também aí tem ocorrido uma melhoria visível, especialmente desde o fim da Segunda Guerra Mundial:

A mortalidade tem diminuído acentuadamente depois da Guerra em praticamente todos os lugares dos países pobres.... a mortalidade tem diminuído em todas as faixas etárias. A diminuição da mortalidade infantil tem sido particularmente significativa.91

É verdade que ainda morre um grande número de crianças devido à má nutrição em muitas áreas pobres da terra. Mas a mortalidade infantil nos países em vias de desenvolvimento tem diminuído durante o século XX, de 40-50 porcento para apenas 9 porcento em média em 1983, embora em alguns (poucos) países ainda continue nos 20 porcento.92 Medicamentos modernos, uma melhor dieta e melhor higiene evitaram mortes e mais do que duplicaram a duração da vida em todo o mundo ocidental, e um desenvolvimento similar está agora em progresso também nos países em vias de desenvolvimento, embora seja mais lento.93

Em 1900, todas as nações da terra tinham uma taxa de mortalidade infantil superior a 50 em cada 1.000 nascimentos [vivos].

Em 1983, 84 nações tinham reduzido a sua taxa de mortalidade infantil para menos de 50 em cada 1.000 nascimentos [vivos].

As autoridades no assunto consideram que a taxa de mortalidade infantil é o melhor indicador de bem-estar social e económico geral. Quando a taxa atinge os 5 porcento (=50 mortes por 1.000 nascimentos [vivos]) ou menos, isto indica que esse país "está a satisfazer as necessidades humanas básicas, incluindo alimento, abrigo, roupas, água própria para beber e condições sanitárias." O facto de em 1900 todas as nações terem um taxa de mortalidade infantil superior a 5 porcento é um forte indicador da falta de nutrição apropriada então prevalecente. O facto de 84 nações, em 1983, terem conseguido reduzir esta taxa para menos de 5 porcento é um indicador igualmente forte de que dentro das suas fronteiras a fome deixou de ser um problema básico e prevalecente na sociedade. (Roy L. Prosterman, The Decline in Hunger-Related Deaths [A Diminuição das Mortes Relacionadas com a Fome], 1984, pp. 1, 4; Ending Hunger: An Idea Whose Time Has Come [O Fim da Fome: Uma Ideia Cujo Tempo Chegou], publicado pelo Hunger Project em 1985, p. 384; 1985 World Population Data Sheet, publicado em 1985 pelo Population Reference Bureau, Inc., Washington, D.C.)

Consequentemente, aqueles que usam dados sobre a mortalidade infantil numa tentativa de "provar" que a nossa geração tem presenciado mais fome e má nutrição do que séculos anteriores, só o podem fazer ignorando toda a evidência que aponta em sentido contrário. Ninguém pode dizer com certeza quantos milhões de crianças morreram anualmente em séculos anteriores [ao século XX] devido a má nutrição e doenças relacionadas com a fome, pois nunca foram feitas estimativas globais da taxa de mortes anuais. Mas tendo em consideração que ocorreu em muitos dos países em vias de desenvolvimento do mundo ocidental uma redução da taxa de mortalidade para valores que são um quarto ou mesmo um quinto do que eram antes, é fácil perceber que em séculos anteriores [ao século XX] muitos milhões de crianças morreram cada ano de fome e de doenças relacionadas com a fome -- apesar do facto de a população do mundo ser muito menor nesse tempo!

É indubitável que esta diminuição excepcional da mortalidade infantil e da mortalidade das crianças tem salvado centenas de milhões de vidas nos países em vias de desenvolvimento. O Professor D. Gale Johnson declara:

Aqueles de entre nós que censuram as elevadas taxas de crescimento populacional nos países em vias de desenvolvimento não se deviam esquecer que os aumentos destas taxas se devem inteiramente a reduções na taxa de mortalidade e de modo nenhum a um aumento nas taxas de natalidade. Tem havido uma enorme redução do sofrimento humano, que tem passado largamente despercebida -- a dor e a angústia de centenas de milhões de pais têm sido evitadas pela redução das taxas de mortalidade infantil e mortalidade das crianças.94

Num mundo em que 99 porcento da Humanidade não morre à fome e 75 porcento nem sequer está mal nutrida, muitas vezes as pessoas não se apercebem que esta situação é algo novo e único na história humana, e que no passado a pobreza e as carências eram tão universais que muitas pessoas as encaravam como fatalidades, condições que eram inevitáveis, e por isso raramente se questionavam sobre elas ou sequer falavam a respeito disso. O livro Hunger and History [Fome e História] declara:

As festas podiam muito bem ser ocasiões que deixavam recordações felizes, mas era dito tão pouco acerca das carências do dia a dia, que um mundo que encara a fome como um mal do qual nenhuma pessoa em países civilizados devia sofrer, acha um pouco difícil compreender que as carências e a fome foram as condições permanentes sob as quais viveram as gerações passadas.... É difícil para pessoas vivendo sob condições modernas perceber, mesmo que seja inadequadamente, como era a vida quando a população lutava pelos suprimentos de alimentos durante esses tempos em que as carências eram universais.95

Será que uma catástrofe futura de fome é inevitável?

Quando confrontados com a evidência sólida de que a fome e a escassez eram inquestionavelmente maiores antes do século XX, os que escrevem material que tem como objectivo excitar um senso de catástrofe iminente muitas vezes recorrem à discussão, não do que aconteceu nem do que está a acontecer presentemente, mas do que poderia acontecer no futuro.

Não é difícil encontrar declarações de pessoas proeminentes apontando para alguma tragédia futura como sendo provável. O livro The Late Great Planet Earth (páginas 101, 102), cita J. Bruce Giffing, Presidente do Departamento de Genética na Ohio State University, que disse em 1969 que "A menos que a Humanidade aja imediatamente, haverá uma fome mundial em 1985, e a extinção do Homem dentro de 75 anos." Evidentemente, a Humanidade 'agiu' a tempo, pois em 1985 não aconteceu nada que se parecesse com uma fome mundial, nem sequer remotamente.

De forma semelhante, a Watchtower de 15 de Abril de 1983 aponta para a população do mundo hoje, que está a crescer rapidamente e "que coloca pressão sobre a capacidade do mundo de se alimentar a longo prazo," e cita o perito E. R. Duncan que diz que "esta situação é única na história humana." Contudo, será que Duncan conclui que a população inevitavelmente crescerá mais rápido do que a produção de alimentos nas próximas décadas? Não, embora reconhecendo a possibilidade, ele não encontra razões para acreditar que isso acontecerá necessariamente. "De facto, isto pode eventualmente acontecer, mas a história recente mostra que embora a situação seja precária, não é desastrosa, com a excepção de alguns (poucos) casos."96 A longo prazo, ele acredita que a população "será estabilizada num nível controlável."97

Muitas outras autoridades concordam, apontando para o facto de os rápidos aumentos populacionais que começaram na década de 1940 terem atingido o clímax na década de 1960, com uma taxa de crescimento anual de cerca de 2.0 porcento. Actualmente [1987] a taxa de crescimento global é 1.7 porcento, e estão a ser feitos esforços enérgicos em muitos países para limitar ainda mais o crescimento.98 Se estes esforços forem bem sucedidos, a "bomba populacional" poderá ser desactivada antes de explodir numa catástrofe mundial.

Igualmente importante é o facto de a produção alimentar até agora ter acompanhado o aumento populacional. "A nível mundial, o período entre 1950 e 1971 presenciou uma duplicação da produção de cereais, enquanto a população só aumentou metade dessa quantidade," observa Duncan.99 E segundo a FAO (United Nations Food and Agriculture Organization [Organização para Alimentação e Agricultura das Nações Unidas], ainda não existe falta de comida no mundo. Pelo contrário, no mundo como um todo tem havido um crescente excedente de alimento em anos recentes.100 O 1983 UNICEF Annual Report [Relatório Anual de 1983 da UNICEF] declara que "a produção alimentar excedeu o crescimento populacional em 1982, e, com excepção da África a sul do Saara, foram registadas colheitas maiores em todas as regiões desenvolvidas." (Página 6) Se isto é assim, por que é que ainda vemos dezenas de milhões de pessoas a morrer de fome hoje, e centenas de milhões, possivelmente mais de um bilião de pessoas, mal nutridas ou subnutridas?

Conforme explicou Edouard Saouma, director da FAO, na World Food Conference [Conferência Mundial Sobre a Fome] realizada em Roma em Outubro de 1983, estas centenas de milhões de pessoas estão mal nutridas ou estão a morrer de fome simplesmente porque são pobres. Não podem comprar o alimento que de facto existe. E, o que é ainda pior: esta pobreza nos países subdesenvolvidos é perpetuada por fortes interesses económicos e políticos dos países desenvolvidos, que não estão dispostos a partilhar a sua abundância.101

O QUE DESTACADAS AUTORIDADES DIZEM SOBRE A FOME HOJE COMPARADA COM O PASSADO

"Pela primeira vez, é possível haver uma sociedade na qual a pobreza pode ser abolida e, com ela, também a miséria e a fome. A erradicação da fome já não é um desígnio utópico; é um objectivo perfeitamente alcançável." -- Josué de Castro in The Geopolitics of Hunger [A Geopolítica da Fome] (Nova Iorque, 1977), pp. 447, 448.

Em todas as épocas e em todas as terras as pessoas passaram fome, ... no entanto, a realidade parece ser que o homem, em média, está constantemente a alcançar uma melhor dieta.... certamente as pessoas hoje estão, em média, de algum modo melhor alimentadas do que estavam há 100 anos atrás." -- The Biology of Human Starvation [A Biologia da Fome Humana] por A. Keys, J. Bozek, A. Henschel, O. Michelsen e H. Longstreet Taylor (St. Paul, 1950), pp. 3, 12.

"um mundo que encara a fome como um mal ... acha um pouco difícil compreender que as carências e a fome foram as condições permanentes sob as quais viveram as gerações passadas.... É difícil para pessoas vivendo sob condições modernas perceber, mesmo que seja inadequadamente, como era a vida ... durante essas longas eras em que as carências eram universais." -- E. Parmalee Prentice, Hunger and History. The Influence of Hunger on Human History [Fome e História. A Influência da Fome na História Humana] (Caldwell, Idaho, 1951), pp. 10, 137.

"Ao longo dos séculos a fome tem sido um fenómeno frequente e costumava ser encarado como uma calamidade mais ou menos normal.... Mas existem muitas indicações em como a incidência [em tempos passados] foi consideravelmente maior do que é hoje em praticamente todas as áreas habitadas do mundo." -- Bruce F. Johnston no seu artigo sobre "Fome", na Cooliers Encyclopedia, Director Editorial William D. Halsey, Vol. 9 (Nova Iorque, 1979), pp. 552, 553.

Poderíamos estar inclinados a deduzir a partir da evidência visual da fome que temos visto recentemente na televisão, nos jornais, e em revistas, que o mundo é mais propenso a fomes agora do antes. Mas a evidência é aponta claramente no sentido contrário.... Tem havido uma redução substancial na incidência da fome durante o último século." -- Perito em alimentos Professor D. Gale Johnson, World Food Problems and Prospects [Problemas e Perspectivas da Alimentação no Mundo] (Washington, D.C., 1975), p. 17.

"O consumo de alimentos por pessoa tem estado a aumentar nos últimos 30 anos.... As mortes provocadas pela fome têm diminuído no último século mesmo em termos absolutos, e ainda diminuíram mais em termos relativos. Os preços dos alimentos no mundo têm estado a descer já por décadas e séculos ... e existe forte razão para acreditar que esta tendência continuará." -- Julian L. Simon e Herman Kahn em The Resourceful Earth [A Terra Repleta de Recursos] (Londres, 1984), p. 16.

Portanto, nem o aumento populacional nem a produção alimentar são o verdadeiro problema. É um facto bem conhecido que os recursos da terra poderiam muito bem alimentar uma população mundial muitas vezes maior do que aquela que actualmente vive na terra. E, mais ainda: Pela primeira vez na História, a Humanidade tem à sua disposição os meios que lhe permitem explorar estes recursos a até esse ponto. Conforme de Castro observa:

O conhecimento que o Homem agora possui, se fosse aplicado de forma inteligente, forneceria à Humanidade alimento suficiente e da qualidade necessária para assegurar o seu equilíbrio nutricional durante muitos anos à frente, mesmo que a população duplicasse, ou aumentasse dez vezes.102

É claro que não podemos prever se a Humanidade fará ou não uso destas possibilidades para pôr fim à fome e à má nutrição. Tudo pode acontecer nas próximas décadas e nós não fazemos qualquer tentativa para especular ou para profetizar. Basicamente, o problema envolve amor pelo próximo. Como é que nós, como cristãos, reagimos ao ouvir e ler sobre os milhões de pessoas pobres e esfomeadas que existem? Se o nosso interesse por elas se limitar à questão: Será que são suficientemente numerosos para constituir um dos aspectos de um suposto "sinal composto" do fim? -- não indicaria isso que há algo de fundamentalmente errado com o nosso "cristianismo"? Se o nosso interesse nessas pessoas esfomeadas não for além disso, não estaríamos a correr o risco de ser colocados entre aqueles a quem o nosso Senhor Jesus Cristo dirá no "dia de julgamento": "Eu estava com fome e vós nada me destes para comer...."? -- Mateus capítulo vinte e cinco, versículo 42, NIV.


Notas

1 Conforme mostrado na The Watchtower [A Sentinela] de 15 de Abril de 1983, página 7 [em inglês], esta afirmação foi citada a partir do Vancouver Sun, que por sua vez alega ser essa uma estimativa do FAO, a United Nations Food and Agriculture Organization [Organização para Alimentação e Agricultura das Nações Unidas]. Veja também o livro da Sociedade Torre de Vigia, Raciocínios à Base das Escrituras (1985), página 420, onde se repete a mesma alegação. Contudo, a FAO nunca disse que um bilhão de pessoas estavam a morrer à fome, o que pode ser a impressão com que o leitor comum ficaria depois de ler esta notícia formulada de forma descuidada.

2 Do Paraíso Perdido ao Paraíso Recuperado (1959), pp. 181, 182.

3 Pandurang V. Sukhatme, Feeding India's Growing Millions [Alimentando os Crescentes Milhões da Índia] (Londres, 1965), p. 1. Outras dificuldades, diz Sukhatme, são a falta de uma dieta padrão e as limitações das estatísticas disponíveis sobre o consumo de alimentos. (P. 2)

4 Frank A. Southard, Jr., no seu artigo sobre "Fome", na Encyclopaedia of the Social Sciences [Enciclopédia das Ciências Sociais] Vol. 6 (Nova Iorque, 1931), p. 85.

5 Lord Boyd Orr, no prefácio de Geography of Hunger [Geografia da Fome], de Josué de Castro (Londres, 1952), pp. 5, 6. Em 1973 foi publicada uma edição revista e aumentada deste livro e em 1977 foi traduzida para inglês com o título The Geopolitics of Hunger [A Geopolítica da Fome]. Esta edição será usada nas referências seguintes.

6 M. K. Bennett, no International Encyclopedia of the Social Sciences [Enciclopédia Internacional das Ciências Sociais] (ed. por David L. Sills, 1968), sublinha: "Escassez de uma vitamina ou mineral específico numa população, talvez evidenciada pela incidência anormalmente alta de escorbuto, beribéri, pelagra, raquitismo ou visão debilitada, não é fome, embora em décadas recentes a palavra tenha sido aplicada a esses tipos de escassez." (Vol. 5, p. 322) Estritamente, má nutrição também deve ser distinguida de subnutrição, definida como "insuficiência na assimilação de calorias" (Sukhatme, p. 2). Fome, por sua vez, "deve ser distinguida da subnutrição mais ou menos constante de zonas atingidas pela pobreza." (Southard, p. 85)

7 Sukhatme, p. 75. Desde a investigação de Sukhatme, há vinte anos, a situação alimentar na Índia melhorou acentuadamente.

8 Documento das Nações Unidas Assessment of the World Food Situation [Avaliação da Situação Alimentar do Mundo], Item 8 da Agenda provisória (da Conferência Alimentar Mundial 1974), E/Conf, 65/3. Mais recentemente, a FAO estimou, com base na Fourth World Food Survey [Quarta Pesquisa Alimentar Mundial] (1977), que 455 milhões de pessoas nos países em vias de desenvolvimento (excluindo a China) sofrem de má nutrição e/ou de subnutrição.

9 Peritos suecos em alimentos, Lasse e Lisa Berg, em Mat och makt [Alimentos e Poder], (Avesta, Suécia, 1978), pp. 20-25. A revista Awake! [Despertai!] de 22 de Outubro de 1984 [em inglês], concordou indirectamente com estes números ao citar The Unesco Courier [O Correio da Unesco] que disse: "A fome crónica continua a ser um problema para dezenas de milhões de pessoas," enquanto "Cerca de 500 milhões de seres humanos, estagnados na pobreza, estão sob a ameaça diária da fome." (P. 6) Assim, centenas de milhões estão ameaçados pela fome (isto é, sofrem de má nutrição), mas dezenas de milhões estão de facto a sofrer fome. Mais ainda, as estimativas que apontam para entre 500 milhões e um bilião de pessoas mal nutridas/subnutridas, provavelmente são grandes exageros. Estas estimativas foram criticadas recentemente por vários destacados peritos em alimentos, que gostariam de baixar o número para 240 milhões ou menos. (Veja o bem conhecido perito em alimentos D. Gale Johnson em The Resourceful Earth [A Terra Repleta de Recursos], editado por Julian L. Simon e Herman Kahn (Londres, 1984), pp. 76, 77.)

10 P. 181. Esta afirmação tem sido repetida muitas vezes depois disso. Veja, por exemplo, "Venha o Teu Reino" (1981), página 122, e Poderá Viver Para Sempre no Paraíso na Terra (1982), página 150.

11 Ping-ti Ho, Studies on the Population of China, 1368-1953 [Estudos Sobre a População da China, 1368-1953] (Cambridge, Massachusetts, 1959), p. 233; Walter H. Mallory, China: Land of Famine [China: Terra da Fome] (Nova Iorque, 1926), p. 2.

12 The Watchtower [A Sentinela], 15 de Abril de 1983, p. 6 [em inglês].

13 Josué de Castro, The Geopolitics of Hunger [A Geopolítica da Fome] (Nova Iorque e Londres, 1977), p. 50.

14 Ibid., p. 50.

15 Ibid., p. 401 (citação de E. Parmelee Prentice, Hunger and History [Fome e História], Nova Iorque, 1939). Também B. M. Bhatia enfatiza o alcance global da fome no passado: "Antes de ocorrerem na Europa as revoluções industrial e comercial, a fome era uma calamidade natural em relação à qual nenhuma parte do mundo estava completamente imune." -- Famines in India [Fomes na Índia], 2ª edição (Londres, 1967), p. 1.

16 Cornelius Walford, "The Famines of the World: Past and Present" [As Fomes do Mundo: no Passado e no Presente], Journal of the Statistical Society [Jornal da Sociedade de Estatística], Vol. XLI, 1878, pp. 433-534, e Vol. XLII, 1879, pp. 79-275.

17 Walford (1878), pp. 434-449. A lista também inclui algumas fomes da era pré-cristã.

18 Dr. Alwin Schultz, Deutsches Leben im XIV. und XV. Jahrundert [Vida Alemã nos Séculos XIV e XV] (Viena, 1892), pp. 639-651.

19 Fritz Curschmann, "Hungersnöte im Mittelalter," Leipziger Studien aus dem Gebiet der Geschichte, ed. por Buchholz, Lamprecht, Marcks e Seeliger (Leipzig, 1900), pp. 1-217.

20 Léopold Deslisle, Études sur la Condition de la Classe Agricole [Estudos sobre a Condição da Classe Agrícola] (Paris, 1903), pp. 627-648.

21 Ping-ti Ho, p. 227. "Até à revolução de 1949," diz de Castro, "este grande país era o exemplo perfeito de uma região de fome." (P. 258)

22 Walter H. Mallory, China: Land of Famine [China: Terra da Fome] (Nova Iorque, 1926), p. 1.

23 de Castro, pp. 271, 272.

24 Ibid., p. 272.

25 Ralph A. Graves, "Fearful Famines of the Past" [Fomes Temíveis do Passado], The National Geographic Magazine, Julho de 1917, Washington D.C., p. 89.

26 Graves, p. 89.

27 E. J. Hobsbawn, The Age of Capital 1848-1875 [A Era do Capital 1848-1875], p. 133. Veja também Maurice Bruce, The Shaping of the Modern World 1870-1939 [A Formação do Mundo Moderno 1870-1939] (Londres, 1958, p. 801.)

28 Hobsbawn, página 133.

29 The Watchtower [A Sentinela], 15 de Abril de 1983, p. 3. A situação em algumas áreas foi tão desesperada que foi relatada a ocorrência de canibalismo "vez após vez". (Ping-ti Ho, p. 231)

30 Mallory, p. 29.

31 Ping-ti Ho, p. 233.

32 de Castro, p. 53.

33 Ping-ti Ho, p. 233; The Watchtower [A Sentinela], 15 de Abril de 1983, p. 5.

34 de Castro, pp. 298, 306.

35 Ibid., pp. 306-308; Lester Brown, State of the World [Situação do Mundo] (Nova Iorque, 1984), p. 188; Population and Development Review [Revista de População e Desenvolvimento], Vol. 7, n.º 1 (Março de 1981), pp. 85-97; Vol. 8, n.º 2 (Junho de 1982), pp. 277, 278; Vol. 10, n.º 4 (Dezembro de 1984), pp. 613-645; Scientific American, Dezembro de 1985, p. 194. O Guiness 1983 Book of World Records [Livro de Recordes Mundiais Guiness de 1983] (Bantam Books, 21.ª edição nos Estados Unidos, p. 465) datou erradamente esta fome em 1969-71 em vez de 1959-61. (Correspondência pessoal.) Deve-se notar que as estimativas sobre o número de mortes (8-30 milhões) nesta fome, não são baseadas em relatórios de testemunhas oculares contemporâneas, mas são estimativas demográficas feitas mais de 20 anos depois do desastre. Estas estimativas são baseadas nos censos chineses de 1953, 1964 e 1982, sendo que os primeiros dois (1953 e 1964) são considerados de qualidade duvidosa ou defeituosa e portanto "de utilidade limitada para análise demográfica." (J. D. Durand, "Historical Estimates of World Population" [Estimativas Históricas da População Mundial], Population and Development Review [Revista de População e Desenvolvimento], Vol. 3, n.º 3, Setembro de 1977, pp. 254, 255, 260-264; J. S. Aird, "Population Studies and Population Policy in China" [Estudos e Políticas sobre a População na China], Ibid., Vol. 8, n.º 2, pp. 272-278; "Population Trends, Population Policy and Population Studies in China" [Tendências, Políticas e Estudos sobre a População na China], Ibid., Vol. 7, n.º 1, p. 91.)

Se as estimativas recentes sobre o número de mortes na fome de 1959-61 indicam a verdadeira magnitude deste desastre, é curioso que uma crise de tal severidade não apenas passasse sem ser mencionada por líderes chineses contemporâneos, mas também passasse despercebida a observadores ocidentais treinados, que visitaram a China durante a catástrofe. O Marechal Montgomery, que fez uma longa visita à China durante 1961 -- no que teria sido o pico da crise -- numa entrevista ao Times de Londres declarou que "não tinha visto qualquer fome na China, que a população parecia bem nutrida, e que apenas alguns produtos estavam racionados em resultado de um ano excepcionalmente mau para a agricultura." (de Castro, pp. 306, 307)

36 de Castro, p. 308. Depois de Castro ter escrito isto em 1973, o progresso tem continuado. Os peritos suecos em alimentos, Lasse e Lisa Berg, escreveram em 1978 que a China, em três décadas, "erradicou a fome e provavelmente também a subnutrição." (Mat och makt, Avesta, Suécia, 1978, p. 170)

37 B. M. Bhatia, Famines in India [Fomes na Índia], segunda edição (Londres, 1967), p. 7.

38 Fernand Braudel, Civilization and Capitalism 15th-18th Century: The Structures of Everyday Life [Civilização e Capitalismo nos Séculos XV a XVIII: As Estruturas da Vida Quotidiana] (Londres, 1981), p. 76. Falando da história passada da China e da Índia, Braudel observa que "as fomes ali pareciam ser o fim do mundo." (P. 76)

39 Graves, p. 87.

40 Walford (1878), p. 442; Graves, p. 88. The Guiness 1983 Book of World Records [O Livro de Recordes Mundiais Guiness de 1983] numa nota de rodapé anexa à tabela (na página 465) das maiores catástrofes do mundo, menciona que a grande fome indiana de 1770 ceifou várias dezenas de milhões de vidas. Porém, não conseguimos confirmar esta afirmação.

41 Bhatia, pp. 7, 8, 58. Compare com Walford (1878), pp. 442-449.

42 de Castro, p. 320.

43 Bhatia, pp. 68, 70, 74, 108.

44 Ibid., pp. 242, 261.

45 Ibid., p. vi.

46 Ibid., p. 270. The Watchtower [A Sentinela], 15 de Abril de 1983, cita na página 6 [edição inglesa] George Borgström, uma autoridade em nutrição no mundo, que diz que as condições alimentares na Índia se tornaram "insuportáveis" nos séculos XIX e XX. Mas conforme mostra o Dr. Bhatia, a maior autoridade sobre as fomes na Índia, isso só é verdade no caso do século XIX, não é verdade no caso do século XX, quando a situação mudou radicalmente. Mais ainda, a declaração de Borgström segundo a qual apenas dez milhões na Índia estavam "adequadamente alimentados" também está muito errada, como mostra a cuidadosa investigação do Dr. Sukhatme, que concluiu que 50 porcento da população indiana está adequadamente alimentada! (Veja a informação a seguir ao subtítulo "A extensão da fome e má nutrição hoje.") Borgström foi um dos "profetas da desgraça" da década de 1960 que avisavam que viria uma fome catastrófica. Alguns destes até predisseram que muitos países, a começar pela Índia, sofreriam fomes em vastas áreas na década de 1970 -- uma predição que falhou completamente. (Veja, por exemplo, W. & P. Paddock, Famine-1975! [Fome-1975!], Londres, 1967, pp. 60, 61. Este livro foi repetidamente citado nas publicações da Torre de Vigia antes de 1975; depois de 1975 já não foi citado.)

47 Bhatia, p. 309. Numa nota de rodapé Bhatia acrescenta: "Desde 1910 até 1940 houve 18 ocorrências de escassez, mas não houve perda de vidas por causa da fome em todo este período." (P. 309)

48 Ibid., p. 310. Um perito diz que o número de mortes chegou aos 3,5 milhões. (Bhatia, p. 324)

49 Berg e Berg, p. 112.

50 Bhatia, p. 342.

51 de Castro, pp. 341, 342.

52 Revista Time, 14 de Janeiro de 1985, p. 25. (Compare com a revista Science [Ciência], 3 de Agosto de 1984.)

53 de Castro, p. 398.

54 Bhatia, p. 2.

55 Southard, na Encyclopedia of the Social Sciences [Enciclopédia das Ciências Sociais], Vol. VI, diz que se sabe que ocorreram 450 fomes na Europa entre 1000 A.D. e 1855. (P. 85).

56 Fernand Braudel, o grande historiador, em Civilization and Capitalism 15th-18th Century: The Structures of Everyday Life [Civilização e Capitalismo nos Séculos XV a XVIII: As Estruturas da Vida Quotidiana] (Londres, 1981), p. 74.

57 Fritz Curschmann, Leipziger Studien aus dem Gebiet der Geschichte (Leipzig, 1900), pp. 60-62.

58 Fontes: Walford, pp. 434-449; Graves, p. 84; Braudel, p. 74; E. P. Prentice, Food, War and the Future [Alimentos, Guerra e o Futuro] (Nova Iorque, Londres, 1944), p. 14; Le Roy Ladurie, Times of Feast, Times of Famine [Tempos de Festa, Tempos de Fome] (Londres, 1972), pp. 68, 70; Prof. Eino Jutikkala, "The Great Finnish Famine in 1696-1697" [A Grande Fome Finlandesa de 1696-1697], The Scandinavian Economic Review [Grande Revista Económica Escandinava], III, 1955, pp. 48-63. As fomes romanas até ao tempo de Trajano (98-117 A.D.) foram examinadas por Kenneth Sperber Gapp na sua tese de doutoramento A History of the Roman Famines to Time Trajan [Uma História das Fomes Romanas até ao Tempo de Trajano], Princeton University, 1934. Infelizmente, não foi possível adquirir uma cópia desta tese.

59 Alguns dos velhos cronistas declaram que durante o longo período de fome entre 1005 e 1016, pereceu metade da população da ilha maior! (Graves, p. 81.)

60 Bhatia, p. 2.

61 de Castro, pp. 400, 401.

62 Ibid., pp. 421-424.

63 Ibid., pp. 438-440.

64 Southard, p. 86.

65 Richard G. Robbins, Jr., Famine in Russia 1891-1892 [Fome na Rússia 1891-1892] (Nova Iorque e Londres, 1975), p. 172. A afirmação na página 5 da The Watchtower [A Sentinela] de 15 de Abril de 1983, segundo a qual a fome em 1921 matou "cerca de 5 milhões de pessoas" parece não estar correcta. "Fontes fidedignas estimam que houve entre 1 e 3 milhões de vítimas do desastre." (Robbins, Jr., p. 172.)

66 Southard, p. 86.

67 Graves, p. 89.

68 Graves, p. 90. Southard, p. 87.

69 de Castro, pp. 348-351.

70 Ibid., pp. 365, 366.

71 Hobsbawn (1975), p. 133.

72 Ibid., p. 133.

73 Awake! [Despertai!], 8 de Fevereiro de 1973, p. 29. O número de mortos não está disponível.

74 The Watchtower [A Sentinela], 15 de Abril de 1983, p. 6. As estimativas variam; alguns dizem que o número de mortos foi 200.000 ou mais. John C. Caldwell, no seu estudo da seca na região do Sael, concluiu que o número de mortos fora exagerado. Ele declarou que "os números dos títulos dos jornais eram invenções da imaginação e muitos relatos aparentemente sérios não eram muito melhores." Veja The Saelian drought and its demographic implications [A seca do Sael e as suas implicações demográficas] (Washington, D.C.: American Council on Education, Overseas Liaison Committee Paper No. 8, 1975), p. 26.

75 Foi-nos amavelmente enviada uma cópia do documento por Anders Johansson, que esteve presente na conferência como correspondente em África do Dagens Nyheter, o maior jornal matutino da Suécia. Johansson é actualmente Editor de Notícias deste jornal.

76 de Castro, p. 367.

77 Graves, p. 75.

78 Ibid., pp. 75, 77, 79.

79 Hobsbawn (1975), p. 133; Revue pour l'Étude des Calamités [Revista para o Estudo das Calamidades], n.º 21 (Jan.-Dez. 1944), pp. 3-26; n.º 26-27 (Jan. 1948-Dez. 1949), pp. 33-71; n.º 28-29 (Jan. 1950-Dez. 1951), pp. 47-62. (Este jornal era publicado em Genebra, Suíça.)

80 de Castro, pp. 374-376, 388, 389.

81 Ibid., pp. 142, 199.

82 Ibid., p. 139.

83 Demógrafo dinamarquês P. C. Matthissen em Befolkningsutvecklingen -- orsak och vernan, segunda edição (Lund, Suécia, 1972), p. 35. (Traduzido da edição sueca).

84 Jan Lenica e Alfred Sauvy, Population Explosion, Abundance or Famine [Explosão Populacional, Abundância ou Fome] (Nova Iorque, 1962). A citação é tirada da edição sueca (Befolkningsproblem, Estocolmo, 1965, p. 44.)

85 Conforme explicado anteriormente (na nota 6), subnutrição refere-se à quantidade de alimentos ingeridos, ao passo que má nutrição está relacionada com a qualidade da dieta. Cerca de metade dos que estão mal nutridos, talvez 10 a 15 porcento da Humanidade, também estão subnutridos. [A palavra inglesa] starvation significa uma forma extrema de subnutrição, e fome é essa forma extrema de subnutrição afectando largas áreas.

86 The Watchtower, 15 de Abril de 1983, p. 7. A mortalidade infantil parece ter diminuído um pouco em 1982. O 1983 UNICEF Annual Report [Relatório Anual de 1983 da UNICEF] mostra que 15 milhões de crianças (40.000 por dia) morreram ou ficaram incapacitadas nesse ano devido à má nutrição e a doenças relacionadas com a fome, como a diarreia. (pp. 3, 28)

87 Mesmo hoje a má nutrição é, na maioria dos casos, "invisível", mesmo para mães de crianças mal nutridas. Daí o termo "fome escondida".

88 Isto também é admitido indirectamente na Awake! de 8 de Agosto de 1983, onde a "explosão" populacional é explicada, em parte, da seguinte forma: "Deve-se em parte a um declínio mundial na taxa de mortalidade, em resultado de melhores cuidados médicos e melhores condições económicas e sociais. Consequentemente, estão a morrer menos bebés e mais pessoas estão a viver mais tempo." (P. 4)

89 Erland Hofsten, Världens befolkning (População do Mundo, Upsala, Suécia, 1970), pp. 94-96.

90 Segundo informação regularmente publicada pela Statistiska Centralbyrån (Escritório Central de Estatística) na Suécia.

91 Erland Hofsten, Demografins grunder (Elementos Básicos de Demografia, Lund, Suécia, 1982), p.139.

92 Hofsten, Världens befolkning, p. 96; 1985 World Population Data Sheet, publicado pelo Population Reference Bureau, Inc., Washington, D.C.

93 Na China, por exemplo, a mortalidade infantil diminuiu de cerca de 15 porcento em 1950 para 3,8 porcento em 1983. (Roy Prosterman, The Decline in Hunger-Related Deaths [A Diminuição das Mortes Relacionadas com a Fome], 1984, p. 16; 1985 World Population Data Sheet.)

O 1983 UNICEF Annual Report [Relatório Anual de 1983 da UNICEF] diz que "Entre meados da década de 1940 e o início da década de 1970 houve uma redução de 50 porcento nas taxas de mortalidade em muitos países de baixos rendimentos," embora a taxa de progresso tenha abrandado desde então. (P. 7)

94 D. Gale Johnson, World Food Problems and Prospects [Problemas e Perspectivas da Alimentação no Mundo] (Washington, D.C., 1975), p. 19.

95 E. P. Prentice, Hunger and History [Fome e História], pp. 10, 137. O historiador francês Fernand Braudel resume a situação alimentar do mundo no passado desta forma: "A fome repetiu-se tão insistentemente ao longo dos séculos, que se incorporou no regime biológico do homem e passou a fazer parte da sua vida diária. A escassez e a penúria eram contínuas, e eram comuns mesmo na Europa, não obstante a sua posição privilegiada." (Civilization & Capitalism 15th-18th Century [Civilização e Capitalismo nos Séculos XV a XVIII], p. 73) Tal como Prentice, Braudel enfatiza que no passado a "subnutrição crónica" prevalecia em todo o mundo. (P. 91) N. W. Pirie, um dos cientistas mais conhecidos de Inglaterra, concorda: "É provável que a má nutrição, permanentemente ou apenas durante certas alturas do ano, tenha sido a condição usual da Humanidade e que fosse considerada normal." -- Food Resources Conventional and Novel [Recursos Alimentares Convencionais e Novos], 1969. (Citado a partir da edição sueca, publicada em Estocolmo, 1970, p. 32)

96 E. R. Duncan (editor), World Food Problems [Problemas da Fome no Mundo] (Ames, Iowa, 1977), p. 3.

97 Ibid, p. xi.

98 Na realidade, peritos destacados agora acreditam que, essencialmente, a crise populacional global acabou. "A bomba populacional está a ser desactivada," disse a revista New Scientist em 9 de Agosto de 1984. "Quase sem ser notado, nos últimos dez anos o crescimento anual da população mundial diminuiu de 2 porcento para 1.7 porcento.... As Nações Unidas agora predizem que a população mundial, que actualmente é cerca de 4.7 biliões, atingirá apenas 6.1 biliões no ano 2000 (menos 20 porcento do que indicavam algumas estimativas anteriores) e estabilizará em cerca de 10 biliões algures por volta do fim do próximo século." (P. 12) Veja também a New Scientist de 16 de Agosto de 1984, p. 8, e a Awake! de 8 de Abril de 1984, p. 29.

99 Duncan, p. 23.

100 1982 FAO Production Yearbook [Anuário de Produção da FAO de 1982] (Roma, 1983), pp. 5, 9, 75, 97-101, 261, 262.

101 Conforme James P. Grant, Director Executivo da UNICEF, explica na página 2 do 1982 UNICEF Annual Report [Relatório Anual de 1982 da UNICEF], com apenas 6,5 biliões de dólares, nos próximos 15 anos "seria possível fazer recuar a fome e a má nutrição em larga escala." Além disso, novas técnicas desenvolvidas durante os últimos anos "poderiam reduzir as incapacidades e mortes entre as crianças na maioria dos países em vias de desenvolvimento... em pelo menos metade, antes do fim deste século." Estas técnicas, diz Grant, "são ainda menos dispendiosas do que pensávamos." (1983 UNICEF Annual Report [Relatório Anual de 1983 da UNICEF], pp. 3, 4)

102 de Castro, p. 466. "Não é por acaso," disse a revista New Scientist em 9 de Agosto de 1984, "que é em África, onde os métodos agrícolas estão menos desenvolvidos, que a fome persiste." (P. 15) No entanto, seria possível a muitos países africanos aumentar consideravelmente a sua produção alimentar com o uso dos actuais métodos primitivos. A FAO (Organização Para a Alimentação e Agricultura das Nações Unidas) diz que "apenas metade da terra potencial do mundo está a ser cultivada actualmente." Isto inclui muitas partes de África, onde em 11 países, "incluindo Zaire, Zâmbia, Angola e Costa do Marfim, as pessoas poderiam, usando os métodos correntes, alimentar cinco vezes as suas actuais populações. Congo poderia alimentar 20 vezes a sua população e o Gabão, 100 vezes. No total, África poderia, com métodos primitivos, alimentar 2.7 vezes a sua actual população, diz a FAO." (Ibid., p. 15)


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