The Sign of the Last Days -- When? (O Sinal dos Últimos Dias -- Quando?) (Atlanta: Commentary Press, 1987) de Carl Olof Jonsson e Wolfgang Herbst, pp. 180-201.

Capítulo 7: O Mito do "Sinal Composto"

Carl Olof Jonsson e Wolfgang Herbst


Até aqui considerámos numa base individual aqueles aspectos da vida e circunstâncias humanas que anunciadores do fim dos tempos enfatizam com regularidade: guerras, fomes, pestilências e terramotos. Tomados isoladamente, é óbvio que nenhum deles distingue genuinamente o nosso século de séculos passados, quer analisemos estes aspectos desde 1914, 1948 ou qualquer outra data neste século.

Os terramotos não são mais frequentes nem maiores em tamanho do que em séculos anteriores. Mesmo a guerra, não obstante o seu potêncial de destruição ter sido grandemente aumentado, evidentemente não afecta uma maior percentagem da população do que no passado. Apesar de todas as afirmações em contrário, o número de guerras -- guerras reais -- tem de facto diminuído no nosso século. E a fome e a pestilência não só têm diminuído mas têm diminuído nitidamente desde a segunda década deste século. A diminuição é ainda mais dramática quando são feitas comparações com séculos anteriores.

Não podemos deixar de notar que o meio legítimo para avaliar aumento -- particularmente nos três últimos aspectos -- é a percentagem da população afectada. Numa aldeia de 1.000 habitantes, se 600 deles estivessem a morrer à fome nós descreveríamos a aldeia como estando gravemente afectada pela fome. Isso quereria dizer que seis dentre cada dez pessoas estavam a morrer à fome. Mas numa cidade de 100.000 habitantes mesmo se 10.000 pessoas estivessem a morrer à fome, esse número, embora muito maior do que o 600 anteriormente mencionado, quereria dizer que apenas uma dentre cada dez pessoas estava a morrer à fome. A grande cidade teria, em média, uma incidência de fome muito menor do que a aldeia. Seria, desse ponto de vista, o melhor lugar para se viver.

É isto o que encontramos ao considerar a cena mundial. A população do mundo tem aumentado imensamente mesmo durante este século e, consequentemente, seja qual for a circunstância devastadora considerada, é muito razoável que um maior número de pessoas estejam envolvidas do que vários séculos, ou mesmo apenas um século, antes. Num tempo em que os voos de aviões comerciais eram raros, limitados a poucos por dia, cinco despenhamentos num ano poderiam indicar correctamente um baixo grau de segurança, poderiam justificar a conclusão de que voar é um meio razoavelmente perigoso para se viajar. Hoje, quando milhares de voos são realizados cada dia em apenas um único país, como nos E.U.A., mesmo o triplo daquele número de despenhamentos num ano não mudaria o facto de a viagem por avião se ter tornado num dos meios de transporte mais seguros nos nossos tempos modernos. O mesmo princípio aplica-se apropriadamente ao estimar o efeito mundial dos aspectos anteriormente mencionados referentes a guerra, fomes e pestilência, bem como ao número de pessoas afectadas por terramotos. Ignorar esse factor, deliberadamente ou apenas devido a pensamento superficial, é distorcer a realidade e deturpar a verdade.

Aqueles que nos querem fazer crer que temos diante de nós evidência visível identificando a nossa geração como sendo notavelmente marcada pela profecia -- por estar supostamente a ser afligida por tais calamidades em algum sentido especial -- talvez digam que a sua pretensão não é baseada nestes aspectos tomados isoladamente. Talvez digam que é baseada na combinação deles, todos ocorrendo simultaneamente durante um único período.

Assim, o autor de assuntos religiosos Hal Lindsey comparou estes aspectos calamitosos a várias peças de um puzzle complexo que estão agora, segundo se diz, a 'deslocarem-se rapidamente para os seus sítios' desde 1948. O evangelista Billy Graham ouve nos acontecimentos actuais o bater ominoso e combinado dos cascos dos cavalos dos quatro cavaleiros do Apocalipse. A Watch Tower Society apresenta estes aspectos como sendo os elementos individuais de um "sinal composto." O "sinal," dizem eles, não é nenhum dos aspectos por si só mas a combinação de todos eles ocorrendo mundialmente em uma geração, um sinal composto supostamente único na geração que viveu a partir de 1914.

Portanto, embora obrigados pelos factos a admitir que nenhum destes aspectos individualmente tem tido incidência sem precedentes neste século, talvez digam, "É verdade, talvez algum século no passado tenha visto mais fome do que o nosso, outro século pode ter visto mais terramotos, ou maiores, ainda outro século pestilências mais desastrosas, e ainda outro talvez tenha sido tanto ou mais atingido pela guerra do que o nosso. Mas não é nenhuma destas coisas individualmente, mas antes a soma total de todas, a ocorrerem simultaneamente neste século, o nosso século vinte, que distingue este tempo como sendo, para além de qualquer dúvida, os últimos dias antes de o julgamento do mundo ocorrer."

Tem este raciocínio alguma validade?

A síndrome das calamidades

Muitos anunciadores do fim dos tempos simplesmente deixam o registo do passado fora da sua discussão e é improvável que a maioria dos seus leitores saiba o que esse registo mostra para poderem fazer uma verdadeira comparação entre condições. A Watch Tower Society, contudo, por vezes procura contradizer a evidência do passado e negar o seu significado. Isto indica que reconhecem que há problemas com pelo menos alguns dos aspectos do seu "sinal composto," e que nenhuma das calamidades é nova para a humanidade. "Nenhuma destas coisas ocorreu só no nosso século," disse a Watchtower de 15 de Abril de 1984, página 5. Então como é que tais coisas podem ser usadas para identificar o tempo do fim como tendo começado em 1914? O mesmo número da Watchtower afirma que "elas teriam de ser diferentes, em algum aspecto, de condições semelhantes em épocas anteriores," explicando:

Primeiro, todos os aspectos do sinal teriam de ser observados por uma geração....

Segundo, os efeitos do sinal teriam de ser sentidos mundialmente....

Terceiro, as condições no seu conjunto ou sintomas teriam de piorar progressivamente durante este período....

Quarto, a ocorrência de todas estas coisas seria acompanhada por uma mudança nas atitudes e acções das pessoas. Jesus avisou: 'O amor da maioria arrefecerá.'1

Portanto eles impõem padrões para julgar o cumprimento das palavras de Jesus que são pelo menos em parte padrões da sua própria autoria. Mas mesmo assim esta tentativa em quatro frentes para salvar do colapso o "sinal composto" é de facto muito débil. Será que as fomes e as pestilências, por exemplo, têm 'piorado progressivamente' desde 1914? Estão mais espalhadas "mundialmente" hoje do que em qualquer período anteior? A verdade é que o alcance e a mortalidade destas duas calamidades têm sido progressivamente reduzidos no nosso século! Nem se têm os terramotos tornado 'progressivamente piores' desde 1914 nem se têm feito sentir mais "mundialmente" do que antes dessa data. Quanto a guerras, é verdade que têm aumentado progressivamente em potencial destrutivo no nosso século. No entanto o facto notável é que as guerras ceifaram mais vítimas durante as três primeiras décadas depois de 1914 do que durante as cinco décadas que passaram desde 1945! E apesar de ser algumas vezes dito que as guerras durante estas quatro décadas depois de 1945 ceifaram uns 30 milhões de vidas, isto é menos do que o número de mortos em guerras no perído correspondente do século passado (1845-1885).

Uma única geração?

Que dizer do argumento segundo o qual "todos os aspectos do sinal teriam de ser observados por uma geração"? Destaca isso a geração de 1914 -- ou qualquer outra geração deste século -- como sendo única a este respeito? De maneira nenhuma. Qualquer pessoa que faça uma investigação honesta e cuidadosa da matéria descobrirá prontamente que é praticamente impossível encontrar uma geração durante os últimos 2.000 anos que não tenha observado os vários aspectos combinados do suposto "sinal composto"! E realmente isto não nos devia surpreender, visto que a maior parte dos flagelos mencionados por Jesus estão interrelacionados e, por essa razão, normalmente ocorrem simultaneamente. Isto é especialmente verdade no que diz respeito a guerras, fomes e pestilências. Em Hunger and History (Fome e História), E. P. Prentice observa:

Fome, Guerra e Pestilência -- o mundo conhece-as bem, estas três, e sabe que elas não vêm sozinhas, uma por uma. Onde há Fome, a Pestilência instala-se e a Guerra não está muito longe.2

Enfatizando ainda mais esta ocorrência comum e simultânea Ralph A. Graves explica:

Uma pesquisa do passado mostra que guerra, pestilência, e fome sempre estiveram relacionadas, umas vezes sendo uma a causa, outras vezes sendo outra, e as restantes duas o efeito. Onde uma do trio ocorreu as outras duas seguiram-se, algumas vezes isoladamente, mas normalmente juntas.

Uma verdadeira trindade do mal, as três são como uma praga, iguais no seu poder devastador e na sua universalidade sinistra.3

Esta "trindade do mal" estava ainda mais fortemente associada no passado do que hoje, quando comunicações melhores e cuidados médicos têm reduzido grandemente o papel da fome e das epidemias em tempos de guerra.

Em períodos de guerra, fome e pestilência é também muito comum ver aumentar o crime e a violência. A história está cheia de exemplos do efeito desmoralizador destas pragas na mente e comportamento humanos. Na sua discussão acerca das fomes, o Professor Sergius Morgulis diz:

A Fome não é apenas destruidora da saúde e do físico, é num grau ainda maior um elemento dilacerador da moral e do carácter. Na luta desesperada para manter a vida todos os escrúpulos são ultrapassados, vizinho é contra vizinho, e os fortes não têm compaixão dos fracos.4

Portanto, a história das fomes é também uma história de desmoralização, violência, banditismo, assassinato e canibalismo, uma história de períodos em que a anarquia cresce e o amor arrefece. E exactamente o mesmo tipo de degeneração ocorre durante pestilências. "Épocas de peste são sempre aquelas em que o lado animal e diabólico da natureza humana toma o controlo," observou B. G. Niebuhr.5 Esta correlação entre períodos de guerras, fomes, pestes, ou outros desastres e um aumento do crime também tem sido confirmada por descobertas da criminologia moderna. O criminologista sueco Hanns von Hofer, por exemplo, no seu estudo aprofundado sobre o crime na Suécia de 1750 a 1982, observa que o desenvolvimento histórico da violência e roubos "É caracterizado por uma série de aumentos e decréscimos muito acentuados que coincidem com acontecimentos históricos particulares, como anos de fome, restrições ao consumo do alcoól, e guerras."6

O provérbio "uma desgraça nunca vem só" é claramente verdadeiro no que diz respeito a muitas das desgraças a que Jesus se referiu na sua profecia do rumo futuro da história do mundo. Guerras, fomes, pestes e crime estão todos correlacionados e normalmente aparecem juntos. A sua aparência "composta", portanto, é muito natural e compreensível e não é nada de novo no nosso século. Pelo contrário, esta síndrome das calamidades tem sido uma parte da história do homem ao longo de todos os séculos, e tem sido experimentada por todas as gerações desde o tempo de Cristo.

O século catorze -- um "espelho longínquo"

A história da humanidade é num grau notável uma história de crises e catástrofes. Embora a Watch Tower Society admita isto, ao contrário de outros anunciadores do fim dos tempos tenta minorar estas calamidades do passado, alegando que o nosso século tem-nas visto numa escala muito maior. Assim, na revista Watchtower de 15 de Julho de 1983 (página 7), aparece esta declaração:

Certamente é verdade que gerações anteriores experimentaram calamidades. O século 14 foi o tempo da Peste Negra quando as pessoas por toda a Europa viviam no terror da pestilência, fomes e guerras. Mas compare só a escala dos acontecimentos no nosso século.7

De acordo com isto, a Watch Tower Society defende que as crises do século catorze não podem de maneira nenhuma ser comparadas com aquelas do nosso próprio século.

Qual é a verdade? Está a sua vida ou a das pessoas em geral mais afectada pela peste do que no século catorze? Se nos fosse dada a oportunidade, escolheríamos as condições daquele tempo -- no que se refere a guerras, fomes, pestilências e terramotos -- como preferíveis às do nosso século? A historiadora Barbara Tuchman comparou o século catorze a um "espelho longínquo" do nosso próprio século. Um olhar mais atento para os diferentes aspectos daquele período revelará se existe alguma verdade na afirmação da Watch Tower Society.

Época de guerra

A história revela que o mundo medieval era um "mundo de guerra constante."8 Durante o século catorze uma série de guerras longas e sangrentas foram travadas em diferentes partes do mundo. Em 1337 a Europa Ocidental viu o início da guerra mais longa da história, a chamada Guerra dos Cem Anos entre a Inglaterra e a França, uma guerra que de facto se prolongou por 116 anos e que, segundo a historiadora Tuchman, destruíu a unidade medieval.9

Outras guerras e infindáveis conflitos civis assolavam a Europa, por exemplo as guerras entre os principados da Alemanha e as guerras entre da cidades comerciais e pricipados da Itália.

Não era apenas a Europa Ocidental que estava envolvida em guerra. A Europa de Leste e praticamente todo o continente Asiático estavam dominados pelos cruéis Mongóis, que tinham conquistado aquelas áreas durante o século anterior.10 Acerca do período desde 1200 até 1400 A.D., os historiadores R. Ernest Dupuy e Trevor N. Dupuy disseram:

Durante a maior parte destes dois séculos [o 13 e o 14] a história militar e política da humanidade foi dominada por uma potência. Os Mongóis -- ou os seus vassalos Tártaros -- conquistaram ou devastaram todas as regiões principais do mundo conhecido excepto a Europa Ocidental.11

Durante o século catorze este vasto império desmoronou-se gradualmente. Sangrentas guerras civis persistiram durante décadas tanto nas partes ocidentais como orientais do grande império Mongol. Na China os dominadores estrangeiros foram finalmente derrotados em 1360 depois de uma longa guerra civil que custou evidentemente milhões de vidas.12 No mesmo século o império Turco apareceu em cena, tendo conquistado primeiro a Ásia Menor e depois a maior parte da Península Balcânica.

Então, cerca de 1370, um dos mais desumanos conquistadores mundiais que a história conheceu, apareceu em cena. Era Tamerlão (ou, Timur Lenk), o terrível "Führer" do século catorze. Tendo feito Samarkand no Turquestão Ocidental o centro do seu império em 1370, ele partiu dali para conquistar o resto da Ásia. Os países Khwarazm, Afeganistão, Beluquistão, Mongolestão, Rússia, Sibéria Ocidental, Pérsia, Iraque, Índia, Síria e Anatólia foram todos conquistados durante as três décadas seguintes numa onda de triunfos inacreditavelmente cruéis e sangrentos que custaram milhões de vidas.

Tal como Genghis Khan no século anterior, Tamerlão assassinou sem misericórdia populações inteiras -- homens, mulheres e crianças -- em qualquer cidade ou área que lhe resistia. Todo o país do Khwarazm com a sua capital Urgentsj na Ásia Central foi assim completamente obliterada do mapa. Muitas cidades populosas, entre elas Tiflis, a capital da Georgia, Isfahan na Pérsia, Bagdad no Iraque, e Damasco na Síria, foram devastadas e saqueadas e as suas populações aniquiladas. Estima-se que durante as conquistas na Índia em 1398, um milhão de pessoas perderam as suas vidas no espaço de poucas semanas. Tamerlão finalmente morreu na sua campanha contra a China em 1405, tendo então conquistado quase toda a Ásia desde a Europa a oeste até à fronteira Chinesa a leste.13

O aspecto da guerra -- em todas as partes do mundo conhecido -- certamente não estava ausente no século catorze.

Época de fome

O século catorze começou com uma mudança no clima, provocando tempo frio durante alguns anos, com tempestades, chuvas, inundações, e depois secas -- e destruição das colheitas. O resultado foram várias fomes muito severas. Aparentemente a pior destas foi a fome universal de 1315-1317 (em algumas áreas durou até 1319), uma fome "que atingiu todas as terras desde os Pirinéus até às planícies da Rússia e desde a Escócia até à Itália."14 As consequências foram muito severas. Os pobres comiam praticamente tudo, "cães, gatos, os excrementos das pombas, e até as suas próprias crianças."15 Relatos da Livónia e Estónia enfatizam que "mães famintas comeram os seus filhos," e que "homens famintos muitas vezes morriam nas sepulturas enquanto escavavam corpos para comer."16 Cronistas mostram que condições similares prevaleciam em outros países. Na Irlanda "a agonia arrastou-se até 1318 e provou ser especialmente severa, pois as pessoas desenterraram os corpos nos pátios das Igrejas e usaram-nos como alimento, e os pais até comeram os seus filhos."17 Nos países Eslavos, como a Polónia e a Silésia, a fome ainda era comum em 1319, e relatórios dizem que os pais "mataram os seus filhos e os filhos mataram os pais, e os corpos de criminosos executados eram avidamente arrebatados da forca."18 Junto com a fome veio a pestilência que eliminou um grande número de pessoas.19

Seguiram-se outras grandes fomes nas décadas de 1330 e 1340. A Peste Negra foi precedida por uma fome muito severa que se estima ter afectado um quinto da humanidade. Em Itália, por exemplo, ela "varreu pela fome absoluta um grande número dos habitantes."20 Por todo o resto do século fomes sucessivas afectaram os países da Europa e outras partes do mundo, e pelo meio, "carência universal" prevaleceu, conforme foi mostrado no capítulo dois. Existe toda a evidência de o século catorze ter sido muito mais afectado por fomes e má nutrição do que o nosso século vinte.

Época de pestilência

Não há necessidade de repetir a descrição da Peste Negra do século catorze. Vimos no capítulo quatro que esta praga ultrapassou em todos os sentidos a gripe Espanhola do nosso século. Além disso, ela visitou novamente a Europa -- e muitas outras partes do mundo -- várias vezes antes do fim do século. Outras pestilências que flagelaram a humanidade no mesmo período foram disenteria e antraz; várias grandes epidemias da doença conhecida como dança de St. Vitus espalharam-se perto do fim do século.21 (Embora não seja notavelmente contagiosa ou necessariamente mortal, a lepra alcançou as suas maiores proporções na Europa durante as décadas que antecederam a Peste Negra.)

As pragas do século catorze tiveram um impacto na raça humana muitas vezes mais desastroso do que as epidemias do nosso tempo, e muitos historiadores apontam para 1348, o ano inicial da Peste Negra, como um dos pontos de viragem mais importantes da história. A. L. Maycock até defende que "o ano 1348 assinala o ponto mais próximo de uma quebra definitiva na continuidade da história que jamais ocorreu."22

Época de terramotos

Em tempos antigos era comum acreditar que os terramotos, da mesma forma que fenómenos celestes como eclipses, meteoros, e especialmente cometas, eram presságios de grandes calamidades, especialmente de guerras, fomes e pestilências.23 Por isso, tais portentos sinistros, causavam normalmente grande medo. Esta é provavelmente a razão porque, ao discutir as coisas que poderiam induzir em erro os seus discípulos e levá-los a acreditar que o fim era iminente, Jesus acrescentou terramotos e, segundo Lucas capítulo vinte e um, versículo 11 (The Jerusalem Bible [A Bíblia de Jerusalém] ), "visões atemorizantes e grandes sinais do céu." Tucídides, Diodoro Sículo, Lívio e muitos outros escritores antigos afirmaram que os terramotos eram presságios de pestilência, e o filósofo romano Séneca, um contemporâneo dos apóstolos, afirmou explicitamente que "depois de grandes terramotos é normal ocorrer uma pestilência."24 Não admira, por isso, que os grandes terramotos que precederam e acompanharam a peste negra do século catorze tenham sido interpretados como presságios da praga por cronistas contemporâneos.

Na China os anos que antecederam o início da praga foram marcados por uma série de desastres imponentes: secas, inundações, enxames de gafanhotos, fomes e terramotos. Até mesmo antes do rebentar da praga em 1337 o número de mortos deve ter sido enorme:

Em 1334 houve uma seca em Houdouang e Honan seguida por enxames de gafanhotos, fome e pestilência. Um terramoto nas montanhas de Ki-Ming-Chan formou um lago com mais de cem léguas de circunferência. Em Tche acredita-se que os mortos ascenderam a mais de cinco milhões. Terramotos e cheias continuaram desde 1337 até 1345, os gafanhotos nunca tinham sido tão destrutivos, houve um 'trovão subterraneo' em Cantão.25

A Europa também parece ter sido atingida por uma série de clamidades pouco usual, incluindo terramotos destrutivos, nos anos antes e durante a praga, acompanhados por portentos assustadores no céu e na terra:

Ano após ano ocorreram sinais no céu, na terra, no ar, todos indicando, pensavam os homens, algum acontecimento terrível vindouro. Em 1337 um grande cometa apareceu nos céus, a sua longa cauda espalhando o medo nas mentes das massas ignorantes. [...] Em 1348 veio um terramoto de uma violência tão assutadora que muitos homens pensaram tratar-se de um presságio do fim do mundo. As suas devastações espalharam-se amplamente. Chipre, Grécia, e Itália foram terrivelmente atingidas e [o tremor sísmico] estendeu-se ao longo dos vales Alpinos.26

"A Europa foi sacudida desde o sul da Itália até à Bósnia e desde a Hungria até à Alsácia," declarou o geólogo Haroun Tazieff. Os terramotos destruíram muitas cidades e aldeias, incluindo a cidade de Villach em Carinthia na Áustria. Citando o autor do século dezoito Elie Bertrand, Tazieff diz que:

O terramoto fez desmoronar trinta e seis cidades ou castelos na Hungria, Styria, Carintia, Bavária e Suábia. O chão abriu-se em vários sítios. Pensava-se que as exalações de mau cheiro que este terramoto produziu fossem a causa daquela praga que se espalhou por todo o mundo, que durou três anos, e que segundo os cálculos, matou um terço da raça humana.27

Tazieff, declarando que "o século catorze foi particularmente atingido" por terramotos destrutivos, dá como outro exemplo o terramoto que devastou a cidade Suiça de Basiléia em 1356:

Em 18 de Outubro de 1356 às dez horas da noite a cidade de Basiléia e outras cidades e aldeias num raio de dezassete milhas foram destruidas por um terramoto terrível cujos abalos posteriores continuaram por mais de um ano. [...]

Oitenta castelos juntamente com cidades e aldeias que dependiam deles, ficaram arruinados.28

Como Tazieff observa, o século catorze parece ter sido atingido por um número anormalmente grande de terramotos destrutivos. O catálogo de Milne, embora muito incompleto para este período e "praticamente limitado a ocorrências no Sul da Europa, China e Japão," enumera 143 terramotos destrutivos para o século catorze.29 Claro que geralmente faltam informações sobre o número de mortos, mas não há razão para pensar que grandes terramotos eram menos comuns ou menos destrutivos para a vida humana no século catorze do que hoje. A evidência disponível aponta na direcção oposta.

Época de crime e época de medo

Conforme demonstrado antes, grandes calamidades como guerra, fome e pestilência normalmente causam um aumento considerável do crime e da imoralidade. Em The Black Death and Men of Learning (A Peste Negra e os Homens do Saber), A. M. Campbell observou que o crime violento foi "um aspecto importante na segunda metade do século catorze."30 A historiadora Tuchman no seu famoso estudo (A Distant Mirror [Um Espelho Longínquo], página 119) até afirma que o banditismo atingiu tais proporções que contribuíu para o declínio contínuo da população mundial no fim do século 14! O crime e o assassinato também se espalharam durante a grande fome de 1315-1317:

Por causa destas condições houve um grande aumento do crime. Pessoas que normalmente levavam uma vida decente e respeitável viram-se forçadas a cometer irregularidades de conduta que fizeram deles criminosos. Ladrões e vagabundos parecem ter infestado as regiões rurais da Inglaterra, e eram culpados de todos os tipos de violência. O crime tornou-se muito frequente na Irlanda. Roubo com tentativa de estupro era comum; de facto todo o tipo de artigos que podiam ser usados como alimentos foram roubados, [...] de facto todas as coisas de valor foram prontamente tomadas.31

A pirataria, ou assalto no alto mar, que infestou séculos anteriores e foi muitas vezes organizada e acompanhada por muito morticínio, também aumentou durante o século catorze.32 Claramente, aquele tempo teve a sua parte de crime crescente -- e o medo criado -- tal como outros períodos, incluindo o nosso próprio.

Materialismo, pessimismo, angústia e medo do fim do mundo caracterizaram o século catorze tanto como o nosso, se não mais. Os problemas de hoje são, a uma escala muito maior do que as pessoas geralmente pensam, essencialmente uma repetição do passado. Ziegler cita o historiador James Westfall Thompson, que comparou as consequências da Peste Negra e da I Guerra Mundial e descobriu que em ambos os casos as queixas dos contemporâneos foram as mesmas "caos económico, inquietação social, preços altos, obtenção de lucros ilícitos, depravação moral, falta de produção, indolência industrial, alegria frenética, consumo selvagem, luxúria, depravação, histeria social e religiosa, ganância, avareza, mau governo, degradação de maneiras."33

Pode ser dito que as calamidades experimentadas pelo homem moderno são piores do que aquelas experimentadas pelo homem medieval? Ziegler, comentando a comparação de Thompson, conclui:

As duas experiências podem ser comparadas mas a comparação só pode mostrar que a Peste Negra foi muito mais devastadora para as suas vítimas do que a Grande Guerra [de 1914-1918] para os seus descendentes.34

Barbara Tuchman, que também se refere à comparação de Thompson, concorda. Ela descreve o século catorze como uma "era violenta, atormentada, desorientada, sofredora e em vias de desintegração, uma época, como muitos pensam, de triunfo de Satanás," e acrescenta:

Se a nossa última ou duas últimas décadas de suposições de colapso tem sido um período de desconforto pouco usual, é reconfortante saber que a espécie humana já passou por pior antes.35

Consequentemente, qualquer afirmação de o nosso século ter visto as calamidades da guerra, fomes, pestilências, terramotos, e assim sucessivamente, numa escala muito maior do que o século catorze não tem suporte na evidência histórica. Esta mostra que é o contrário que é verdadeiro. Tomado como um todo, o suposto "sinal composto" foi certamente mais palpável no século catorze do que é hoje. Os passos dos cavaleiros do Apocalipse soaram tão alto como no nosso tempo.36

O testemunho da "explosão populacional"

Talvez nenhum outro factor isolado testemunhe tão eloquentemente a falsidade das alegações sobre calamidades no nosso século como o aumento da população mundial. Enquanto que os anunciadores do fim dos tempos o empregam frequentemente numa tentativa de fundamentar tais afirmações, esse aumento na verdade contradi-los de uma maneira notável.

Assim, não surpreende que as publicações da Watch Tower tenham sido relutantes em dizer toda a verdade sobre este factor.

A revista Awake! de 8 de Agosto de 1983, explicou o actual aumento da população da seguinte maneira:

A raiz do problema reside na maneira como a população se espande. Não aumenta por uma simples adição consecutiva (1, 2, 3, 4, 5, 6, etc.) mas por um crescimento exponencial ou multiplicação (1, 2, 4, 8, 16, 32, etc.). (Página 5)37

Será que esta regra explica o aumento populacional desde o passado distante até ao tempo presente? Será que explica porque é que levou milénios até que a humanidade atingisse um bilião por volta de 1850, depois duplicasse para dois biliões na década de 1930, e depois duplicasse outra vez para quatro biliões em 1975? Vejamos.

Presentemente a população duplica em 35 anos, o que corresponde a um aumento anual de 2 porcento.38 Se a população tivesse de facto crescido exponencialmente em intervalos constantes de duplicação de 35 anos, teria levado menos de 1.100 anos a aumentar de dois indivíduos para os actuais 4.8 biliões!39 Mesmo se considerássemos uma taxa de aumento anual de apenas 1 porcento, correspondendo a uma duplicação em 69.7 anos, um crescimento exponencial levaria a números astronómicos em apenas um par de milhares de anos. Como o Professor Alfred Sauvy, o grande demógrafo europeu, explica:

Se por exemplo a população da China, que se estima ter sido 70.000.000 no tempo de Cristo, tivesse aumentado desde então 1 porcento ao ano, teria alcançado hoje, não os recentemente estimados 680.000.000 [mais de um bilião em 1984], mas 21 milhões de biliões! Espalhada por todo o globo esta população daria cerca de 120 chineses por metro quadrado.40

Claramente, o crescimento exponencial não é a explicação correcta para o desenvolvimento da população na terra. Por alguma razão os intervalos de duplicação no passado eram muito maiores. Até que ponto eram maiores foi sublinhado na página 4 da Awake! de 8 de Setembro de 1967:

Demorou desde o primeiro século até ao século dezassete antes que a população do mundo duplicasse de 250 milhões para 500 milhões. Então, em pouco mais de dois séculos, no século dezanove, a população duplicou outra vez, alcançando cerca de mil milhões (1.000.000.000). Mas em apenas mais cem anos, no século vinte duplicou mais uma vez. E agora? À taxa de crescimento actual a população duplicaria em apenas trinta e cinco anos!

Este padrão de intervalos de duplicação que diminuem tremendamente, de 1.600 anos no passado para apenas 35 anos presentemente, mostra que deve ter havido qualquer coisa no passado que impediu um crescimento exponencial, alguma coisa que foi gradualmente removida durante os últimos duzentos anos. Como o economista Inglês Thomas Malthus, que se diz muitas vezes (embora erradamente) ter sido o criador da teoria do crescimento exponencial (ou geométrico), escreveu em 1798, "a população, se não for restringida, aumenta segundo uma razão geométrica."41

Então, poderiamos muito bem perguntar: Porque é que a população mundial não cresceu exponencialmente durante os séculos passados? Que factor, ou que factores, restringiram o aumento populacional no passado? A resposta é completamente devastadora para a teoria do "sinal composto" desde 1914 ou 1948 ou para quaisquer alegações de o nosso século ser 'o pior de todos' no que diz respeito a condições calamitosas.

A razão para o aumento populacional muito lento em tempos passados é precisamente porque a humanidade sofreu muito mais guerras, fomes e pestilências naquele tempo do que hoje. Todos os peritos em população (demógrafos) actuais concordam. Estes factores causaram uma mortalidade tão alta que o aumento populacional foi eficazmente restringido.

Frequentemente a alta mortalidade até resultou num decréscimo da população, por exemplo através da pestilência, como foi mostrado atrás. "Até aos tempos modernos epidemias e fomes reduziram regularmente qualquer aumento populacional," diz o historiador Fernand Braudel.42 O demógrafo Alfred Sauvy, falando do alto "factor de mortalidade" no passado, expõe as causas da seguinte forma:

Este factor de mortalidade estava activo no passado através de três irmãs estraordinária e mortalmente fatais: Fome, Doença e Guerra. Devido aos seus efeitos imediatos a Fome certamente ocupou o primeiro lugar nesta trindade aterrorizante, seguida de perto pelo seu parente próximo, a Doença.43

Este factor de mortalidade tem sido substancialmente reduzido em tempos recentes:

Das três irmãs demograficamente fatais apenas a guerra tem continuado a trabalhar imbativelmente. Referimo-nos aqui a guerra no sentido estrito da palavra, porque outras formas de violência que resultam dela têm sido consideravelmente reduzidas. [...] As doenças ainda existem, mas epidemias do tipo das que anteriormente dizimaram nações inteiras já não existem. A fome e a má nutrição ainda existem mas a morte pela fome foi eliminada principalmente devido a melhores meios de transporte.44

Estes são factos firmemente estabelecidos hoje, conhecidos não apenas entre os peritos mas encontrados até em livros escolares. Como um exemplo, a seguinte declaração conclui uma discussão sobre a explosão populacional num livro sobre educação cívica muito usado em liceus suecos:

Como conclusão pode dizer-se que atingimos um desenvolvimento que é único para a humanidade. Por milhares de anos fome, doença e guerra condenaram eficazmente todas as tendencias para um crescimento acelerado da população mas depois do desenvolvimento de técnicas e da medicina o equilíbrio anterior entre as forças construtivas e destrutivas da vida foi alterado, resultando na explosão populacional.45

Consequentemente as guerras, especialmente as fomes e pestilências devastadoras desempenharam um papel decisivo em restringir a população da terra no passado. Avanços médicos e técnicos combinaram-se para deter as devastações das pestilências, para aumentar os abastecimentos de comida e melhorar os meios de a transportar. O resultado tem sido um decréscimo acentuado da mortalidade, e isto é particularmente verdade no que diz respeito à mortalidade infantil. Esta é a verdadeira causa da explosão populacional.46

POPULAÇÃO MUNDIAL 3000 A.C.--1985 A.D.

A curva da população usual

Olhemos mais de perto para a curva populacional, tal como é normalmente representada em várias publicações (veja a ilustração acima).

Tal como veremos, esta curva idealizada não representa todo o quadro. Para chegarmos a uma representação mais exacta, temos de primeiro levar em consideração as causas reais da explosão populacional no nosso século. A linha longa, quase horizontal, no gráfico testemunha o longo período em que fomes devastadoras, pestilências e guerras provocaram um aumento muito lento da população. A curva à direita, que sobe abruptamente, aponta para uma redução enorme do efeito das fomes e pestilências em tempos recentes.47 A curva no gráfico é simplesmente muito esquematizada e não transmite toda a verdade sobre este aumento fenomenal.

Como indica o Professor Erland Hofsten:

[...] a imagem usual do desenvolvimento populacional está errada. De acordo com ela a população da terra tem aumentado num ritmo regular, primeiro devagar e depois a uma taxa sempre crescente, até termos o que é agora popularmente chamado 'a explosão populacional.' Mas as coisas não aconteceram com essa simplicidade. Segundo todas as aparências houve muitos períodos em que a população esteve estacionária ou até em decréscimo, alternando com períodos de rápido aumento.48

Assim a população da China era praticamente a mesma em 1500 A.D. como no tempo de Cristo. A população da península Indiana decresceu de 46 milhões no tempo de Cristo para 40 milhões em 1000 A.D.. E a população do Sudoeste Asiático decresceu de 47 milhões no tempo de Cristo para 38 milhões em 1900 A.D.49

Segundo o demógrafo Francês Jean-Noel Biraben a população total da terra era aproximadamente a mesma em 1000 A.D. e no tempo de Cristo, tendo aumentado e diminuído durante aqueles séculos devido a fomes devastadoras, pestilências e guerras.50 Esta estagnação testemunha a morte de literalmente milhares de milhões de pessoas, incluindo crianças e bebés, nestas calamidades durante aqueles séculos. Do século quinze ao dezanove, fomes, guerras civis, epidemias e infanticídio mantiveram a população japonesa praticamente estacionária durante quatro séculos.51 Muitos outros exemplos poderiam ser dados. O demógrafo Britânico T. H. Hollingsworth afirma que "a população deve ter diminuído tão frequentemente (ou quase tão frequentemente), e tanto, como aumentou."52

Por essa razão, demógrafos modernos apresentam curvas da população que reflectem estas flutuações. O exemplo apresentado na ilustração é baseado numa curva desenhada por Biraben, e mostra as alterações na população mundial desde cerca de 400 A.C. até 1985.53 Esta mostra que a população foi a mesma em 1000 A.D. e no tempo de Cristo,

POPULAÇÃO MUNDIAL 400 A.C.--1985 A.D.

Curva da população revista

bem como o impacto da Peste Negra sobre a população mundial desde 1348 A.D. até cerca de 1550.

Quando voltamos a nossa atenção para curvas desenhadas para cada um dos países, a impressão é ainda mais reveladora. A curva apresentada na próxima ilustração, por exemplo, refere-se ao Egipto, e é baseada nos números e na curva desenhada por Hollingsworth.54 As mudanças dramáticas entre aumentos e decréscimos não são de maneira nenhuma únicas. Curvas para muitos outros países apresentam oscilações similares. A curva do Egipto mostra decréscimos muito acentuados da população devidos a guerras e pestilências, mas deve-se notar que as guerras e pestilências eram normalmente acompanhadas por fomes severas que contribuíam grandemente para estes decréscimos.

Portanto a moderna "explosão populacional," revela por comparação uma terrível história sobre o passado do homem, uma história de fomes, pestes e outras calamidades numa escala que -- mesmo se encaradas como um todo -- não têm nada que lhe corresponda nos tempos modernos. O seu testemunho está ali para todos verem, e é impossível refutá-lo. E, muito significativamente, desfere um golpe de morte na ideia de nós termos visto um "sinal composto" que poderia servir como uma indicação infalível da parousia de Cristo desde 1914, ou o princípio de algum período especial de 40 anos desde 1948, ou outras alegações similares.

POPULAÇÃO NO EGIPTO, 664 A.C.-1985 A.D.

Curva da população para o Egipto, 664 A.C. até 1985 A.D. (Baseada na informação e na curva desenhada por T. H. Hollingsworth, em Historical Demography [Demografia Histórica], Londres e Southampton, 1969, página 331.)

Possibilidades versus realidades

Falta dizer que o cenário mundial está sempre sujeito a mudanças, algumas vezes mudanças muito súbitas. Pode-se desenhar facilmente um cenário imaginário do que poderia acontecer durante os anos que restam até ao fim deste século vinte. Não é difícil encontar dados sobre os quais construir uma tal situação hipotética. A crescente população mundial poderia levar a fomes de tamanho e mortalidade sem precedentes. Visto que os sismólogos durante algum tempo predisseram que o Japão e a Califórnia são propensos à ocorrência de alguns grandes terramotos, poderíamos prever tais ocorrências e a morte de dezenas de milhares de pessoas, se áreas densamente povoadas como Tóquio, São Francisco e Los Angeles fossem atingidas. Em tempos de fome e outras grandes catástrofes, as epidemias podem espalhar-se mais rapidamente. Portanto poderíamos juntar isto em proporções incontroláveis à visão.55 E por último mas de maneira nenhuma menos importante, o espectro da guerra nuclear poderia ser acrescentado ao cenário, visto que, se ocorresse poderia inquestionavelmente provocar a morte de milhões, mesmo centenas de milhões de pessoas.

O problema em usar um tal cenário de desastres horríveis como base para afirmações sobre o nosso século e períodos específicos desde 1914 e 1948 é que estas coisas não passam de possibilidades. Não são realidades. Poderíam acontecer, mas não aconteceram. Por essa razão não podem servir como prova de coisa nenhuma com respeito a 1914 ou 1948 ou qualquer outro período igualmente distante no nosso século. Mesmo se um tal cenário imaginário se desenvolvesse realmente, suponhamos, na década de 1990, o que é que isso provaria acerca de 1914 ou 1948? A Watch Tower Society, por exemplo, ainda teria que explicar por que é que os primeiros setenta anos desde 1914 -- o período no qual o "sinal composto" supostamente apareceu como prova da "presença invisível" de Cristo -- não presenciaram nenhum aumento em qualquer dos aspectos do suposto "sinal." As predições de Hal Lindsey a respeito de um período de quarenta anos começando em 1948 com o estabelecimento do estado Judaico em Israel, seria ainda um puzzle complexo sem outras peças anteriores a esse possível, conjectural, desenvolvimento futuro. As declarações do Dr. Billy Graham sobre ouvir os passos dos quatro cavaleiros "aproximando-se, soando cada vez mais alto," teriam então de ser tomadas como evidência de audição profética, uma audição de sons ampliados ainda no futuro, uma vez que presentemente os factos mostram que nenhum dos simbólicos "quatro cavaleiros" está em maior evidência no nosso tempo do que esteve em séculos passados.

O mero facto de qualquer coisa poder acontecer não quer dizer necessariamente que acontecerá. Mesmo antes do desenvolvimento da bomba atómica, as nações tinham desenvolvido gases venenosos e armas bateriológicas com um potêncial assustador. Não obstante, embora o gás venenoso tenha sido usado com consequências horríveis na I Guerra Mundial, desde então, mesmo durante a feroz II Guerra Mundial, as nações refrearam-se de qualquer uso de gás venenoso e nunca recorreram ao emprego das suas armas temíveis da guerra bacteriológica. Também vale a pena lembrar que a última vez que uma arma atómica foi usada contra humanos foi em 1945, já há quatro décadas. Predições sobre o futuro baseadas em raciocínios e suposições humanas continuam a ser um jogo de adivinhas, desligado do cumprimento real da profecia divina.

Dito de forma simples, e deixando de lado conjecturas e circunstâncias imaginadas, a realidade é que a nossa geração não é mais atingida por fome, pestilência, terramotos, guerra, crime ou medo do que outras gerações no passado, e em alguns aspectos até o é menos.


Notas

1 O mesmo raciocínio é repetido no livro Life -- How Did It Get Here? (A Vida -- Qual a Sua Origem?) publicado pela Watch Tower Society em 1985, na página 226.

2 E. Parmalee Prentice, Hunger and History (Fome e História; Caldwell, Idaho, 1951), p.137.

3 Ralph A. Graves, "Fearful Famines of the Past" ("Fomes Atemorizantes do Passado"), The National Geographic Magazine (A Revista Geográfica Nacional), Julho 1917, p.69. Walford expressa-se em termos similares: "Portanto a espada, pestilência, e fome são agora, como têm sido em todos os tempos, os três inimigos mortais associados da raça humana." C. Walford, "The Famines of the World: Past and Present" ("As Fomes do Mundo: Passadas e Presentes"), Journal of the Statistical Society (Jornal da Sociedade de Estatística), Vol. XLII, (Londres, 1879) pp. 79, 80.

4 Citado por Prentice, p.139. Alguns exemplos horrendos são dados por Graves, pp. 75-79.

5 Citado por Philip Ziegler em The Black Death (A Peste Negra; Londres, 1969), p. 259. Veja também as páginas 83, 108, 108, 160, 192, 271, e 272 do mesmo trabalho.

6 Hanns von Hofer, Brott och straff i Sverrige. Historik Kriminalstatistik 1750-1982, Statistika centralbyrän (Estocolmo, 1984), p. 3:4 e Diagrama 1:3.

7 The Watchtower, 15 de Julho de 1983, p. 7. A The Watchtower de 1.º de Fevereiro de 1985, afirmava ainda mais enfaticamente: "É verdade, tem havido guerras, escassez de alimentos, terramotos e pestilências ao longo dos séculos da nossa Era Comum até 1914. (Lucas 21:11) Ainda assim, não houve nada que se compare com o que ocorreu desde que os tempos dos Gentios terminaram naquele ano momentoso." (P. 15)

8 Collier's Encyclopedia (Enciclopédia de Collier), Vol. 4, 1974, p. 234.

9 Veja o "Epílogo" de A Distant Mirror (Um Espelho Distante) de B. W. Tuchman.

10 Sobre as conquistas Mongóis sob Genghis Khan e seus seguidores, veja por exemplo E. D. Phillips, The Mongols (Os Mongóis; 1969), R. Grousset, Conqueror of the World (Conquistador do Mundo; 1967), e J. A. Boyle, The Mongol World Empire 1206-1370 (O Império Mundial Mongol 1206-1370; 1977). As guerras de Genghis Khan e seus seguidores custaram milhões de vidas, muitas mais do que as Guerras Napoleónicas e a Primeira Guerra Mundial, devido aos extensos massacres das populações civis das cidades e aldeias. Assim, conforme foi observado no capítulo cinco, nota de rodapé 62, estima-se que a conquista do Norte da China em 1211-1218 tenha custado 18 milhões de vidas chinesas. E durante a campanha no oeste, 1218-1224, muitas cidades na Pérsia foram completamente destruídas e muitas vezes a população foi completamente exterminada. Regiões inteiras foram devastadas e despovoadas. O Afeganistão, por exemplo, foi transformado num deserto.

11 R. Ernest Dupuy e Trevor N. Dupuy, The Encyclopedia of Military History (A Enciclopédia de História Militar; Nova Iorque e Evanston, 1970), p. 330.

12 Conforme sublinhado anteriormente, os historiadores atribuem geralmente o decréscimo da população chinesa de 123 milhões em cerca de 1200 A.D. para 65 milhões em 1393 às guerras com os Mongóis. Contudo, conforme sugerido por McNeill (Plagues and Peoples [Pestes e Povos], Nova Iorque, 1976, p. 163), a Peste Negra "desempenhou seguramente um papel importante no corte ao meio dos números chineses."

13 Um trabalho excelente sobre Tamerlão e as suas conquistas é Timur, Verhänghis eines Erdteils, por Herbert Melzig (Zurique & Nova Iorque, 1940). Com o objectivo de assustar as áreas conquistadas e submetê-las, Tamerlão constumava construir grandes pirâmides e minaretes -- usando cabeças das populações assassinadas como material de construção, juntamente com argamassa. Muitas de tais pirâmides e minaretes foram constuídos por toda a Ásia.

14 Henry S. Lucas, "The Great European Famine of 1315, 1316, and 1317" ("A Grande Fome Europeia de 1315, 1316, e 1317"), Speculum, Outubro 1930, p. 343. (Publicado pela Medieval Academy of America [Academia Medieval da América]).

15 Lucas, p. 355.

16 Ibid., p. 364.

17 Ibid., p. 376.

18 Ibid., p. 376.

19 Cronistas contemporâneos relatam frequentemente que em certas áreas um terço da população morreu. Mesmo estimativas conservadoras mostram que a fome custou um pesado tributo. Assim, o Dr. Henry Lucas estima que uma em cada dez pessoas na Europa a norte dos Alpes e dos Pirinéus morreu. (Lucas, pp. 369, 377)

20 Walford, p. 439. Compare com Ziegler, p. 44. O historiador Sueco Michael Nordberg, ao mencionar a grande fome de 1315-18 e outros anos de fome da década de 1320, diz que os "anos 1335-52 significaram um período quase contínuo de colheitas destruídas em praticamente toda a Europa devido à combinação fatal de verões secos com outonos muito chuvosos." (Den dynamiska meldeltien, Estocolmo, 1984, p. 35)

21 Janken Myrdal, Digerdöden (Estocolmo, 1975), pp. 19, 22. A dança de St. Vitus atacava o sistema nervoso, causando a morte ou incapacidade.

22 A. L. Maycock, "A Note on the Black Death" ("Um Apontamento acerca da Peste Negra"), no Nineteenth Century (Século Dezanove), Vol. XCVII, Londres, Janeiro-Junho 1925, pp. 456-464. (Citado por Campbell, p. 5)

23 Fritz Curschmann, Hungersnöte im Mittelalter (Leipziger Studien aus dem Gebiet der Geschichte) (Leipzig, 1900), pp. 12-17.

24 Raymond Crawford, Plague and Pestilence in Literature and Art (Peste e Pestilência na Literatura e na Arte; Oxford, 1914), p. 65.

25 Ziegler, p. 13. Graves (p. 89) acrescenta que "segundo registos chineses, 4.000.000 de pessoas pereceram pela fome só na vizinhança de Kiang," e o climatologista H. H. Lamb diz que a fome chinesa causada pelas chuvas e inundações de rios extraordinariamente grandes em 1332 custou "alegadamente 7 milhões de vidas." (Climate, Present, Past and Future [Clima, Presente, Passado e Futuro], Vol. 2, Londres e Nova Iorque, 1977, p. 456)

26 Charles Morris, Historical Tales: The Romance of Reality (Contos Históricos: O Romance da Realidade), Lippincott 1893, p. 162 f. O famoso escritor do século 14, Petrarca, residindo em Verona, Itália, na altura do abalo, escreveu sobre ele como se segue: "Os nossos Alpes, pouco habituados a movimentos, como Virgílio diz, começarama tremer na noite de 25 de Janeiro. Neste preciso momento uma grande parte da Itália e da Alemanha foi tão violentamente abalada que pessoas desprevenidas e para quem a coisa foi inteiramente nova e desconhecida pensavam que o fim do mundo tinha chegado." (Haroun Tazieff, When the Earth Trembles [Quando a Terra Treme], Londres, 1964, p. 155)

27 Tazieff, pp. 154, 155.

28 Ibid., pp. 155, 156.

29 Veja a informação apresentada no capítulo três deste trabalho.

30 A. M. Campbell, The Black Death and Men of Learning (A Peste Negra e os Homens do Saber; Nova Iorque, 1931), p. 129.

31 Lucas, pp. 359, 360.

32 O alcance que esta forma de crime teve no passado é pouco conhecido hoje, tendo praticamente desaparecido. Os piratas Sarracenos, por exemplo, durante longos períodos quase dominaram toda a área do Mediterrâneo, travaram uma guerra marítima que durou mais de mil anos (séculos 8 a 19), saquearam e devastaram não apenas as cidades costeiras mas assolaram cidades bem dentro da Europa Central. Incontáveis pessoas foram mortas durante estas expedições devastadoras. (Erik-Dahlberg, Sjörövare, Estocolmo 1980, pp. 49-63.)

33 Ziegler, p. 277.

34 Ziegler, p. 278.

35 Tuchman, página xiii.

36 Poderiam ser feitas comparações similares com outros períodos no passado, o sexto século, por exemplo, quando a "peste de Justiniano" assolou o mundo. Conforme indicado no capítulo quatro, os historiadores sustentam que as pestes do terceiro e sexto séculos contribuíram para o declínio do império Romano, tanto da parte ocidental como da oriental. A fome desempenhou um papel similar.

37 Crescimento exponencial, também descrito como crescimento geométrico, significa a duplicação do número a intervalos determinados. Mas é essencial que estes intervalos sejam constantes, de outro modo o crescimento não é exponencial. Veja a discussão pelo Professor Erland Hofsten em Demography and Development (Demografia e Desenvolvimento; Estocolmo, 1977), pp. 15-19.

38 Este é o aumento médio anual durante os últimos 35 anos. Mas a taxa de aumento está a diminuir. Em anos recentes tem sido 1.8 porcento, e segundo o último relatório desceu agora para 1.7 porcento. As Nações Unidas estimam que se esta tendencia continuar, a população estabilizará à volta dos 10 biliões no fim do próximo século. -- New Scientist (Novo Cientista), 9 de Agosto de 1984, p.12.

39 H. Hyrenius, Så mycket folk (Tanta gente; Estocolmo, 1970), pp. 9-11.

40 Jan Lenica e Alfred Sauvy, Population Explosion, Abundance of Famine (Explosão Populacional, Abundância de Fome; Nova Iorque, 1962). Citado da edição sueca, Befolkningsproblem (Estocolmo, 1965), p. 17.

41 Thomas Malthus, Essay on the Principle of Population (Ensaio sobre o Princípio da População), publicado pela primeira vez anonimamente em 1798. Citado por Hofsten (1977), p. 114.

42 Fernand Braudel, Civilization & Capitalism 15th-18th Century: The Structures of Everyday Life (Civilização & Capitalismo Séculos 15-18: As Estruturas da Vida Quotidiana; Londres, 1981), p. 35.

43 Lenica & Sauvy (1965), p. 12.

44 Lenica & Sauvy, pp. 20, 26.

45 Björkblom, Altersten, Hanselid & Liljequist, Världen, Sverige och vi (Uppsala, 1975), p. 31.

46 A Watch Tower Society não ignora completamente estes factos. A Awake! de 8 de Agosto de 1983, por exemplo, começou um artigo sobre o assunto declarando que a actual explosão populacional "é devida em parte a um decréscimo à escala mundial da taxa de mortalidade como consequência de cuidados médicos e condições económicas e sociais melhores," mas depois passou rapidamente para uma consideração de crescimento exponencial como sendo a causa. Um artigo mais antigo, publicado na Awake! de 8 de Setembro de 1967, foi mais direito ao assunto declarando que "avanços no controlo das doenças reduziram drasticamente a taxa de mortalidade na maioria dos países," e que "o controlo em massa de doenças infecciosas produziu uma redução espetacular na taxa de mortalidade entre os bebés e as crianças." (Páginas 4 e 5) As consequências desastrosas deste "controlo em massa das doenças infecciosas" para a ideia do "sinal composto" não foram, é claro, indicadas pela Watch Tower Society.

47 E. P. Prentice, concentrando-se no impacto da fome na raça humana, diz que "a curva horizontal representa o longo período de necessidade que o homem tem conhecido tão bem durante muitas épocas." Então, "por volta de 1850, veio a abundância, e é a abundância que faz a torre elevar-se tão abruptamente de um horizonte que até àquele tempo não tinha sugerido nenhuma possibilidade de uma tal mudança." Progress: An Episode in the History of Hunger? (Progresso: Um Episódio na História da Fome?; New York, 1950), pp. xx, xxi.

48 Erland Hofsten, Befolkningslära (Lund, 1982), p. 14.

49 Estes são números do demógrafo Francês Jean-Noel Biraben citado por Hofsten. (Befolkningslära, p. 17)

50 Hofsten, Befolkningslära, p. 15.

51 Josué de Castro, Geography of Hunger (Geografia da Fome; Londres, 1952), pp. 162, 163. O Infanticídio, "a destruição deliberada de bebés recém nascidos através da exposição ao frio, fome, estrangulamento, asfixia, envenenamento, ou através do uso de alguma arma letal," foi o principal meio de controle de nascimentos antes do uso de contraceptivos e abortos legais se ter tornado comum. Antes do século vinte o infanticídio era praticado numa larga escala, não só no Japão e na China, mas por todo o mundo, incluindo a Europa, provocando muitos milhões de mortes anualmente. Hoje o método foi substituído por abortos, que, embora sejam encarados por muitos como inaceitáveis, incluindo os autores, de um ponto de vista cristão, ainda assim representam um desenvolvimento numa direcção mais humana. Veja William L. Langer, "Infanticide: A Historical Survey," History of Childhood Quarterly ("Infanticídio: Uma Pesquisa Histórica," Publicação Trimestral de História da Infância), Inverno de 1974, Vol. 1, N.º 3, pp. 353-365; também Ping-ti Ho, Studies in the Population of China, 1368-1953 (Estudos sobre a População da China, 1368-1953; Cambridge, Massachusetts, 1959), pp. 58-61. (O infanticídio ainda ocorre em algumas áreas na África e na América do Sul. Veja Barbara Burke, "Infanticide" ["Infanticídio"] , revista Science [Ciência] , Maio de 1984, pp. 26-31.)

52 T. H. Hollingsworth, Historical Demography (Demografia histórica; Londres e Southampton, 1969), p. 331.

53 Hofsten, Befolkningslära, p. 15.

54 Hollingsworth, p. 311. A curva foi redesenhada e actualizada por um perito nosso amigo, Fred Sørensen, que também contribuíu muito para outras partes deste trabalho.

55 Numa tentativa de enfatizar a pestilência ou a doença como um aspecto notável hoje, a The Watchtower de 15 de Abril de 1984, citou o Dr. William Foege dos Atlanta Centers for Disease Control (Centros de Atlanta para o Controlo das Doenças) como tendo dito: "Eu antecipo que possivelmente no nosso tempo de vida veremos outra variante da gripe tão mortífera como a de 1918." (P. 6)


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