Transplantes de Órgãos — Canibalismo!

Jan S. Haugland


Tal como no caso do sangue, a Sociedade Torre de Vigia (Testemunhas de Jeová) originalmente não tinha objecções aos transplantes de órgãos. Numa secção intitulada Perguntas dos Leitores na Sentinela de 1.º de Fevereiro de 1962, p. 96, a questão dos transplantes de órgãos é respondida especificamente:

«Há alguma coisa na Bíblia contra a se doar os olhos (após a morte) para serem transplantados numa pessoa viva? -- L. C., Estados Unidos.

«A questão de se colocar o corpo ou parte do corpo à disposição dos homens da ciência ou dos médicos, após a morte, para experiências científicas ou para transplantação em outros, não é vista com bons olhos por certos grupos religiosos. Entretanto, não parece haver nenhum princípio ou lei bíblica envolvida. É, portanto, algo que cada pessoa deve decidir por si mesma. Se ela estiver satisfeita em sua própria mente e consciência que isto seja coisa correta a fazer, então poderá fazer tais arranjos, e ninguém a deveria criticar por assim fazer. Por outro lado, ninguém deveria ser criticado por se recusar a entrar em tal acordo.»

Tendo em conta os pontos de vista pouco ortodoxos acerca de práticas médicas demonstrados pela Sociedade Torre de Vigia em questões anteriores, não é surpreendente que a Sociedade tenha encontrado alguns "princípios bíblicos" aplicáveis a esta questão, na próxima vez que o assunto surgiu, em 1967 (1968 em português):

«Será que há alguma objeção bíblica a que se doe o corpo para uso na pesquisa médica ou que se aceitem órgãos para transplante de tal fonte? -- W. L., EUA.

«[...] Quando há um órgão doente ou defeituoso, o modo usual de a saúde ser restaurada é por receber substâncias nutritivas. O corpo utiliza o alimento ingerido para consertar ou curar o órgão, substituindo gradualmente as células. Quando os homens de ciência concluem que este processo normal não mais dará certo e sugerem a remoção do órgão e a substituição do mesmo de forma direta por um órgão de outro humano, isto é simplesmente um atalho. Aqueles que se submetem a tais operações vivem às custas de carne de outro humano. Isso é canibalesco. Não obstante, ao permitir que o homem comesse carne animal, Jeová Deus não deu permissão para os humanos tentarem perpetuar suas vidas por receberem canibalisticamente em seus corpos a carne humana, quer mastigada, quer na forma de órgãos inteiros ou partes do corpo, retirados de outros.» (A Sentinela, 1.º de Junho de 1968, pp. 349-350)

A maioria das pessoas provavelmente ficariam surpresas com a ideia de que um transplante de órgão é canibalismo, mas a Sociedade Torre de Vigia argumentou que era este o caso. E mais uma vez as Testemunhas de Jeová teriam de alinhar nisto. Elas deviam preferir morrer ou ficar aleijadas em vez de aceitar um transplante de órgão.

Tal como no caso das vacinas, recorreu-se a charlatanismo para apoiar a ideia de que os transplantes de órgãos eram errados. Para a Sociedade Torre de Vigia, tem sido sempre de importância primária dar às Testemunhas de Jeová a ideia de que as regras as beneficiavam mesmo. E tal como as Testemunhas de Jeová foram convencidas e acreditam firmemente que as transfusões de sangue são más e prejudiciais para elas, foram expostas ao mesmo tipo de propaganda sobre os transplantes de órgãos:

«Um fator peculiar às vezes notado é o chamado 'transplante de personalidade'. Quer dizer, em alguns casos, o recebedor parece adotar certos fatores da personalidade daquele de quem procedeu o órgão. Certa jovem promiscua, que recebeu um rim de sua irmã mais velha, conservadora, bem comportada, no princípio parecia muito perturbada. Depois começou a imitar sua irmã em grande parte da conduta desta. Outro paciente afirmou ter obtido um conceito mudado sobre a vida, depois de seu transplante de rim. Após um transplante, um homem brando tornou-se agressivo igual ao doador. O problema talvez seja na maior parte ou inteiramente mental. Mas, pelo menos é de interesse notar que a Bíblia relaciona intimamente os rins com as emoções humanas.» (A Sentinela, 1.º de Março de 1976, p. 135)

Na mesma revista, alguns relatórios médicos acerca de certos riscos dos transplantes de órgãos são generalizados para fazer parecer que os benefícios são praticamente zero e os riscos são enormes. Já vimos este procedimento nas tentativas da Sociedade Torre de Vigia de demonizar as vacinas, vemo-lo usado em transplantes de órgãos e, como veremos noutro artigo, é especialmente evidente em declarações acerca das transfusões de sangue.

Uma motivação curiosa por detrás desta opinião acerca dos transplantes de órgãos é uma ideia peculiar a respeito do coração. Tal como o artigo acima sugeria fortemente que um transplante de órgão causava uma mudança emocional, a Sociedade Torre de Vigia argumentou que nós de facto pensamos com o nosso coração literal! Quando a Bíblia menciona o coração como o local das nossas emoções e desejos mais profundos, as pessoas entenderão isto simbolicamente, compreendendo que estas coisas se localizam fisicamente no cérebro. Isto é, a menos que a pessoa seja um líder da Sociedade Torre de Vigia:

«A maioria dos psiquiatras e dos psicólogos tende a categorizar demais a mente e admite pouca ou nenhuma influência do coração carnal, considerando a palavra "coração" apenas como figura de retórica, à parte de seu emprego na identificação do órgão que bombeia nosso sangue. [...] O coração é uma bomba muscular de projeção maravilhosa, mas, o que é ainda mais significativo, estão incluídas nele nossas faculdades emocionais e motivadoras. O amor, o ódio, o desejo (bom e mau), a preferência de alguma coisa dentre outra, a ambição, o medo -- de fato, tudo o que serve para nos motivar com relação às nossas afeições e aos nossos desejos se origina do coração.» (A Sentinela, 1.º de Setembro de 1971, p. 518)

Algumas Testemunhas de Jeová ainda se lembram de um drama no congresso "Nome Divino", no verão de 1971, sobre este tópico, em que o ponto de que realmente armazenamos informação nos nossos corações foi ilustrado por modelos gigantes e brilhantes de um coração e de um cérebro! Escusado será dizer, as Testemunhas de Jeová que tinham nem que fosse só um pouco de conhecimento de ciência ou medicina ficaram profundamente embaraçadas por estes ensinos. Eu sou demasiado novo para me lembrar disto, mas recordo-me claramente do momento em que me apercebi pela primeira vez de que este era de facto o ensino da Sociedade Torre de Vigia, e embora não tenha argumentado com o meu pai, eu estava extremamente céptico a respeito desta ideia -- e naquela altura eu andava na escola primária! O que não percebi, infelizmente, foi o perigo de permitir que homens com tal raciocínio superficial baseado em charlatanismo decidam assuntos de vida ou de morte para uma comunidade de milhões de Testemunhas de Jeová.

Esta não era uma questão puramente académica! A proibição dos transplantes de órgãos baseava-se neste conceito, que também tinha sido importante na proscrição das vacinas, há muito rejeitada. Para instilar nas Testemunhas de Jeová medo dos transplantes de órgãos e especialmente transplantes de coração, foram relatadas as seguintes alegações fraudulentas:

«11 O periódico Medical World News (23 de maio de 1969), num artigo intitulado "O Que Faz o Novo Coração à Mente?", noticiava o seguinte: "No Centro Médico da Universidade de Stanford, no ano passado, um homem de 45 anos de idade recebeu um novo coração de um doador de 20 anos de idade, e pouco depois anunciou a todos os seus amigos que estava celebrando seu vigésimo aniversário. Outro recebedor resolveu viver à altura da excelente reputação do destacado cidadão local que foi o doador. Um terceiro homem expressou grande temor de efeminação, por ter recebido o coração duma mulher, embora se tranqüilizasse um pouco ao saber que as mulheres vivem mais do que os homens. Segundo o psiquiatra Donald T. Lunde, consultor da equipe de transplante do cirurgião Norman Shumway, em Stanford, estes pacientes representavam algumas das aberrações mentais menos severas [o grifo é nosso] observadas na série de treze transplantes feitos por Shumway durante os últimos dezesseis meses." O artigo continuava: "Embora cinco pacientes da série ainda sobrevivessem no princípio deste mês, e quatro deles estivessem em casa, levando uma vida bastante normal, três dos que não sobreviveram tornaram-se psicóticos antes de falecerem no ano passado. E mais dois se tornaram psicóticos neste ano."» (A Sentinela, 1.º de Setembro de 1971, p. 519)

A ideia segundo a qual uma pessoa teria a sua personalidade modificada por um novo órgão também foi usada, como vimos, em apoio da proscrição de vacinas. E como veremos num artigo a seguir, a mesma ideia é usada para aumentar a histeria anti-sangue entre as Testemunhas de Jeová. Quando a Sociedade Torre de Vigia argumentou acerca dos perigos dos transplantes de órgãos, este charlatanismo foi usado mais uma vez.

«10 É significativo que os pacientes de transplantes de coração, quando se lhes cortam os nervos de ligação entre o coração e o cérebro, têm sérios problemas emocionais depois da operação. O novo coração ainda é capaz de funcionar como bomba, visto que tem a sua própria fonte de energia e um mecanismo para marcar o passo independente do sistema nervoso geral, para darem impulsos ao músculo cardíaco, mas assim como então reage apenas vagarosamente às influências externas, o novo coração, por sua vez, também registra poucos ou nenhum fatores claros de motivação no cérebro. Ainda não é claro até que ponto as terminações nervosas do corpo e do novo coração podem estabelecer contato, com o tempo, mas isto não pode ser excluído como um dos diversos fatores que causam sérias aberrações mentais e desorientação observadas nos pacientes de transplante de coração, segundo relatam os médicos.» (A Sentinela, 1.º de Setembro de 1971, p. 519)

No mesmo artigo, a Sociedade Torre de Vigia até argumentou que as pessoas que aceitavam um transplante de coração perdiam a sua personalidade, e insinuaram fortemente que as pessoas que tinham corações transplantados eram de facto pessoas sem coração!

«Estes pacientes têm para seu sangue bombas supridas por doadores, mas possuem eles então todos os fatores necessários para se dizer que têm um "coração"? Uma coisa é certa, que, ao perderem seu próprio coração, tirou-se-lhes as faculdades de "coração" desenvolvidas neles com o decorrer dos anos e que contribuíram a torná-los a personalidade que eram.» (A Sentinela, 1.º de Setembro de 1971, p. 519)

O conselho que a Sociedade Torre de Vigia deu a respeito de situações quotidianas, baseado no seu entendimento literal do coração e da mente, era por vezes cómico (embora não intencionalmente):

«4 Para ilustrar isso, suponhamos que chega a ocasião em que tenha de decidir-se a comprar um terno ou um vestido novo. Primeiro, a mente é confrontada com certos fatos. Talvez a roupa velha já tenha perdido a utilidade ou há necessidade duma mudança por outro motivo bom. O coração também entra nesta questão, visto que há o desejo, no coração, de ter aparência mais apresentável. O coração e a mente estão de acordo, de que se compre um novo vestido ou um novo terno. A mente reúne então informações sobre os preços, a qualidade, o estilo e assim por diante, para que, quando for fazer a compra, tenha uma boa idéia sobre que terno ou vestido comprar. Mas quando chega à loja, encontra na vitrina algo que atrai muito o olhar, à espera dum comprador impulsivo. Não é realmente prático para sua pessoa; envolve muito mais dinheiro; é bastante avançado na moda; mas quanto agrada ao coração! "É o deleite do coração!" 5 O que se fará então? Que decisão será tomada? Será uma decisão prática, racional, ou uma segundo este novo desejo do coração? Se não tiver muito cuidado, o coração se sobreporá à mente.» (A Sentinela, 1.º de Setembro de 1971, p. 524)

Durante o período em que tanto os transplantes de órgãos como as transfusões de sangue estiveram proibidos, eram colocados em pé de igualdade na literatura da Sociedade Torre de Vigia. Num caso, quando uma Testemunha de Jeová anónima que era um cirurgião escreveu a história da sua vida na revista Despertai!, mencionou os perigos das transfusões de sangue:

«Foi-me especialmente recompensador ver evidência em primeira mão da veracidade das orientações da Bíblia quanto ao sangue. A própria classe médica gradualmente veio a avaliar que o sangue não é inócuo salva-vidas. A transfusão de sangue é agora reconhecida como processo perigoso -- tão arriscado como o transplante de qualquer outro órgão.» (Despertai!, 22 de Setembro de 1974, p. 16)

Ele também acrescentou:

«Atualmente, fala-se muito do transplante de vários órgãos -- rins, corações, pulmões e fígados. [...] Devido ao que creio ser o conceito do Criador sobre o transplante de órgãos, nutro sérias reservas quanto à sua correção segundo a Bíblia.» (Despertai!, 22 de Setembro de 1974, p. 18)

Pequenos apontamentos na literatura da Sociedade Torre de Vigia não só contaram histórias sobre os horrores das transfusões de sangue, mas também apresentaram os mesmos relatos fortemente exagerados sobre os perigos dos transplantes de órgãos. Em muitas edições da revista Despertai!, encontramos na rubrica "Observando o Mundo" notas como estas:

«Horror Devido à Transfusão
«Dois bebês foram infetados com sífilis por transfusões de sangue na Clínica da Universidade de Kiel, Alemanha, em 1973, noticiou Wiesbadener Kurier (Correio de Wiesbaden). A infecção foi transmitida aos pais. Não sabendo a fonte, pelo menos uma das famílias envolvidas ameaçou dissolver-se, cada cônjuge acusando o outro de ser infiel. Muito embora a verdade surgisse no tribunal, o dano já fora causado. "Duas pessoas disseram uma à outra coisas das quais se envergonharam quando souberam a verdade", observa o artigo.

«Mais Complicações dos Transplantes
«Há algum tempo, noticiou-se que a incidência de câncer é 100 vezes maior entre os recebedores de órgãos transplantados do que entre a população em geral. No entanto, a freqüência de tumores cerebrais é "cerca de 1.000 vezes maior", segundo o Dr. Wolff M. Kirsch, do Centro Médico da Universidade de Colorado, EUA. A terapia prolongada de imunossupressão para impedir a rejeição do novo órgão com freqüência envolve o paciente "num emaranhado de processos patológicos", afirma ele. As perspectivas de ajudar tais pacientes são consideradas "tênues".» (Despertai!, 22 de Abril de 1975, p. 30)

Escusado será dizer que os escritores da Sociedade Torre de Vigia vasculham jornais e revistas de todo o mundo à procura destes artigos, e é claro que nunca fazem uma única referência a resultados positivos das transfusões de sangue ou dos transplantes de órgãos quando estes estão proibidos.

Esta proibição sobre os transplantes de órgãos não podia ser mantida a longo prazo. A causa directa para a mudança não é dada, a Sociedade Torre de Vigia declara apenas que isso é "um caso de decisão conscienciosa de cada uma das Testemunhas de Jeová".

«Deve a congregação tomar ação quando um cristão batizado aceita o transplante dum órgão humano, tal como a córnea ou um rim?

«No que se refere ao transplante de tecido ou osso humano de um humano para outro, é um caso de decisão conscienciosa de cada uma das Testemunhas de Jeová. Alguns cristãos podem achar que aceitarem no seu corpo o tecido ou parte do corpo de outro humano é canibalesco. [...] Outros cristãos sinceros, hoje em dia, talvez achem que a Bíblia não exclui definitivamente os transplantes clínicos de órgãos humanos. [...] Talvez se argumente também que os transplantes de órgãos são diferentes do canibalismo, visto que o "doador" não é morto para prover alimento.» (A Sentinela, 1.º de Setembro de 1980, p. 31)

Mais uma vez, tal como tinha acontecido quando acabou a proscrição sobre as vacinas, não houve uma palavra de desculpa àqueles que tinham sido adversamente afectados. Além disso, a Sociedade Torre de Vigia é hipócrita quando finge que "cristãos sinceros [...] talvez achem" seja o que for além do que lhes foi ordenado que achassem. Tal como no caso da proibição do sangue, "cristãos sinceros" não têm a liberdade de pensar, eles só são "livres" de fazer exactamente o que a Sociedade Torre de Vigia lhes ordena que façam. Quando Testemunhas de Jeová arriscaram individualmente a vida, fizeram-no porque isso lhes foi ordenado sob ameaça de desassociação, e porque eles acreditaram que a Sociedade Torre de Vigia falou por Deus. A reviravolta em duas questões médicas importantes mostra com toda a certeza que no assunto da medicina a Sociedade Torre de Vigia não fala por Deus.

Depois da mudança, as histórias de horror acerca dos transplantes de órgãos pararam, enquanto relatos exagerados dos perigos das transfusões de sangue continuam até hoje. No que respeita aos transplantes de órgãos, a mudança de opinião da Sociedade Torre de Vigia é visível neste artigo:

«Transplante de coração sem sangue

«Em outubro último, Chandra Sharp, de três anos de idade, foi internada num hospital em Cleveland, Ohio, EUA, com o coração não só dilatado mas também deficiente. Estava subnutrida, com o crescimento estancado, pesava apenas 9 quilos e precisava de um transplante de coração. Deram-lhe apenas algumas semanas de vida. Os pais concordaram com o transplante, mas não com transfusão de sangue. Eles são Testemunhas de Jeová.

«Isso não era problema para o cirurgião, Dr. Charles Fraser. O The Flint Journal, de Michigan, publicou em 1.° de dezembro de 1993: "Fraser disse que a Clínica de Cleveland e outros centros médicos estão se tornando hábeis na realização de muitas cirurgias -- incluindo transplantes -- sem a infusão no paciente de sangue de outra pessoa. 'Aumentamos os nossos conhecimentos sobre como preservar sangue, e dar volume de escorva ao coração-pulmão artificial com soluções que não sejam sangue', disse Fraser." Daí acrescentou: "Alguns hospitais especializados há décadas realizam grandes cirurgias cardiovasculares sem transfusões de sangue. . . . Nós sempre tentamos realizar cirurgias sem sangue (transfundido)."

«Em 29 de outubro, ele realizou o transplante de coração em Chandra, sem transfusão de sangue. Um mês depois, informou-se que Chandra passava bem.» (Despertai!, 22 de Maio de 1994, p. 7)

Em vista da anterior proibição sobre os transplantes -- transplantes de coração em particular -- este súbito louvor de transplantes de coração sem sangue destila ironia. Mas então o coração não tem funções para além de apenas bombear o sangue? Não, isso tinha sido mudado dez anos antes:

«O que devemos então entender pela palavra 'coração'? [...] Como é espantoso o número de diferentes funções e capacidades que são atribuídas ao coração! Será que todas estas residem no coração literal? Dificilmente seria esse o caso [...] em cerca de um milhar de outras referências a 'coração' na Bíblia, 'coração' é obviamente usado num sentido figurativo [...] obviamente, tem de ser feita uma distinção entre o órgão coração e o coração figurativo.» (The Watchtower, 1.º de Setembro de 1984, pp. 4, 6, 7) [Este artigo foi publicado na The Watchtower em inglês mas, tanto quanto pudemos averiguar, não foi publicado na Sentinela em português. A razão da omissão talvez seja que nessa altura a Sociedade Torre de Vigia estava a tentar sincronizar o conteúdo entre a edição em inglês e a edição em português da revista e alguns artigos da edição em inglês que não eram "artigos de estudo" -- o artigo citado aqui não é "artigo de estudo" -- foram simplesmente deixados para trás, não sendo publicados na Sentinela em português. Os artigos de estudo da Watchtower (em inglês) de 1.º de Setembro de 1984 apareceram na Sentinela (em português) de 15 de Abril de 1985. Os artigos dessa Watchtower em inglês que não eram "artigos de estudo" não foram incluídos nessa Sentinela em português. -- N. do T.]

Em outra reviravolta irónica, vemos que menos de dois anos depois a mesma revista declara:

«2 Os antigos egípcios criam que o coração físico fosse a sede da inteligência e das emoções. Pensavam também que ele tinha vontade própria. Os babilônios diziam que o coração abrigava tanto o intelecto como o amor. O filósofo grego Aristóteles ensinou que o coração era a sede dos sentidos e o domínio da alma. Mas, com o passar do tempo e maior conhecimento, tais conceitos foram abandonados. Por fim, o coração ficou conhecido pelo que é, uma bomba para fazer circular o sangue através do corpo.» (A Sentinela, 1.º de Junho de 1986, p. 15)

O artigo não lembrou o leitor que a Sociedade Torre de Vigia tinha ensinado o mesmo que estes povos antigos até há apenas dois anos antes! Este embaraçoso capítulo na história da Sociedade Torre de Vigia estava agora fechado, e só os mortos e feridos foram deixados para trás.


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