Debate Entre Norman Geisler e Farrell Till

Primeiro Discurso de Farrell Till

Farrell Till


Tal como o Dr. Geisler, quero expressar o meu apreço pela oportunidade de estar aqui. Considero sempre um privilégio falar de assuntos como o assunto sob discussão esta noite, e certamente desejo agradecer àqueles que organizaram este evento por me terem pedido para participar. Ao mesmo tempo, penso que também tenho de tomar apenas um momento para expressar o meu desapontamento. Quando fui inicialmente contatado para vir aqui, pensei que iríamos ter um debate. O Dr. Geisler insistiu no formato que estamos a usar. Haverá uma hora de tempo para falar, mas como é que alguém pode cobrir um assunto como este em apenas uma hora? Eu pedi-lhe encarecidamente na correspondência que reconsiderasse um aumento no tempo para falar; ele rejeitou isso. Pedi-lhe que ao menos permitisse um período de contra-interrogatório no qual eu o pudesse questionar diretamente e ele me pudesse questionar diretamente, e ele também rejeitou isso e finalmente escreveu-me uma nota breve que dizia: "Faça-o da maneira que eu delineei ou não haverá debate." Eu queria muito fazê-lo vir aqui, e depois de ter ouvido o discurso dele, penso que tomei a decisão correta. Eu queria muito fazê-lo vir aqui perante uma audiência e por isso concordei finalmente com as condições dele e aqui estamos nós esta noite.

Penso que se fizer três contra-argumentos, poderei responder a tudo o que o Dr. Geisler disse e responder de forma satisfatória. Por um momento fiquei confuso; pensei que era suposto o assunto ser uma discussão sobre a exatidão dos registros do Novo Testamento. Suponhamos que o Novo Testamento foi copiado com 100% de exatidão. Isso não provaria de maneira nenhuma que qualquer coisa que foi escrita nele é necessariamente verdadeira.

A primeira grande falha que eu gostaria de apontar na posição do Dr. Geisler é que a história de Jesus é uma história que era demasiado familiar na época em que começou a ser contada e aplicada a este homem Jesus de Nazaré. Muito antes de Jesus de Nazaré ter alegadamente vivido, deuses-salvadores nascidos de virgens, fazedores de milagres, crucificados, ressuscitados, eram extremamente comuns. Eles floresceram na maior parte das religiões pagãs cridas por pessoas que viveram séculos, séculos e séculos antes de Jesus ter alegadamente vivido. Eu poderia, se o tempo o permitisse, e penso que talvez essa é uma das razões porque ele [Geisler] não quis mais tempo para falarmos; ele não queria ter de lidar com assuntos como este. Eu poderia mencionar salvadores como Krishna, salvadores como Osiris, salvadores como Dionísio, salvadores como Tamuz, que presumivelmente viveram séculos e séculos antes de Jesus de Nazaré alegadamente ter vivido, e eles nasceram de virgens, eles fizeram milagres, eles morreram, a maioria deles através de crucificação, e eles foram ressuscitados dentre os mortos, e os seus seguidores eram zelosos por eles.

Todas as coisas que ele [Geisler] diz sobre Jesus foram ditas muitos, muitos, muitos anos antes de este Jesus alegadamente ter vivido. Não acha isso suspeito, Dr. Geisler? Se eu escrevesse um livro e depois de esse livro ser publicado alguém descobrisse que o enredo, os aspectos principais do enredo, eram os mesmos de um livro que tinha sido escrito há mil anos, o que acharia? Será que suporia que eu tinha chegado independentemente a todos estes aspectos principais do enredo, ou assumiria que de alguma forma eu tinha tomado conhecimento desse trabalho anterior e que tinha feito plágio? Esse é um problema importante que ele [Geisler] vai ter de tratar.

Vou mencionar o nome de um pai da igreja. Ele [Geisler] fez referências aos líderes primitivos da igreja, portanto permitam-me mencionar apenas um, Justino Mártir. Talvez vocês nunca tenham ouvido esse nome, mas garanto-lhes que o Dr. Geisler ouviu-o. Justino Mártir foi um dos chamados pais da igreja, do século II, e escreveu duas apologias nas quais tentou convencer os pagãos da sua geração que era lógico acreditar que Jesus Cristo era o filho de Deus, nascido de uma virgem, e que todas as coisas que estavam sendo pregadas acerca dele eram verosímeis. Na sua primeira apologia, Volume I, capítulo 22, página 69, na edição de Reeves (espero que tenham anotado isto, e se não conseguirem encontrar a edição de Reeves, devem conseguir encontrar outra edição), e olhando para o Volume I, capítulo 22, devem conseguir encontrar isto. Escrevendo diretamente para o imperador da sua geração, Justino Mártir disse isto:

"Ao declararmos que o logos, o primogênito de Deus, o nosso senhor Jesus Cristo, nasceu de uma virgem, sem qualquer mistura humana, nós (cristãos) não dizemos nisto mais do que vós (pagãos) dizeis daqueles a quem chamais filhos de Jove."

Compreendem o que ele está a dizer? Ele está a dizer-lhes: "Ora, por que é que acham tão espantoso nós dizermos que Jesus nasceu de uma virgem quando vós próprios dizeis que há muitos filhos de Jove?" Jove [Júpiter] era um deus importante em que os pagãos daquela geração acreditavam. "Pois não precisais que vos seja dito quantos filhos os escritores mais em voga entre vós atribuem a Jove." Por outras palavras, não preciso de vos dizer quantos são aqueles que os vossos escritores alegam serem realmente filhos de Jove.

"Quanto ao filho de Deus chamado Jesus, não devíamos permitir que ele fosse mais do que um homem, no entanto o título do filho de Deus é muito justificável. Com base no relato da sua sabedoria, considerando que vós (pagãos) adorais o vosso Mercúrio sob o título da palavra e mensageiro de Deus. Quanto a ter ele (Jesus Cristo) nascido de uma virgem, tendes o vosso Perseus para comparar com isso."

É verdade que Justino Mártir estava a falar acerca do nascimento virginal de Jesus, mas ele podia ter dito exatamente a mesma coisa sobre os milagres que Jesus alegadamente realizou. Ele podia ter dito a mesma coisa sobre a sua crucificação, e com certeza poderia ter dito a mesma coisa sobre a sua ressurreição.

Meus caros, quero que parem e pensem seriamente durante um momento. Sei quanto emocionalismo está envolvido nisto, mas por favor entendam isto. Naquela época, deuses-salvadores crucificados, ressuscitados, que tinham nascido de virgens, eram a dez tostões a dúzia. Mateus capítulo 14, versículo 1, vão para casa e leiam, e verão que quando Jesus começou a fazer as suas obras poderosas, Herodes, que tinha ordenado antes disto a execução de João Batista, disse: "Ora, este é João Batista ressuscitado dos mortos." Não vos estou a tentar dizer que Herodes disse necessariamente aquilo, mas o fato de quem quer que escreveu isto no livro de Mateus ter feito uma declaração como essa só mostra como era comum a crença na ressurreição dos mortos naquele tempo. Agora vamos supor que neste ano, quando a época de basebol abrir, um jogador tem um desempenho excepcional, um novato de quem nunca ouvimos falar. Quem é que vai dizer: "Bem, este é Babe Ruth [um jogador famoso de basebol, já falecido] levantado dentre os mortos"? Ou suponhamos que um ditador de um país estrangeiro começa a massacrar o seu povo. Será que alguém vai dizer: "Bem, este é Adolph Hitler levantado dos mortos"? Certamente que ninguém dirá tal coisa, pois hoje somos mais inteligentes do que isso.

O Dr. Geisler tem de enfrentar esta audiência e tem de se esquecer quão exatos foram os escribas quando copiaram o Novo Testamento, e tem de nos provar que quando o Novo Testamento diz que Jesus foi sovado, que isso aconteceu mesmo. Ele tem de nos provar que quando [o Novo Testamento diz que] o seu lado foi furado na cruz, que isso aconteceu mesmo. Onde está a evidência dele em como essas coisas realmente aconteceram? Bem, está num livro; havia 5.000 manuscritos (ou coisa parecida) a circular; o que é que isso prova?

Trouxe comigo um livro [levanta-o e mostra-o à assistência] que talvez alguns de vós pensassem que era uma Bíblia. Não é a Bíblia; é o Livro de Mórmon. Talvez já o tenham visto. Todo o exemplar que vi (e eu também estava a tentar dizer isto na rádio ontem, e fui interrompido antes de poder terminar)... Se repararem no início do Livro de Mórmon, encontrarão uma cópia da declaração que foi assinada por Oliver Cowdery, David Whitmer e Martin Harris, as assim chamadas três testemunhas. Eles testemunharam que viram as placas de ouro nas quais o Livro de Mórmon foi escrito, que lhes pegaram com as suas mãos e que viram Joseph Smith a traduzir [as placas]. Eles viram isto com os seus próprios olhos. Isto não é evidência 'por ouvir outros dizer'.

Dr. Geisler [gesticulando em direção a Geisler], o que é que Maria Madalena alguma vez escreveu? Tem os escritos dela? O que é que Joana, uma das mulheres que foi com ela ao túmulo, alguma vez escreveu? De qualquer modo, quem era ela? O que é que Salomé alguma vez escreveu? Quem são estes 500 irmãos a quem Jesus apareceu? Pode dar-nos os nomes deles? Pode dizer-nos onde isto aconteceu? É evidência 'por ouvir outros dizer'. Não sabem o que é evidência 'por ouvir outros dizer'? Nunca ouviram o juiz Wapner dizer: "Isso é evidência 'por ouvir outros dizer', não é admissível"? É um fato tão rudimentar que até é conhecido no Tribunal do Povo. Evidência 'por ouvir outros dizer' [batendo palmas para ênfase] não é admissível. Mas isto [batendo no Livro de Mórmon] não são rumores. Isto é o testemunho direto de três testemunhas. Por debaixo dele está o testemunho direto e a declaração das oito testemunhas, que disseram que também tiveram as placas nas suas mãos. Só não viram o anjo trazê-las para baixo. Será que o Dr. Geisler acredita que o que está escrito neste livro [levantando o Livro de Mórmon] é verdade? Não! Será que ele acredita no testemunho direto de Oliver Cowdery, David Whitmer e Martin Harris? Não! Garanto-lhes que não acredita. Mas ele acredita na evidência 'por ouvir outros dizer' desta Maria Madalena. Ele acredita na evidência 'por ouvir outros dizer' destes 500 irmãos. Evidência 'por ouvir outros dizer', meus amigos, simplesmente não é admissível, e este é um ponto que ele [Geisler] tem de tratar. Não diremos que esperamos que ele o vai tratar. Quando ele voltar a estar perante esta audiência e não tratar desse assunto, então temos todo o direito de rejeitar tudo o que ele nos disse esta noite.

O segundo defeito na teoria do Dr. Geisler é ser uma alegação extraordinária. Se ele tivesse vindo aqui esta noite e dissesse: "No caminho para aqui, tive um pneu furado", eu acreditaria nisso, será que vocês não acreditariam? Ele parece ser um tipo decente. Eu não teria nenhuma, absolutamente nenhuma razão para não acreditar nele se ele nos tivesse dito que teve um pneu furado no caminho para o debate esta noite. As pessoas têm pneus furados a toda a hora. Mas então e se ele tivesse vindo e dissesse: "Ontem eu estava a conduzir o meu carro e subitamente houve uma luz brilhante, simplesmente faiscou saída do nada, e senti-me puxado para fora do automóvel, e subitamente encontrei-me a bordo de um disco voador, e pequenas criaturas verdes de outro planeta colocaram-me na mesa, e examinaram-me, e depois de acabarem o exame, recambiaram-me de volta para o meu carro e continuei a minha viagem." Quantos de vós acreditariam nisto? Não, vocês não acreditariam, porque é uma alegação extraordinária. Alegações extraordinárias requerem provas extraordinárias. Se alguém entrasse neste auditório e dissesse: "Ontem vi o Elvis Presley", será que vocês acreditariam? Alguém aí levantou a mão. Quem sabe, talvez ele tenha visto o Elvis Presley. Mas vocês com certeza sabem que não acreditariam nisto, porque seria uma alegação extraordinária. Então e se a pessoa dissesse: "Estavam comigo quinhentas pessoas, e nós vimos Elvis Presley." Será que vocês acreditariam nisso? Não, porque é uma alegação extraordinária, e alegações extraordinárias requerem provas extraordinárias. Agora, quero saber o que há de extraordinário no fato de esta história ter sido escrita num livro em que o Dr. Geisler não acredita nem por um momento. No entanto, sabem, este livro é muito mais recente do que aquele no qual ele deposita a sua fé. Este livro nem sequer tem dois séculos. Aquele [gesticulando para uma Bíblia na sua mesa] tem mais de 2.000 anos, parte dele. Se alguém fizer uma alegação extraordinária hoje, ele [Geisler] não acredita nela, mas se alguém fizer uma alegação extraordinária há 2.000 anos, ele declara que esse alguém é um homem inspirado por Deus e que o seu testemunho é de confiança.

Outro problema (e aqui estamos rapidamente a ficar sem tempo), outro problema desta evidência maravilhosa que ele tem é ser contraditória. Já alguma vez leram os relatos da ressurreição nos quatro evangelhos? Se não o fizeram, aconselho-os a que o façam. Peço-lhes que vão para casa esta noite e leiam o capítulo 28 de Mateus e vejam o que Mateus disse, leiam o capítulo 16 de Marcos e vejam o que Marcos disse, leiam o capítulo 24 de Lucas e vejam o que Lucas disse, leiam o capítulo 20 de João e vejam o que João disse, e se não vêem contradições, então é porque não estão a ler de forma suficientemente cuidadosa.

Deixem-me dar-lhes um exemplo de uma contradição flagrante. Esta é suficiente para desacreditar completamente esta evidência confiável de que ele nos estava a falar. Mateus, e também Marcos e Lucas, dizem-nos que Maria Madalena foi ao túmulo no primeiro dia da semana, e enquanto ela estava ali viu um anjo, que tinha rolado a pedra para o lado. Este anjo anunciou que Jesus, a quem elas procuravam, não estava ali, ele tinha sido levantado dentre os mortos. Segundo o relato de Lucas, ele [o anjo] disse: "Não vos lembrais que quando ele estava convosco, ele vos disse que se levantaria dos mortos?" E Lucas disse que quando o anjo lhes disse isto, elas lembraram-se das palavras de Jesus, de que ele seria levantado dentre os mortos. Mas o que é que João nos diz? A propósito, Dr. Geisler, não vai [rindo zombeteiramente] tentar dizer-nos que foi o apóstolo João? Vai chocar de frente com os melhores especialistas do mundo... mas, seja como for, o livro de João diz-nos que Maria Madalena foi ao túmulo, viu que estava vazio, correu para Pedro e o outro discípulo, e que foi que ela disse? Será que disse: "Um anjo disse-me que o Senhor foi levantado dos mortos"? Não, ela disse: "Eles roubaram o corpo do Senhor, e eu não sei onde o colocaram." E no entanto, segundo Mateus, Marcos e Lucas, ela tinha visto um anjo que lhe tinha dito que Jesus fora levantado dos mortos. Lucas disse que ela se lembrava da sua promessa de que ele seria levantado dos mortos, mas João diz que ela correu para os apóstolos e disse que alguém havia roubado o corpo do Senhor, e nós não sabemos onde ele está, e vamos ter de parar porque o meu tempo acabou, e agradeço a vossa atenção. [aplauso]

Norman L. Geisler (Southern Evangelical Seminary)
Farrell Till (Editor, The Skeptical Review)
1994


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