O Apartamento Luxuoso de Nathan H. Knorr em Betel

Joan Cetnar



Nathan Homer Knorr (1905-1977)

Frequentemente, problemas entre a liderança da Sociedade [Torre de Vigia] e os seus subordinados eram trazidos para o refeitório. O Presidente Knorr usou a sua posição no lugar principal da mesa (com microfone) para castigar aqueles com quem tinha divergências. Um desses conflitos era óbvio entre o Presidente Knorr e Colin Quakenbush, que era o editor da [revista] Awake! [Despertai!] naquele tempo. O resultado desta divisão foi um número de repreensões verbais no refeitório e a posterior remoção de Colin da sua posição como editor e também a sua remoção da lista de oradores de Betel. Foi-lhe dado trabalho manual árduo na fábrica. Mais tarde ele saiu de Betel.

Foi, e ainda é, um facto muito publicitado que todas as pessoas em Betel, incluindo o presidente da Sociedade Torre de Vigia, só recebem alojamento, alimentação e 14 dólares por mês [naquele tempo]. No entanto, o que não se explicava é como o presidente conseguia esticar o seu dinheiro para manter um Cadillac, viajar pelo mundo, levar pessoas aos restaurantes mais caros, e assistir aos espectáculos na Broadway. Na verdade, há pessoas que lhe dão dinheiro pessoalmente e ele usa a sua conta de despesas para viajar em primeira classe.

Também era óbvio que havia uma grande diferença de nível de vida entre o apartamento luxuoso de Knorr no piso 10 de Betel e as acomodações normais dos trabalhadores de Betel. Depois de eu ter estado em Betel por algumas semanas, recebi um convite para visitar o Presidente Knorr e a sua esposa no piso 10. O apartamento dele era lindo, com obras de arte nas paredes, cozinha privada, televisão e outros confortos. Além disso, o presidente tinha um irmão de Betel que o servia pessoalmente e que também fazia de cozinheiro. Menciono esta informação porque as pessoas acreditam ingenuamente que a posição da liderança na Torre de Vigia representa um sacrifício. Que diferença faz receber oficialmente apenas 14 dólares por mês quando ele pode viver como um rei?

Quando saí de Betel em 1958, depois de quatro anos de serviço ali, o meu noivo Bill [William Cetnar] e eu falámos aos meus pais sobre o que tínhamos observado na sede [da Torre de Vigia]. Eu disse que não tinha visto nenhum do amor de que estávamos constantemente a falar na organização. Eles responderam que devíamos exercer paciência e que as coisas se resolveriam com o tempo. Estou mesmo feliz por nos termos afastado de tudo aquilo. Bill e eu casámo-nos em Harvest Moon, em Setembro de 1958, e vivemos felizes na casa ao lado dos meus pais até Bill ser desassociado em 12 de Dezembro de 1962.

[Texto de Joan Cetnar no livro de Edmond C. Gruss We Left Jehovah's Witnesses (Grand Rapids, Michigan: Baker Book House, 1976), pp. 95-97]


O Cadillac de Knorr

William Cetnar

Outra experiência que me levou a duvidar que a Sociedade Torre de Vigia fosse a organização de Deus está relacionada com Anton Koerber. Ainda me lembro do meu pai falar sobre ele depois do congresso de 1935 em Washington, D.C.. Koerber era responsável pelo equipamento de som no congresso e por alguma razão teve um desentendimento com o Juiz Rutherford. Quando Anton regressou a Betel, descobriu que tinha sido posto fora do edifício e desassociado da Sociedade. Ele voltou ao negócio imobiliário e foi muito bem sucedido, juntando uma fortuna. Desde esse tempo até ao ano 1952 tudo o que ouvi sobre ele foi mau. Ele era um homem que era um servo infiel, que foi contra a organização teocrática de Deus, e que foi desassociado em resultado disso.

Em 1952 Anton Koerber contactou a Sociedade e disse àqueles em autoridade que queria tornar-se pioneiro a tempo inteiro. O pedido inicial dele foi rejeitado devido à sua rebelião no passado. Ele depois apareceu em Betel e T. J. Sullivan [director do Departamento de Serviço] disse-me que eu devia descer à recepção do oitavo piso e tornar claro para Koerber que ele não podia ser um pioneiro. Desci para me encontrar com o Sr. Koerber e encontrei um homem idoso que não estava bem. Ele perguntou-me se podia ser designado pioneiro. Eu disse-lhe outra vez que isso era impossível devido à sua história passada, e sugeri: "Sabe, Anton, se você ama realmente Jeová, devia servi-lo tantas horas quantas puder sem o título. Apenas lhe está sendo negado o título, não lhe está sendo negado o privilégio de serviço." Ele não ficou satisfeito com esta resposta e indicou que continuaria a tentar resolver a questão. Quando me deu um aperto de mão, passou-me uma nota de dez dólares.

Relatei de volta a T. J. Sullivan que Anton não ficara satisfeito com a minha resposta e declarei que eu desejava que outra pessoa falasse com ele. Portanto A. H. Macmillan foi enviado para transmitir a mesma mensagem. Sentei-me na sessão entre Macmillan e Koerber. Foi uma "trituração" completa; foi dito a Koerber que ele era um homem egoísta que só queria um título e que não obteria nenhum. Se queria fazer alguma coisa, podia ser um publicador da congregação. Macmillan foi muito mais severo do que eu tinha sido.

Um dia ou dois mais tarde, quando fui para o refeitório de Betel para jantar, fiquei boquiaberto pois ali, no lugar junto de N. H. Knorr, como seu convidado, estava Anton Koerber. Saí do refeitório depois do jantar quase não acreditando no que tinha visto. Fui para a portaria e Koerber chamou-me e apontou para fora da janela, para um carro novo estacionado na curva, e disse: "Veja aquele Cadillac do outro lado da rua -- eu dei aquele a Knorr e ele pode ter outro em qualquer momento que queira." Alguns anos mais tarde quando falei desta experiência a G. Russell Pollock, ele contou-me como Koerber tinha abordado os Dawn Bible Students [Estudantes da Bíblia da Aurora] em 1951, pouco tempo antes do seu contacto com a Sociedade Torre de Vigia. A informação foi apresentada numa carta de Pollock datada de 15 de Novembro de 1971:

"... Anton Koerber enviou a The Dawn [A Aurora] um cheque de 2.000 dólares e pediu para ter uma conferência com os responsáveis da Dawn. Nós tivemos uma reunião com ele no nosso Congresso Geral em 1951. Ele oferecia dinheiro à Dawn se esta estabelecesse uma organização similar em estrutura à das Testemunhas de Jeová. Isto é, controlada a partir de uma sede central. Esta discussão continuou em várias ocasiões por telefone desde a casa dele na Flórida. Nós, claro, não podíamos aceitar os termos de cooperação dele. Conforme Bill disse: "o 'escravo mau' recusou o suborno dele mas o '[escravo] fiel e sábio' aceitou-o". Isto é verdade e pode ser verificado."

Mas a conclusão deste relato é ainda mais significativa. Anton Koerber, que tinha sido rejeitado como pioneiro, uma posição relativamente insignificante, foi nomeado superintendente de circuito, uma posição normalmente seleccionada a partir das fileiras de pioneiros fiéis! Em 1953 ele foi nomeado presidente do congresso internacional [das Testemunhas de Jeová] no Estádio Yankee. Ele morreu em 19 de Novembro de 1967, e a Watchtower [A Sentinela em inglês] de 15 de Maio de 1968 publicou "A história da vida de ANTON KOERBER conforme contada pelos seus amigos" (pp. 313-318). (O artigo salta rapidamente por cima do período entre 1935 e 1952 numa frase que não dá nenhuma indicação sobre o que realmente aconteceu.)

A história da Watchtower sobre ele enfatiza que ele "era extremamente generoso em sentido material..." (p. 318). No seu discurso no Estádio Dodger (em 22 de Julho de 1973) o Vice-presidente Franz de facto usou Anton Koerber como um exemplo de um homem "que viu a necessidade de se concentrar em valores espirituais e seguir fielmente os passos do Senhor Jesus Cristo." Ele foi elogiado por desistir de uma oportunidade de negócio que em menos de um ano lhe teria rendido um milhão de dólares. "Porquê? Porque ele não queria interromper a sua contribuição de tempo inteiro no ministério de Jeová Deus."

Os factos indicam que Anton Koerber teria ficado tão feliz com os Dawn Bible Students (o "escravo mau") como com a Sociedade Torre de Vigia (o "escravo fiel e sábio"), desde que pudesse receber aplausos públicos.

[Texto de William Cetnar no livro de Edmond C. Gruss We Left Jehovah's Witnesses (Grand Rapids, Michigan: Baker Book House, 1976), pp. 66, 68, 70-72]


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