Parte 2: Cortejando o Favor de Hitler: A Atitude das Testemunhas em Relação ao Serviço Militar

Mehmet Aslan, Grenzach-Wyhlen (Alemanha)


Na revista Despertai! de 22 de agosto de 1995 as Testemunhas de Jeová alegam:

"Em retrospecto, pode-se dizer que o choque entre as Testemunhas de Jeová e o nazismo, ou nacional-socialismo, era totalmente inevitável." (Despertai!, 22 de agosto de 1995, p. 4)

Não existiam tantos motivos para fricção com o regime de Hitler como se poderia pensar, sendo a razão principal [para a ausência de fricção] que as Testemunhas de Jeová tomaram uma posição a favor do serviço militar. A maioria das Testemunhas de Jeová sabem que algumas delas foram para o campo de batalha na Primeira Guerra Mundial; no entanto, geralmente não sabem que não foi a falta de entendimento que motivou isso (contrariamente ao modo como as coisas são hoje retratadas na literatura das Testemunhas de Jeová), mas a razão foi que essa era uma doutrina oficial da associação deles.

Por exemplo, na página 13 da Sentinela de 1.º de maio de 1996 dizem:

"Já em 1886, Charles Taze Russell escreveu no livro The Plan of Ages (O Plano das Eras): "Nem Jesus nem os Apóstolos interferiram de algum modo nos assuntos dos governantes terrestres.... Ensinavam à Igreja a obedecer as leis e a respeitar os em autoridade por causa do seu cargo, [...]" Alguns entendiam isso como significando sujeição total aos poderes existentes, mesmo a ponto de aceitar serviço nas forças armadas durante a Primeira Guerra Mundial. [...] É óbvio que se precisava dum entendimento mais claro da sujeição do cristão às autoridades superiores." (A Sentinela, 1.º de maio de 1996, p. 13, §12)

Como é que a revista diz? "É óbvio que se precisava dum entendimento mais claro da sujeição do cristão às autoridades superiores." Que uma questão com a importância de saber se era permitido a um cristão tornar-se soldado pudesse ter ficado sem resposta, ou que eles tenham negligenciado em responder a essa questão, é apenas uma farsa. É razoável assumir que eles NÃO negligenciaram em responder a essa pergunta. Tal assunto surgiria INEVITAVELMENTE, visto que todo o homem das Testemunhas tinha de enfrentar na sua vida a questão de saber se devia prestar serviço militar ou não. Nesse caso, ele certamente estaria desejando ter um "entendimento mais claro", para usar a expressão da Sentinela.

A posição oficial das Testemunhas de Jeová sobre esta matéria encontra-se, por exemplo, no livro Berean Studies [Estudos Bereanos]. É uma espécie de comentário bíblico com curtas explicações da Bíblia, incluindo referências à literatura da Torre de Vigia. Assim, na página 567 desse livro, sob "Romanos 13:7", diz-se:

"Pode assumir-se que, considerando certas circunstâncias, até os militares são necessários, e que nós podemos corretamente ser recrutados para serviços militares." (Berean Studies [Estudos Bereanos], p. 567)

Essa é uma posição clara a favor do serviço militar, pois diz que as Testemunhas de Jeová podem "corretamente ser recrutados para serviços militares". Era assim que as Testemunhas de Jeová entendiam o assunto durante décadas, embora esta doutrina não fosse do agrado de todas as Testemunhas de Jeová e algumas delas não se vergassem a essa doutrina. Hoje, estas poucas Testemunhas de Jeová [que não obedeceram à posição oficial da organização de participação na guerra] são retratadas como heróis; nesse tempo elas agiram em harmonia com a sua consciência e em contraste com a doutrina da associação à qual pertenciam. E isso não agradou à Sociedade naquele tempo, tal como não agrada à Sociedade hoje quando as Testemunhas fazem o mesmo.

Mais algumas fontes que provam a posição das Testemunhas de Jeová sobre o serviço militar.

  • Zion's Watch Tower, 1.º de julho de 1898, página 204: diz que as Testemunhas de Jeová têm permissão para marcharem para a guerra, mas devem disparar para o ar e assustar o inimigo.
  • Zion's Watch Tower, 1.º de agosto de 1898, página 231: diz que não há qualquer ordem bíblica proibindo a prestação do serviço militar.

Desde a fundação da associação por C. T. Russell, o serviço militar era PERMITIDO. Era uma parte oficial da doutrina deles; isso fica muito claro a partir das revistas Zion's Watch Tower que citamos. Até que data, então, foi o serviço militar permitido para as Testemunhas?

A revista Der Wachtturm [edição em língua alemã da Sentinela] de 1.º de dezembro de 1939, página 360 diz que não há qualquer autorização para que os cristãos marchem para a guerra. Diz que eles devem permanecer neutros, e devem abster-se do serviço militar bem como de serviços alternativos [em substituição ao serviço militar]. (Segundo o livro Unidos na Adoração do Único Deus Verdadeiro [publicado em 1983], p. 165 e seguintes, as Testemunhas declararam publicamente que recusam serviços militares desde há 50 anos).

Tudo isto certamente não soa como se elas se tivessem comportando de forma neutra, contrariamente ao que as Testemunhas de Jeová alegam. Não foi senão pouco tempo antes da guerra que elas se pronunciaram contra o serviço militar. E o regime de Hitler nunca -- até 1.º de dezembro de 1939 -- acusou as Testemunhas de Jeová de recusarem a prestação do serviço militar.

Certamente Hitler sabia que as Testemunhas de Jeová (então chamadas Estudantes da Bíblia) tinham marchado para o campo de batalha na Primeira Guerra Mundial, e que elas eram soldados leais que cumpriam os seus deveres como cidadãos. Durante a Primeira Guerra Mundial, apareciam freqüentemente na revista Wacht-Turm (edição em língua alemã da Sentinela) relatórios sobre os irmãos que estavam na guerra, coisa que seria impensável hoje, considerando a presente atitude das Testemunhas de Jeová. A página 2 da Wachtturm de julho de 1915 diz:

"Dos nossos Irmãos no Campo [de Batalha]

"Visto que tantos dos nossos irmãos foram recrutados para o serviço militar (mais de 200), nós não deixamos de encorajar e agradar estes queridos irmãos através de cartas especiais e tratados na nossa melhor habilidade.

"Já recebemos uma grande quantidade de cartas e postais, e gostaríamos de compartilhar o nosso deleite com todos os irmãos reproduzindo estas cartas. No entanto, temos de nos contentar com transmitir os cumprimentos.

"Estes são os queridos irmãos que enviam os seus melhores desejos:

"R.Basau, H.Dwenger, F.Heß, W.Hellmann, H.Rothenstein, J.Finger, F.Jung, F.Balzereit, A.Degert, B.Buchholz, R.Weber, H.Brandt, W.Bader, H.Crämer, H.Hagen, W.Keller, W.Hüners, G.Zeglatis, P.Schmidt, Aug.Meier, H.Bäuerle, Aug.Meis, J.Kohlmann, W.Hildebrandt, M.Modes, M.Karl, R.Seifert, W.Micklich, M.Stein, O.Strube, J.Rodemich, G.Patzer, B.Martin, A.Oehler, H.Marksteiner, W.Huhle, B.Göldner, G.Petermann, O.Stephan, E.Morbach, C.Förster, F.Ensenbach, O.Oschee, H.Bobsin, H.Bongardt, J.Apostel, C.Labuszewski, O.Friedrichs, R.Elsässer, E.Bergerhof, F.Brüggert, M.Freschel, H.Foist, C.Conzelmann, F.Enkelmann, A.Hinz, H.Gutwill, O.Höhme, P.Sauerwein, F.Hilbich, J.Raschke, A.Krafzig, C.Jendral, A.Kreutle, E.Kipke, F.Keßler, Th.Kalkowski, F.Kownatzki, F.Kliegel, W.Wottmann, A.Noak, O.Speckmann, F.Nungesser, O.Neumann, C.Henningsen, M.Nitzsche, J.Masanek, F.Maske, K.Meyer, Oskar Meyer, W.Müller, W.Nölke, L.Niezboralla, A.Riedel. W.Rüttmann, J.Rohwer, H.Riedeberger, G.Rottmair, G.Salewski, A.Stähler, M.v.d.Steil, A.Stein, G.Stroot, A.Schulte, H.Scheuch, E.Vorsteher, H.Vollrath, K.Vogt, K.Stolte, O.Waldenburger, M.Unrecht, P.Werth, P.Wellershaus, M.Wnedt, W.Zahn, M.Zenk, A.Kröger, W.Sommerfeld.

"Estamos encantados por estes irmãos estarem de bom humor e fiéis ao Senhor, e pedimos a vós, queridos irmãos, que se lembrem deles intercedendo por eles junto conosco, pois este é o nosso dever e glorioso privilégio."

[O primeiro item no índice da edição de agosto de 1915 da Wachtturm [Sentinela] era "'Dos Nossos Irmãos no Campo [de Batalha]' -- página 114".]

A participação no serviço militar recebeu a bênção da organização da Torre de Vigia. A organização da Torre de Vigia fez o que pôde para "encorajar e agradar estes queridos irmãos através de cartas especiais e tratados". É uma farsa quando agora se alega que as Testemunhas de Jeová tinham agido daquela forma devido a falta de entendimento, pois a organização até tentou "encorajar e agradar" os irmãos no campo de batalha nessa situação. Já por dois mil anos a Bíblia dizia: "Não matarás", e este mandamento também estava ali na Bíblia em 1915. Certamente era improvável que alguém levantasse o dedo e perguntasse: "Será que aquilo que fazemos é absolutamente correto?", quando a Sentinela defendia a opinião de que as Testemunhas de Jeová podiam "corretamente ser recrutados para serviços militares".

Isso estava completamente de acordo com a linha de Hitler.


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