Terra Treme de Forma Normal

Jornal Diário de Notícias (11 de Março de 2001)


Mortes em Janeiro e Fevereiro superiores às dos dois últimos anos, mas média de abalos por mês é a mesma

A série de violentos terramotos registada desde o início do ano, que causou mais de 35 mil mortes, poderá dar a ideia ao público de que a Terra está num período mais instável que o habitual, mas os cientistas do Centro Nacional de Informação de Sismos, dos Estados Unidos, consideram a situação perfeitamente normal, em termos geológicos, como é evidente.

"Embora seja verdade que morreram mais pessoas devido a sismos, durante Janeiro e Fevereiro, que nos dois últimos anos em conjunto, o número médio de abalos por mês é sensivelmente o mesmo", disse Waverly Person, o principal cientista daquele centro, que regista tremores de terra em todo o mundo.

"De um modo geral, a actividade sísmica não está a aumentar" afirmou Person. O que acontece, esclareceu o cientista, "é que somos agora capazes de localizar mais abalos de pequena magnitude, devido aos avanços tecnológicos, além de que, quando ocorre um grande tremor de terra, as imagens de morte e de destruição entram-nos em casa através dos noticiários da televisão".

Em Janeiro de 2000, ocorreram seis sismos "significativos", responsáveis por sete mortes. O termo "significativo" é usado pelo NEIC (a sigla, em inglês, daquele centro) quando se verifica uma magnitude de 6,5 ou maior e se registam mortos, feridos ou danos substanciais. Em Janeiro deste ano, houve também seis terramotos desta categoria, mas o balanço combinado dos abalos do dia 13, em El Salvador, e do dia 26, no Sul da Índia, é calculado entre 30 e 40 mil vítimas mortais.

Em Fevereiro de 2000, registaram-se cinco sismos "significativos", de que resultou apenas uma morte, ao passo que em Fevereiro deste ano ocorreram três, com 325 mortes. O de maior magnitude (6,8) abalou a região de Seattle, nos Estados Unidos, no dia 28, mas sem causar vítimas, apesar de os prejuízos serem elevados.

"A elevada densidade de populações urbanas e a fraqueza estrutural de edifícios perto dos epicentros são responsáveis pela maior parte das perdas em vidas humanas, qualquer que seja o ano", disse Person, citado num comunicado do NEIC.

"A média anual, em prazos longos, é de dez mil mortes em todo o mundo, mas esse número varia muito de ano para ano. Em 2000, por exemplo, morreram apenas cerca de 225 pessoas, enquanto o número de vítimas totalizou 8928 em 1998 e 20 907 em 1997. O pior ano do século XX foi 1976, quando morreram pelo menos 255 mil pessoas, ou talvez mais de 600 mil, no sismo que abalou a região de Tianjin, na China."

Segundo Person, num ano típico registam-se 18 abalos muito fortes (com magnitudes de 7,0 a 7,9) e um terramoto fortíssimo (8,0 ou mais). Durante os dois primeiros meses deste ano, houve sete com magnitudes de 7,0 ou mais elevadas e dois com magnitudes de 6,8. O tremor de terra com maior magnitude (7,3), neste mês, ocorreu no Sul de Samatra.

O maior número de vítimas mortais, desde o princípio do ano, registou-se na Índia, onde morreram pelo menos 30 mil pessoas devido ao abalo de magnitude 7,7 a 26 de Janeiro, mas o balanço final, de acordo com o NEID, poderá elevar-se a 50 mil óbitos. O tremor de terra de 13 de Janeiro (de magnitude 7,6), em El Salvador, e as respectivas réplicas mataram cerca de 1170 pessoas, muitas das quais devido a aluimentos de terras que soterraram as suas casas.

Os especialistas americanos calculam que ocorrem anualmente, em todo o mundo, vários milhões de sismos, mas muitos não são detectados, porque atingem regiões remotas ou são de fracas magnitudes. O Serviço Geológico americano detecta actualmente cerca de 50 por dia, ou perto de 20 mil por ano. Este serviço, por intermédio do seu site (em https://www.usgs.gov/programs/earthquake-hazards), proporciona informação sobre sismos em tempo real.


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