In Search of Christian Freedom (Em Busca de Liberdade Cristã) (Atlanta: Commentary Press, 1991) de Raymond Franz (1922-2010), pp. 207-236.

Capítulo 7: De Casa em Casa

Raymond Franz


Eu preguei-vos, e instruí-vos tanto em público como em vossas casas. -- Atos 20:20, Jerusalem Bible.

Provavelmente nenhum outro aspecto da sua atividade distingue tanto as Testemunhas de Jeová como as suas visitas de porta-a-porta. Pessoas em todo o mundo estão habituadas a vê-los tocar às suas portas com literatura bíblica e revistas, em algumas áreas com poucas semanas de intervalo. Embora seja verdade que existem outras religiões que são fortes a evangelizar e que manifestam um espírito missionário, não existe nenhuma na qual ir de porta em porta é visto, não simplesmente como um meio de espalhar uma mensagem, mas como -- em si mesmo -- uma evidência da genuinidade do cristianismo de cada um.

Se fosse colocada à organização da sede da Sociedade Torre de Vigia a questão de saber se cada membro (se fisicamente apto) tem de fazer testemunho de casa-em-casa para ser uma verdadeira Testemunha, de fato para ser um verdadeiro cristão, a resposta seria provavelmente que este não é um requisito absoluto. (Na realidade, seria extremamente difícil obter uma resposta clara e direta a tal pergunta; a organização da sede é muito reticente em se expressar por escrito em assuntos sensíveis e, mesmo quando dadas, as respostas são freqüentemente redigidas em termos ambíguos, ou com raciocínios evasivos e vagos.)

Já vimos, contudo, que homens responsáveis na organização reconhecem que existe sério motivo para questionar se na realidade a comunidade das Testemunhas como um todo se empenha nesta atividade como resultado de um desejo de coração de o fazer, como algo livremente motivado, feito sem qualquer sentimento de compulsão.

Então porque é feito? A evidência é que isso se tornou, para todos os efeitos, uma virtual regra de lei, de tal forma que a não realização do ato provoca um sentimento de culpa, de maneira muito semelhante ao que sentiria um Católico praticante se deixasse de assistir regularmente à missa.

Uma Testemunha de longa data e membro da sede, A. H. MacMillan, declarou que o trabalho de porta-em-porta veio a ser encarado como "um arranjo que era conveniente manter" e "um dever para com Deus."1 Embora afirme acreditar no ensino apostólico de que somos salvos pela fé e não por obras, encontramos freqüentemente declarações indicando o contrário nas publicações da Torre de Vigia. Como apenas um exemplo, a Sentinela de 15 de julho de 1979, página 14, declara:

É pela nossa perseverança na proclamação destas "boas novas do reino" que podemos obter a salvação.

Para as Testemunhas, a "proclamação destas boas novas" tem apenas um significado, serviço de campo, ir de porta em porta com a literatura da organização.

Restam poucas dúvidas que a maioria das Testemunhas de Jeová veio a aceitar o ensino segundo o qual este método particular de testemunho porta-a-porta é ordenado por Deus, foi o método usado por Cristo e seus apóstolos e discípulos, e que é a maneira melhor e mais eficaz de realizar uma pregação mundial das boas novas no nosso tempo. A profundidade com que este ponto de vista foi aceite por muitos é claramente ilustrada no número de 1.º de maio de 1966 da revista Sentinela, que conta a atividade das Testemunhas de Jeová na China comunista.

Um artigo conta as experiências de Stanley Jones, um missionário nesse país. Ele relata que depois da conquista comunista de Xangai, onde a atividade das Testemunhas estava centrada, eles inicialmente tiveram liberdade para prosseguir no seu trabalho. Cerca de doze meses depois, em 1951, foi-lhes dito pelas autoridades chinesas que podiam pregar nos seus Salões do Reino, conduzir estudos bíblicos na casa das pessoas, mas que trabalho de casa-em-casa não era permitido. Os missionários da Torre de Vigia, incluindo Jones, que não eram chineses, cessaram esta atividade. As Testemunhas chinesas, contudo, continuaram a ir de porta em porta e Stanley Jones declara que ele e os outros missionários estrangeiros "ficaram muito contentes" de ver isto.

Apesar de as autoridades chinesas tolerarem isto por um tempo, mais tarde começaram a trazer para a estação da polícia as Testemunhas chinesas encontradas a ir de porta em porta apesar do decreto. Chegou ao ponto em que três mulheres Testemunhas foram detidas por quatro dias. Jones diz que os missionários estavam ansiosos para ver como as Testemunhas chinesas reagiriam a isto e que estavam "tomados de gozo" de ver que eles "estavam determinadas a prosseguir pregando da mesma maneira." Ele declara que os missionários aconselharam-nos a tomar cuidado para evitar quaisquer dificuldades se possível. Embora eles mesmos se refreassem de o fazer, e aparentemente sentiram-se justificados em tal abstenção, os missionários estavam obviamente a favor da continuação de tal atividade porta-a-porta pelos membros chineses não obstante a declaração oficial e os sérios riscos envolvidos. Quais foram as conseqüências? Stanley Jones relata:

Então, a irmã Nancy Yuan foi conduzida da obra de casa em casa para a delegacia e presa. Tinha quatro filhos, um deles de um ano apenas. Procurei um advogado para nos ajudar, e ele disse: "Nada podemos fazer. Se o assunto estiver nas mãos da polícia, não podemos interferir." ... Então, aquela irmã ficou presa por quatro anos antes de ser por fim julgada e sentenciada. Qual foi exatamente a sentença dela, não sei. Outra irmã, professora, igualmente mãe de quatro filhos, foi também presa.

Com sinais claros de perigo crescente, o que é que levaria as mães de crianças pequenas a arriscar a perspectiva terrível se serem afastadas por um período indefinido daquelas crianças, até mesmo separadas de um bebê de um ano de idade? Eles sabiam que os missionários tinham cessado tal atividade, e no entanto eles continuavam. Porquê? Será que eles e as outras Testemunhas chinesas encaravam a atividade de ir de porta em porta como algo inteiramente opcional, simplesmente um de muitos meios aceitáveis de partilhar informação das Escrituras com outras pessoas? Ou viam-no eles como A maneira de proclamar as boas novas, uma maneira ordenada por Deus que eles tinham obrigação de levar por diante? Se é este o caso, por que é que eles se sentiram desse modo; o que é que os levou a adotar esse ponto de vista?

Catorze anos depois do artigo sobre Stanley Jones aparecer, a Sentinela de 1.º de março de 1980 trazia um artigo contendo um relato em primeira mão por Nancy Yuen, agora liberta da prisão. Este artigo preparou o caminho para um artigo maior na mesma edição sobre a importância do testemunho de casa-em-casa (um artigo escrito pelo membro do Corpo Governante Lloyd Barry). Nancy Yuen conta o que lhe aconteceu e porquê:

No início de 1956 ... Começaram a avisar-nos para pararmos nossa pregação e limitarmos nossa atividade ao Salão do Reino. Contudo, eu sentia que tinha de levar a cabo a comissão de pregar, dada por Deus, assim continuei a empenhar-me no trabalho de casa em casa.

Fui várias vezes detida e retida para interrogatório, as detenções duravam às vezes cinco horas e outras vezes mais de três dias. Nesse ínterim, visto que meu marido se havia mudado para Hong Kong em 1953, requeri permissão para juntar-me a ele. As autoridades disseram que emitiriam minha licença de saída sob a condição de eu parar de pregar. Recusei-me a parar e consequentemente nunca obtive a licença.

Todos os cristãos deviam ver-se a si mesmos como tendo uma "comissão dada por Deus" para exprimir a sua fé a outros. Deviam estar dispostos a sofrer a perda da liberdade, até da própria vida, em vez de se mostrarem infiéis a essa comissão. Isso certamente não está aqui em discussão. Nem existe qualquer razão justificada para duvidar da sinceridade de Nancy Yuen ou procurar difamar a atitude de auto-sacrifício que ela demonstrou. Ela é claramente uma mulher de grande determinação. A verdadeira questão é: A comissão dada por Deus aos cristãos de tornar conhecidas as boas novas tem implícito o dever de fazer isto por um método particular, nomeadamente por ir de porta em porta? É esse método ensinado nas escrituras como sendo o modo por excelência de proclamar as boas novas, um sinal identificador do verdadeiro seguidor de Jesus Cristo? Nancy Yuen evidentemente veio a acreditar nisto, visto que as suas próprias palavras indicam que ela via tal atividade como algo que 'tinha de fazer.' Os representantes da Sociedade Torre de Vigia nada disseram que lhe desse, ou às outras mães de quatro crianças, qualquer razão para pensar de maneira diferente. Que o exemplo dela tenha sido usado para preparar o caminho para um artigo por um membro do Corpo Governante defendendo o testemunho de casa-em-casa certamente implica uma aprovação daquela atitude.

O que aconteceu Nancy Yuen como resultado do ponto de vista que ela veio a sustentar e a acreditar que se baseava nas Escrituras? Ela relata:

No final de 1956, depois de ter sido presa seis vezes, por fim, fui novamente detida, quando uma dona-de-casa notificou às autoridades que eu estava pregando de casa em casa. Depois disso, não fui mais liberta.

Antes que ela pudesse finalmente estar unida como uma família com o seu marido e crianças em Hong Kong, passaram vinte e três anos. As crianças dela já não eram agora pequenas crianças mas adultos no fim dos vinte e princípio dos trinta. Ela não tinha estado com eles durante a maior parte dos seus anos de formação. Ela esteve primeiro detida por quatro anos até ao seu julgamento, foi então sentenciada a prisão, depois de alguns anos foi liberta, começou a pregar outra vez, foi novamente presa e sentenciada de novo, totalizando estas sentenças de prisão vinte anos.

Numa carta que recebi de uma Testemunha de um estado do meio oeste, a escritora (ela própria uma mãe de três crianças) disse: "não sei o que sente sobre coisas como essa mas eu desatei a chorar depois de ter acabado de ler o artigo." Ela continuou explicando que o que a perturbou mais profundamente durante os dias seguintes foi a pergunta: Aquilo tem de acontecer? É de fato Deus quem requer ou impele os seus servos a se empenharem nesta atividade de porta-em-porta a um tal custo? Ou são os homens?

Nancy Yuen expôs a sua crença, dizendo:

Eu tive de desistir de tudo, inclusive dos meus filhos pequenos, para ser leal ao meu Deus.

Ela claramente acreditava que a lealdade a Deus requeria que ela fosse de porta em porta apesar de uma lei que proibia -- não pregar -- mas pregar por aquele método. A crença dela resultava claramente do que lhe fora ensinado pelas publicações da Torre de Vigia. De fato, no ano antes da prisão dela, a Sentinela de 1.º de julho de 1955, página 409, num artigo sobre o batismo disse o seguinte, debaixo do subtítulo "Requisitos":

10 Espera-se da pessoa dedicada que apoie a causa do Pai, a causa da adoração verdadeira, que pregue em honra da Palavra e nome de Jeová Deus, que assuma as suas responsabilidades como um ministro, um pregador no serviço de campo de casa em casa, e que de outras formas participe plenamente nas atividades da sociedade do Novo Mundo, para fazer progredir a proclamação do Reino e apoiar a adoração verdadeira de Jeová. A pessoa dedicada tem de ser uma Testemunha de casa-em-casa como foi Cristo Jesus e os apóstolos tanto quanto lhe permita a sua habilidade, e tem de ser de outras formas uma testemunha e anunciador do reino teocrático da justiça

Isto remete-nos para o verdadeiro ponto em questão: é esta crença verdadeira? Se é, então todo o sofrimento que resultou no caso de Nancy Yuen, e o sofrimento experimentado em outros casos por razões similares, pode ser corretamente visto como parte do "sofrimento por Cristo," um sacrifício necessário e de pequena conseqüência quando comparado com ser leal a Deus e fiel à sua Palavra. Nesse caso toda a responsabilidade pelo sofrimento experimentado permanece total e completamente com as autoridades governamentais que tomaram tais medidas severas e repressivas.

Se, por outro lado, o ponto de vista desenvolvido na mente e coração de Nancy Yuen e nas outras mães de quatro crianças e nas outras Testemunhas chinesas -- bem como nas mentes e corações de muitos outros em outras terras -- não é clara e inequivocamente ensinado na Bíblia, se é em vez disso o resultado de uma política organizacional baseada em raciocínios humanos, então levantam-se sérias questões quanto ao grau de responsabilidade que cabe à fonte de tal ensino.

Alguns talvez digam que este caso foi algo fora do comum, e de fato foi, e que a atitude revelada não reflete necessariamente a atitude de muitas Testemunhas. Talvez não até ao mesmo grau de convicção virtualmente inquestionada, ou com a mesma disposição para arriscar perdas comparáveis, mas ainda assim milhares experimentam detenção e encarceramento simplesmente porque se sentiram sob obrigação de manter aquele método de espalhar a sua mensagem em face de restrições legais contrárias.2

Mesmo naquelas terras onde a liberdade prevalece em larga medida e onde a probabilidade de ser preso é remota, qualquer pessoa que seja, ou tenha sido, uma das Testemunhas de Jeová tem de admitir honestamente que foram ensinados que a atividade de porta em porta é uma parte especialmente vital da adoração deles, virtualmente uma evidência essencial do seu discipulado de Cristo. Eles também sabem nos seus corações que se deixarem de se empenhar nessa atividade com alguma regularidade, são vistos como "espiritualmente fracos" pelos seus associados, criando em muitos um sentimento de culpa.

Uma carta para a Sociedade Torre de Vigia escrita por um superintendente de circuito, na qual ele abre o seu coração sobre o que tem visto na sua área de atividade permite ilustrar estes pontos. Ele declara:

Esta carta está a ser escrita depois de meses de muita consideração e de muitas conversas francas com publicadores e anciãos. Eu considerei o problema em oração e espero poder expressar claramente as suas dimensões à Sociedade. Dos cerca de 25 anciãos com quem falei em conversas longas e francas, apenas 2 não expressaram sentimentos de culpa por não serem capazes de corresponder aos objetivos estabelecidos para eles pela Sociedade.

Juntamente com o esquema das reuniões e estudo estabelecido para eles, e apelos constantes para "assumir uma melhor liderança no serviço de campo," ele afirma que muitos "sentem que estão sob uma tensão constante para avançar, avançar, avançar sem nunca ter tempo suficiente para fazer as coisas corretamente." Ele prossegue dizendo:

Muitos disseram-me que visitas anteriores de superintendentes de circuito têm sido muito pouco encorajadoras. Eles dizem que o superintendente de circuito vem sempre com a mensagem para fazerem mais, mais, mais. Como é que isto afeta pessoas que já estão cheias de sentimentos de fracasso pessoal e culpa? Um irmão observou:

"Os superintendentes de circuito passaram pela congregação como um barco a motor fazendo ondas. Depois de eles se irem embora a vida de cada um fica um pouco mais instável."

Outro disse: "Os discursos deles têm muitas vezes o efeito de chicotear um cavalo fiel e cansado que já se sente sobrepujado pelo trabalho."3

Esclarecendo que estas não são simplesmente queixas de pessoas desiludidas, centradas em si mesmas, com dúvidas, o superintendente de circuito acrescenta: "Alguns dos que se expressam assim estão entre os anciãos e publicadores melhor qualificados do circuito."

Pelo mundo fora, cada ancião e cada "servo ministerial" ("diácono") das Testemunhas de Jeová sabe que além de assistir a reuniões três vezes por semana (envolvendo um total de cinco reuniões individuais), ele tem de se empenhar em visitas de porta em porta com algum grau de regularidade ou arrisca-se a ser removido da sua designação como sendo "não exemplar." Como o seu tempo é limitado, os anciãos vêem-se no dilema de sacrificar ou deixar de lado outras coisas que nos seus corações talvez sintam terem maior prioridade, incluindo assuntos da família, gastar tempo com os seus filhos, visitar os doentes, e atividades similares. Isto pode significar tornarem-se semelhantes a marionetes em sentido espiritual, respondendo quando as cordas são puxadas por uma fonte externa. É também inegável que muitas mulheres Testemunhas se sentiram obrigadas a fazer visitas de porta em porta apesar das objeções veementes de maridos que não são Testemunhas, sabendo que continuar a fazer isto poderia causar problemas no casamento e, nalguns casos, o divórcio.

Qual é então a base para esta crença, que faz com que as Testemunhas vejam a participação no trabalho de porta em porta de maneira comparável à que um Católico encara a assistência à Missa?

De Casa em Casa e de Porta em Porta -- O Mesmo?

O ensino da liderança das Testemunhas de Jeová acerca do testemunho de casa em casa é largamente baseado em textos tais como Atos 5:42 e 20:20. Na Tradução do Novo Mundo da Sociedade Torre de Vigia estes dizem:

E cada dia no templo e de casa em casa eles continuavam sem cessar a ensinar e a declarar as boas novas acerca do Cristo, Jesus.

Enquanto eu [Paulo] não me refreei de vos transmitir tudo o que fosse proveitoso, nem de vos ensinar publicamente e de casa em casa.

Eles deduzem que "de casa em casa" indica atividade de porta em porta, indo consecutivamente de uma porta para a seguinte, uma porta a seguir à outra, visitando pessoas sem convite prévio e geralmente sem as conhecer previamente. Será que essa dedução se segue necessariamente?

Quando a Tradução do Novo Mundo foi publicada pela primeira vez, a Sociedade Torre de Vigia focou atenção considerável na frase grega original (kat' oikon) da qual vem a tradução "de casa em casa." Foi enfatizado que a preposição kata (que significa literalmente "segundo") é usada aqui num sentido distributivo. Portanto, alegou-se que a frase "de casa em casa" tem o mesmo sentido de "de porta em porta," isto é, ir de uma porta para a próxima porta ao longo de uma rua.

A alegação não se mantém válida se for examinada e se pensarmos bem nela. Em primeiro lugar, distributivo não é o mesmo que consecutivo. Uma pessoa pode ir de "casa em casa" indo de uma casa numa área para uma casa em outra área, tal como um médico ao fazer "visitas domiciliares" pode ir de lar em lar. Isso não requer de maneira nenhuma a idéia de visitas consecutivas porta-a-porta.

Qualquer alegação de que o uso da preposição kata no sentido distributivo requer a tradução "de casa em casa" para estar correta e exata, é, de fato, explorada pela própria Tradução do Novo Mundo.

Poucas Testemunhas se apercebem que a mesma frase (kat' oikon) traduzida "de casa em casa" na Tradução do Novo Mundo em Atos, capítulo cinco, versículo 42, também ocorre no capítulo dois, versículo 46. Em baixo pode ver-se como estes versículos aparecem na Kingdom Interlinear Translation (Tradução Interlinear do Reino) da Sociedade Torre de Vigia, que contém a Tradução do Novo Mundo na coluna da direita:

Atos 2:46

46 segundo dia e perseverando
de mentalidade comum em o templo, partindo e
de acordo com casa pão, eles estavam a partilhar
da comida em exultação e simplicidade
de coração, 47 louvando o Deus e tendo
a necessidade. 46 E dia após dia assistiam
constantemente no templo de comum acordo,
tomando as suas refeições em lares
particulares e participando do alimento
com grande júbilo e sinceridade de coração,
47 louvando a Deus e

Atos 5:42

porque eles foram contados dignos sobre o
nome para ser desonrado; todos e
dia em o templo e segundo casa não
eles estavam cessando ensinando e
declarando boas novas sobre o Cristo Jesus.
desonrados a favor do nome dele. 42 E cada
dia no templo e de casa em casa continuavam
sem cessar a ensinar e a declarar as boas
novas a respeito do Cristo, Jesus.

Como a parte esquerda da interlinear mostra, a mesma frase, com o mesmo sentido distributivo de kata aparece nos dois textos. E no entanto, em Atos 2:46, a tradução não é "de casa em casa" mas "em lares particulares." Porquê?

Porque é ilógico pensar que os discípulos tomavam refeições indo de uma casa para a seguinte pela rua abaixo, e como a Sociedade Torre de Vigia pretende que esse sentido particular seja atribuído à frase "de casa em casa" (em apoio à sua atividade porta-a-porta), não quer levantar possíveis perguntas que surgiriam se usasse a tradução "casa em casa" aqui. Conforme foi dito, a maioria das Testemunhas não se apercebe deste modo alternado de traduzir e a Sociedade Torre de Vigia prefere não chamar a atenção para este assunto, nem referi-lo abertamente.

Em Atos 20:20, a frase aparece outra vez, embora a palavra para "casa" ou "lares" esteja aqui no plural (kat' oikous):

conspirações os Judeus; 20 como nada
eu refreei das (coisas) que trazem juntas
dos não para contar a VÓS e ensinar VÓS
ao [lugar] público e segundo casas,
20 ao passo que não me refreei de VOS falar
coisa alguma que fosse proveitosa nem de
VOS ensinar publicamente e de casa em
casa.

Uma vez mais, é simplesmente uma decisão do tradutor como é que esta frase grega será traduzida. Que o principal tradutor da Tradução do Novo Mundo, Fred Franz, reconheceu isto é mostrado na nota de rodapé deste versículo conforme encontrada numa edição especial mais completa da Tradução do Novo Mundo. A nota de rodapé diz:

Ou, "e nas casas particulares."

Não se dá o caso de traduzir kat' oikon (ou kat' oikous) como "de casa em casa" estar errado. É uma tradução perfeitamente correta e é encontrada em muitas outras traduções, mesmo em Atos 2:46. Que a tradução "de casa em casa" ou "em lares particulares" seja usada em ambos os textos nada mais é do que uma escolha do tradutor. O que está errado é tentar fazer a frase transmitir um sentido que de fato não está lá.

Que os apóstolos e outros cristãos primitivos visitavam pessoas nos seus lares particulares, é claro. Que eles se empenhavam em atividade porta-a-porta conforme é feita pelas Testemunhas de Jeová hoje é que já não é nada claro. Pode-se fazer essa afirmação, mas é uma afirmação sem prova absolutamente nenhuma.

Não que a Sociedade Torre de Vigia use apenas estes textos na sua tentativa de apresentar o testemunho porta-a-porta como sendo o modo verdadeiramente cristão e semelhante ao de Cristo de espalhar conhecimento da Palavra de Deus. Outra parte das Escrituras freqüentemente usada nos argumentos deles é Mateus 10:9-14, na qual Jesus deu estas instruções ao enviar os seus apóstolos a pregar:

Em qualquer cidade ou aldeia em que entrardes, procurai nela quem é merecedor, e ficai ali até partirdes. Ao entrardes na casa, cumprimentai a família; e se a casa for merecedora, venha sobre ela a paz que lhe desejais; mas se ela não for merecedora, volte a vós a vossa paz. Onde quer que alguém não vos acolher ou não escutar as vossas palavras, ao sairdes daquela casa ou daquela cidade, sacudi o pó dos vossos pés.

Nas publicações da Torre de Vigia, é constantemente colocada ênfase na expressão "Procurai nela [na cidade ou aldeia] quem é merecedor." Esta é depois comentada como significando ir de porta em porta para encontrar pessoas receptivas às boas novas. Não é dada atenção às palavras do contexto, que dizem (versículo 11): "Ficai ali até partirdes." Estas palavras quase nunca são discutidas nas publicações da Torre de Vigia porque tornam evidente que Jesus estava aqui a falar, não sobre testemunho porta-a-porta, mas sobre obter alojamento.

Muitas destas questões foram submetidas a discussão pelo Corpo Governante em mais de uma ocasião. Os antecedentes para isto foram os seguintes:

Em 1972, quando um novo manual da organização intitulado Organização para Pregar o Reino e Fazer Discípulos foi desenvolvido, eu fui designado para preparar um terço do manual, incluindo o capítulo intitulado "Seu Serviço a Deus." Ao longo da minha vida como uma das Testemunhas de Jeová eu tinha estado ativo nas visitas porta-a-porta e continuei a estar enquanto no Corpo Governante e depois da minha renúncia em 1980. Empenhei-me em participar nessa atividade todos os meses dos meus quarenta e três anos de associação ativa, visitando literalmente dezenas de milhares de lares durante esse tempo. Mês em que não participasse nesse trabalho, era uma rara excepção.4

Mas por volta de 1972, embora continuasse ativo nesse trabalho, eu já não estava convencido que as Escrituras apoiavam o ponto de vista que eu tinha há muito tempo, nomeadamente, que ir de porta em porta era a maneira distintamente Cristã de declarar as boas novas. Que os cristãos tinham uma responsabilidade de partilhar as boas novas com outros era claramente evidente, inegável. E ao escrever o capítulo do manual que me foi designado, apresentei claramente essa responsabilidade, como qualquer pessoa pode ver lendo o capítulo. Mas não encontrei nada nas Escrituras que ordenasse um certo método de fazer isto.

Que Cristo Jesus e os apóstolos e discípulos tinham visitado pessoas nos seus lares também era claramente evidente, inegável. Mas que eles tinham ido de porta em porta a fazer isto não estava indicado em nenhum lugar das Escrituras. Eu não pude usar conscienciosamente os textos em Atos 5:42 e Atos 20:20 para provar que eles o fizeram. Assim, no manual eu apresentei as visitas porta-a-porta como um meio eficaz de alcançar as pessoas mas não tentei apresentar este método como algo indicado na Bíblia.

O que escrevi foi submetido à apreciação de Karl Adams. Karl leu e aprovou a matéria e passou-a ao presidente. O manual inteiro foi subseqüentemente submetido ao Corpo Governante para discussão. A questão de aplicar aqueles dois textos como referindo-se a tocar consecutivamente de porta em porta foi longamente discutida, a favor e contra. O capítulo foi finalmente aprovado -- unanimemente -- por todo o Corpo Governante, que era constituído nessa altura por onze membros.5

O assunto ficou assim arrumado durante vários anos, durante os primeiros três destes registaram-se alguns dos maiores aumentos no número de Testemunhas. Começando em 1976 deu-se uma quebra severa tanto no aumento como na atividade global. Havia evidência clara a ligar este decréscimo ao fato de as grandes expectativas criadas pelas publicações da Torre de Vigia acerca do ano 1975 não se terem concretizado.6 Não obstante, alguns membros do Departamento de Redação começavam agora a insistir na reintrodução do uso dos textos em Atos como apoio para o ponto de vista de a atividade porta-a-porta ser "vital" para a pregação das boas novas, fundamental para o Cristianismo.7

Sam Buck, do Departamento de Redação, submeteu um artigo tentando sustentar esse ponto de vista, intitulado "Como é Que Jesus e os Seus Seguidores Pregavam?". O Comitê de Redação do Corpo Governante, do qual eu era membro, discutiu esse artigo numa das nossa reuniões semanais. Karl Adams, embora não fosse membro do Corpo Governante, estava presente como secretário do Comitê de Redação. Entre os comentários feitos, a expressão de Karl foi que o artigo "parecia estar a tentar torcer as Escrituras para se ajustar a uma idéia preconcebida."

Antes disto, eu tinha pedido a outro membro de longa data do Departamento de Redação comentários sobre a matéria que fora submetida.8 Ele escreveu:

Do tom do artigo, fiquei com a impressão que estamos a tentar fazer as Escrituras dizer algo que queremos que elas digam; trabalhamos os textos para os fazer dizer o que queremos que eles digam....

Penso que nos estamos a esquecer de um ponto importante em tudo isto. Todos devem louvar a Deus, pregar. O que é vital é fazê-lo, não é como é feito. Se os primeiros cristãos não iam de casa em casa, isso não significa que nós não o devamos fazer. Se o fizeram, isso não significa que também tenhamos de o fazer. Eles iam a sinagogas, nós não vamos a igrejas. Nós fazemos congressos internacionais, não há indicação de que eles os fizessem.... Porquê forçar um requisito de uma maneira de pregar? Porquê fazer uma pedra-de-toque de "casa em casa"? A questão é chegar às pessoas. O como não é importante, desde que seja amoroso e de ajuda para as pessoas a quem se testemunha.

Na discussão do Comitê de Redação não houve unanimidade entre os cinco membros, pelo que o assunto foi submetido a todo o Corpo Governante. Na esperança de que a discussão se focasse e fosse orientada primariamente pelas próprias Escrituras, fiz um esforço para pesquisar todos os exemplos nos quatro relatos do Evangelho e no livro de Atos relacionados com qualquer atividade que tivesse nem que fosse uma remota semelhança com pregar ou "testemunhar," e depois resumi o que encontrei num quadro de doze páginas de extensão. Também fiz um quadro comparativo de 27 traduções e da maneira como apresentam Atos 2:46; 5:42; e 20:20. Foi fornecida a cada membro do Corpo Governante uma cópia de cada um destes quadros. O quadro com as 27 traduções é apresentado a seguir.

Atos 2:46 Atos 5:42 Atos 20:20
AV
ASV
Douay
RSV
NEB
Rotherham
Byington
Basic Eng
Eng Revised
Knox
New Am St


Moffatt
Moulton
New Am Bi
Diaglott
Goodspeed
Today's Eng Vers
New International
Philips
Jerusalem
Young
New Berkeley
Syriac
New Int. Test.

Barclay
Translators' N T
Weymouth
de casa em casa
no lar
de casa em casa
nos seus lares
em casas particulares
no lar
no lar
nas suas casas
no lar
nesta ou naquela casa
de casa em casa


nos seus próprios lares
no lar
nas suas casas
no lar
nos seus lares
nos seus lares
nos seus lares
nos seus lares
nas suas casas
em todas as casas
no lar
no lar
de casa em casa
  [Int: nas [suas] casas]
nas casas uns dos outros
no lar
no lar
em todas as casas
no lar
de casa em casa
no lar
em casas particulares
no lar
no lar
particularmente
no lar
de casa em casa
de casa em casa
  [lar ou nos vários
   lares particulares]
no lar
no lar
no lar
no lar
em casas particulares
nos lares das pessoas
de casa em casa
nas casas das pessoas
em casas particulares
em todas as casas
no lar
no lar
em todas as casas
  [Int: nas casas]
de casa em casa
nos lares das pessoas
nos lares
de casa em casa
de casa em casa
de casa em casa
de casa em casa
nos vossos lares
nos vossos lares
de casa em casa
particularmente
particularmente
de casa em casa
de casa em casa
  [lar ou nos vários
   lares particulares]
de casa em casa
de casa em casa
em privado
nas vossas casas
nas vossas casas
nos vossos lares
de casa em casa
nos vossos próprios lares
nos vossos lares
em todas as casas
em lares
em lares
de casa em casa

nos vossos próprios lares
nos vossos lares
nos vossos lares

O espaço não permite apresentar todas as doze páginas do segundo quadro mas a primeira página é apresentada aqui como amostra do seu conteúdo:

TEXTO ATIVIDADE DE PREGAÇÃO LOCAL OU MÉTODO
Mat 3:1-6 Atividade de João No deserto, as pessoas iam ter com ele. (MARCOS 1:4-8; LUCAS 3:3-18; JOÃO 1:19-35)
4:17 Começo de Jesus Não especificado (MARCOS 1:14, 15)
4:18-22 Chama os primeiros discípulos Ao longo do mar da Galiléia (MARCOS 1:16-20)
4:23-25 Viagem na Galiléia Não é descrito nenhum método; "grandes multidões seguiam-no."
5:1-7:29 Sermão no monte Falou a multidões na região montanhosa (LUCAS 6:12-42)
8:1-4 Ao leproso O relato diz "multidões seguiam-no" e o leproso veio até ele (LUCAS 5:12 -16)
8:5-10 Ao oficial do exército O oficial veio até ele, "aqueles que o seguiam [Jesus]" também ouviram
« 8:14-17 Re curas Na casa de Pedro; "as pessoas trouxeram-lhe" aqueles necessitados de cura (MARCOS 1:29-34; LUCAS 4:38-41)
8:18-22 Ao escriba "multidão à volta dele," Jesus pronto a entrar no barco, escriba aproxima-se dele
8:28-34 Re homem possesso por um demónio Fora da cidade, as pessoas  saem para se encontrarem com Jesus (MARCOS 5:1-20; LUCAS 8:26-39)
9:2-8 Re homem paralítico Cafarnaum, as pessoas trazem-lhe o homem paralítico (LUCAS 5:17-26)
9:9 Chama Mateus No lugar onde Mateus cobrava impostos (MARCOS 2:14; LUCAS 5:27-32)
« 9:10-13 Re cobradores de impostos e pecadores Reclinado na mesa em casa de Mateus, as pessoas vieram ali (MARCOS 2:15-17)
9:14-17 Re jejum Os discípulos de João "vieram até ele" (MARCOS 2:18; LUCAS 5:33-35)
« 9:18-26 Filha doente de um governante e mulher doente O governante "aproximou-se ," uma mulher veio até ele, ele entrou na casa do governante (MARCOS 5:21-43; LUCAS 8:40-56)
« 9:27-31 Dois cegos Seguiram-no para dentro da casa [onde evidentemente Jesus ficou em Cafarnaum] (Compare com MARCOS 2:1, 2)
« 9:32-34 Re homem mudo As pessoas trouxeram-lhe o homem na mesma casa
9:35-38 Viagem Sinagogas; relato fala de multidões; outros métodos não indicados (MARCOS 6:6, 12, 13)
« 10:1-42 Envia doze Não são prescritos métodos específicos; deu instruções a respeito de cuidar das necessidades quanto a comida, vestuário, dinheiro, e alojamento, mostrando como encontrar alojamento apropriado a partir do qual desenvolver atividade; fala de 'pregar do alto das casas' mas evidentemente em sentido figurativo (MARCOS 3:13-15; 6:1- 12, 30; LUCAS 9:1-6; COMPARE COM LUCAS 9:51-56; 10:5, 6; ACTOS 16:15; 17:6, 7; 21:4, 7, 8, 16; 28:7, 14)

No quadro completo da "Atividade de Testemunho," foram alistados cerca de 150 incidentes distintos de "testemunho" (quando o mesmo incidente era relatado por mais de um escritor do Evangelho as citações de textos para todos os relatos foram geralmente agrupadas sob um incidente).

Dos cerca de 150 incidentes registados nestes cinco relatos das Escrituras, apenas cerca de 34 incluem alguma referência a "casa" ou "lar." Entre estes estão as quatro ocorrências que são usadas com mais freqüência nas publicações da Torre de Vigia como base para o seu ensino acerca de atividade porta-a-porta. Estas quatro ocorrências referem-se às considerações de Jesus ao dar instruções aos seus doze apóstolos e aos setenta discípulos antes de os enviar para a atividade evangelizadora, e àquelas duas ocorrências no livro de Atos onde a frase "de casa em casa" ocorre (na Tradução do Novo Mundo). Visto que a questão em discussão era inteiramente a de saber o que é que estes quatro relatos descrevem -- isto é, saber se devem ser compreendidos como referindo-se a ir de uma porta para a seguinte ou não -- então certamente as outras trinta passagens onde ocorre a palavra "casa" ou "lar" deviam ter sido objeto de sério interesse, pois seria razoável esperar que lançassem luz sobre a maneira como Jesus e os seus apóstolos e discípulos faziam a sua atividade. O que é que essas passagem revelam? Conforme indiquei aos membros do Corpo Governante, o quadro mostrava que:

21 referem-se quer a casas nas quais Jesus, Pedro ou Paulo se alojaram quer a casas para as quais foram convidados, muitas vezes para uma refeição, incluindo as casas de Marta, Maria e Lázaro, Zaqueu, Simão o Curtidor, Cornélio, Lídia, um guarda prisional em Filipos, Áquila e Priscila, Tito, Justo, e Públio.

7 passagens referem-se a casas não identificadas mas o contexto indica quer um local de alojamento quer um local de reunião, estando por vezes presentes todos os doze apóstolos ou até uma grande multidão.

2 referem-se a Jesus enviando uma pessoa curada para casa.

Em todas as passagens, não existe uma única que mostre Jesus ou algum dos seus apóstolos ou discípulos tocando de porta em porta ou até indo de uma casa para outra.

Talvez seja esta a razão porque apesar de ser tão completo, o quadro nem sequer foi discutido pelo Corpo Governante, excetuando uma ou duas referências indiretas.

Em vez disso a discussão centrou-se principalmente no uso da expressão "casa em casa" que se encontra nos dois conhecidos textos do livro de Atos, na Tradução do Novo Mundo. Lloyd Barry insistiu num regresso ao uso destes textos para apoiar o trabalho porta-a-porta, dizendo que 'é desta maneira que a organização tem levado a cabo o trabalho ao longo dos anos.'9 Leo Greenlees declarou que 'precisamos de ter uma maneira organizada de cobrir os territórios' (cada congregação divide a sua área designada em "territórios" de algumas centenas de lares cada). Albert Schroeder leu algumas citações sobre o uso da preposição grega kata e também citou exemplos de testemunho público feito pelos Lolardos, seguidores de Wycliffe. George Gangas disse que 'a vasta maioria das pessoas que vieram para a organização foram contatadas por se ir de porta em porta.'10 Carey Barber falou da atitude dos anciãos que questionaram a base bíblica do trabalho porta-a-porta, dizendo que 'eles evidentemente não sentem que é necessário ser zeloso neste trabalho.' Ele referiu-se a Atos 20:21, dizendo que Paulo tinha falado a pessoas sobre "arrependimento," argumentando que isto indicava que o trabalho de casa em casa dele (a que se refere o versículo 20) era feito entre estranhos, e não entre os discípulos. Ele citou a expressão de uma mulher, uma Testemunha, que disse a respeito do trabalho porta-a-porta, "O que é que eu estou aqui fora a fazer se não tenho de pregar?" Lyman Swingle disse que 'evidentemente aquele que escreveu o artigo proposto queria ter uma "ordem" para ir de porta em porta, algo que ele (Swingle) não sentia que as Escrituras justificassem.' Karl Klein declarou que nós estamos 'sob obrigação de usar os melhores meios possíveis para pregar,' e citou o exemplo do "homem com o tinteiro" na visão do profeta Ezequiel e da sua ação de pôr um sinal na testa das pessoas.11 Ele disse que 'os irmãos que se disciplinam a si mesmos e têm amor vão de casa em casa.' Milton Henschel avisou que 'alguns anciãos estavam a dizer que "não há apoio das Escrituras para o trabalho casa-a-casa,"' e, com força considerável, acrescentou que 'ele próprio não estava em Éfeso mas que Lucas estava e Lucas afirma que Paulo foi de "casa em casa."' Também disse que 'a nossa tarefa é fazer discípulos e os irmãos deviam ser encorajados a ir de porta em porta.' Ele sugeriu que se citassem algumas das decisões do Supremo Tribunal dos Estados Unidos que falam sobre a prática de ir a lares das pessoas sem ser convidado como sendo um método antigo de pregar. O Secretário-Tesoureiro Grant Suiter disse que 'se foi publicada alguma coisa depreciando o trabalho casa-a-casa então devia ser nomeado um comitê especial para considerar isso.' Ele disse que existiam alguns relatórios indicando que algumas Testemunhas não estavam a levar literatura com elas quando iam de porta em porta. Ele disse que 'existe muita gente que gostaria de ser Testemunha de Jeová mas que não gosta de testemunhar' e que os anciãos não deviam ser desse tipo.12 Lloyd Barry falou outra vez, citando o comentário de um padre Católico sobre o bom exemplo das Testemunhas de Jeová ao irem de casa em casa. Ele citou um membro do Comitê da Filial no Panamá como tendo dito que o trabalho casa-a-casa é "a verdadeira espinha dorsal da nossa adoração." Leo Greenlees também falou outra vez dizendo que a maioria dos irmãos são "pessoalmente desorganizados" e não fariam o trabalho se a organização não fizesse arranjos para eles.

Este é um resumo do essencial da discussão e ilustra a tendência que tomou, as atitudes e pensamentos que nela foram manifestados. Eu bem tentei chamar atenção para as próprias Escrituras ao longo da sessão mas a discussão raramente se centrava em algum ponto o tempo suficiente para permitir qualquer consideração aprofundada. Toda a discussão Bíblica focava-se quase totalmente na correção da tradução "de casa em casa," conforme apresentada em Atos 5:42 e 20:20, na Tradução do Novo Mundo, sendo isto particularmente defendido pelo Presidente Fred Franz.

Na verdade, nem eu nem ninguém tinha rejeitado ou até criticado aquela tradução. A verdadeira questão era, o que é que "casa em casa" ali significava? Era sinônimo de "porta em porta" conforme empregue pelas Testemunhas? Ou tinha simplesmente o mesmo significado de "em lares particulares," que era como a Tradução do Novo Mundo apresentava a frase grega idêntica em Atos 2:46? Eu tinha chamado a atenção para isto em vários momentos na discussão. Como Fred Franz era de fato o tradutor da Tradução do Novo Mundo, eu tinha a certeza de que ele se apercebia que esta mesma expressão grega (kat' oikon) era também usada quatro vezes para se referir ao lugar de reunião dos crentes cristãos nos lares de certos discípulos. (Veja The Kingdom Interlinear Translation [A Tradução Interlinear do Reino] em Romanos 16:5; 1 Coríntios 16:19: Colossenses 4:15; e Filêmon versículo 2.) Nestes versículos ele tinha traduzido o termo por expressões do tipo "na casa deles," "na casa dela," e "na vossa casa." Embora seja claro que a preposição kata não é usada num sentido "distributivo" nestes textos, ainda assim eles ilustram que a frase foi usada com referência aos lares particulares de discípulos.

Portanto, numa tentativa de estabelecer que -- independentemente da forma como a expressão era traduzida -- a questão decisiva era saber se ela transmitia o significado que lhe estava a ser atribuído, eu por fim senti-me impelido a fazer uma pergunta direta ao meu tio, dizendo: "O Irmão Fred Franz acredita realmente que a expressão 'de casa em casa' tal como aparece nestes versículos [Atos 5:42; 20:20] significa mesmo ir 'de porta em porta,' de uma porta para a porta seguinte? Eu apreciava que ele se expressasse sobre isto."

O presidente, Karl Klein, voltou-se para ele e disse, "Bem, Irmão Franz?" A resposta dele começou assim, "Sim -- creio que pode incluir isso." (Note o uso da palavra "pode," e não "deve.") Ele depois acrescentou: "Por exemplo, ao ir a uma casa Paulo pode ter entrado pela porta da frente e, depois da sua discussão, ele pode ter saído pela porta das traseiras, e portanto ele estaria a ir de porta em porta." Vários dos presentes desataram a rir às gargalhadas. Mas a verdade é que a declaração não pretendia provocar o riso -- foi feita com toda a seriedade. Eu não digo isto apenas por nessa altura já conhecer o meu tio por mais de meio século, e conhecer a sua maneira de falar quando estava a ser deliberadamente humorístico, sarcástico ou até brincalhão. Esta não era uma observação improvisada feita numa conversa casual. O presidente da Sociedade sabia que a pergunta tocava no ponto central que tinha dado origem à longa discussão. Ele falou deliberadamente e num tom que apelava à razão, e não deu a menor indicação de pretender ou esperar que o seu comentário fosse entendido senão como uma explicação razoável. Eu senti-me atordoado, pois parecia incrível que tal resposta pudesse ser feita para de alguma forma clarificar o ponto central da discussão que nesta altura já durava há horas. Em conversa, Karl Klein tinha observado certa vez, "O Freddie consegue racionalizar tudo." No entanto eu ainda fico perplexo ao pensar como é que um homem obviamente inteligente pôde fazer uma racionalização tão evasiva, tão artificial que provocou o riso dos outros membros do Corpo. Mas essa foi a única resposta que a minha pergunta recebeu.

Eu tinha pedido aos membros do Corpo que considerassem as doze páginas de evidência das Escrituras e que apontassem o que quer que fosse indicando ter Jesus alguma vez estabelecido um exemplo de ir de porta em porta. Também isto ficou sem resposta.

Pouco depois da minha pergunta a Fred Franz, o Corpo Governante votou para que Lloyd Barry supervisionasse a escrita de matéria que reintroduziria o uso dos textos anteriormente mencionados como apoiando especificamente a atividade porta-a-porta feita pelas Testemunhas de Jeová. O resultado da votação foi treze a favor, quatro contra.

Achei a discussão desanimadora. Não que o resultado da votação fosse de algum modo inesperado. O aspecto desanimador foi a maneira e o espírito em que decorreu a própria discussão -- embora a tendência errante e casual que seguiu fosse algo que a experiência passada me devia ter feito esperar. Depois disso eu tirei algum tempo para escrever alguns comentários para dar a todos os membros, mas depois de os escrever interroguei-me para que é que servia continuar a tentar. Parecia fútil. Acabei por dar apenas quatro cópias ou perto disso, àqueles membros que eu pensava poderem ao menos dar consideração à matéria e arquivei as restantes. (Esses comentários podem ser obtidos através da Commentary Press.)

Fazer as Escrituras Adaptarem-se a um Ensino da Organização

Quando o membro do Corpo Governante Lloyd Barry foi designado para supervisionar a preparação de matéria sobre o assunto para a Sentinela, ele declarou voluntariamente perante o Corpo que se certificaria de que seria dada a devida consideração à informação apresentada nos dois quadros (de evidência bíblica a respeito do testemunho nos quatro Evangelhos e em Atos, e da maneira como kat' oikon era traduzida em várias versões da Bíblia) que eu tinha fornecido aos membros do Corpo. Ele preferiu escrever ele mesmo a matéria e esta apareceu na Sentinela de 1.° de março de 1980 (o mesmo número da revista que continha o artigo sobre Nancy Yuen, a sua atividade porta-a-porta e os seus vinte anos na prisão). Não continha qualquer consideração da evidência bíblica que fora apresentada nem deu, de fato, qualquer consideração às questões básicas envolvidas, como tinham sido discutidas na sessão do Corpo Governante.

Logo no início os artigos traziam uma grande imagem de casas com gravuras inseridas nela mostrando Testemunhas tocando às portas e em baixo as palavras: "Assim como fizeram os apóstolos de Jesus, os atuais cristãos estão procurando 'de casa em casa' os que merecem receber as boas novas." Assim, desde o início, "casa em casa" e "porta em porta" foram apresentados como equivalentes. Em nenhum lugar do artigo era apresentada prova de que nas Escrituras aquelas expressões se eqüivalem; esse lado da questão nem sequer foi discutido.

Os artigos que se seguiram ilustram claramente a maneira como, com desoladora freqüência, a organização apresenta aos seus membros uma imagem deformada dos assuntos, suprimindo toda a evidência desfavorável e privando desta forma os seus membros da oportunidade de avaliar os assuntos honestamente e chegar a uma conclusão pessoal quanto à validade das posições tomadas.

[imagem]

[Assim como fizeram os apóstolos de Jesus, os atuais cristãos estão procurando 'de casa em casa' os que merecem receber as boas novas.

A SENTINELA -- 1.° DE MARÇO DE 1980]

Como não podia ser apresentada nenhuma evidência de ter Jesus alguma vez estabelecido um exemplo de ir de casa em casa no sentido de visitar consecutivamente casas de porta em porta, em vez disso o primeiro artigo focou a atenção nas instruções dele aos doze apóstolos e aos setenta discípulos. (Páginas 9 e 10 do primeiro artigo.) Foi seguido o procedimento padrão de apresentar apenas aquelas partes do texto que falam de 'procurar quem é merecedor,' e omitir as expressões de acompanham estas palavras, tais como "ficai ali até partirdes," "ficai nessa casa, comendo e bebendo as coisas que vos derem.... Não vos estejais transferindo de casa em casa." (Parágrafos 8-10) Depois de citar apenas uma parte das palavras de Jesus, o artigo diz:

Isto exigiria irem aos lares das pessoas, onde os "merecedores" acatariam as "boas novas." Desta maneira, esses discípulos iriam também encontrar hospedagem para pernoitar.

Note, "iriam também encontrar". Isto pretende dar a idéia que esta parte das instruções de Jesus referia-se primariamente a testemunho de porta em porta e que o alojamento era algo secundário, quase incidental. No entanto, uma simples leitura do relato (neste e nos outros evangelhos) mostra que Jesus, depois de falar aos seus discípulos sobre coisas que eles necessitariam, ou pensava que eles necessitariam, ao irem numa viagem de pregação, nomeadamente, dinheiro, comida e vestuário, falou então acerca de outra coisa que eles necessitariam na sua viagem, a saber, alojamento, e este era o assunto principal discutido nas palavras dele que foram citadas. A declaração que Jesus fez imediatamente a seguir, "e ficai ali até partirdes" demonstra isto. Ao citar apenas uma parte do versículo e separar os assuntos, o artigo manipula mais facilmente a mente do leitor para aceitar as idéias apresentadas.13

O escritor usou o mesmo método ao citar as palavras de Jesus aos setenta discípulos que foram enviados, conforme registadas em Lucas 10:1-16. No artigo, foram citadas estas palavras:

Onde quer que entrardes num casa, dizei primeiro: "Haja paz nesta casa." E, se ali houver um amigo da paz, descansará sobre ele a vossa paz. Mas, se não houver, ela voltará para vós.

As palavras de Jesus que aparecem imediatamente a seguir não foram citadas. Porquê? Essas palavras são:

Assim, ficai naquela casa, comendo e bebendo as coisas que vos derem, porque o trabalhador é digno do seu salário. Não vos estejais transferindo de casa em casa.

Estas palavras mostram que Jesus estava a dizer claramente àqueles discípulos como obter alojamento com pessoas apropriadas e como se deviam comportar quando esse alojamento fosse obtido. Como estas palavras dão um aspecto completamente diferente à questão, não convinham ao argumento do escritor. Portanto, simplesmente não são consideradas.

Quando o assunto da tradução foi introduzido na discussão, o artigo reconheceu brevemente que "existem outras maneiras de traduzir" kat' oikon além de "casa em casa," mas depois apresentou apenas aquelas traduções que usam esta maneira de traduzir! O artigo nunca se referiu à questão de saber se "distributivo" significa ou requer a idéia de "consecutivo."

Numa nota de rodapé o artigo enumerava dezoito traduções que contêm a expressão "de casa em casa" em Atos 20:20. Não se diz ao leitor que existem igualmente tantas traduções como essas que apresentam os versículos de outras maneiras, tais como "particularmente," "em lares particulares," "em casa," e outras expressões similares. Não se diz ao leitor que algumas das mesmas traduções alistadas como usando "casa em casa" em Atos 20:20, vertem kat' oikon como "em casa" em Atos 5:42. (American Standard Version [Versão Padrão Americana]; Revised Standard Version (Verão Padrão Revista); English Revised Version (Versão Inglesa Revista); tradução de Moffatt.) O artigo incluiu a New American Standard Version (Nova Versão Padrão Americana) na sua nota de rodapé, na lista de versões que usam "de casa em casa" em Atos 20:20 mas não indica que na margem dessa versão lê-se "ou nos vários lares particulares." Qualquer coisa que não se ajustasse à idéia que se pretendia promover com os artigos, foi simplesmente ignorada. E no entanto o escritor, Lloyd Barry, sabia que aquele tinha sido um ponto sério e crucial na discussão que ocorrera na sessão do Corpo Governante.

Mais difícil de perceber é a razão porque os artigos nunca reconhecem o fato de a própria Tradução do Novo Mundo, da organização, traduzir kat' oikon pela expressão "em lares privados" em Atos 2:46. Este versículo nem sequer é mencionado em toda a exposição. Porquê? A razão parece ser evidente.

O primeiro artigo lançou a base e os outros dois deram continuidade às idéias nele apresentadas, mencionando historiadores (E. Arnold e H. G. Wells, que escreveram sobre o espírito evangélico do cristianismo primitivo), o uso tradicional da própria organização de testemunho porta-a-porta, decisões de tribunais e outra matéria como apoio para o ponto de vista apresentado.

Assim, os artigos constituem um exemplo notável de supressão de evidência contrária, de "raciocínio circular" em que se raciocina com base em premissas não provadas como se estas fosses fatos. Escrito numa linguagem enérgica, colorida, com declarações feitas de uma maneira afirmativa, confiante, o artigo não dá ao leitor rigorosamente nenhuma indicação de que poderia haver um entendimento alternativo das passagens das Escrituras a que se recorreu para apoiar a posição tradicional. Em vista da discussão do Corpo Governante e da evidência então apresentada, é difícil encarar isto como outra coisa que não seja desonestidade intelectual.

O Registo de Testemunho do Apóstolo Paulo

Poderiam ser dados mais exemplos em que a evidência também foi ignorada e suprimida. Como apenas um dentre muitos, a Sentinela de 1.° de julho de 1983 continha uma discussão do serviço do apóstolo Paulo e citou as suas palavras em Atos 20:20, 21. Considere a afirmação que se seguia a essa discussão (página 13):

Mais tarde, ele podia apropriadamente dizer aos "anciãos" da congregação de Éfeso: "Não me refreei de vos falar coisa alguma que fosse proveitosa, nem de vos ensinar publicamente e de casa em casa. Mas, eu dei cabalmente testemunho, tanto a judeus como a gregos, do arrependimento para com Deus e da fé em nosso Senhor Jesus." (Atos 20:17, 20, 21, 31; 19:1-4) De modo que o apóstolo Paulo, antes que estes homens que agora eram anciãos se haviam tornado cristãos, lhes havia ensinado as verdades básicas do cristianismo na pregação "de casa em casa".

O próprio Paulo diz ter ensinado estes homens primeiro "publicamente" e depois de "casa em casa." O escritor do artigo na verdade inverte a ordem, afirmando terminantemente que a maneira inicial pela qual os anciãos Efésios se tinham tornado cristãos foi através da atividade 'casa-a-casa.' Ele passa completamente por cima da parte que o ensino "público" de Paulo desempenhou na instrução destes homens nas "verdades básicas do cristianismo," apesar de o próprio Paulo ter dito isto em primeiro lugar. Com que base pôde o escritor do artigo fazer isto? Onde é que as palavras de Paulo especificam o momento em que estes homens se arrependeram e tiveram fé em Jesus Cristo, tornando-se assim cristãos? Na realidade, no capítulo anterior ao que foi citado (isto é, em Atos capítulo dezanove) a própria Bíblia conta-nos sobre a atividade de Paulo em Éfeso. Visto que, como disse Milton Henschel, 'nós não estávamos em Éfeso mas Lucas estava,' o que é que o próprio relato de Lucas (como escritor do livro de Atos) mostra quanto a como e onde Paulo deu "cabalmente testemunho, tanto a judeus como a gregos" acerca do arrependimento e da fé em Cristo?

Atos capítulo dezanove mostra que, ao chegar a Éfeso, Paulo "encontrou alguns discípulos," cerca de doze, que não tinham conhecimento acerca de receber a dádiva do Espírito ou acerca de serem batizados no nome de Cristo, tendo sido batizados com o batismo de João. Paulo batizou-os no nome de Jesus. Mas deve-se notar que estes homens já eram "crentes," "discípulos," quando ele os encontrou. Ele ensinou-os, não como se eles fossem estrangeiros não informados, mas como homens que já eram discípulos.

O caso deles pode ser comparado ao de Apolo, descrito no capítulo anterior como estando "familiarizado apenas com o batismo de João" quando Áquila e Priscila o conheceram. (Atos 18:24-26) Não obstante, mesmo antes que eles "lhe expusessem mais claramente o caminho de Deus," Apolo já tinha estado a "falar e ensinar corretamente as coisas acerca de Jesus" na sinagoga. Embora incompleto no seu entendimento, ele já era um cristão quando Áquila e Priscila o conheceram. Mais ainda, eles conheceram-no, não indo de porta em porta, mas enquanto eles próprios freqüentavam a sinagoga. Não existe nenhuma razão para encarar os doze homens em Éfeso de maneira diferente.

Depois de descrever o batismo destes homens por Paulo, o relato em Atos capítulo dezanove diz:

Entrando na sinagoga, [Paulo] falou com denodo, por três meses, proferindo discursos e usando de persuasão a respeito do reino de Deus. Mas, quando alguns prosseguiam em endurecer-se em não crer, falando injuriosamente sobre O Caminho perante a multidão, retirou-se deles e separou deles os discípulos, proferindo diariamente discursos no auditório da escola de Tirano.

Este é o relato de Lucas como testemunha ocular sobre o ministério de Paulo em Éfeso. Ele mostra que alguns dos que ouviam os discursos de Paulo na sinagoga durante aqueles três meses ou já eram ou tornaram-se depois discípulos. Ele não diz que terem estes, ou quaisquer outros, abraçado o cristianismo foi o resultado de atividade de pregação "casa-a-casa." Um contexto muito claro de evidência das Escrituras indica que isto foi mais provavelmente o resultado de terem escutado os discursos públicos de Paulo na sinagoga. Considere essa evidência conforme é apresentada no relato de Lucas:

Ao longo de todo o livro de Atos existem exemplos uns atrás dos outros de pessoas que se tornaram crentes como resultado de discursos dados em lugares públicos ou de maneira pública. Os 3.000 em Pentecostes reuniram-se publicamente para ouvir Pedro e os outros discípulos falar e nesse mesmo dia arrependeram-se e tornaram-se crentes. Eles não estavam a responder à chamada de alguém à porta da sua casa. (Atos 2:1-41) Embora seja verdade que Cornélio e os seus associados ouviram a mensagem de arrependimento e fé em Cristo na sua casa, a visita de Pedro ali não estava relacionada com nenhuma "atividade de pregação casa-a-casa" mas era antes uma visita específica àquele lar. (Atos 10:24-48) Em Antioquia da Pisídia, como resultado de Paulo falar na sinagoga, alguns judeus e prosélitos, "seguiram Paulo e Barnabé" para ouvirem mais coisas. (Atos 13:14-16, 38-43) Se estava envolvida alguma casa, era mais provavelmente aquela em que Paulo e Barnabé estavam hospedados, com estas pessoas interessadas visitando-os em tal casa, o que é o contrário de serem visitadas nas suas casas por Paulo e Barnabé. (Compare com a situação similar no ministério de Jesus em João 1:35-39.) No sábado seguinte, "todos os corretamente dispostos para com a vida eterna tornaram-se crentes" -- na sinagoga, segundo todas as indicações. (Atos 13:44-48) Em Icónio, o relato diz que Paulo e Barnabé falaram de novo na sinagoga e "uma grande multidão, tanto de Judeus como de gregos, tornaram[-se] crentes." Eles 'arrependeram-se e tiveram fé em Cristo' como resultado de ensino público na sinagoga sem que seja mencionada qualquer "atividade de casa-a-casa." (Atos 14:1) Em Filipos, Lídia 'abriu o seu coração e respondeu à mensagem de Paulo,' mas isto foi junto de um rio e Paulo só entrou em casa dela mais tarde, e nessa altura como convidado dela.14 O guarda prisional filipense que mais tarde foi convertido conheceu Paulo enquanto este estava detido na prisão dele e a entrada de Paulo na casa dele resultou de um pedido de conhecimento do guarda, e não de uma visita não solicitada à sua casa. (Atos 16:12-15, 25-34) Em Tessalônica, o resultado de Paulo ter raciocinado com as pessoas na sinagoga durante três sábados foi que "alguns deles tornaram-se crentes e associaram-se com Paulo e Silas, e assim fizeram também uma grande multidão dos gregos que adoravam a Deus" -- novamente, ensino público numa sinagoga sem referência a nenhuma atividade de pregação "casa-a-casa." (Atos 17:1-4) Em Beréia, ao chegarem eles "entraram na sinagoga dos judeus" e "muitos deles tornaram-se crentes, e assim também não poucas das mulheres gregas bem conceituadas e dos homens." (Atos 17:10-12) Em Atenas, depois de Paulo ter falado publicamente na sinagoga, na feira e no Areópago, tudo lugares públicos, alguns "juntaram-se a ele e tornaram-se crentes." (Atos 17:16-34) Em Corinto, Paulo, enquanto hóspede na casa de Áquila e Priscila, "cada sábado, dava um discurso na sinagoga e persuadia judeus e gregos." Quando os opositores o forçaram a sair da sinagoga ele foi para casa de Tício Justo, que era contígua à sinagoga, e usou esta casa como um lugar de ensino, e o relato diz, "Mas Crispo, o presidente da sinagoga, tornou-se crente no Senhor, e assim também todos os de sua família. E muitos dos coríntios, que tinham ouvido, começaram a acreditar e a ser batizados." (Atos 18:1-8) Crispo e a sua família ouviram inicialmente as boas novas na sinagoga e só mais tarde em sua casa, quando esta foi usada como local de reunião, sem que as visitas porta-a-porta entrem no cenário.

Todos estes relatos precedem o relato da atividade de Paulo em Éfeso. Será que vamos pensar que esses relatos não lançam luz sobre a declaração de Paulo em Atos 20:20 citado na Sentinela, segundo a qual ele deu "cabalmente testemunho, tanto a judeus como a gregos, do arrependimento para com Deus e da fé em nosso Senhor Jesus"? Onde é que Paulo tinha feito exatamente isso nestes relatos todos? Foi em algum tipo de atividade de porta-a-porta? Ou foi em vez disso em lugares públicos, principalmente sinagogas? Quando estavam envolvidas casas, o apóstolo tinha ido lá em atividade porta-a-porta, ou tinha ele em cada caso sido convidado para aquela casa específica? Será que as pessoas "judeus e gregos," se tinham arrependido e tornado cristãs através de ensino público nas sinagogas? Tinham, claramente. Em face desta evidência das próprias Escrituras, das palavras de Lucas como testemunha ocular, como pôde o escritor da Sentinela não fazer a mínima referência à hipótese evidente de o que aconteceu nos outros sítios poder também ter acontecido em Éfeso? Não pesquisou a matéria? Não estava a par de toda esta evidência? Tal superficialidade seria indigna de alguém que escreve para milhões de leitores. Ou preferiu ele passar por cima da evidência substancial de modo a fazer as escrituras ajustarem-se aos ensinos da organização Torre de Vigia? Isto seria ainda menos desculpável.

Paulo diz que ensinou pessoas em Éfeso "publicamente e de casa em casa." Se o primeiro método é público, o segundo, naturalmente, é particular. Visto no contexto extenso e detalhado de todo o livro de Atos, é claro que o caso em Éfeso pode ter sido este: Paulo encontrou crentes como resultado de falar na sinagoga e mais tarde na escola de Tirano, e ele depois foi aos lares desses crentes, de um lar para outro lar, dando-lhes não instrução pública mas particular, instrução personalizada. Uma argumentação honesta reconheceria ao menos esta como uma possibilidade e, se fosse dada consideração a todos os exemplos precedentes das Escrituras, esta seria reconhecida como a explicação mais provável. A Sentinela não faz isto. Porquê?

Penso que pelo menos uma razão é a preocupação acerca do efeito que tal consideração honesta acerca das Escrituras poderia produzir. Os membros do Corpo Governante apercebem-se certamente que a extensão da atividade porta-a-porta em que os membros da organização de todo o mundo se empenham é em larga medida devida a pressões constantes, nas revistas, em reuniões semanais, em discursos por superintendentes viajantes. Embora a sua própria posição privilegiada lhes permita um certo grau de imunidade a essa pressão, eles sabem com certeza, da sua experiência passada antes de entrarem na liderança, que a sentiram e que essa pressão é real.15 As suas próprias expressões a respeito dos relatórios, por exemplo, mostram um verdadeiro medo de que abrandar a pressão possa resultar numa quebra naquela atividade. O comentário de Leo Greenlees de que a maioria dos irmãos são "desorganizados" e precisam dos arranjos da Sociedade para pô-los a fazer o trabalho, é um exemplo típico da atitude paternalista tantas vezes expressa nas sessões do Corpo Governante. Embora relacionado com outra faceta do programa da organização -- uma sugestão para reduzir a duração das reuniões semanais -- Milton Henschel fez um comentário muito similar, quando perguntou, "E o que é que os irmãos vão fazer se lhes dermos mais tempo livre? Provavelmente usá-lo a ver televisão."

Pensem ou não conscienciosamente nisso quando se discute o assunto da pregação, os homens em posições de liderança também sabem que a organização Torre de Vigia produziu um império editorial de tamanho tremendo, que demorou décadas a construir. Esse sistema de publicação com os seus escritórios de filial e parques gráficos grandes e dispendiosos e os edifícios residenciais de muitos andares para aqueles que ali trabalham, são uma fonte de considerável orgulho e são freqüentemente citados como evidência da benção divina e prosperidade. Qualquer diminuição da pressão sobre as Testemunhas para se empenharem na atividade porta-a-porta com as publicações provenientes desse sistema poderia por fim fazer o império desmoronar-se ou poderia requerer que fosse largamente desmantelado. Acredito seriamente que para muitos daqueles na liderança da organização, a mera idéia disto é impensável.

Os membros do Corpo Governante também se apercebem que, embora uma enorme quantidade de milhões de publicações sejam distribuídas cada ano, apenas uma pequena fração dessas publicações é alguma vez lida. Mas a quantidade de publicações distribuídas, por si só, ajuda a manter a ilusão de um tremendo "testemunho mundial" dado às pessoas. Enquanto que o apóstolo Paulo "ensinou" publicamente e em lares particulares, o trabalho porta-a-porta das Testemunhas de Jeová na maioria dos países onde é realizado é uma forma muito pública de pregação mas não de ensino. Mesmo a extensão da pregação é notavelmente pequena. Na maioria dos países, a testemunha só ocasionalmente consegue ter uma conversa substancial, e mais raramente ainda consegue passar do limiar da porta. Numa grande percentagem dos casos o "testemunho" não envolve mais do que uma rápida oferta de algumas publicações da Torre de Vigia. Mesmo na minoria dos casos em que as pessoas permitem que a testemunha diga mais alguma coisa, ou a convidam a entrar, o que é dito na grande maioria dos casos dificilmente poderia ser descrito como "ensinar" e nem sequer remotamente se qualifica como 'dar testemunho cabal sobre arrependimento e fé no Senhor,' porque consiste primária e principalmente numa consideração muito breve de um ou dois versículos da Bíblia seguidos pela oferta de literatura da Torre de Vigia.16 Qualquer eventual "ensino" feito só pode portanto ser o dos "estudos bíblicos domiciliares," e qualquer pessoa familiarizada com a situação nas congregações das Testemunhas de Jeová sabe com certeza que apenas uma pequena minoria delas participa em tal atividade de estudo bíblico.

Um artigo intitulado "O Desafio de Ir de Casa em Casa" na Sentinela de 15 de novembro de 1981, a que já foi feita referência anteriormente, apresenta uma imagem atrativa dos benefícios de participar no trabalho porta-a-porta. O artigo afirma que não há "nada como o método de evangelização de casa em casa para ajudar a pessoa a cultivar os frutos do espírito santo de Deus," e que esse método "ajuda a pessoa a cultivar a virtude da humildade," isto é "tende a torná-los mais compreensivos, com mais empatia," e que "serve também de proteção contra o mundo." é provavelmente verdade que qualquer atividade que faça uma pessoa sair com outros, incluindo muitas formas de trabalho social, podem ter um efeito positivo sobre as perspectivas e a atitude para com os outros. Mas a imagem apresentada é mais fantasiosa do que fatual, e acredito que a maioria das Testemunhas, que regularmente trabalham ombro a ombro com anciãos e pioneiros, e que têm contatos com superintendentes de circuito e distrito, sabem que o trabalho porta-a-porta em si mesmo contribui muito, muito pouco para tornar uma pessoa melhor, mais simpática, que manifesta em grau notável amor, paciência, longanimidade, brandura e os outros frutos do Espírito. A descrição cor-de-rosa que a Sentinela faz é mais representativa das boas intenções de quem escreveu aquilo do que da realidade, como demonstraram as cartas escritas pelos próprios anciãos respeitados da organização. Quanto aos sentimentos de empatia, o próprio fato de as Testemunhas serem treinadas para pensarem nas pessoas que visitam como mundanos, para ignorarem qualquer afirmação de espiritualidade da parte dos outros como não sendo genuinamente cristã, e para encararem como "semelhantes a ovelhas" apenas aqueles que os aceitam, certamente impedem qualquer verdadeiro sentimento de empatia. O seu interesse nas pessoal é largamente um interesse direcionado e a sua visão é como a que se obtém através de um túnel. Mesmo que a pessoa que encontram esteja a sofrer devido a problemas graves e necessidades, raramente a Testemunha se preocupará com outra coisa que não seja tentar colocar literatura ou fazer um convertido. Quando estas duas coisas não parecem ser possíveis, muitos exemplificam a maneira de proceder do Levita e do sacerdote da parábola; poucos reagem como o bom Samaritano.

O mesmo vale para as alegações de que a atividade porta-a-porta ajuda a cultivar humildade e os frutos do Espírito. Durante os anos que servi como superintendente de Filial nas Caraíbas vi muita tensão e dificuldades nos muitos lares missionários estabelecidos pela organização. Parecia ser um problema constante conseguir um grau de compatibilidade satisfatório entre muitos destes homens e mulheres que eram chamados a viver juntos em pequenos grupos na mesma casa. Nós fazíamos muitas vezes mudanças umas atrás das outras, mudando pessoas de um lar missionário para outro numa tentativa de alcançar uma atmosfera de paz em vez de dissensão. Numa zona das Caraíbas onde servi, a Filial estabeleceu mais tarde um lar especial para alguns missionários que ali serviam há mais tempo. A razão era simplesmente que eles não pareciam ser capazes de conviver com outros, com alguns deles (naqueles lares onde estavam) a pedir alívio e dizendo que as suas vidas estavam a tornar-se miseráveis por causa das atitudes e maneiras destes missionários. Num país da América do Sul ao qual fui enviado como superintendente de zona, o único lar missionário que restava era no edifício do escritório da filial. O lar estava ocupado por pessoas que tinham passado, cada uma delas, décadas no serviço a tempo inteiro. Contudo, a atmosfera de queixas e divergências mesquinhas era tal que, depois de anos a fazer o seu melhor para lidar com o egocentrismo, o coordenador da filial por fim pediu e recebeu permissão para se mudar dali para fora e viver noutro lugar qualquer, embora continuando o seu trabalho como coordenador da filial. No entanto, em todos os casos citados estas eram pessoas que estavam, ou tinham estado, a gastar diariamente cinco horas ou mais a testemunhar e grande parte deste testemunho era na "evangelização de casa-a-casa."

Apesar de toda a evidência, as publicações da organização continuam a descrever regularmente qualquer questionação deste programa porta-a-porta como o resultado de falta de humildade e falta de fé e amor por Deus e pelos outros. Assim, a Sentinela de 1.º de Dezembro de 1987 (página 20) declara:

... Para os que deixam de temer a Jeová, as reuniões, o serviço de campo [testemunho porta-a-porta] e outras atividades cristãs podem tornar-se uma carga.

Note como esses foram descritos em A Torre de Vigia (atual A Sentinela) de junho de 1937: "Para os infiéis, o privilégio de servir a Deus levando fruto do reino perante outros, como o Senhor tem ordenado, se tornou mera cerimônia e formalidade enfadonha, que não lhes oferece a oportunidade de brilhar aos olhos dos homens. O levar a mensagem do reino em forma impressa, de casa em casa, e apresentá-la ao povo, é muito humilhante para tais importantes para si mesmos" ... Isto é o que pode acontecer se perdermos o temor de Jeová e, junto com isso, o amor por ele.

Isto faria parecer que ninguém pode de maneira nenhuma questionar a justeza da enorme importância colocada no método porta-a-porta pela organização da Torre de Vigia e fazê-lo por razões sinceras e conscienciosas, baseadas num estudo da Palavra de Deus e na evidência que ela apresenta de maneira muito clara. O artigo citado diz que qualquer pessoa que questione essa importância é infiel a Deus, preocupa-se em 'brilhar aos olhos dos homens,' considera-se importante, e perdeu o seu temor de Jeová e o seu amor por ele.

Vale a pena lembrar que este artigo de 1937 que foi citado (tal como todos os "artigos de estudo" daquele tempo) foi escrito pelo Juiz Rutherford que não participava ele próprio na atividade porta-a-porta. Os seus próprios associados declaram que ele encarava o trabalho que fazia com sendo de maior importância. Ele não era só o homem cuja voz aparecia em todos os registos fonográficos que as Testemunhas nesse tempo levavam às portas (esses registos eram a única

PESSOAS sinceras estão a observar com grande medo
e preocupação os preparativos febris para a guerra entre
as nações. ódio, rancor má vontade aumentam a cada
dia que passa. Parece certo que um terrível desastre mundial
é iminente e é sentido por quase todos.

Será que se pode encontrar um lugar de
S E G U R A N Ç A ?


O homem que por ter viajado ao redor do mundo,
por ter pesquisado, e conhecer a exata Palavra
de Profecia de Deus está qualificado para responder
autoritativamente é o
JUIZ  RUTHERFORD
Ele vai responder numa conferência pública
a ser realizada no
C O L I S E U M
do
FAIR GROUNDS DO ESTADO DE OHIO

Domingo, 19 de Setembro, meio dia
Hora Padrão de Leste
Conferência grátis        Não se fazem coletas
Para lista das estações radiofônicas espalhadas pelo país que transmitirão
o discurso veja o verso desta folha
Panfleto de 1937 anunciando uma das conferências do "Juiz" Rutherford.

maneira em que Rutherford, enviezadamente, foi alguma vez de porta em porta), mas também era ele quem dava todos os principais discursos em qualquer assembléia, era a imagem dele que aparecia em todos os anúncios de tais assembléias, com o seu nome sempre precedido pelo título "Juiz," e muitas vezes com a referência de ele ser o presidente da empresa e um membro da associação New York Bar. Era este, portanto, o escritor que teve o descaramento de atribuir o desejo de ser importante e de brilhar a qualquer pessoa que não apoiasse vigorosamente a atividade porta-a-porta que ele ordenava, mas da qual se considerava a si próprio dispensado.

Acredito que uma pesada responsabilidade acompanha a argumentação sectária e deturpada que é usada para sustentar a alegação da organização de que a atividade porta-a-porta é ensinada e advogada na Bíblia, e que era um método destacado do testemunho do primeiro século. Esta não é uma mera discussão acadêmica nem debate sobre assuntos técnicos. Tem um impacto sobre a vida das pessoas, e sobre a maneira como se vêem a si mesmas e aos outros.

O método porta-a-porta promovido organizacionalmente foi claramente convertido num padrão pelo qual a espiritualidade dos outros e o seu amor a Deus são julgados. Com certeza que qualquer ensino que tenha tais conseqüências merece uma argumentação mais séria do que aquela que se encontra nas publicações da organização, uma argumentação mais completa, uma consideração mais justa da evidência e dos aspectos envolvidos.

O que mostram as Escrituras quanto ao verdadeiro significado da pregação das "boas novas do reino" será discutido num capítulo posterior.


Notas

1 Veja a página 191.

2 Eu próprio experimentei a prisão e arrisquei-me a sofrer violência por esta mesma razão. Veja Crisis of Conscience (Crise de Consciência), páginas 12, 13, 15.

3 De uma carta do superintendente de circuito Wayne Cloutier do Circuito 2 de Connecticut, datada de 11 de Dezembro de 1977.

4 Conforme mencionado no Capítulo 6, página 200, nota de rodapé 17, não era este o caso de todos os membros do Corpo Governante. No caso de alguns era uma rara excepção se eles participavam no trabalho de porta-a-porta.

5 Deve ser dito que nesse tempo todas as decisões tinham de ser tomadas unânimemente. Mais tarde, em 1975, entrou em funcionamento a regra da maioria de dois terços. Veja Crisis of Conscience (Crise de Consciência), páginas 71, 99-101. O único sítio no manual Organization (Organização) em que Atos 5:42 e Atos 20:20 foram discutidos foi sob o tópico "Pastores do Rebanho de Deus," na parte que se referia a visitas por anciãos às casas dos irmãos.

6 Veja Crisis of Conscience (Crise de Consciência), páginas 198 a 212.

7 Na realidade, poucas Testemunhas se aperceberam que estes textos não estavam já a ser usados dessa maneira usual. Mesmo o irmão de Karl Adams, Don Adams, embora fosse ele próprio secretário do Corpo Governante, disse que não tinha conhecimento de nenhuma mudança a este respeito. A evidência do conhecimento proveniente do campo era que o decréscimo estava indiscutivelmente ligado a 1975 e nada mais. O fato de, depois de o manual ter sido publicado, terem ocorrido grandes aumentos exatamente até àquele ano e depois ter havido uma quebra brusca demonstra isto.

8 Ele ainda é um membro da equipa da redação. Não tenho dúvidas que ele ficaria preocupado se o seu nome fosse mencionado aqui. Também não tenho dúvidas que ele tem a mesma opinião que expressou naquela altura.

9 Claramente, isto não é outra coisa senão apelar para a tradição.

10 Na realidade, existe forte evidência de que apenas uma minoria se tornaram Testemunhas como resultado de uma visita à sua porta. Perguntei a várias pessoas de que maneira se tinham tornado Testemunhas e de umas doze pessoas apenas no caso de uma ou duas foi através desse meio. A maioria começou a interessar-se através de membros da família, colegas de trabalho, conhecidos e contatos similares. Relatórios de superintendentes de circuito apresentaram evidência similar. Um dos ancião citado no Capítulo seis, na sua resposta à Sociedade declarou, "Em cada vez mais territórios é possível ir de porta em porta durante literalmente horas e não falar com ninguém.... É cada vez mais claro que a maior parte do aumento está a vir dos esforços no testemunho informal em vez do testemunho de porta em porta." (Carta de Worth Tornton.)

11 Veja Ezequiel 9:3-11. A organização afirma que a única maneira em que este homem simbólico podia ter realizado a tarefa era ir de porta em porta. (Veja a Sentinela de 15 de novembro de 1981, página 11.) Com efeito, a organização tem a pretensão de saber exatamente como as coisas devem ter sido feitas há uns 25 séculos. As próprias Escrituras não mencionam qualquer método.

12 Em contraste com estas declarações fortes, de todos os membros do Corpo Governante, Grant Suiter era provavelmente aquele que mais raramente participava na atividade porta-a-porta. Um membro do Departamento de Redação que pertencia à mesma congregação que Suiter e estava designado ao mesmo "grupo de estudo do livro," disse que em anos de assistência a reuniões para o serviço de campo nunca o tinha visto presente. A esposa de Suiter, em conversa pessoal com a minha esposa, expressou como achava difícil ser um "publicador regular" (o que requer apenas uma hora por mês), dizendo que eles iam a arranjos de discursos em tantos fins de semana e que enquanto Grant tinha de relatar o tempo gasto a fazer discursos para as congregações, ela não podia relatar nem mesmo esse tempo.

13 O artigo também lança uma "cortina de fumo" sobre a questão ao dizer (página 10), "O registro não diz se iam às sinagogas ou às feiras. Mas receberam instruções de ir às casas das pessoas." Isto serve para desviar a atenção da verdadeira questão, que é saber se Jesus estava a dar instruções sobre "métodos de testemunho" ou estava a dar instruções sobre obter alojamento. Os discípulos já sabiam como é que Jesus "testemunhava" pois eles tinham estado com ele e tinham observado o seu exemplo. Os seus próprios relatos (como os de Mateus e João) não dizem nada sobre ele ter ido de casa em casa mas relatam que ele falou em sinagogas, feiras e outros locais públicos e que aceitou convites para lares particulares e para falar a pessoas ali presentes.

14 Esta situação ilustra particularmente bem qual pode ter sido o caso anteriormente com os discípulos de Jesus nas suas viagens de pregação, ao aplicarem a sua instrução sobre ficar nos lares de 'pessoas merecedoras.'

15 Este grau de imunidade estende-se em certa medida a outros nos escalões mais elevados da administração. Numa carta para o Comitê de Serviço, datada de 29 de Dezembro de 1976, o secretário desse comitê, Robert Wallen, cita um caso na congregação de Woodhaven (com a qual ele se associava) em que o superintendente de circuito se pronunciou contra a nomeação como ancião de um homem que tinha em média cinco horas por mês de "serviço de campo." Wallen indica que o homem tinha servido noutra congregação como ancião, foi recomendado por essa congregação, e também tinha duas crianças em idade pré-escolar. Ele disse que o caso fê-lo pensar seriamente na sua própria situação, visto que o seu tempo no serviço era em média "aproximadamente o mesmo do que o deste irmão." No entanto, ele acrescentou que por causa da sua designação na sede a sua qualificação como ancião era julgada por um padrão diferente do que o daquele homem. (Veja a citação da sua carta nas páginas 199, 200.) Embora se verifique a respeito daqueles com designações de alguma proeminência, esta imunidade não é extensiva ao trabalhador comum da sede, e ele não goza nenhum alívio da pressão das horas do serviço de campo.

16 A carta citada anteriormente do Comitê da Filial da África do Sul inclui afirmações que são verdadeiras no caso de muitos países, ao dizer que "poucas pessoas do público lêem realmente as nossas revistas," "muitos publicadores pagam as revistas e distribuem apenas uma parte delas," e finalmente quando pergunta, "Qual é o interesse de distribuir milhões de revistas se não atingimos o nosso verdadeiro objetivo ao fazê-lo?"


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