Parte 8: Os Hipócritas: Serviço Militar Permitido na Suíça, Proibido na Alemanha

Mehmet Aslan, Grenzach-Wyhlen (Alemanha)


Que a organização das Testemunhas de Jeová está de fato disposta a transigir, é provado pelo seu passado. Será que isso será realmente diferente no futuro?

O fator decisivo não é o bem estar das pessoas mas antes os interesses da associação. Estes interesses são definidos por palavras como.

  • Crescimento numérico
  • Unidade
  • Limpeza
  • Manutenção do poder.

Dificilmente alguma Testemunha de Jeová hoje sabe que a sua associação tomou uma posição a favor do serviço militar durante décadas. Até 1939, até mesmo Hitler não acusou a associação sobre este assunto; antes, o argumento era sobre o fato de as Testemunhas de Jeová se recusarem veementemente a saudar Hitler e terem o hábito de fazerem coisas que o regime de Hitler achava desagradáveis.

Embora as Testemunhas de Jeová na Alemanha, segundo o artigo de 1939, se tenham recusado fiel e heroicamente a prestar serviço militar, elas foram muito mais obsequiosas neste assunto na Suíça. A página 2 da edição suíça da revista Trost [Consolação, o antigo nome da Despertai!] de 1.º de outubro de 1943 diz:

"Cada guerra traz sofrimento indescritível para a humanidade. [...] Mesmo as Testemunhas de Jeová não foram poupadas a este destino. [...] Declaramos expressamente que a nossa associação nem ordena, nem recomenda, nem sugere de nenhum outro modo que se aja contra as ordens militares. [...] Centenas dos nossos membros e companheiros de crença cumpriram os seus deveres militares e continuam a cumpri-los. [...] Associação Suíça das Testemunhas de Jeová [...] Berna, 15 de setembro de 1943".1

A razão para esta ação era que o escritório da filial suíça não devia ser fechado. Mesmo hoje, a liderança das Testemunhas está muito disposta a transigir caso os seus interesses sejam afetados. Na página 141 do livro secreto dos anciãos, Prestai Atenção a Vós Mesmos e a Todo o Rebanho, dizem:

"Se o governo solicitasse temporariamente, em época de emergência, o uso de Salões do Reino ou de equipamento da congregação, ceder não seria violação da neutralidade."

"[É]poca de emergência" pode ser tempos de guerra; nesse caso as Testemunhas de Jeová são autorizadas a colocar o seu salão à disposição. Aquilo que é proibido a indivíduos, é permitido à organização.

Durante a era de Hitler algumas pessoas tiveram de morrer devido à sua neutralidade, mas sempre que os interesses da organização estavam em jogo -- por incrível que pareça -- eram tomadas medidas diferentes. Algumas Testemunhas de Jeová negam que o serviço militar tenha sido permitido para elas na Suíça. Mas a Wachtturm [edição alemã da Sentinela] de 15 de janeiro de 1948 prova que o que afirmamos está correto. Essa edição refere-se à revista Trost:

"Esta declaração apaziguadora causou muita preocupação na Suíça bem como em certas partes da França."2

Portanto eles não negam que isso aconteceu. Claro que a Wachtturm [edição alemã da Sentinela] tenta compor as coisas, como se o escritório da filial tivesse agido sem o consentimento da sede. Mas:

  1. As Testemunhas na Suíça também conheciam a ordem proibitiva de 1939 sobre o serviço militar; certamente elas ficaram ansiosas e foram acalmadas.
  2. Por que não agiu a Sociedade antes de terem passado cinco anos, e por que não agiru antes de a guerra ter acabado?3

Portanto, isto foi meramente uma tentativa de justificar o comportamento de uma associação que certamente teria agido se o comportamento da filial suíça não tivesse estado de acordo com os seus interesses.


Notas

1 Documento g44: Declaração cujo texto apareceu na Trost [Despertai!] de 1.º de outubro de 1943.

Tradução do documento g44:

"Declaração

"Cada guerra traz sofrimento indescritível para a humanidade. Cada guerra traz dilemas morais difíceis para milhares, sim, milhões de pessoas. Isto aplica-se especialmente a esta guerra, que não poupou nenhum canto da terra e tem-se espalhado pelo ar, mar e terra. É por conseguinte inevitável que em tais épocas, não apenas indivíduos, mas também comunidades de todos os tipos, de forma não intencional ou deliberadamente sejam falsamente suspeitas.

"Mesmo as Testemunhas de Jeová não foram poupadas a este destino. Fomos acusados de sermos uma associação cujo objetivo ou atividade é descrita como "minar a disciplina militar, especialmente forçar ou enganar os convocados para o serviço militar para insubordinação contra as ordens militares, negligência ou recusa do dever, ou tornar-se fugitivos."

"Tal opinião só pode ser apresentada por alguém que não compreende de todo o espírito e atividade da nossa Sociedade ou que apesar do seu melhor conhecimento, distorce-o de forma malévola.

"Declaramos expressamente que a nossa associação nem ordena, nem recomenda nem sugere de nenhum outro modo que se aja contra as ordens militares. Perguntas desse tipo não são tratadas pelas nossas congregações nem pela literatura publicada da Sociedade. Nós não nos preocupamos de todo com tais perguntas. Vemos que a nossa atividade é unicamente prestar um testemunho a Jeová Deus e a proclamar a verdade da Bíblia a todos os povos. Centenas dos nossos membros e companheiros de crença cumpriram os seus deveres militares e continuam a cumpri-los.

"Nós nunca presumimos e jamais teremos a presunção de encarar a prestação do serviço militar, conforme delineado pelos vossos estatutos, como uma ofensa contra os princípios e aspirações da associação das Testemunhas de Jeová. Nós incentivamos todos os nossos membros e companheiros de crença a proclamarem a mensagem do Reino de Deus (Mateus 24:14), a confinarem-se estritamente à proclamação da verdade da Bíblia, e a evitarem sempre dar azo a mal entendidos, e certamente a nunca serem mal interpretados como se estivessem dando qualquer incitamento à insubordinação contra ordens militares.

Associação Suíça das Testemunhas de Jeová
Presidente: Ad. Gammenthaler
Secretário: D. Wiedenmann

Berna, 15 de setembro de 1943."

2 Tradução do documento g45:

"Saberão Que Eu Sou Jeová (Eze. 35:15)

"DER WACHTTURM

"Volume: 51

"Magdeburgo, 15 de janeiro de 1948, n.º 2

"Por exemplo, no número da Trost (a edição suíça da revista Consolation) de 1.º de outubro de 1943, portanto durante a crescente tribulação da última Guerra Mundial, quando a neutralidade política da Suíça parecia estar em perigo -- o escritório da filial suíça aventurou-se a publicar uma Declaração que continha a seguinte frase: "Centenas dos nossos membros e associados cumpriram -- e continuam a cumprir -- os seus deveres militares". Esta declaração apaziguadora causou muita preocupação na Suíça bem como em certas partes da França. Encontrando aplausos calorosos, o Irmão Knorr enquanto presidente agora explicou corajosamente que aquelas palavras da declaração são rejeitadas porque não descrevem o ponto de vista da Sociedade, e não estão em harmonia com princípios cristãos conforme claramente delineados na Bíblia. Agora tinha chegado o tempo para os irmãos suíços fazerem uma confissão perante Deus e Seu Cristo; e como resposta ao convite do Irmão Knorr para se expressarem, muitos irmãos levantaram as suas mãos para tornar conhecido à audiência que retiraram o seu assentimento tácito à declaração de 1943 e de nenhum modo a queriam apoiar mais."

3 Os cinco anos mencionados são os que decorreram entre 1943 (data da Declaração de Berna) e 1948 (data da retratação na Wachtturm de 15 de janeiro de 1948). Em 1948 a guerra já tinha acabado. [N. do T.]


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