The Gentile Times Reconsidered (Os Tempos dos Gentios Reconsiderados) (Atlanta: Commentary Press, 1998, terceira edição) de Carl Olof Jonsson, pp. 23-71.

Capítulo 1: História de uma Interpretação

Carl Olof Jonsson


Todas as ideias têm um princípio. Contudo, é frequente as pessoas acreditarem numa ideia e desconhecerem por completo os seus antecedentes, origem e desenvolvimento. O facto de ignorarem essa história pode fortalecer a sua convicção de que a ideia é verdadeira, quando na realidade a ideia pode ser falsa. Tal como acontece noutros casos, esta ignorância pode ser um solo fértil para o fanatismo.

É verdade que o conhecimento acerca do desenvolvimento histórico de uma ideia não prova que ela é falsa, mas tal conhecimento permite-nos melhorar o nosso julgamento sobre a sua validade. Um exemplo claro de uma ideia -- neste caso, uma interpretação -- que é obscurecida pela ignorância é um conceito defendido por muitos, a respeito dos "tempos dos Gentios" mencionados por Cristo em Lucas 21:24:

Eles cairão pelo fio da espada e serão levados como cativos entre todas as nações; e Jerusalém será pisada pelos gentios, até os tempos dos Gentios se cumprirem. -- NRSV.

Milhões de pessoas internacionalmente aceitaram a crença de que esta declaração profética aponta de forma definitiva para uma data específica do século vinte e eles até baseiam os seus planos para o presente e as suas esperanças para o futuro nessa crença. Qual é a sua história?

O "princípio ano-dia"

A duração do período chamado "tempos dos Gentios" (traduzido "os tempos designados das nações" na Tradução do Novo Mundo da Sociedade Torre de Vigia) tem sido calculado por alguns expositores, incluindo a Sociedade Torre de Vigia, como sendo 2.520 anos. Este cálculo é


Imagem da revista Awake! [Despertai!] de 8 de Outubro de 1973, página 18.

O cálculo dos "tempos dos Gentios" como sendo um período de 2.520 anos, começando em 607 A.E.C. e terminando em 1914 E.C., é a base cronológica da mensagem apocalíptica pregada mundialmente pela Sociedade Torre de Vigia.

——————————

baseado no assim chamado "princípio ano-dia". Segundo este princípio, em profecias bíblicas relacionadas com o tempo, um dia representa sempre um ano, "exactamente como num mapa uma polegada pode representar cem milhas."1 Na Bíblia existem duas passagens em que períodos proféticos são contados explicitamente dessa forma: Números 14:34 e Ezequiel 4:6.

No primeiro texto, como punição pelos seus erros, os israelitas deviam vaguear pelo deserto durante quarenta anos, medidos segundo o número de dias que os espiões espiaram a terra, quarenta dias, "um dia por um ano."

No segundo texto Ezequiel recebeu a ordem de se deitar sobre o seu lado esquerdo durante 390 dias e sobre o seu lado direito durante 40 dias, carregando de forma profética os erros de Israel e Judá cometidos durante tantos anos quantos esses dias, "um dia por um ano."

Deve-se notar, contudo, que estas interpretações específicas são-nos dadas pela própria Bíblia. "Um dia por um ano" não é apresentado como um princípio geral de interpretação que também se aplica a outros períodos proféticos.

O desenvolvimento do conceito de que o princípio "um dia por um ano" pode de facto ser aplicado a qualquer profecia bíblica envolvendo tempo, tem uma longa história. O modo sempre diferente como o princípio tem sido aplicado ao longo dessa história certamente revela algo quanto à sua fiabilidade.

O uso do "princípio ano-dia" por estudiosos judeus

Os rabis judeus foram os primeiros a aplicar este modo de contar o tempo profético noutros casos além dos dois já citados, e eles fizeram-no com as "setenta semanas" de Daniel 9:24-27. O versículo 24 declara: "Setenta semanas foram determinadas sobre o teu povo e sobre a tua cidade santa, para acabar com a transgressão e encerrar o pecado, e para fazer expiação pelo erro, e para introduzir justiça por tempos indefinidos, e para apor um selo à visão e ao profeta e para ungir o Santo dos Santos."2

Apesar disto, a aplicação "ano-dia" só foi apresentada como um princípio geral no primeiro século E.C., pelo famoso rabi, Akibah ben Joseph (c. 50-132 E.C.).3

Passaram centenas de anos e foi só no início do nono século que vários rabis judeus começaram a estender o princípio ano-dia a outros períodos de tempo no livro de Daniel. Estes incluíam as 2.300 "noitinhas e manhãs" de Daniel 8:14, e os 1.290 dias e 1.335 dias de Daniel 12:11, 12, sendo que todos estes textos eram encarados como tendo implicações messiânicas.

O primeiro destes rabis, Nahawendi, considerava as 2.300 "noitinhas e manhãs" de Daniel 8:14 como sendo anos, contando-os desde a destruição de Siló (calculada por ele como sendo 942 A.E.C.) até ao ano 1358 E.C. Ele esperava a vinda do Messias nesse ano.4

Em breve outros seguiram Nahawendi, como por exemplo Saadia ben Joseph, do mesmo século, e Solomon ben Jeroham, do décimo século. Este aplicou o princípio ano-dia aos 1.335 dias de Daniel 12:12. Contando desde o tempo de Alexandre o Grande, ele chegou ao ano 968 E.C. como sendo a data para a redenção de Israel.

O famoso rabi, Rashi (1040-1105), dizia que os 2.300 anos-dias terminariam em 1352 E.C., data em que, segundo ele pensava, o messias viria.

Abraham bar Hiyya Hanasi (c. 1065-1136) especulou que os 2.300, os 1.290 e os 1.335 períodos de anos terminariam em diferentes datas no século quinze. Por exemplo, o fim dos 2.300 anos-dias foi fixado em 1468 E.C.5

Até ao século dezanove, muitos outros estudiosos judeus continuavam a usar o princípio ano-dia para fixar datas para a vinda do messias.

Os métodos que os estudiosos rabinos usaram ao aplicar o princípio ano-dia durante esses dez séculos eram variados e as datas a que chegaram eram diferentes. No entanto, seja qual for o método empregue, uma coisa é verdade: nada aconteceu nas datas fixadas para o fim dos períodos considerados.

Já vimos que o princípio ano-dia era relativamente comum entre as fontes judaicas desde há muitos séculos; será que o mesmo se passou entre os expositores bíblicos cristãos?

Ainda mais interessante é saber se a história do uso desse princípio entre a comunidade cristã -- e os resultados obtidos -- demonstram um contraste, ou será que vemos um padrão similar? Qual tem sido o resultado?

O "princípio ano-dia" entre os expositores cristãos

Conforme vimos, o rabi Akibah ben Joseph tinha apresentado o método ano-dia como um princípio logo no primeiro século E.C. Contudo, durante os mil anos seguintes não encontramos nenhuma aplicação do método -- dessa forma, enquanto princípio -- entre os estudiosos cristãos.

É verdade que vários expositores desde o quarto século em diante sugeriram um significado místico ou simbólico para os 1.260 dias de Revelação, mas antes do século XII eles nunca aplicaram a regra ano-dia a esses dias, nem a nenhum outro período de tempo, com a única excepção dos 3 dias e meio de Revelação 11:8. Esse período foi interpretado como sendo 3 anos e meio por vários expositores, o primeiro dos quais foi Victorinus, no quarto século.6 Isto, é claro, está longe de ser uma defesa de uma regra ou princípio ano-dia.

Joachim de Floris (c. 1130-1202), abade do mosteiro cisterciense em Corace, Itália, foi provavelmente o primeiro expositor cristão que aplicou o princípio ano-dia aos vários períodos de tempo de Daniel e de Revelação. Isto foi sublinhado durante o século XIX por Charles Maitland, um opositor destacado dessa ideia, em várias obras e artigos. Por exemplo, ao refutar os que defendiam que os 1.260 dias de Revelação 11:3 eram 1.260 anos, Maitland concluiu, após uma investigação completa, que "nunca se ouviu falar" do sistema dos 1260 anos "até que foi sonhado por um abade inculto em 1190."7

Embora muitos aderentes do princípio ano-dia do século XIX tentassem refutar a declaração de Maitland a respeito da novidade do princípio, todas as suas tentativas falharam. Depois de um exame muito completo de todas as fontes disponíveis, até o mais instruído dos seus oponentes, o Reverendo E. B. Elliott, teve de admitir que "durante os primeiros quatro séculos, os dias mencionados nas profecias de Daniel e de Apocalipse a respeito do Anticristo foram interpretados literalmente como dias, não como anos, pelos Pais da Igreja Cristã."8 Assim, ele teve de concordar com Maitland em como Joachim de Floris foi o primeiro escritor cristão a aplicar o princípio ano-dia aos 1.260 dias de Revelação 11:3, dizendo:

Perto do fim do século XII, Joachim Abbas, conforme acabámos de ver, fez uma primeira tentativa rude nesse sentido: e no século XIV, o wycliffita Walter Brute seguiu-lhe o exemplo.9

Joachim, que provavelmente foi influenciado por rabis judeus, contou os 1.260 "anos-dias" desde o tempo de Cristo e acreditava que terminariam em breve numa "era do Espírito". Embora ele não tenha fixado uma data específica para isto, parece que ele considerava o ano 1260 E.C. como uma possibilidade. Depois da sua morte, esse ano veio "a ser considerado pelos seguidores de Joachim como a data fatal que iniciaria a nova era, de tal forma que quando essa data passou sem qualquer acontecimento reconhecível, alguns deixaram de acreditar de todo nos seus ensinos."10

As obras de Joachim deram início a uma nova tradição de interpretação, na qual o "princípio ano-dia" era a própria base das interpretações proféticas. Durante os séculos seguintes foram fixadas inúmeras datas para o segundo advento de Cristo, sendo a maioria delas construídas com base no princípio ano-dia. No tempo da Reforma (no século XVI), Martinho Lutero e a maioria dos outros reformadores acreditavam nesse princípio, que era largamente aceite entre os estudiosos protestantes até bem dentro do século XIX.

O princípio aplicado aos tempos dos Gentios

Como vimos, Joachim de Floris aplicou o princípio ano-dia aos 1.260 dias de Revelação 11:3. O versículo anterior converte este período em meses, declarando que "as nações ... pisarão a cidade santa por quarenta e dois meses." (Revelação 11:2, TNM) Como esta predição acerca da "cidade santa" é parecida com as palavras de Jesus em Lucas 21:24 de que "Jerusalém será pisoteada pelos Gentios, até que se cumpram os tempos dos Gentios" (NASB), alguns dos seguidores de Joachim pouco tempo depois dele começaram a associar os "tempos dos Gentios" com este período calculado, no qual os 1.260 dias se tornaram 1.260 anos.

Contudo, como eles acreditavam que Revelação 11:2, 3 e 12:6, 14 trata da igreja cristã, Jerusalém ou a "cidade santa" geralmente era interpretada como significando a igreja de Roma.11 Por essa razão, eles pensaram que o período dos "tempos dos Gentios" era o período de aflição da igreja, sendo o fim desta aflição originalmente esperado em 1260 E.C.

Outros, contudo, acreditavam que a "cidade santa" era a cidade literal de Jerusalém. O bem conhecido médico escolástico Arnold of Villanova (c. 1235-1313), identificou os tempos dos Gentios com os 1.290 dias de Daniel 12:11, convertendo estes 1290 dias em 1290 anos. Contando-os desde a remoção dos sacrifícios judeus depois da destruição de Jerusalém pelos romanos em 70 E.C., ele esperava o fim dos tempos dos Gentios no século catorze. As cruzadas ainda estavam a ser realizadas no seu tempo e Arnold associou-as à esperada expiração dos tempos dos Gentios no futuro próximo, argumentando que, a menos que o fim dos tempos dos Gentios estivesse próximo, como poderia o "povo fiel" reconquistar a Terra Santa aos infiéis?12

No fim do século XIV, Walter Brute, um dos seguidores de John Wycliffe em Inglaterra, ofereceu ainda outra interpretação. Segundo ele, os "tempos dos Gentios" eram um período em que a igreja cristã era dominada por ritos e costumes pagãos. Esta apostasia, defendia ele, começou depois da morte do último apóstolo, cerca de 100 E.C. e continuaria durante 1.260 anos. Este período, e também os 1.290 "anos-dias", que ele contava desde a destruição de Jerusalém 30 anos antes (em 70 E.C.), já tinha expirado nos seus dias. Ele escreveu:

Agora, se qualquer homem observar as Chronicles [Crónicas], descobrirá que depois de se completar a destruição de Jerusalém, e depois de a forte mão do povo santo ter sido completamente dispersa, e depois do posicionamento da abominação; ou seja, o Ídolo da Desolação de Jerusalém, dentro do lugar Santo, onde o Templo de Deus estava antes, passaram 1290 dias, tomando um dia por um ano, como é costume nos Profetas. E os tempos dos povos Pagãos estão cumpridos, segundo os Ritos e Costumes de quem Deus permitiu que a Cidade santa fosse pisoteada durante quarenta e dois meses.13

Como os tempos dos Gentios já tinham expirado segundo os seus cálculos, Brute pensou que a segunda vinda de Cristo devia estar iminente.

Mudando constantemente as datas

O tempo passou e deixou para trás as muitas datas apocalípticas fixadas, ficando sem cumprimento as predições a elas ligadas. Nesta altura, contando os 1.260 ou os 1.290 anos desde a destruição de Jerusalém em 70 E.C., ou desde a morte dos apóstolos, já não podia produzir resultados significativos. Por isso, o ponto de partida teve de ser mudado para a frente, para uma data posterior.

Grupos perseguidos e rotulados de heréticos pela igreja romana em breve começaram a identificar os 'Gentios pisoteadores' com o papado de Roma. Estes grupos perseguidos geralmente viam-se a si mesmos como "a verdadeira igreja" -- representada em Revelação 12 como uma mulher que teve de fugir para "o ermo" durante "mil duzentos e sessenta dias," o período em que a Jerusalém espiritual é pisoteada. (Revelação 12:6, 14) Esta interpretação permitia-lhes agora avançar o ponto de partida, do primeiro século para uma data algures no quarto século, quando se deu o aumento da autoridade por parte da igreja romana.

Esta interpretação "ajustada" era muito comum entre os Reformadores. John Napier (1550-1617), o distinto matemático e estudante de profecias escocês, começou o período em cerca 300 ou 316 E.C., e apresentou o fim dos tempos dos Gentios na segunda metade do século dezasseis.14

O tempo foi passando e o ponto de partida foi mais uma vez movido para a frente, desta vez para o sexto ou sétimo séculos, o período em que os papas tinham realmente alcançado uma posição de poder. George Bell, por exemplo, escrevendo na Evangelical Magazine [Revista Evangélica] de Londres, em 1796, contou os 1.260 anos desde 537 ou desde 553 E.C., e predisse a queda do Anticristo (o Papa) em "1797 ou 1813."15 A respeito dos 1.260 dias, Bell diz:

A cidade santa será pisoteada pelos Gentios, ou Papistas, que, embora sejam cristãos de nome, são Gentios na adoração e na prática; adorando anjos, santos e imagens e perseguindo os seguidores de Cristo. Estes Gentios removem o sacrifício diário e estabelecem a abominação que torna desolada a igreja visível de Cristo durante o período de 1260 anos.16

Isto foi escrito em 1795, no meio da Revolução Francesa. Pouco tempo depois o Papa foi feito prisioneiro pelas tropas francesas e foi forçado a ir para o exílio (em Fevereiro de 1798). É muito interessante que estes eventos espantosos em França e Itália tenham sido até certo ponto "preditos" com quase um século de antecedência por vários expositores, dos quais o mais conhecido era o pastor escocês, Robert Fleming, Jr. (c. 1660-1716).17 Certamente, na opinião de muitos, estes importantes eventos históricos tinham confirmado a correcção das suas predições! Devido a isto, o ano 1798 foi logo em seguida defendido entre os comentadores bíblicos como sendo a data em que terminavam os 1.260 anos.

Esta interpretação -- com algumas diferenças de pormenor -- também foi adoptada por Charles Taze Russell e pelos seus seguidores. E ainda é prevalecente entre os Adventistas do Sétimo Dia.

Convulsões políticas e sociais alimentam as especulações proféticas

A Revolução Francesa de 1789-1799 teve um impacto extraordinário que se estendeu muito para além das fronteiras francesas. A seguir à remoção violenta da monarquia francesa e à proclamação da República em 1792, novos líderes extremistas não apenas provocaram um período de terror e caos na própria França, mas também inauguraram um período quase ininterrupto de guerras de conquista, que durou até 1815, quando o Imperador Napoleão foi derrotado em Waterloo. As consequências caóticas da Revolução na Europa e noutras partes do mundo excitaram interesse intensificado no estudo profético, especialmente porque algumas destas convulsões tinham sido parcialmente preditas por expositores das profecias.

Os historiadores reconhecem que a Revolução Francesa marca um destacado ponto de viragem na história mundial. Pôs termo a uma longa era de relativa estabilidade na Europa, desenraizando a ordem estabelecida e mudando profundamente o pensamento político e religioso.

Comparando as guerras da Revolução Francesa e de Napoleão Bonaparte com a anterior Guerra dos Trinta Anos (1618-1648) e a posterior Primeira Guerra Mundial (1914-1918), o historiador Robert Gilpin diz sobre estas três guerras que "cada uma delas foi uma guerra mundial envolvendo quase todos os estados do sistema [internacional] e, pelo menos retrospectivamente, pode ser considerada como tendo constituído um destacado ponto de viragem na história humana."18

Outro historiador bem conhecido, R. R. Palmer, ao discutir o papel preponderante da Revolução Francesa na história moderna, diz:

Mesmo hoje, a meio do século vinte, não obstante tudo o que tem acontecido contemporaneamente a homens que ainda não são velhos, e até ... na América ou em qualquer outra parte de um mundo no qual os países da Europa já não gozam da sua anterior posição de liderança, ainda é possível dizer que a Revolução Francesa no fim do século dezoito foi o grande ponto de viragem da civilização moderna.19

O resultante desenraizamento de instituições políticas e sociais europeias muito antigas levou muitos a acreditar que estavam mesmo a viver nos últimos dias. Homens de muitos estratos sociais -- ministros, políticos, advogados e leigos -- envolveram-se em estudos das profecias. Foi produzido um volumoso corpo de literatura sobre as profecias, surgiram muitos periódicos proféticos e foram realizadas conferências proféticas em ambos os lados do Atlântico.

O reavivamento apocalíptico começou na Inglaterra, mas depressa se espalhou para o Continente e para os Estados Unidos da América, onde, neste caso, culminou no bem conhecido movimento Millerita. Baseadas nas interpretações de Daniel 8:14, as predições agora desenvolvidas apontavam em geral para 1843, 1844 ou 1847 como sendo o tempo do segundo advento de Cristo.

Foi nesta atmosfera febril que uma nova interpretação dos tempos dos Gentios nasceu, na qual, pela primeira vez, o número 1.260 anos, muitas vezes usado, foi dobrado para 2.520 anos.

A tabela apresentada na página seguinte mostra os resultados que o método "ano-dia" de contar períodos de tempo proféticos produziu ao longo de um período de sete séculos. Embora quase todos os trinta e seis estudiosos e expositores proféticos da lista estivessem a trabalhar a partir do mesmo texto básico das Escrituras que se refere a 1.260 dias, muito raramente concordaram com os mesmos pontos inicial e final para o cumprimento do período. As datas finais para os tempos dos Gentios estabelecidas por eles ou pelos seus seguidores vão desde 1260 E.C. até 2016 E.C. No entanto, todos eles apresentaram o que lhes pareciam ser razões convincentes para chegar às suas datas. Quais foram os resultados de se ter dobrado o número em relação com a declaração de Jesus a respeito dos "tempos dos Gentios"?

John Aquila Brown

Na longa história da especulação profética, John Aquila Brown, de Inglaterra, desempenha um papel notável. Embora até agora não se tenha descoberto qualquer informação biográfica sobre Brown, ele influenciou fortemente o pensamento apocalíptico do seu tempo. Ele foi o primeiro expositor que aplicou os supostos 2.300 anos-dias de Daniel 8:14 de forma que terminassem em 1843 (data mudada mais tarde para 1844).20

TABELA 1: AS MÚLTIPLAS E VARIADAS APLICAÇÕES DOS 1.260 ANOS
Expositor Data da
Publicação
Aplicação (todas
as datas são E.C.)
Observações
Joachim of Floris 1195     1-1260
Arnold of Villanova 1300 c.74-1364 Tempos dos Gentios = 1290 anos
Walter Brute 1393 134-1394
Martinho Lutero 1530   38-1328 Tempos dos Gentios = 1290 anos
A. Osiander 1545 412-1672
J. Funck 1558 261-1521
G. Nigrinus 1570 441-1701
Aretius 1573 312-1572
John Napier 1593 316-1576
D. Pareus 1618 606-1866
J. Tillinghast 1655 396-1656
J. Artopaeus 1665 260-1520
Cocceius 1669 292-1552
T. Beverley 1684 437-1697
P. Jurieu 1687 454-1714
R. Fleming, Jr. 1701 552-1794 1260 anos de 360 dias
R. Fleming, Jr. 1701 606-1848 = 1242 anos julianos
William Whiston 1706 606-1866
Daubuz 1720 476-1736
J. Ph. Petri 1768 587-1847
Lowman 1770 756-2016
John Gill 1776 606-1866
Hans Wood 1787 620-1880
J. Bicheno 1793 593-1789
A. Fraser 1795 756-1998 1242 anos julianos
George Bell 1796 537-1797
George Bell 1796 553-1813
Edward King 1798 538-1798
Galloway 1802 606-1849 1242 anos julianos
W. Hales 1803 620-1880
G. S. Faber 1806 606-1866
W. Cuninghame 1813 533-1792
J. H. Frere 1815 533-1792
Lewis Way 1818 531-1791
W. C. Davis 1818 588-1848
J. Bayford 1820 529-1789
John Fry 1822 537-1797
John Aquila Brown 1823 622-1844 1260 anos lunares
A tabela apresenta uma amostra das muitas aplicações diferentes dos 1.260 e 1.290 "anos-dias", desde Joachim of Floris em 1195 até John Aquila Brown em 1823. Teria sido fácil alargar a tabela para incluir expositores posteriores a Brown. Contudo, a tabela acaba nele pois neste tempo começou a surgir outra interpretação dos tempos dos Gentios, na qual os 1.260 anos eram dobrados para 2.520 anos.

[imagem]
O livro de John Aquila Brown, The Even-Tide [A Noite] (Londres, 1823), no qual os "sete tempos"
de Daniel 4 foram pela primeira vez explicados como sendo 2.520 anos.

Esta tornou-se uma data chave para o movimento do Segundo Adventismo.21 Ele foi também o primeiro que chegou a um período profético de 2.520 anos.

O cálculo de Brown dos 2.520 anos era baseado na sua exposição dos "sete tempos" mencionados no sonho de Nabucodonosor sobre a árvore cortada, em Daniel, capítulo 4. Foi publicado pela primeira vez em 1823 no seu trabalho em dois volumes The Even-Tide; or, Last Triumph of the Blesses and Only Potentate, the King of Kings, and Lord of Lords [A Noite; ou, Último Triunfo do Abençoado e Único Potentado, o Rei dos Reis, e Senhor dos Senhores].22 Ele declara especificamente que foi o primeiro a escrever sobre o assunto:

Embora tenham sido escritos muitos volumes extensos e sábios sobre assuntos proféticos durante a sucessão das eras; ainda assim, nunca tendo vista o assunto, sobre o qual estou prestes a oferecer algumas observações, abordado por qualquer autor, eu recomendo-o à atenção do leitor, não duvidando, mas com forte confiança de que ainda serão encontrados mais elementos para confirmar a escala dos períodos proféticos, assumidos como base do cumprimento da profecia.23

Na sua interpretação, Brown diferia de outros expositores posteriores ao não associar os "sete tempos" do sonho de Nabucodonosor com os "sete tempos" da punição profética contra Israel, em Levítico 26:12-28. "Nabucodonosor foi um tipo", escreveu Brown, "dos três reinos sucessivos que hão-de surgir." Sobre os "sete tempos," ou anos, de aflição de Nabucodonosor, ele disse:

[Estes] seriam, portanto, considerados como uma grande semana de anos, formando um período de dois mil quinhentos e vinte anos, e abrangendo a duração das quatro monarquias tirânicas; no fim do qual eles aprenderão, tal como Nabucodonosor, na "época e tempo" dos dois julgamentos, que "o Altíssimo governa o reino dos homens, e dá-o a quem quiser."

Brown calculou os 2.520 anos desde o primeiro ano de Nabucodonosor, 604 A.E.C., até ao ano 1917, quando "a glória plena do reino de Israel será completada."24

O próprio Brown não associou este período com os tempos dos Gentios de Lucas 21:24. Ainda assim, o cálculo dele para os 2.520 anos, e o facto de os ter baseado em Daniel capítulo 4, desempenharam desde então um papel chave em algumas interpretações modernas desses tempos dos Gentios.

Os 2.520 anos são relacionados com os tempos dos Gentios

Não demorou muito até que outros expositores começassem a identificar o novo cálculo dos 2.520 anos com os "tempos dos Gentios" de Lucas 21:24. Mas, tal como no caso dos 1.260 dias, eles apresentaram resultados diferentes.

Nas Conferências Proféticas de Albury Park (realizadas anualmente em Albury, perto de Guildford, sul de Londres, Inglaterra, desde 1826 até 1830), um dos tópicos considerados foi os "tempos dos Gentios." Desde as primeiras discussões em 1826, os "tempos dos Gentios" foram relacionados com os 2.520 anos por William Cuninghame. Ele escolheu como ponto de partida o ano em que as dez tribos foram levadas ao cativeiro por Salmaneser (728 A.E.C., segundo os seus cálculos), chegando assim à data 1792 E.C. para o término dos tempos dos Gentios, data que nesse tempo já tinha passado.25

[imagem]

Em cima: A residência Albury Park, perto de Guildford, sul de Londres, local das Conferências Proféticas de Albury Park, 1826-1830. Nestas conferências foram desenvolvidas certas ideias que 50 anos mais tarde se tornariam partes centrais da mensagem da Sociedade Torre de Vigia, nomeadamente, os tempos dos Gentios como um período de 2.520 anos e a ideia da segunda vinda de Cristo como sendo uma presença invisível.
Em baixo: Henry Drummond, proprietário de Albury Park e anfitrião das conferências, que também publicou relatórios anuais das discussões (Dialogues on Prophecy) [Diálogos Sobre Profecias].

Muitos comentadores bíblicos contaram os "sete tempos dos Gentios" a partir do cativeiro de Manassés, que datavam em 677 A.E.C. Obviamente, faziam isto para que os tempos dos Gentios terminassem na data que fora previamente atribuída aos 2.300 dias-anos, ou seja, em 1843 ou 1844.26 Em 1835, William W. Pym publicou o seu trabalho A Word of Warning in the Last Days [Uma Palavra de Aviso nos Últimos Dias], no qual dizia que os "sete tempos" terminavam em 1847. Curiosamente, ele constrói o seu cálculo dos 2.520 anos dos tempos dos Gentios com base nos "sete tempos" mencionados em Levítico 26 bem como nos "sete tempos" de Daniel 4:

Por outras palavras, os julgamentos que Moisés usou como ameaça, que deviam decorrer durante os sete tempos, ou 2520 anos; e os julgamentos revelados a Daniel, que deviam terminar pela purificação do santuário depois de uma porção do grande número 2520.27

Outros, porém, aguardavam ansiosamente 1836 E.C., ano fixado em bases completamente diferentes pelo teólogo alemão J. A. Bengel (1687-1752), e tentaram terminar os "sete tempos" no mesmo ano.28

Ilustrando o estado de mudanças constantes existente, Edward Bickersteth (1786-1850), reitor evangélico de Watton, Hartfordshire, tentou diferentes pontos de partida para os "sete tempos dos Gentios," apresentando três datas finais diferentes:

Se contarmos o cativeiro de Israel desde 727 antes de Cristo, o primeiro cativeiro de Israel sob Salmaneser, terminaria em 1793, quando a revolução Francesa eclodiu: e se [contarmos o cativeiro de Israel desde] 677 antes de Cristo, o cativeiro sob Esar-Hadom (o mesmo período em que Manassés, rei de Judá, foi levado ao cativeiro,) (2 Reis xvii.23, 24. 2 Crón. xxxiii. 11,) terminaria em 1843: ou, se contarmos desde 602 antes de Cristo, que foi o destronamento final de Jeoiaquim por Nabucodonosor, terminaria em 1918. Todos estes períodos podem ter uma referência a eventos correspondentes no seu término, e são dignos de séria atenção.29

Um dos milenaristas mais bem conhecidos e mais sábios do século XIX foi Edward Bishop Elliott (1793-1875), responsável pela Mark's Church [Igreja de Marcos], em Brighton, Inglaterra. É ele que menciona pela primeira vez a data 1914. No seu monumental tratado Horæ Apocalypticæ [Horas com o Apocalipse] ele contou pela primeira vez os 2.520 anos desde 727 A.E.C. até 1793 E.C., mas acrescentou:

É claro que, se for calculado desde a própria ascensão de Nabucodonosor e invasão de Judá, em 606 A.C., o fim será muito mais tarde, em 1914 A.D.; apenas meio século, ou período do jubileu, [depois] da nossa data provável para a abertura do Milénio [que ele fixara em "cerca de 1862 A.D."].30

Um factor que deve ser observado aqui é que na cronologia de Elliott, 606 A.E.C. era o ano de ascensão de Nabucodonosor, enquanto na cronologia posterior de Nelson H. Barbour e Charles T. Russell, 606 A.E.C. era a data atribuída à destruição de Jerusalém por Nabucodonosor no seu 18.º ano.

O movimento Millerita

As principais obras inglesas sobre profecias foram novamente publicadas nos Estados Unidos de forma extensiva e influenciaram fortemente muitos escritores americanos sobre o assunto. Entre estes estava o bem conhecido pregador baptista William Miller e os seus associados, que apontavam para 1843 como sendo a data da segunda vinda de Cristo. Estima-se que pelo menos 50.000 e talvez até 200.000 pessoas abraçaram os pontos de vista de Miller.31

Praticamente todas as posições que eles defendiam sobre as várias profecias tinham sido ensinadas por outros expositores passados ou contemporâneos. Miller estava simplesmente a seguir outros quando terminava os "tempos dos Gentios" em 1843. Na Primeira Conferência Geral, realizada em Boston, Massachusetts, em 14 e 15 de Outubro de 1840, um dos discursos de Miller versava sobre a cronologia bíblica. Ele dizia que os "sete tempos," ou 2.520 anos, decorriam desde 677 A.E.C. até 1843 E.C.32 A segunda vinda de Cristo era esperada o mais tardar em 1844.

[imagem]

Horæ Apocalypticæ [Horas com o Apocalipse], Vol. III (1844), de E. B. Elliott

E. B. Elliott foi muito provavelmente o primeiro expositor a contar os "tempos dos Gentios" desde 606 A.E.C. até 1914 E.C. Deve-se notar, porém, que na sua cronologia o ponto de partida, 606 A.E.C., era o ano de ascensão de Nabucodonosor, enquanto na cronologia de Barbour e Russell este era o décimo oitavo ano do reinado de Nabucodonosor. Portanto, as suas cronologias eram conflitantes, embora acidentalmente as datas coincidissem.

[imagem]

A tabela "1843"

usada por William Miller (destaque) e pelos seus associados ao apresentarem a mensagem sobre 1843. Miller apresentou quinze "provas" separadas em apoio da sua data 1843, a maioria das quais eram cálculos baseados nos vários períodos de anos-dias, incluindo os 2300 e os 2520 anos-dias.

A data predita durante tanto tempo e por tantas pessoas, com suposto apoio bíblico, passou sem que nada acontecesse para satisfazer as expectativas nela baseadas.

Depois do "Grande Desapontamento" de 1844, alguns, e entre eles o próprio Miller, confessaram abertamente que o tempo era um erro.33 Outros, contudo, insistiram que o tempo em si estava certo, mas o evento esperado estava errado. Expressando o que se tem tornado uma justificação familiar, eles tinham esperado "a coisa errada no tempo certo."

Esta posição foi tomada por um grupo que mais tarde veio a ser conhecido como Adventistas do Sétimo Dia. Eles declaravam que Jesus, em vez de descer à terra em 1844, entrou no lugar mais sagrado do santuário celestial como sumo sacerdote da Humanidade, para introduzir o dia de expiação antitípico.34 Este grupo, que se separou dos outros elementos do "Segundo Adventismo" no final da década de 1840, provocou a primeira grande divisão no seio do movimento original.

Alguns líderes Milleritas que também defendiam a data 1844 -- entre eles Apollos Hale, Joseph Turner, Samuel Snow, e Barnett Matthias -- afirmavam que Jesus tinha de facto vindo como Noivo em 1844, embora espiritual e invisivelmente, "não descendo pessoalmente do céu, mas tomando o trono espiritualmente." Em 1844, diziam eles, o "reino deste mundo" tinha sido dado a Cristo.35

Ramos dissidentes do movimento Millerita

Assim, depois de 1844, o movimento Millerita do "Segundo Advento" fragmentou-se gradualmente em vários grupos Adventistas.36 Começou a aparecer uma proliferação de novas datas: 1845, 1846, 1847, 1850, 1851, 1852, 1853, 1854, 1866, 1867, 1868, 1870, 1873, 1875, etc., e estas datas, cada uma tendo os seus promotores e aderentes, contribuíram para uma fragmentação ainda maior. Um líder do Segundo Adventismo, Jonathan Cummings, declarou em 1852 que tinha recebido um "nova luz" sobre a cronologia, e que se devia esperar o segundo advento em 1854. Muitos Milleritas juntaram-se a Cummings e, em Janeiro de 1854, começaram um novo periódico, o World Crisis [Crise do Mundo], em defesa da nova data.37

Outros factores além das datas começaram a desempenhar um papel na composição do movimento do Segundo Advento. Desde então até hoje, esses factores são aspectos distintivos de vários movimentos que se desenvolveram a partir do Segundo Adventismo, incluindo a Igreja Adventista do Sétimo Dia, as Testemunhas de Jeová e certas denominações da Igreja de Deus. Estes factores incluem a doutrina da imortalidade condicional -- não inerente -- da alma, com a consequente doutrina de que o destino final daqueles que são rejeitados por Deus é a destruição ou o aniquilamento, não o tormento consciente. A crença trinitarista também se tornou num problema entre alguns sectores do Segundo Adventismo. (Para mais detalhes sobre estes desenvolvimentos e o seu efeito em contribuir para a divisão entre os ramos dissidentes dos movimentos Milleritas, veja o Apêndice para o Capítulo 1.)

A maior parte destes desenvolvimentos já tinham ocorrido quando Charles Taze Russell, ainda na sua adolescência, começou a formar um grupo de estudo da Bíblia em Allegheny, Pennsylvania. Desde o fim da década de 1860 em diante, Russell entrou cada vez mais em contacto com alguns dos grupos do Segundo Adventismo que se desenvolveram. Ele estabeleceu relações próximas com alguns dos seus ministros e leu alguns dos seus jornais, incluindo o Bible Examiner [Examinador da Bíblia] de George Storrs. Gradualmente, Russell e os seus associados adoptaram muitos dos ensinos centrais desses grupos, incluindo as suas posições condicionalistas e anti-trinitaristas e a maior parte das suas opiniões sobre a "era vindoura." Finalmente, em 1876, Russell também adoptou uma versão revista do seu sistema cronológico, que implicava que os 2.520 anos dos tempos dos Gentios expirariam em 1914. Portanto, em todos os aspectos essenciais, o movimento dos Estudantes da Bíblia de Russell pode ser descrito como mais um ramo dissidente do movimento Millerita.

Qual foi então a fonte mais directa do sistema cronológico que Russell, o fundador do movimento da Watch Tower [Torre de Vigia], adoptou, incluindo não apenas o período de 2.520 anos para os tempos dos Gentios e o seu término em 1914, mas também o ano 1874 para o início de uma presença invisível de Cristo? Essa fonte era um homem chamado Nelson H. Barbour.

Nelson H. Barbour

Nelson H. Barbour nasceu perto de Auburn, Nova Iorque, em 1824. Ele juntou-se ao movimento Millerita em 1843, aos 19 anos de idade. Ele "perdeu a sua religião" completamente depois do "Grande Desapontamento" de 1844 e foi para a Austrália, onde se tornou mineiro durante a febre do ouro ali.38 Depois, em 1859, regressou à América passando por Londres, Inglaterra. Numa retrospectiva, Barbour diz como é que o seu interesse nos períodos de tempo proféticos foi novamente estimulado durante esta viagem:

O navio deixou a Austrália com um irmão adventista a bordo [o próprio Barbour], que perdera a sua religião e estivera durante muitos anos em escuridão total. Para passar o tempo de uma viagem longa e monótona por mar, [um] capelão inglês propôs uma leitura sistemática das profecias; com o que o irmão concordou prontamente; por ter sido um Millerita em anos anteriores, ele sabia muito bem que existiam argumentos que deixariam o capelão perplexo, embora já tivesse passado algum tempo.39

Durante esta leitura Barbour pensou que descobrira o erro crucial na contagem de Miller. Por que é que Miller começara os 1.260 "anos-dias" de Revelação capítulo 11 em 538 E.C. e começara os 1.290 e os 1.335 anos-dias de Daniel 12 trinta anos mais tarde, em 508 E.C.? Não deviam os três períodos começar na mesma data? Se assim fosse, os 1.290 anos terminariam em 1828 e os 1.335 anos terminariam -- não em 1843, mas sim -- em 1873. "Ao chegar a Londres [em 1860], ele foi à biblioteca do Museu Britânico e, entre muitas outras obras extensas sobre as profecias, encontrou Horæ Apocalypticæ [Horas Com o Apocalipse], de Elliott, na qual existia uma tabela, "The Scripture Chronology of the World" [A Cronologia do Mundo Segundo as Escrituras], preparada pelo seu amigo, o Reverendo Christopher Bowen. A tabela mostrava que 5.979 anos desde a criação do homem terminavam em 1851.40 Adicionando 21 anos aos 5.979 anos, Barbour descobriu que 6.000 anos terminariam em 1873. Ele encarou isto como uma confirmação notável e encorajadora do seu próprio cálculo do período de 1.335 anos.

Ao regressar aos Estados Unidos, Barbour tentou interessar outros Segundo Adventistas na sua nova data para a vinda do Senhor. De 1868 em diante ele começou a pregar e a publicar as suas descobertas. Foram publicados vários artigos sobre cronologia no World's Crisis [Crise do Mundo] e no Advent Christian Times [Tempos do Advento Cristão], os dois principais jornais da Advent Christian Association [Associação Cristã do Advento]. Em 1870 ele também publicou o folheto de 100 páginas Evidences for the Coming of the Lord in 1873; or the Midnight Cry [Evidências em Apoio da Vinda do Senhor em 1873; ou o Grito da Meia-noite], cuja segunda edição foi citada acima.41 Em 1873 ele iniciou uma publicação mensal de sua autoria, intitulada The Midnight Cry, and Herald of the Morning [O Grito da Meia-noite, e Arauto da Manhã], cuja circulação ascendeu a 15.000 cópias em três meses.42 Quando o 'ano alvo' de 1873 estava quase a terminar, Barbour adiou o tempo do segundo advento para o Outono de 1874.43 Mas quando também esse ano passou, Barbour e os seus seguidores sentiram uma grande preocupação:

Quando 1874 chegou e não havia qualquer sinal visível de Jesus nas nuvens literais e numa forma carnal, houve um re-exame geral de todos os argumentos com base nos quais o 'Grito da Meia-noite' fora feito. E quando não se conseguiu encontrar qualquer falha ou defeito, isto levou a um exame crítico das Escrituras que pareciam comentar a maneira da volta de Cristo, e em breve se descobriu que era um erro esperar a segunda vinda de Jesus na carne....44

Uma "presença invisível"

Um dos leitores do Midnight Cry [Grito da Meia-noite], B. W. Keith (que mais tarde escreveria para a Zion's Watch Tower [Torre de Vigia de Sião]),

... tinha estado a ler cuidadosamente o capítulo xxiv de Mateus, usando a 'Emphatic Diaglott', uma nova tradução palavra por palavra do Novo Testamento, muito exacta [traduzida e publicada por Benjamin Wilson em 1864]; quando chegou aos versículos 37 e 39 ficou muito surpreendido ao descobrir que o texto diz o seguinte: 'Pois assim como foram os dias de Noé, assim será a presença do filho do homem'.

Keith descobriu assim a palavra grega parousia, geralmente traduzida por "vinda," aqui traduzida por "presença." Uma ideia muito difundida entre os expositores neste tempo era que a segunda vinda de Cristo ocorreria em duas fases, a primeira das quais seria invisível.45 Seria possível que Jesus já tivesse vindo no Outono de 1874, mas invisível, e estivesse invisivelmente presente desde então?

Para Barbour, esta explicação não só parecia atractiva, mas como ele e os seus associados não conseguiam encontrar falhas nos cálculos, também viram nela a solução para o seu problema. A data estava certa, embora as suas expectativas tivessem sido erradas.

Mais uma vez, isto foi visto como um caso de ter esperado "a coisa errada no tempo certo":

Era assim evidente que embora a maneira na qual eles tinham esperado Jesus estivesse errada, ainda assim o tempo, conforme indicado pelo Midnight Cry [Grito da Meia-noite], estava correcto, e o Noivo viera no Outono de 1874....46

Contudo, a maioria dos leitores da revista Midnight Cry, and Herald of the Morning [Grito da Meia-noite, e Arauto da Manhã] não podiam aceitar esta explicação, e os 15.000 leitores rapidamente "diminuíram para cerca de 200." O próprio Barbour estava convencido de que a manhã milenar já tinha começado a clarear numa aurora, e por isso pensava que Midnight Cry [Grito da Meia-noite] já não era um título apropriado para o seu jornal. Ele observou: "Será que alguém me pode informar como é que se pode dar um 'Grito da Meia-noite' de manhã?"47 O jornal, que cessara de ser publicado em Outubro de 1874, foi assim recomeçado em Junho de 1875 como Herald of the Morning [Arauto da Manhã], dispensando assim a primeira parte do título anterior.

Num dos primeiros números (Setembro de 1875), Barbour publicou o seu cálculo dos tempos dos Gentios, terminando-os em 1914 E.C.48 (Veja a próxima página.)

Charles Taze Russell

Em 1870, enquanto jovem homem de negócios de 18 anos em Allegheny, Pennsylvania, Charles Taze Russell, junto com o seu pai Joseph e alguns amigos, formou uma classe para estudo da Bíblia.49 O grupo foi formado em resultado dos contactos de Russell com alguns dos ex-Milleritas mencionados anteriormente, especialmente Jonas Wendell, George Storrs e George Stetson.

[imagem]

Herald of the Morning [Arauto da Manhã] de Setembro de 1875
no qual N. H. Barbour publicou pela primeira vez o ano 1914 como sendo o fim dos 2.520 anos

Wendell, um pregador da Advent Christian Church [Igreja Cristã do Advento] de Edenboro, Pennsylvania, visitara Allegheny em 1869, e por acaso Russell foi a uma das suas reuniões e ficou fortemente impressionado pelo criticismo de Wendell sobre a doutrina do inferno de fogo. Russell tinha sido criado como calvinista, mas rompera recentemente com a sua herança religiosa porque tinha dúvidas quanto às doutrinas da predestinação e do inferno de fogo. Ele estava numa séria crise religiosa nesta altura e até questionava se a Bíblia era realmente a palavra de Deus. A sua reunião com Wendell e a sua leitura posterior da revista de Storrs, a Bible Examiner [Examinador da Bíblia], restaurou a sua fé na Bíblia. Os artigos publicados nesta revista parecem ter sido discutidos regularmente no grupo de estudo de Russell.

Embora Russell soubesse que alguns adventistas, incluindo Jonas Wendell, esperavam a vinda de Cristo em 1873, ele próprio rejeitou todo o conceito do estabelecimento de tempos e fixação de datas. Depois, em 1876, ele começou a alterar a sua posição:

Foi cerca de Janeiro de 1876 que a minha atenção foi especialmente atraída para o assunto do tempo profético, e a forma como se relaciona com estas doutrinas e esperanças. Aconteceu da seguinte forma: Recebi um jornal intitulado The Herald of the Morning [O Arauto da Manhã], enviado pelo seu editor, o Sr. N. H. Barbour.50

Russell diz que ficou surpreso ao descobrir que o grupo de Barbour chegara à mesma conclusão que o seu próprio grupo no que diz respeito à maneira da volta de Cristo -- seria "como o ladrão, e não na carne, mas como ser espiritual, invisível aos homens."

Russell escreveu imediatamente a Barbour a respeito da cronologia, e mais tarde nesse ano de 1876 fez arranjos para se encontrar com ele em Filadélfia, onde Russell tinha encontros de negócios nesse Verão. Russell queria que Barbour lhe mostrasse, "se fosse capaz, que as profecias indicavam 1874 como sendo a data na qual a presença do Senhor e 'a colheita' começaram." "Ele veio," diz Russell, "e a evidência satisfez-me."51

É evidente que durante estas reuniões Russell aceitou não só a data 1874 mas também todos os cálculos de tempo de Barbour, incluindo o seu cálculo dos tempos dos Gentios.52 Enquanto ainda estava em Filadélfia, Russell escreveu um artigo intitulado "Gentile Times: When do They End?" [Tempos dos Gentios: Quando Terminam?] que foi publicado no periódico Bible Examiner [Examinador da Bíblia] de George Storrs, na edição de Outubro de 1876. Referindo-se aos "sete tempos" de Levítico 26:27, 33 e Daniel 4, na página 27 do Examiner, ele determina a duração dos tempos dos Gentios como sendo 2.520 anos, que começam em 606 A.E.C. e terminariam em 1914 E.C. -- precisamente as mesmas datas a que Barbour tinha chegado e que começara a publicar um ano antes, em 1875.

Antecipando 1914

O que significaria, exactamente, o fim dos "tempos dos Gentios" para a Humanidade? Embora se tivesse proclamado que ocorreram em 1874 eventos monumentais relacionados com a vinda de Cristo, disse-se que eram todos invisíveis, ocorrendo no domínio espiritual invisível aos olhos humanos. Será que 1914 e a terminação dos tempos dos Gentios também seriam assim, ou trariam uma mudança visível, tangível, para a terra e para a sociedade humana?

No livro The Time is at Hand [O Tempo Está Iminente], publicado em 1889 (mais tarde mencionado como Volume II dos Studies in the Scriptures [Estudos das Escrituras]), Russell declarou que existia "evidência bíblica provando" que a data 1914 "será o limite extremo do governo dos homens imperfeitos." Quais seriam as consequências disto? Russell enumerou as suas expectativas para 1914 em sete pontos:

Em primeiro lugar, Que nessa data o Reino de Deus... terá obtido controlo completo, universal, e que será então 'colocado no lugar', ou firmemente estabelecido, na terra.

Em segundo lugar, Provará que aquele a quem pertence o direito de tomar o domínio estará então presente como novo governante da terra...

Em terceiro lugar, Provará que algum tempo antes do fim de 1914 A.D. o último membro da Igreja de Cristo divinamente reconhecida, o 'sacerdócio real,' 'o corpo de Cristo,' será glorificado com a Cabeça...

Em quarto lugar, Provará que desse tempo em diante Jerusalém não será mais pisoteada pelos Gentios, mas levantar-se-á do pó do desfavor divino, para a honra; porque os 'Tempos dos Gentios' estarão cumpridos ou completos.

Em quinto lugar, Provará que nessa data, ou antes, a cegueira de Israel começará a ser retirada; pois a sua 'cegueira parcial' devia continuar apenas 'até que entrasse a plenitude dos Gentios' (Rom. 11:25)...

Em sexto lugar, Provará que o grande 'tempo de tribulação tal como nunca houve desde que existem nações,' alcançará a sua culminação num reinado mundial de anarquia ... e os 'novos céus e nova terra' com as suas bênçãos pacíficas começarão a ser reconhecidos pela Humanidade agitada por problemas.

Em sétimo lugar, Provará que antes dessa data o Reino de Deus, organizado em poder, estará na terra e então atingirá e esmagará a imagem gentia (Daniel 2:34) -- e consumirá completamente o poder destes reis.53

Estas eram de facto predições muito audaciosas. Será que Russell acreditava mesmo que todas estas coisas notáveis aconteceriam nos vinte e cinco anos seguintes? Sim, acreditava; de facto, ele acreditava que a sua cronologia era a cronologia de Deus, não apenas a sua própria. Em 1894 ele escreveu a respeito da data 1914:

Não vemos razão para alterar os números -- nem os poderíamos mudar se quiséssemos. Estas são, acreditamos, as datas de Deus, não as nossas. Mas tenham em mente que o fim de 1914 não é a data do início, é a data do fim do tempo de tribulação.54

Assim, pensava-se que o "tempo de tribulação" começaria alguns anos antes de 1914, "não depois de 1910," alcançando o clímax em 1914.55

Porém, em 1904, apenas dez anos antes de 1914, Russell alterou a sua opinião sobre este assunto. Num artigo da edição de 1.º de Julho de 1904 da Zion's Watch Tower [Torre de Vigia de Sião], intitulado "Universal anarchy -- just before or after October, 1914 A.D." [Anarquia universal -- imediatamente antes ou depois de Outubro de 1914 A.D.], ele argumentou que o tempo de tribulação, com a sua anarquia mundial, começaria depois de Outubro de 1914:

Agora esperamos que a culminação anárquica da grande época de tribulação que precederá as bênçãos milenares será depois de Outubro de 1914 A.D. -- muito depressa depois disso, na nossa opinião -- 'numa hora,' 'subitamente,' porque não se deve esperar que 'os nossos quarenta anos' de colheita, terminando em Outubro de 1914 A.D., incluam o aflitivo período de anarquia que as Escrituras indicam ser o destino da cristandade.56

Esta mudança levou alguns leitores a pensar que poderiam existir outros erros no sistema cronológico -- um leitor até sugeriu que a cronologia do Bispo Ussher podia estar mais correcta ao datar a destruição de Jerusalém como tendo ocorrido em 587 A.E.C. em vez de em 606 A.E.C. Isto faria os 2.520 anos terminar em aproximadamente em 1934 em vez de em 1914. Mas Russell reafirmou fortemente a sua crença na data 1914, referindo-se a outros alegados "paralelos de tempo" apontando para 1914:

Não temos conhecimento de qualquer razão para mudar um número: fazer isso estragaria as harmonias e paralelos tão conspícuos entre a era judaica e a era do evangelho.57

E, ao responder a outro leitor, ele disse:

A harmonia dos períodos proféticos é uma das provas mais fortes da correcção da nossa cronologia bíblica. Eles ajustam-se uns aos outros como as rodas dentadas de uma máquina perfeita. Mudar a cronologia, mesmo que fosse só um ano, destruiria toda esta harmonia, -- tão exactas são as várias provas reunidas nos paralelos entre as eras judaica e cristã.58

Estes argumentos foram adicionalmente apoiados por artigos escritos pelos irmãos Edgar, da Escócia.59

Dúvidas crescentes

Portanto, em 1904 Russell ainda estava tão convencido de que as suas datas estavam certas como em 1889, quando escreveu que o entendimento destes aspectos relacionados com o tempo era a "selagem na testa" mencionada em Revelação 7:3.60

À medida que a data 1914 se aproximava, Russell tornou-se cada vez mais cauteloso nas suas declarações. Ao responder a um estudante da Bíblia em 1907, ele disse: "nós nunca alegámos que os nossos cálculos são infalivelmente correctos; nós nunca alegámos que eram conhecimento, nem que eram baseados em evidência indisputável, factos, conhecimento; a nossa alegação sempre tem sido que os cálculos são baseados na ."61

As datas já não pareciam qualificar-se como "datas de Deus," como ele tinha declarado treze anos antes; agora podiam ser falíveis. Russell até considerava a possibilidade de 1914 (e 1915) passarem sem qualquer dos acontecimentos esperados ter ocorrido:

Mas suponhamos um caso que está bem longe das nossas expectativas: suponhamos que 1915 A.D. passava com os assuntos do mundo completamente serenos e com evidência de que os 'próprios eleitos' não tinham sido todos 'mudados' e sem a restauração do Israel natural ao favor sob o Novo Pacto. (Rom. 11:12, 15) E então? Não provaria isso que a nossa cronologia está errada? Sim, certamente! E não seria isso um profundo desapontamento? De facto, seria! ... Que desgraça isso seria! Uma das cordas da nossa 'harpa' estaria muito quebrada! Contudo, queridos amigos, a nossa harpa ainda teria as outras cordas afinadas e é disso que nenhum outro agregado do povo de Deus na terra se pode gabar.62

Outro ponto de incerteza era saber se devia ser incluído um ano zero (entre 1 A.E.C. e 1 E.C.) no cálculo ou não. Este assunto fora mencionado por Russell logo em 1904, mas foi ganhando importância à medida que o ano 1914 se aproximava.

A data 1914 tinha sido obtida simplesmente subtraindo 606 de 2.520, mas gradualmente eles aperceberam-se de que não existe ano zero no modo de contar o tempo do nosso calendário actual. Consequentemente, de 1 Outubro de 606 A.E.C. até ao início de Janeiro de 1 E.C., são apenas 605 anos e três meses, e do início de Janeiro de 1 E.C. até Outubro de 1914 são apenas 1913 anos e 9 meses, o que totaliza 2.519 anos, não 2.520 anos. Isto significaria que os 2.520 anos terminariam em Outubro de 1915, em vez de Outubro de 1914.63 Mas quando a guerra na Europa rebentou em Agosto de 1914, obviamente parecia uma má altura para corrigir este erro. Eles mantiveram o erro.

Em 1913, com 1914 às portas, a cautela a respeito deste ano tinha aumentado. No artigo "Let Your Moderation Be Known" [Tornai Conhecida a Vossa Moderação], que apareceu na edição de 1.º de Junho de 1913 da The Watch Tower [A Torre de Vigia], Russell avisou os seus leitores contra gastar "tempo e energia valiosos em tentar adivinhar o que ocorrerá neste ano, no próximo ano, etc." A sua confiança no esquema de acontecimentos que publicara anteriormente já não era evidente: "Estas são as boas notícias da graça de Deus em Cristo -- quer a igreja fique completa antes de 1914 ou não."64 Ele expressou-se ainda mais vagamente na edição de 15 de Outubro do mesmo ano:

Estamos à espera que chegue o tempo em que o governo do mundo será entregue ao Messias. Não podemos dizer que isso não ocorrerá em Outubro de 1914 ou em Outubro de 1915. É possível que estejamos desfasados alguns anos em relação à contagem correcta do assunto. Não podemos dizer com certeza. Não sabemos. É uma questão de fé, e não de conhecimento.65

Anteriormente, 1914 fora uma das "datas de Deus," e "mudar a cronologia, mesmo que fosse só um ano, destruiria toda esta harmonia." Mas agora eles podiam estar "desfasados alguns anos em relação à contagem correcta do assunto," e nada podia ser dito "com certeza" sobre a matéria. Isto foi um verdadeiro volte-face! Se de facto era "uma questão de fé," temos de nos interrogar em quê ou em quem era essa fé baseada.

A fé vacilante do próprio Russell na sua cronologia foi adicionalmente trazida à luz na The Watch Tower [A Torre de Vigia] de 1.º de Janeiro de 1914, na qual ele declarou: "Conforme já indicado, não estamos de modo algum confiantes de que este ano, 1914, testemunhará mudanças na dispensação tão radicais e rápidas como estávamos à espera."66 O artigo "The Days Are At Hand" [Os Dias São Iminentes] na mesma edição, é especialmente revelador:

Se mais tarde for demonstrado que a igreja não é glorificada por volta de Outubro de 1914, tentaremos sentir-nos satisfeitos com a vontade do Senhor, qualquer que esta seja.... Se 1915 passasse sem a transferência da igreja, sem o tempo de tribulação, etc., isso pareceria a alguns uma grande calamidade. Não o seria para nós.... Se na providência do Senhor o tempo viesse vinte e cinco anos mais tarde, então seria essa a nossa vontade.... Se Outubro de 1915 passasse e nós nos encontrássemos ainda aqui e as coisas continuando tal como estão no presente, e o mundo aparentemente fazendo progresso no sentido de resolver disputas, e não houvesse qualquer tempo de tribulação à vista, e a igreja nominal ainda não estivesse federada, etc., nós diríamos que evidentemente temos estado deslocados algures na nossa contagem. Nesse caso examinaríamos mais as profecias, para ver se poderíamos encontrar um erro. E então pensaríamos, Temos estado a esperar a coisa errada no tempo certo? A vontade do Senhor pode permitir isto.67

Novamente, na edição de 1.º de Maio de 1914 -- esquecendo-se das suas declarações anteriores sobre as "datas de Deus" e sobre a "evidência bíblica provando" que os desenvolvimentos preditos ocorreriam em 1914 -- Russell disse aos seus seguidores que "nestas colunas e nos seis volumes de STUDIES IN THE SCRIPTURES [Estudos das Escrituras] nós tornámos conhecido tudo o que se relaciona com os tempos e as épocas numa forma tentativa; isto é, não positivamente, não com a alegação de que sabíamos, mas meramente com a sugestão de que 'isto e aquilo' parece ser o ensino da Bíblia."68

Dois meses depois Russell parecia estar prestes a rejeitar completamente a sua cronologia. Respondendo a um colportor, que queria saber se os Studies in the Scriptures [Estudos das Escrituras] deviam continuar a ser postos em circulação depois de Outubro de 1914, "já que o senhor [Russell] tem algumas dúvidas acerca do cumprimento completo de tudo o que é esperado para Outubro de 1914 ou antes," Russell respondeu:

Pensamos que estes livros estarão à venda e serão lidos durante anos no futuro, desde que a era do Evangelho e o seu trabalho continue.... Nós não tentámos dizer que estes pontos de vista são infalíveis, mas expusemos os processos de raciocínio e de cálculo, deixando a cada leitor a tarefa e o privilégio de ler, pensar e calcular por si mesmo. Essa será uma questão interessante daqui a cem anos; e se alguém conseguir calcular e raciocinar melhor, ainda estará interessado naquilo que apresentámos.69

Assum, em Julho de 1914 Russell parecia agora estar pronto a aceitar a ideia de que a data 1914 provavelmente era um fracasso, e que os seus escritos sobre o assunto seriam meramente de interesse histórico para os estudantes da Bíblia cem anos depois!

Reacções ao eclodir da guerra

Com o eclodir da guerra na Europa em Agosto de 1914, a confiança indecisa de Russell na cronologia começou a recuperar. Embora a própria guerra não se encaixasse exactamente no padrão de eventos que fora predito -- que o "tempo de tribulação" seria uma luta de classes entre o capital e o trabalho, levando a um período de anarquia mundial -- ele viu na guerra o prelúdio dessa situação:

Acreditamos que o Socialismo é o factor principal na guerra que agora surge com furor e que será a maior guerra e a mais terrível -- e provavelmente a última.70

E mais tarde em 1914, ele escreveu:

Pensamos que a presente angústia entre as nações é meramente o começo deste tempo de tribulação.... A anarquia que se seguirá a esta guerra será a verdadeira época de tribulação. A nossa opinião é que a guerra enfraquecerá de tal maneira as nações que depois haverá uma tentativa de introduzir ideias socialistas, e isto será combatido pelos governos -- [etc., conduzindo a uma luta de classes e anarquia mundiais].71

Tal como outros autores milenaristas, Russell acreditava que o término dos tempos dos Gentios significaria uma restauração da nação judaica na Palestina. Contudo, perto do fim de 1914 a Palestina e Jerusalém ainda estavam ocupadas por Gentios. Parecia óbvio que a restauração não começaria a ocorrer em 1914 como fora predito. Assim, na edição de 1.º de Novembro da The Watch Tower [A Torre de Vigia], Russell tentou reinterpretar o fim dos tempos dos Gentios como sendo o fim da perseguição aos judeus:

O pisotear dos judeus parou. Por todo o mundo os judeus estão agora livres -- mesmo na Rússia. Em 5 de Setembro, o Czar da Rússia dirigiu uma proclamação a todos os judeus do Império Russo; e isto foi antes de os tempos dos Gentios terem terminado. Essa proclamação declarou que os judeus podem ter acesso às posições mais elevadas no exército russo, e que a religião judaica deve ter a mesma liberdade que qualquer outra religião na Rússia. Onde é que os judeus estão a ser pisoteados agora? Onde é que estão a ser sujeitos a escárnio? Actualmente eles não estão a ser perseguidos de modo nenhum. Acreditamos que o pisoteamento de Jerusalém cessou, porque acabou o tempo para os Gentios pisotearem Israel.72

Contudo, o alívio para os judeus na Rússia e noutros lugares, mencionado por Russell, acabou por ser apenas temporário. Ele não podia, é claro, prever as futuras cruéis perseguições aos judeus na Alemanha, na Polónia, e noutros países durante a Segunda Guerra Mundial.

Desde o eclodir da Primeira Guerra Mundial até à sua morte em Outubro de 1916, a confiança restaurada de Russell na sua cronologia permaneceu inabalável, conforme é demonstrado pelos seguintes excertos de vários números da The Watch Tower [A Torre de Vigia] durante esse período:

1.º de Janeiro de 1915: "... a guerra é aquela predita nas Escrituras como estando associada ao grande dia do Deus Altíssimo -- 'o dia da vingança do nosso Deus.'"73

15 de Setembro de 1915: "Traçando a cronologia das Escrituras até aos nossos dias, descobrimos que estamos agora vivendo exactamente na aurora do grande sétimo dia da grande semana do homem. Isto é abundantemente corroborado pelos eventos ocorrendo agora ao nosso redor a todo o momento."74

15 de Fevereiro de 1916: "Em STUDIES IN THE SCRIPTURES [Estudos das Escrituras], Vol. IV, indicámos claramente as coisas que estão a acontecer agora, e as condições ainda piores que estão para vir."75

15 de Abril de 1916: "Acreditamos que as datas se mostraram muito correctas. Acreditamos que os Tempos dos Gentios acabaram, e que Deus está agora a permitir que os Governos Gentios se destruam a si mesmos, para preparar o caminho para o reino do Messias."76

1.º de Setembro de 1916: "Ainda nos parece claro que o período profético que conhecemos como Tempos dos Gentios, terminou cronologicamente em Outubro de 1914. O facto de ter começado o grande dia de fúria sobre as nações marca um bom cumprimento das nossas expectativas."77

Porém, em Novembro de 1918 a Primeira Guerra Mundial acabou subitamente -- sem ocorrer depois uma revolução socialista e anarquia a nível mundial, como tinha sido predito. O último membro da "Igreja de Cristo divinamente reconhecida" não foi glorificado, a cidade de Jerusalém ainda estava a ser controlada pelos Gentios, o reino de Deus não tinha esmagado "a imagem Gentia," e os "novos céus e a nova terra" não podiam ser vistos em nenhum lado pela Humanidade afligida por problemas. Nem uma sequer das sete predições enumeradas no livro The Time is at Hand [O Tempo Está Iminente] se tornara realidade.78 No mínimo, os "Estudantes da Bíblia" do Pastor Russell estavam confusos.

No entanto -- embora não fosse uma das predições -- algo tinha acontecido: A Guerra Mundial. Poderia dar-se o caso de, afinal de contas, o tempo estar certo embora as predições tivessem falhado? A explicação a que os Adventistas recorreram depois de 1844 e que também foi usada por Barbour e pelos seus associados depois de 1874 -- segundo a qual eles tinham esperado "a coisa errada no tempo certo" -- parecia agora ainda mais apropriada.79 Mas como é que o tempo podia estar certo, se falharam todas as predições baseadas nele? Durante anos, muitos dos seguidores de Russell sentiram uma profunda perplexidade por não terem ocorrido os acontecimentos preditos. Depois de um lapso de alguns anos, J. F. Rutherford, o sucessor de Russell como presidente da Watch Tower Society, começou a explicar, passo a passo, o que "realmente" se cumprira de 1914 em diante.

No discurso "The Kingdom of Heaven is at Hand" [O Reino do Céu Está Iminente], na Convenção de Cedar Point que se realizou em 5-13 de Setembro de 1922, Rutherford disse à audiência que o Reino de Deus realmente tinha sido estabelecido em 1914, não na terra mas nos céus invisíveis!80 E três anos depois, em 1925, ele aplicou Revelação 12 a este evento, declarando que o Reino de Deus tinha nascido no céu em 1914, segundo esta profecia.81

Previamente, as predições da Watch Tower tinham sido todas no sentido de uma obvia e claramente visível tomada do governo da terra por Cristo. Agora isto era apresentado como algo invisível, apenas evidente para um grupo selecto.

Também na Convenção de Cedar Point em 1922, Rutherford apresentou pela primeira vez a opinião de que "em 1918, ou perto desta data, o Senhor veio ao seu templo (espiritual)."82 Anteriormente, Russell e os seus associados tinham defendido a opinião de que a ressurreição celestial ocorrera em 1878. Mas em 1927 Rutherford transferiu esse acontecimento para 1918.83 De forma semelhante, no início da década de 1930 Rutherford mudou a data para o início da presença invisível de Cristo de 1874 para 1914.84

Foi assim que Rutherford gradualmente substituiu as predições falhadas com uma série de eventos invisíveis e espirituais associados com os anos 1914 e 1918. Oitenta e quatro anos depois de 1914, as "explicações" de Rutherford ainda são defendidas pelas Testemunhas de Jeová.

Resumo

A interpretação dos "tempos dos Gentios" como tendo sido 2.520 anos, começando em 607 A.E.C. (inicialmente a data era 606 A.E.C.) e terminando em 1914 E.C., não foi uma revelação divina feita ao Pastor Charles Taze Russell no Outono de 1876. Pelo contrário, esta ideia tem uma longa história de desenvolvimento, com as suas raízes muito recuadas no passado.

Teve a sua origem no "princípio ano-dia," inicialmente proposto pelo Rabi Akibah ben Joseph no primeiro século E.C. Do século IX em diante, este princípio foi aplicado por vários rabis judeus aos períodos de tempo de Daniel.

Entre os cristãos, Joachim of Floris no século XII foi provavelmente o primeiro a adoptar a ideia, aplicando-a aos 1.260 dias de Revelação e aos três tempos e meio de Daniel. Pouco tempo depois da morte de Joachim, os seus seguidores identificaram o período de 1.260 dias com os tempos dos Gentios de Lucas 21:24, e esta interpretação era então comum entre grupos, incluindo os Reformadores, rotulados de heréticos pela igreja de Roma durante os séculos seguintes.

À medida que o tempo foi passando, e as expectativas falharam quando as anteriores explicações se mostraram erradas, o ponto inicial dos 1.260 (ou 1.290) anos foi sendo progressivamente mudado para a frente, para que esse período terminasse no futuro próximo.

Aparentemente, o primeiro a chegar a um período de 2.520 anos foi John Aquila Brown, em 1823. Embora o seu cálculo fosse baseado nos "sete tempos" de Daniel 4, ele não igualou esses períodos com os "tempos dos Gentios" de Lucas 21:24. Mas isto foi feito logo a seguir por outros expositores. Fixando o ponto de partida em 604 A.E.C., Brown chegou ao ano 1917 como sendo a data em que terminariam os sete tempos. Usando pontos de partida diferentes, outros comentadores bíblicos nas décadas seguintes chegaram a várias datas finais diferentes. Alguns escritores, que faziam tentativas com os "ciclos dos jubileus," chegaram a um período de 2.450 (ou 2.452) anos (49x49+49), que defendiam como sendo o período dos tempos dos Gentios.

A tabela anexa apresenta uma selecção de aplicações dos 2.520 (e 2.450) anos por vários autores durante o século XIX. Os cálculos eram de facto tão numerosos, que provavelmente seria

TABELA 2: APLICAÇÕES DOS 2.520 (OU 2.450) ANOS
Expositor Data Publicação Aplicação
AEC--EC
Comentários
John Aquila Brown 1823 The Even-Tide... 604-1917 = "Sete tempos" de Daniel 4
William Cininghame 1827 Dialogues on prophecy, Vol. 1 728-1792 Relatório das conferências proféticas
   em Albury Park
Henry Drummond 1827 idem 722-1798
G. S. Faber 1828 The Sacred Calendar of Prophecy 657-1864
Alfred Addis 1829 Heaven Opened 680-1840
William Digby 1831 A Treatise on the 1260 Days 723-1793
W. A. Holmes 1833 The Time of the End 685-1835
Matthew Habershon 1834 A Dissertation... 677-1843
John Fry 1835 Unfulfilled Prophecies... 677-1843
William W. Pym 1835 A Word of Warning... 673-1847
William Miller 1842 The First Report... 677-1843
Th. R. Birks 1843 First Elements of Sacred Prophecy 606-1843 Tempos dos Gentios = 2.450 anos
Edward B. Elliott 1844 Horæ Apocalypticæ, Vol. III 727-1793
idem 1844 idem 606-1914 Uma segunda alternativa
Matthew Habershon 1844 An Historical Exposition 676-1844
idem 1844 idem 601-1919 Uma segunda alternativa
William Cininghame 1847 The Fulfilling... 606-1847 Tempos dos Gentios = 2.452 anos
James Hatley Frere 1848 The Great Continental Revolution 603-1847 Tempos dos Gentios = 2.450 anos
Robert Seeley 1849 An Atlas of Prophecy 606-1914 Contados desde "606 ou 607"
idem 1849 idem 570-1950 Uma segunda alternativa
idem 1849 idem 728-1792 Uma terceira alternativa
Edward Bickersteth 1850 A Scripture Help 727-1793 Outro dos seus cálculos
   era 677-1843
idem 1850 idem 602-1918
Anónimo 1856 The Watch Tower 727-1793 Um panfleto
Richard C. Shimeall 1859 Our Bible Chronology 652-1868
J. S. Phillips 1865 The Rainbow, 1.º de Março 652-1867 Um periódico londrino editado
   por William Leask
"J. M. N." 1865 The Rainbow, 1.º de Abril 658/47-1862/73
Frederick W. Farrar 1865 The Rainbow, 1.º de Novembro 654-1866
Anónimo 1870 The Prophetic Times, Dezembro 715-1805 Um periódico editado por Joseph A.
   Seiss et al. Estes são alguns
   exemplos; o escritor apresenta doze
   alternativas diferentes!
idem 1870 idem 698-1822
idem 1870 idem 643-1877
idem 1870 idem 606-1914
idem 1870 idem 598-1922
Joseph Baylee 1871 The Times of the Gentiles 623-1896
"P. H. G." 1871 The Quarterley Journal of Prophecy, Abril 652/49-1868/71 Um periódico londrino editado por H. Bonar
Edward White 1874 Our Hope, Junho 626-1894 Periódico londrino editado por Wm. Maude
N. H. Barbour 1875 Herald of the Morning, Set. e Outubro 606-1914 Periódico publicado por Nelson H. Barbour
C. T. Russell 1876 The Bible Examiner, Outubro 606-1914 Editado por George Storrs
E. H. Tuckett 1877 The Rainbow, Agosto 651/50-1869/70
M. P. Baxter 1880 Forty Coming Wonders, 5.ª ed. 695-1825
idem 1880 idem 620-1900 Uma segunda alternativa
H. Grattan Guinness 1886 Light for the Last Days 606-1915 Estas são apenas algumas das suas
   muitas análises diferentes
idem 1886 idem 604-1917
idem 1886 idem 598-1923
idem 1886 idem 587-1934
W. E. Blackstone 1916 The Weekly Evangel, 13 de Maio 606-1915 Este artigo resume as suas opiniões
   conforme publicadas muitos anos antes
idem 1916 idem 595-1926
idem 1916 idem 587-1934

difícil encontrar um único ano entre 1830 e 1930 que não aparecesse em algum cálculo como sendo a data em que terminavam os tempos dos Gentios! Por isso, o facto de vários expositores terem apontado para 1914 ou outros anos próximos desta data, como 1915, 1916, 1917, 1918, 1919, 1922 e 1923, não nos deve causar admiração. É muito provável que a data 1914 tivesse o mesmo destino de outras datas falhadas e agora já tivesse sido esquecida, se não fosse o ano em que rebentou a Primeira Guerra Mundial.

Quando, em 1844, E. B. Elliott sugeriu 1914 como uma possível data em que terminariam os tempos dos Gentios, ele contou os 2.520 anos desde o ano de ascensão de Nabucodonosor, que calculou como sendo 606 A.E.C. Porém, N. H. Barbour contou os 2.520 anos desde a desolação de Jerusalém, no 18.º ano do reinado de Nabucodonosor. Mas como a data de Barbour para este evento era 606 A.E.C., também ele, em 1875, obteve o ano 1914 como sendo a data em que terminariam os tempos dos Gentios. Como as cronologias deles não só estavam em conflito uma com a outra, como também estavam em conflito com a cronologia historicamente estabelecida para o reinado de Nabucodonosor, o facto de terem obtido a mesma data para o fim dos tempos dos Gentios foi simplesmente uma coincidência, demonstrando quão arbitrários e sem base os seus cálculos realmente eram.

O cálculo de Barbour foi aceite por C. T. Russell na sua reunião de 1876. Barbour tinha então 52 anos de idade enquanto Russell tinha 24 -- era ainda muito novo. Embora os seus caminhos se separassem outra vez em 1879, Russell reteve os cálculos de Barbour relacionados com datas, e desde esse tempo a data 1914 tem sido o ponto fundamental nas explicações proféticas entre os seguidores de Russell.

Suplemento à terceira edição (1998), capítulo 1:

A informação apresentada neste capítulo tem estado disponível para as Testemunhas de Jeová desde 1983, quando foi publicada a primeira edição deste livro. Além disso, a mesma informação foi resumida por Raymond Franz no capítulo 7 da sua obra amplamente conhecida, Crisis of Conscience [Crise de Consciência], publicada no mesmo ano. Assim -- passados 10 anos -- em 1993 a Watch Tower Society [Sociedade Torre de Vigia] finalmente sentiu-se obrigada a admitir que nem o cálculo dos 2.520 anos nem a data 1914 se originaram com Charles Taze Russell como a Sociedade tinha defendido até aí. Mais ainda, a Sociedade agora também reconhece que as predições de Russell e dos seus associados relacionadas com 1914 falharam.

Este reconhecimento encontra-se nas páginas 134-137 de Jehovah's Witnesses -- Proclaimers of God's Kingdom [Testemunhas de Jeová -- Proclamadores do Reino de Deus], um livro sobre a história do movimento, publicado pela Watch Tower Society [Sociedade Torre de Vigia] em 1993. Antes de 1993, a impressão dada [pela Sociedade] tinha sido de que Russell fora o primeiro a publicar o cálculo dos 2.520 anos, que apontava para 1914, tendo feito isto pela primeira vez na edição de Outubro de 1876 da revista Bible Examiner, de George Storrs. Também disseram que, com décadas de antecedência, Russell e os seus seguidores predisseram o eclodir da Primeira Guerra Mundial em 1914 e outros eventos associados com a guerra. Assim, o anterior livro sobre a história da organização, Jehovah's Witnesses in the Divine Purpose [As Testemunhas de Jeová no Propósito Divino] citou algumas declarações muito genéricas do livro The Plan of the Ages [O Plano das Eras] (publicado em 1886) acerca do "tempo de tribulação" (que, segundo eles acreditavam originalmente, se estendia de 1874 a 1914) e afirmou:

Embora isto ainda fosse décadas antes da primeira guerra mundial, é surpreendente quão exactamente os eventos que finalmente ocorreram foram de facto previstos. (Ênfase acrescentada.)85

De modo similar, a Watchtower de 1.º de Agosto de 1971 fez as seguintes declarações pretensiosas na página 468:

A partir da cronologia bíblica, as testemunhas de Jeová logo em 1877 apontaram para o ano 1914 como sendo um ano de grande significado....

Chegou o importante ano de 1914, e com ele veio a Primeira Guerra Mundial, a convulsão mais extensa da história até esse tempo. Trouxe matança, fome, pestilência e derrube de governos sem precedentes. O mundo não esperava eventos tão horríveis como os que ocorreram. Mas as testemunhas de Jeová esperaram tais coisas, e outros reconheceram que elas o fizeram....

Como é que as testemunhas de Jeová podiam ter sabido com tanta antecedência o que os líderes do mundo não sabiam? Apenas pelo espírito santo de Deus lhes ter tornado conhecidas tais verdades proféticas. É verdade que alguns hoje alegam que aqueles acontecimentos não eram difíceis de prever, pois a humanidade tem conhecido já há muito tempo vários problemas. Mas se esses eventos não eram difíceis de prever, então por que é que todos os políticos, líderes religiosos e peritos económicos não o estavam a fazer? Por que é que estavam a dizer o contrário às pessoas? (Ênfase acrescentada.)

Infelizmente para a Watch Tower Society [Sociedade Torre de Vigia], nenhuma destas afirmações está de acordo com os factos históricos. Quer seja deliberado ou resultado de ignorância, cada uma dessas afirmações representa uma séria distorção da realidade.

Em primeiro lugar, embora existissem várias predições nas publicações da Watch Tower sobre o que aconteceria em 1914, nenhuma delas sequer se parecia com uma predição do eclodir de uma guerra mundial nesse ano.

Em segundo lugar, os líderes políticos e religiosos, contrariamente às declarações feitas na Watchtower citada acima, muito antes de 1914 já esperavam que uma grande guerra iria rebentar na Europa. Já em 1871, Otto von Bismarck, o primeiro Lord High Chancellor [Alto Chanceler] do Império Germânico, declarou que a "Grande Guerra" um dia viria. Durante décadas antes de 1914, os jornais diários e os semanários ocupavam-se constantemente com o tema. Para citar apenas um exemplo entre muitos, a edição de Janeiro de 1892 do altamente respeitado semanário inglês Black and White, explicou numa introdução editorial a um folhetim sobre a vindoura guerra:

O ar está cheio de rumores de Guerra. As nações europeias estão completamente armadas e preparadas para a mobilização imediata. As autoridades estão de acordo em como uma GRANDE GUERRA tem de rebentar no futuro imediato, e que esta Guerra será travada sob condições novas e surpreendentes. Todos os factos parecem indicar que o vindouro conflito será o mais sangrento da história, e envolverá consequências importantes para todo o mundo. O incidente que precipitará o desastre pode ocorrer a qualquer momento.86

I. F. Clarke, no seu livro Voices Prophesying War 1763-1984 [Vozes Profetizando Guerra 1763-1984], explica até que ponto a Primeira Guerra Mundial "estava a ser preparada na realidade e na ficção":

De 1871 em diante, as principais potências europeias preparavam-se para a grande guerra que Bismarck dissera que havia de vir um dia. E durante cerca de meio século, enquanto as equipas gerais dos ministérios argumentavam sobre armas, estimativas e tácticas, a história da guerra-que-há-de-vir era um tema dominante no campo da ficção de antecipação.... O período desde a década de 1880 até ao longamente esperado rebentar da próxima guerra em 1914 presenciou a emergência do maior número destas histórias sobre conflitos vindouros que alguma vez apareceram na ficção europeia.87

Por essa razão, as pessoas daquele tempo não podiam evitar ser confrontadas com as predições constantes sobre uma vindoura guerra na Europa. A questão não era se a Grande Guerra rebentaria, mas sim quando. Neste ponto havia lugar para especulações e muitas das histórias imaginativas e das novelas sugeriam várias datas. Datas específicas eram por vezes indicadas nos próprios títulos dos livros, como por exemplo, Europa in Flammen. Der deutsche Zukunftskrieg 1909 [Europa em Chamas. A Vindoura Guerra Alemã de 1909], de Michael Wagebald, publicada em 1908, e The Invasion of 1910 [A Invasão de 1910], de W. LeQueux, publicada em 1906.

Também os políticos e os estadistas tentaram algumas vezes fixar o ano específico para o rebentar da grande guerra que era esperada. Um dos mais sortudos foi M. Francis Delaisi, um membro da Câmara Francesa de Deputados. No seu artigo "La Guerre qui Vient" [A Vindoura Guerra], publicado no periódico paroquial La Guerre Social em 1911, ele discutiu longamente a situação diplomática, concluindo que "está a preparar-se uma guerra terrível entre a Inglaterra e a Alemanha." Conforme mostram os excertos do seu artigo apresentados a seguir, algumas das suas previsões políticas revelaram-se notavelmente exactas:

Está a preparar-se um conflito comparado com o qual a horrível matança da guerra Russo-Japonesa [em 1904-1905] parecerá uma brincadeira de crianças.

Em 1914 as forças [navais] de Inglaterra e da Alemanha serão quase iguais.

Um corpo do exército prussiano avançará com marchas forçadas para ocupar Antuérpia.

Nós, os franceses, teremos de fazer o combate nas planícies da Bélgica.

Todos os jornais imprimirão em cabeçalhos tão grandes como a sua mão estas palavras proféticas: A NEUTRALIDADE BELGA FOI VIOLADA. O EXÉRCITO PRUSSIANO ESTÁ A MARCHAR SOBRE LILLE.88

Na área religiosa, eram especialmente os "milenaristas" que estavam a apresentar predições sobre a proximidade do fim do mundo. Este movimento incluía milhões de cristãos de diferentes proveniências, Baptistas, Pentecostais, etc. O Pastor Russell e os seus seguidores, os "Estudantes da Bíblia," eram apenas um pequeno ramo deste extenso movimento. Um factor comum a todos eles era a sua visão pessimista do futuro. No seu livro Armageddon Now! [Armagedom Agora!], Dwight Wilson descreve a reacção deles ao eclodir da Grande Guerra em 1914:

A própria guerra não foi um choque para estes oponentes do optimismo pós-milénio; eles não só esperavam a culminação da era no Armagedom, como também antecipavam 'guerras e rumores de guerras' como sinais do fim que se aproximava.89

Wilson então cita um deles, R. A. Torrey, deão do Bible Institute of Los Angeles [Instituto Bíblico de Los Angeles] que, em 1913, um ano antes do início da guerra, escreveu no seu livro The Return of the Lord Jesus [A Volta do Senhor Jesus]: "Falamos de desarmamento, mas todos sabemos que não virá. Todos os nossos planos de paz actuais acabarão na mais aflitiva das guerras e conflitos que este velho mundo alguma vez viu!"90

Conforme Theodore Graebner diz no seu livro War in the Light of Prophecy [Guerra à Luz das Profecias], a guerra de 1914 mal tinha começado quando uma legião de escritores de várias proveniências religiosas se levantaram, alegando que a guerra tinha sido predita:

Em breve foi feito o anúncio por vários investigadores: FOI PREDITA. Imediatamente, milhares de cristãos interessaram-se. Também imediatamente, outros começaram a trabalhar sobre Gogue de Magogue, Armagedom, as Setenta Semanas, 666, 1.260, etc., e em breve os periódicos religiosos, neste país e no estrangeiro, continham a mensagem, anunciada com maior ou menor convicção, FOI PREDITA. Apareceram panfletos e tratados a promulgar a mesma mensagem, e em breve estavam no mercado vários livros, com 350 páginas cada um, que não só continham 'prova' circunstancial para as suas afirmações, como também anunciavam igualmente o tempo exacto em que a guerra terminaria, quem seriam os vencedores, e o significado da guerra para a Igreja Cristã, que agora (segundo era dito) estava prestes a entrar no seu período milenar.91

Graebner, que se sentiu compelido a examinar um grande número destas alegações, concluiu, depois de uma investigação muito extensa, que:

... toda a massa de literatura milenarista que floresceu durante a Primeira Guerra Mundial -- e foi uma massa tremenda -- foi definitiva, completa e absolutamente provada falsa pelos acontecimentos. Nem sequer num único ponto a Primeira Guerra Mundial se desenvolveu como seria de esperar depois de se ler os intérpretes quiliastas [milenaristas]. Nem um único deles predisse o desfecho da guerra. Nem um único deles predisse a entrada dos Estados Unidos [na guerra]. Nem um único deles predisse a Segunda Guerra Mundial.92

As especulações do Pastor Russell sobre a vindoura grande guerra na Europa não diferiam apreciavelmente das especulações dos escritores de novelas e expositores milenaristas contemporâneos. Na Zion's Watch Tower de Fevereiro de 1885, ele escreveu: "Nuvens tempestuosas estão a tornar-se espessas sobre o velho mundo. Parece que uma grande guerra europeia é uma das possibilidades do futuro próximo."93

Dois anos mais tarde, comentando a situação prevalecente no mundo, ele concluiu na edição de Fevereiro de 1887: "Tudo isto parece indicar que no próximo verão [1888] estará em andamento uma guerra que poderá envolver todas as nações da Europa."94 Na edição de 15 de Janeiro de 1892, ele tinha adiado a guerra para "cerca de 1905," ao mesmo tempo que enfatisava que esta Grande Guerra nada tinha a ver com 1914 e com as expectativas ligadas a essa data. Para 1914 ele esperava -- não uma guerra europeia geral -- mas o clímax da "batalha do Armagedom" (que ele pensava ter começado em 1874), quando todas as nações da terra seriam esmagadas e substituídas pelo reino de Deus. Ele escreveu:

Os jornais diários, os semanários e os mensários, religiosos e seculares, estão continuamente a discutir as perspectivas de guerra na Europa. Eles notam as ofensas e as ambições das várias nações e predizem que a guerra é inevitável num dia não muito distante, que pode começar a qualquer momento entre as grandes potências, e que as perspectivas são que eventualmente as envolverá a todas....

Mas, não obstante estas predições e as boas razões que muitos vêem para as fazer, nós não as partilhamos. Isto é, nós não pensamos que as perspectivas de uma guerra europeia geral sejam tão marcadas como é geralmente suposto.... Mesmo que uma guerra ou revolução rebentasse na Europa antes de 1905, nós não a consideraríamos como uma parte dos problemas severos preditos.

... [A] nuvem da guerra, cada vez mais escura, explodirá com toda a sua fúria destrutiva. Porém, não esperamos esta culminação antes de 1905, pois os eventos preditos requerem aproximadamente esse tempo, não obstante o rápido progresso nestas direcções agora possível.95

A amplamente esperada Grande Guerra veio em 1914. Mas provavelmente ninguém, e em qualquer caso não Charles Taze Russell e os seus seguidores, tinha predito que viria nesse ano. Os eventos muito diferentes que ele e os seus associados "Estudantes da Bíblia" tinham atribuído a essa data não ocorreram. Tal como as predições de muitos outros escritores milenaristas contemporâneos, também as profecias de Russell foram "definitiva, completa e absolutamente provada[s] falsa[s] pelos acontecimentos."

Afirmar depois, como a Watch Tower Society [Sociedade Torre de Vigia] fez repetidamente até 1993, que eles e unicamente eles conseguiram "com exactidão," "pelo espírito santo de Deus," predizer o eclodir da guerra em 1914 e outros eventos, e que "todos os políticos, líderes religiosos e peritos económicos" tinham estado a "dizer o contrário às pessoas," é demonstravelmente uma grosseira distorção dos factos históricos.

Conforme explicado anteriormente, algumas dessas alegações pretensiosas foram finalmente abandonadas, em 1993, no novo livro Jehovah's Witnesses -- Proclaimers of God's Kingdom [Testemunhas de Jeová -- Proclamadores do Reino de Deus]. O livro foi introduzido nas assembleias de distrito das Testemunhas de Jeová desse ano como sendo um "olhar cândido" sobre a história do movimento. Porém, o contexto dos reconhecimentos normalmente só revela um mínimo de informação complementar que, além disso, é apologeticamente tão tendenciosa e deformada que muitas vezes esconde mais do que revela.

É verdade que a Sociedade admite finalmente que Russell foi buscar o seu cálculo dos tempos dos Gentios a Nelson H. Barbour, que o publicara um ano antes de Russell, "nas edições de Herald of the Morning, de agosto, setembro e outubro de 1875".96 No parágrafo anterior o livro até procura enumerar os expositores do século XIX que apresentaram o cálculo dos 2.520 anos em apoio da data 1914. Esta impressão é reforçada ainda mais na frase em negrito, à esquerda do parágrafo: "Entenderam que 1914 estava claramente marcado pelas profecias bíblicas." Contudo, a apresentação da história está estritamente limitada a poucos expositores cuidadosamente seleccionados, cujos cálculos são parcialmente obscurecidos, ajustados e arranjados de modo a criar a impressão de que o cálculo dos 2.520 anos apontava unicamente para 1914. Não mencionam qualquer das muitas outras datas terminais a que chegaram os expositores anteriores a Russell. Por exemplo, embora digam que John A. Brown calculou os 2.520 anos "já em 1823", a sua aplicação particular do período é completamente disfarçada e distorcida nas frases subsequentes:

Entenderam que 1914 estava claramente marcado pelas profecias bíblicas.
134 TESTEMUNHAS DE JEOVÁ — OS PROCLAMADORES DO REINO DE DEUS

tarde, chamou-se atenção para isso mediante o subtítulo "Arauto da Presença de Cristo" que aparecia na capa da revista Zion's Watch Tower.
     O reconhecimento de que a presença de Cristo seria invisível tornou-se um importante fundamento sobre o qual se basearia o entendimento de muitas profecias bíblicas. Aqueles primeiros Estudantes da Bíblia entenderam que a presença do Senhor devia ser de interesse primário para todos os verdadeiros cristãos. (Mar. 13:33-37) Estavam vividamente interessados na volta do Amo e atentos ao fato de que tinham o dever de divulgar isso, mas ainda não discerniam bem todos os pormenores. Contudo, foi realmente notável o que o espírito de Deus bem no início já os habilitou a entender. Uma dessas verdades dizia respeito a uma data muito significativa apontada nas profecias bíblicas.

Fim dos Tempos dos Gentios
     O assunto sobre cronologia bíblica tinha sido por muito tempo de grande interesse para os estudantes da Bíblia. Comentaristas haviam apresentado vários conceitos sobre a profecia de Jesus a respeito dos "tempos dos gentios" e do relato do profeta Daniel sobre o sonho de Nabucodonosor dum toco de árvore que ficou atado por "sete tempos". — Luc. 21:24, Al; Dan. 4:10-17.
     Já em 1823, John A. Brown, cuja obra foi publicada em Londres, Inglaterra, calculara os "sete tempos" de Daniel 4 como sendo de 2.520 anos de duração. Mas ele não discerniu claramente a data em que o período profético começou, ou quando terminaria. Contudo, relacionou esses "sete tempos" com os Tempos dos Gentios de Lucas 21:24. Em 1844, E. B. Elliott, um clérigo britânico, chamou atenção para 1914 como possível data do fim dos "sete tempos" de Daniel, mas apresentou também um conceito alternativo que apontava para o tempo da Revolução Francesa. Robert Seeley, de Londres, em 1849, considerou o assunto de modo similar. O mais tardar em 1870, uma publicação de Joseph Seiss e seus associados, impressa em Filadélfia, Pensilvânia, apresentava cálculos que indicavam 1914 como data importante, embora o raciocínio contido se baseasse numa cronologia que C. T. Russell mais tarde rejeitou.
     Depois, nas edições de Herald of the Morning, de agosto, setembro e outubro de 1875, N. H. Barbour ajudou a harmonizar pormenores indicados por outros. Usando a cronologia compilada por Christopher Bowen, um clérigo da Inglaterra, e publicada por E. B. Elliott, Barbour identificou o início dos Tempos dos Gentios com a remoção do Rei Zedequias do reinado, conforme predita em Ezequiel 21:25, 26, e apontou para 1914 como marcando o fim dos Tempos dos Gentios.
     Em princípios de 1876, C. T. Russell recebeu um exemplar de Herald of the Morning. Ele escreveu prontamente para Barbour e daí passou algum tempo com ele em Filadélfia durante o verão, quando consideraram, entre outras coisas, os tempos proféticos. Pouco depois, num artigo intitulado "Os Tempos dos Gentios: Quando Terminam?" Russell também raciocinou sobre o

Página 134 do livro Testemunhas de Jeová -- Proclamadores do Reino de Deus (1993), o novo livro da Watch Tower Society [Sociedade Torre de Vigia] sobre a história do movimento.

Mas ele não discerniu claramente a data em que o período profético começou, ou quando terminaria. Contudo, relacionou esses "sete tempos" com os Tempos dos Gentios de Lucas 21:24.97

Antes pelo contrário, conforme se mostrou anteriormente neste capítulo, Brown declarou expressamente a sua firme convicção de que o período dos 2.520 anos começou em 604 A.E.C. e terminaria em 1917. Além disso, apesar da declaração que a Sociedade coloca em itálico, Brown não relacionou os 2.520 anos com os tempos dos Gentios de Lucas 21:24, porque, conforme foi indicado anteriormente neste capítulo, ele defendia que os tempos dos Gentios mencionados neste texto eram 1.260 anos (lunares), não "sete tempos" de 2.520 anos. Portanto, as duas declarações que a Sociedade faz sobre o cálculo de Brown são demonstravelmente falsas.

Além de John A. Brown, a Sociedade no mesmo parágrafo menciona Edward B. Elliott e Robert Seeley, que mencionaram 1914 como uma das datas possíveis para o fim dos "sete tempos". Porém, tanto um como o outro na realidade preferiam a data 1793 (mais tarde mudada para 1791 por Elliott) como sendo a data final.98

Por fim, afirma-se que uma publicação (cujo título não é mencionado) editada por Joseph Seiss estabelecera cálculos que apontavam para 1914 como sendo uma data significativa, "embora o raciocínio contido se baseasse numa cronologia que C. T. Russell mais tarde rejeitou."99

Porém, a verdade é que isto aplica-se a todos os quatro expositores mencionados pela Sociedade. Todos eles usaram uma cronologia que colocava a destruição de Jerusalém em 588 ou 587 A.E.C. (não 606 A.E.C. como nos escritos de Russell). Brown só obteve 1917 como data final porque contou os 2.520 anos desde o primeiro ano de Nabucodonosor (604 A.E.C.) em vez de contar a partir do seu 18.º ano, como fizeram Barbour e Russell. E os outros três expositores obtiveram 1914 contando desde o ano de ascensão de Nabucodonosor,

que eles achavam ter ocorrido em 606 A.E.C. (em vez de 605 A.E.C., a data estabelecida por historiadores modernos).100

Embora todos eles baseassem os seus cálculos em cronologias que foram rejeitadas por Russell e seus seguidores, a Sociedade afirma que estes expositores "entenderam que 1914 estava claramente marcado pelas profecias bíblicas". É espantoso como é que eles "entenderam" isso "claramente" usando cronologias que a Sociedade ainda afirma serem falsas. É claro que, para um leitor descobrir tais raciocínios inconsistentes, ele ou ela tem de verificar as obras destes expositores. O problema é que os autores da Sociedade normalmente evitam dar referências específicas. Esta prática torna virtualmente impossível para a grande maioria dos leitores descobrir os métodos subtis usados pela Sociedade para apoiar as suas interpretações indefensáveis e esconder evidência embaraçosa.

Conforme foi mencionado, a Sociedade, contrariamente às suas afirmações no passado, reconhece no novo livro que as predições ligadas a 1914 falharam. Como foi mostrado neste capítulo, as predições muito específicas e claras sobre 1914 foram resumidas em sete pontos nas páginas 76-78 do Vol. II de Millennial Dawn [Aurora do Milénio], originalmente publicado em 1889. Estas predições foram apresentadas nesse livro em termos nada incertos. A discussão está repleta de palavras e expressões como "factos", "prova", "evidência bíblica", e "verdade estabelecida". Por exemplo, que 1914 presenciaria "a desintegração do governo dos homens imperfeitos" é apresentado como "um facto firmemente estabelecido pelas Escrituras."101

O que é que o novo livro de história da Sociedade faz com as afirmações pretensiosas e a linguagem muito definitiva que originalmente rodeava estas predições? Suaviza-as ou esconde-as completamente. Referindo-se à discussão acima mencionada dos tempos dos Gentios no Vol. II de Millennial Dawn [Aurora do Milénio] -- mas sem citar qualquer das declarações que realmente foram feitas -- a Sociedade pergunta: "Mas o que significaria o fim dos Tempos dos Gentios?" A surpreendente resposta que é dada é que os Estudantes da Bíblia "não estavam plenamente seguros do que aconteceria"!

Embora algumas das predições sejam brevemente mencionadas, a Sociedade evita cuidadosamente aplicar-lhes os termos "predições" ou "profecias". [Segundo a Sociedade] Russell e os seus associados nunca "predisseram" ou "previram" nada, nunca afirmaram apresentar "prova" ou "verdade estabelecida". Eles apenas "pensaram", "sugeriram", "esperaram" ou "tinham esperança sincera" em como isto ou aquilo "poderia" acontecer, mas "não estavam plenamente seguros."102 É desta forma que as predições são embrulhadas numa linguagem que disfarça completamente a verdadeira natureza da agressiva mensagem apocalíptica proclamada ao mundo pelos Estudantes Internacionais da Bíblia durante mais de um quarto de século antes de 1914. É claro que disfarçando as predições presunçosas com esse tipo de palavras e expressões vagas e despretensiosas torna mais fácil admitir "humildemente" que as predições falharam.


Notas

1 LeRoy Edwin Froom, The Prophetic Faith of Our Fathers [A Fé Profética dos Nossos Pais] (Washington, D.C.: Review and Herald Publishing Association, 1948), Vol. II, p. 124.

2 Embora esta profecia fale de semanas, isto por si só não significa que a profecia permite uma aplicação do "princípio ano-dia". Para um judeu, a palavra hebraica para "semana", shabû'a, não significa sempre um período de sete dias como em inglês [e em português]. Shabû'a significa literalmente um "(período de) sete", ou uma "heptad." Os judeus também tinham um [período de] "sete" (shabû'a) anos. (Levítico 25:3, 4, 8, 9) É verdade que quando se queria referir "semanas de anos", a palavra para "anos" era normalmente adicionada. Mas no hebreu tardio esta palavra era frequentemente omitida por estar implícita. Quando se queria referir "semanas de dias", a palavra para "dias" podia às vezes ser acrescentada, como na passagem de Daniel em que shabû'a é mencionado. (10:2, 3) Portanto, Daniel 9:24 afirma simplesmente que "setenta períodos de sete foram determinados", e a partir do contexto (a alusão a "setenta anos" no versículo 2) pode-se concluir que "setenta períodos de sete anos" é a ideia que o escritor pretendia transmitir. É por causa desta associação textual obvia -- e não devido a qualquer "princípio ano-dia" -- que alguns tradutores (Moffatt, Goodspeed, AT, RS) apresentam "setenta semanas de anos" em Daniel 9:24.

3 Froom, Vol. II, pp. 195, 196.

4 Ibid., p. 196. Nahawendi também contou os 1.290 dias de Daniel 12:11 como sendo um período de anos, começando com a destruição do segundo templo [70 E.C.] e chegando assim à mesma data, 1358 E.C.

5 Ibid., pp. 201, 210, 211.

6 E. B. Elliott, Horæ Apocalypticæ, 3.ª ed. (Londres, 1847), Vol. III, pp. 233-240.

7 Charles Maitland, The Apostles' School of Prophetic Interpretation [A Escola de Interpretação Profética dos Apóstolos] (Londres, 1849), pp. 37, 38.

8 E. B. Elliott, Horæ Apocalypticæ, 3.ª ed. (Londres, 1847), Vol. III, pp. 233.

9 Ibid., p. 240. O falecido Dr. LeRoy Edwin Froom, que foi um defensor moderno da teoria ano-dia, chegou a uma conclusão similar no seu trabalho monumental em quatro volumes, The Prophetic Faith of Our Fathers [A Fé Profética dos Nossos Pais]. No Volume I (1950) na página 700, ele declara: "Até este tempo, durante treze séculos, as setenta semanas tinham sido geralmente reconhecidas como semanas de anos. Mas os primeiros mil anos da Era Cristã não produziram nenhumas aplicações adicionais do princípio entre os escritores cristãos, excepto um ou dois vislumbres dos 'dez dias' de Revelação 2:10 como sendo dez anos de perseguição, e os três dias e meio de Revelação 11 como três anos e meio. Mas agora Joachim aplicou pela primeira vez o princípio ano-dia à profecia dos 1260 dias."

10 Froom, Vol. I, p. 716.

11 Ibid., pp. 717, 723, 726, 727. Neste ponto a informação é baseada na obra De Seminibus Scripturarum, fol. 13v, col. 2 (conforme discutido em Froom), que foi escrito em 1205 A.D. O manuscrito é conhecido como Vat. Latin 3813.

12 Arnold of Villanova, Tractatus de Tempore Adventus Antichristi [Tratado Sobre o Tempo da Vinda do Anticristo], parte 2 (1300); reimpresso em Heinrich Finke, Aus den Tagen Bonifaz VIII (Münster in W., 1902), pp. CXLVIII-CLI, CXLVII. (Veja também Froom, Vol. I, pp. 753-756.)

13 De Registrum Johannis Trefnant, Episcopi Herefordensis (que contém os autos do julgamento de Walter Brute por heresia), conforme traduzido em John Foxe, Acts and Monuments [Actos e Monumentos], 9.ª ed. (Londres, 1684), Vol. I, p. 547. (Veja também Froom, Vol. II, p. 80.)

14 John Napier, A Plaine Discovery of the Whole Revelation of Saint John [Uma Descoberta Plena de Toda a Revelação de São João] (Edimburgo, 1593), pp. 64, 65. (Veja Froom, Vol. II, p. 458.)

15 G. Bell, "Downfall of Antichrist" [Queda do Anticristo], Evangelical Magazine [Revista Evangélica] (Londres), 1796, Vol. 4, p. 54. (Veja Froom, Vol. 2, p. 742.) Embora publicado em 1796, o artigo foi escrito em 24 de Julho de 1795.

16 G. Bell, ibid., p. 57. (Veja Froom, Vol. II, p. 742.)

17 Robert Fleming, Jr., The Rise and Fall of Papacy [A Ascensão e Queda do Papado] (Londres, 1701), p. 68. (Para notas adicionais sobre esta predição, veja o Capítulo 6, secção D: "1914 em perspectiva.")

18 Professor Robert Gilpin, "The Theory of Hegemonic War" [A Teoria da Guerra Hegemónica], The Journal of Interdisciplinary History [Jornal de História Interdisciplinar], (publicado em Cambridge, MA, e Londres, Inglaterra), Vol. 18:4, Primavera 1988, p. 606. (Ênfase acrescentada.)

19 R. R. Palmer no seu prefácio à obra de George Lefebvre The Coming of the French Revolution [O Aparecimento da Revolução Francesa] (Nova Iorque: Vintage, 1947), p. v.

20 Brown publicou pela primeira vez a sua cronologia num artigo no mensário de Londres The Christian Observer de Novembro de 1810. Segundo o seu entendimento dos tempos dos Gentios, os "Gentios pisoteadores" eram os Maometanos (ou Muçulmanos), e por isso ele encarava os tão comentados 1.260 anos como sendo anos lunares Maometanos, correspondendo a 1.222 anos solares. Ele contava este período desde 622 E.C. (o primeiro ano da era Maometana da Hégira) até 1844, data em que ele esperava a vinda de Cristo e a restauração da nação judaica na Palestina.

21 Esperava-se que o segundo advento ocorresse no ano 1843/44, contado de Primavera a Primavera como era costume no calendário judaico. Houve quem defendesse que os expositores nos Estados Unidos chegaram à data 1843 como sendo o fim dos 2.300 anos independentemente de Brown. Embora isso possa ser verdade, não pode ser provado, e curiosamente, o Christian Observer de Londres, Inglaterra, um periódico fundado em 1802 que abordava frequentemente as profecias, também tinha uma edição americana publicada em Boston, que publicava em paralelo todos os artigos da edição inglesa. Portanto o artigo de Brown sobre os 2.300 anos podia ter sido lido por muitos nos Estados Unidos logo em 1810. Pouco depois, a data 1843 começou a aparecer nas exposições proféticas americanas.

22 Publicado em Londres; a matéria relevante encontra-se no Vol. II, pp. 130-152.

23 Talvez alguns se sintam inclinados a objectar a esta afirmação tendo em conta a tabela nas páginas 404 e 405 do livro de Froom The Prophetic Faith of Our Fathers [A Fé Profética dos Nossos Pais], Volume IV. É verdade que esta tabela parece mostrar James Hatley Frere como sendo o primeiro a escrever sobre os 2.520 anos, em 1813. Mas a parte da tabela que está mais à direita, na página 405, intitulada "Dating of other time periods" [Datação de outros períodos de tempo], não tem qualquer relação especial com a coluna "Publication date" [Data de publicação], na página 404. Limita-se a dizer qual era a posição geral do autor acerca de outros períodos de tempo. Além disso, Frere nunca defendeu que os tempos do Gentios (ou os "sete tempos") fossem um período de 2.520 anos. No seu primeiro livro sobre profecias, A Combined View of the Prophecies of Daniel, Esdras and St. John [Uma Visão Combinada das Profecias de Daniel, Esdras e S. João] (Londres, 1815), ele não comenta Daniel 4 nem Lucas 21:24. Ele explica que a "cidade santa" de Revelação 11:2 é "a igreja visível de Cristo" e diz que "durante o período dos 1260 anos, a totalidade desta cidade é calcada sob os pés dos Gentios, excepto os pátios interiores do seu templo." (Página 87) Muitos anos depois Frere calculou que os tempos dos Gentios eram um período de 2.450 anos, desde 603 A.E.C. até 1847 E.C. Veja por exemplo, o seu livro The Great Continental Revolution, Marking the Expiration of the Times of the Gentiles A.D. 1847-8 [A Grande Revolução Continental, Marcando o Término dos Tempos dos Gentios A.D. 1847-8] (Londres, 1848). Veja especialmente as páginas 66-78. É claro que John A. Brown estava bem familiarizado com os muitos escritos contemporâneos sobre profecias, e Frere era um dos expositores mais conhecidos em Inglaterra. Portanto parece não haver qualquer razão para duvidar da própria declaração de Brown sobre a prioridade no que diz respeito aos 2.520 anos.

24 The Even-Tide [A Noite], Vol. II, pp. 134, 135; Vol. I, pp. XLIII, XLIV.

25 Henry Drummond, Dialogues on Prophecy [Diálogos Sobre Profecias] (Londres, 1827), Vol. I, pp. 33, 34. Neste relato das discussões em Albury, são dados nomes fictícios aos participantes. Cuninghame ("Sophron") chega aos 2.520 anos duplicando os 1.260 anos, e não por qualquer referência aos "sete tempos" de Daniel 4 ou Levítico 26. Em apoio disto, ele refere-se à autoridade de Joseph Mede, um expositor que viveu no século XVII. Embora Mede tenha sugerido que os tempos dos Gentios podiam referir-se aos quatro reinos começando com Babilónia, ele nunca disse que o período era 2.520 anos. (Mede, The Works [As Obras], Londres, 1664, Livro 4, pp. 908-910, 920.) Numa conversa posterior, "Anastasius" (Henry Drummond) liga os 2.520 anos com os "sete tempos" de Levítico 26 e, "corrigindo" o ponto de partida de Cuninghame de 728 para 722 A.C., chega a 1798 E.C. como sendo a data final. (Dialogues [Diálogos], Vol. I, pp. 324, 325)

26 John Fry (1775-1849) estava entre os que faziam isto, no seu livro Unfulfilled Prophecies of Scripture [Profecias Não Cumpridas das Escrituras], publicado em 1835.

27 Encontra-se na página 48 do seu trabalho. Citado de Froom, Vol. III, p. 576.

28 Foi o que fez W. A. Holmes, chanceler de Cashel, no seu livro The Time of the End [O Tempo do Fim], que foi publicado em 1833. Ele calculou a data do cativeiro de Manassés sob Esar-Hadom como sendo 685 A.E.C., e contando 2.520 anos desde essa data, terminou os "sete tempos" em 1835-1836.

29 Edward Bickersteth, A Scripture Help [Uma Ajuda das Escrituras], publicado pela primeira vez em 1815. Depois de 1832 Bickersteth começou a pregar sobre as profecias, o que também influenciou edições posteriores de A Scripture Help [Uma Ajuda das Escrituras]. A citação é tirada da vigésima edição (Londres, 1850), p. 235.

30 E. B. Elliott, Horæ Apocalypticæ [Horas com o Apocalipse], 1.ª ed. (Londres: Seeley, Burnside e Seeley, 1844), Vol. III, pp. 1429-1431. O trabalho de Elliott teve cinco edições (1844, 1846, 1847, 1851 e 1862). Nas duas últimas ele não mencionou directamente a data 1914, embora ainda sugerisse que os 2.520 anos podiam ser contados desde o início do reinado de Nabucodonosor.

31 David Tallmadge Arthur, "Come out of Babylon": A Study of Millerite Separatism and Denominationalism, 1840-1865 ["Saí de Babilónia": Um Estudo do Separatismo e Denominacionalismo Millerita, 1840-1865] (tese de doutoramento não publicada, University of Rochester, 1970), pp. 86-88.

32 William Miller, "A Dissertation on Prophetic Chronology" [Uma Dissertação sobre Cronologia Profética] em The First Report of the General Conference of Christians Expecting the Advent of the Lord Jesus Christ [Primeiro Relatório da Conferência Geral de Cristãos Esperando o Advento do Senhor Jesus Cristo] (Boston, 1842), p. 5. Outros Milleritas que enfatizavam os 2.520 anos incluíam Richard Hutchinson (editor de The Voice of Elijah [A Voz de Elias]) num panfleto de 1843, The Throne of Judah Perpetuated in Christ [O Trono de Judá Perpetuado em Cristo], e Philemon R. Russell (editor do Christian Herald and Journal [Arauto e Jornal Cristão] no número de 19 de Março de 1840 desse periódico. Os 2.520 anos também aparecem em tabelas usadas por evangelistas Milleritas. (Veja Froom, Vol. IV, pp. 699-701, 726-737.)

33 "Que estive enganado quanto ao tempo, confesso abertamente; e não tenho desejo de defender o meu modo de proceder senão dizendo que agi com motivos puros, e que resultou em glória para Deus. Confio que Deus perdoará os meus enganos e erros...." (Wm. Miller's Apology and Defense [Apologia e Defesa de William Miller], Boston, 1845, pp. 33, 34.) George Storrs, que fora um dos líderes na última fase do movimento Millerita, o assim chamado "movimento do sétimo mês," no qual o advento fora finalmente fixado em 22 de Outubro de 1844, foi ainda mais franco. Não apenas confessou e lamentou aberta e repetidamente o seu erro, como também declarou que Deus não estivera com o movimento do "tempo específico", que eles tinham sido "mesmerizados" por mera influência humana e que "a Bíblia não ensina de maneira nenhuma um tempo específico." (Veja D. T. Arthur, op. cit., pp. 89-92.)

34 Para uma discussão esclarecedora sobre o desenvolvimento desta doutrina, veja Dr. Ingemar Lindén, The Last Trump. A historico-genetical study of some important chapters in the making and development of the Seventh-Day Adventist Church [A Última Trombeta. Um estudo histórico-genético de alguns capítulos importantes na formação e desenvolvimento da Igreja Adventista do Sétimo Dia] (Frankfurt am Main, Las Vegas: Peter Lang, 1978), pp. 129-133. Anos depois a doutrina foi modificada para significar que o chamado "julgamento investigativo" dos crentes -- mortos e vivos -- começou em 22 de Outubro de 1844.

35 Froom, Vol. IV, p. 888. Uma discussão detalhada destes pontos de vista é apresentada pelo Dr. D. T. Arthur, op. cit., pp. 97-115.

36 Em 1855 um Segundo Adventista proeminente, J. P. Cowles, estimou que existiam "umas vinte e cinco divisões do que fora em tempos o único corpo do Advento." (Veja D. T. Arthur, op. cit., p. 319.)

37 Isaac C. Wellcome, History of the Second Advent Message [História da Mensagem do Segundo Advento] (Yarmouth, Maine, Boston, Nova Iorque, Londres, 1874), pp. 594-597.

38 Nelson H. Barbour, Evidences for the Coming of the Lord in 1873; or the Midnight Cry [Evidências em Apoio da Vinda do Senhor em 1873; ou o Grito da Meia-noite], 2.ª ed. (Rochester, N.I., 1871), p.32.

39 Ibid., p. 32.

40 Ibid., p. 33; E. B. Elliott, Horæ Apocalypticæ [Horas Com o Apocalipse], 4.ª ed. (Londres: Seeleys, 1851), Vol. IV; folha anexa à p. 236. O livro de Elliott nessa época, 1860, era uma obra padrão que defendia 1866 como sendo o tempo para a vinda do Senhor.

41 Nelson H. Barbour (ed.), Herald of the Morning [Arauto da Manhã] (Rochester, N.I.), Setembro de 1879, p. 36. De facto, a nova data de Barbour para o segundo advento foi adoptada por um número crescente de membros do Segundo Adventismo, especialmente da Advent Christian Church [Igreja Cristã do Advento], com a qual Barbour evidentemente se associou durante vários anos. Uma razão para esta prontidão em aceitar a data 1873 era que esta não era nova para eles. Conforme Barbour indica em Evidences... (pp. 33, 34), o próprio Miller mencionara 1873 depois do falhanço de 1843. Antes de 1843, vários expositores em Inglaterra tinham terminado os 1.335 anos em 1873, por exemplo John Fry em 1835 e George Duffield em 1842. (Froom, Vol. III, pp. 496, 497; Vol. IV, p. 337) Já em 1853 o Adventista da "era vindoura", Joseph Marsh de Rochester, N.I., concluiu, tal como outros expositores antes dele, que o "tempo do fim" era um período de 75 anos que começou em 1798 e expiraria em 1873. (D. T. Arthur, op. cit., p. 360) Em 1870 Jonas Wendell, bem conhecido pregador do Advento Cristão, incluiu a cronologia de Barbour no seu folheto The Present Truth; or, Meat in Due Season [A Verdade Actual; ou, Alimento no Tempo Apropriado] (Edenboro, PA, 1870). O crescente interesse na data levou a Advent Christian Church [Igreja Cristã do Advento] a realizar uma conferência especial de 6 a 11 de Fevereiro de 1872 em Worcester, Mass., para se examinar o tempo da vinda do Senhor e especialmente a data 1873. Muitos pregadores, incluindo Barbour, participaram nas discussões. Conforme relatado no Advent Christian Times [Tempos do Advento Cristão] de 12 de Março de 1872, "O ponto no qual parecia haver alguma unanimidade geral era o fim dos mil trezentos e trinta e cinco anos em 1873." (p. 263)

42 Nelson H. Barbour (ed.), The Midnight Cry, and Herald of the Morning [O Grito da Meia-noite, e Arauto da Manhã] (Boston, Mass.) Vol. I:4, Março, 1874, p. 50.

43 N. H. Barbour, "The 1873 Time" [O Tempo 1873], Advent Christian Times [Tempos do Advento Cristão], 11 de Novembro de 1873, p. 106.

44 Zion's Watch Tower [Torre de Vigia de Sião], Outubro e Novembro de 1881, p. 3 (=Reprints, p. 289).

45 Esta ideia sobre a volta de Cristo foi originalmente apresentada aproximadamente em 1828 por um banqueiro e expositor das profecias em Londres, Henry Drummond. Tornou-se rapidamente muito popular entre os expositores das profecias durante o resto do século, especialmente entre os Darbyistas, que muito fizeram para popularizar a ideia. Foi muito discutida nos principais periódicos milenaristas, em Inglaterra no Quarterly Journal of Prophecy [Jornal Trimestral de Profecia] (1849-1873) e no The Rainbow [Arco-Íris] (1864-1887), e nos Estados Unidos no Prophetic Times [Tempos Proféticos] (1863-1881). O editor principal deste último jornal (que também era amplamente lido em círculos adventistas, incluindo o de C. T. Russell e seus associados) era o bem conhecido ministro luterano Joseph A. Seiss. -- Um exame da origem e da difusão da ideia da "presença invisível" encontra-se na revista The Christian Quest [A Procura Cristã] (Christian Renewal Ministries, San Jose, CA), Vol. 1:2, 1988, pp. 37-59, e Vol. 2:1, 1989, pp. 47-58.

46 Zion's Watch Tower [Torre de Vigia de Sião], Fevereiro de 1881, p. 3, e Outubro-Novembro 1881, p. 3 (=Reprints, pp. 188 e 289).

47 Ibid., Abril de 1880, p. 7 (=Reprints, p. 88).

48 Na realidade, Barbour já tinha sugerido esse cálculo na edição de Junho de 1875 do Herald of the Morning [Arauto da Manhã], ao dizer que os tempos dos Gentios começaram no fim do reinado de Zedequias em 606 A.C., embora não tenha mencionado directamente a data final (p. 15). Na edição de Julho, ele declarou que os tempos dos Gentios "ainda continuariam durante quarenta anos." Embora isto pareça apontar para 1915, as edições posteriores tornam claro que Barbour tinha em mente o ano 1914. A edição de Agosto contém um artigo sobre "Cronologia" (pp. 38-42), mas não discute os tempos dos Gentios. A data 1914 é mencionada directamente pela primeira vez na edição de Setembro de 1875, na qual se encontra esta declaração na página 52: "Acredito que embora a dispensação do evangelho terminará em 1878, os judeus não serão restaurados na Palestina senão em 1881; e que os 'tempos dos Gentios,' nomeadamente os seus sete tempos proféticos, ou 2520, ou duas vezes 1260 anos, que começaram quando Deus entregou tudo nas mãos de Nabucodonosor, em 606 A.C.; não terminam senão em 1914 A.D.; ou 40 anos [no futuro] a partir de agora." Foi depois publicada uma longa discussão do cálculo na edição de Outubro de 1875, pp. 74-76.

49 Os pais de Russell, Joseph L. e Ann Eliza (Birney) Russell, eram ambos de descendência escocêsa-irlandesa. Eles tinham deixado a Irlanda durante a grande fome irlandesa de 1845-1849, quando um milhão e meio de pessoas morreram à fome e outro milhão emigrou para o estrangeiro. Joseph e Eliza estabeleceram-se em Allegheny em 1846, onde Charles nasceu em 1852, o segundo de três filhos. Como Eliza morreu cerca de 1860, Joseph teve de criar as três crianças. Enquanto jovem, Charles passou a maior parte do seu tempo livre na loja de roupas do seu pai, e numa idade precoce tornou-se parceiro de negócios de Joseph. A sua bem sucedida companhia, "J. L. Russell & Son, Gents' Furnishing Goods," desenvolveu-se depois numa cadeia de cinco lojas em Allegheny e Pittsburgh. -- Para notas biográficas adicionais sobre Russell, veja M. James Penton, Apocalypse Delayed. The Story of Jehovah's Witnesses [Apocalipse Adiado. A História das Testemunhas de Jeová] (Toronto, Buffalo, Londres: University of Toronto Press, 1985, 1997), pp. 13-15.

50 Zion's Watch Tower [Torre de Vigia de Sião], 14 de Julho, 1906, pp. 230, 231 (=Reprints, p. 3822).

51 Ibid. Num "Supplement to Zion's Watch Tower" [Suplemento à Torre de Vigia de Sião] de duas páginas, enviado aos leitores do 'Herald of the Morning' [Arauto da Manhã]" com o primeiro número do Zion's Watch Tower and Herald of Christ's Presence [Torre de Vigia de Sião e Arauto da Presença de Cristo] de 1.º de Julho de 1879, Russell apresenta um relato da sua reunião com Barbour e com o seu associado John Paton em 1876 e a sua colaboração subsequente durante os três anos seguintes em espalhar a "mensagem da Colheita," e explica porque tivera de terminar a colaboração com Barbour e começar o seu próprio Jornal.

52 Isto também é indicado pelo próprio Russell, que declara: "... quando nos encontrámos pela primeira vez, ele tinha muito a aprender de mim acerca da plenitude da restituição baseada na eficácia do resgate dado por todos, tal como eu tinha muito a aprender dele acerca do tempo." -- Zion's Watch Tower [Torre de Vigia de Sião], 15 de Julho, 1906, p. 231 (=Reprints, p. 3822).

53 C. T. Russell, The Time is at Hand [O Tempo Está Iminente] (= Vol. II da série Millennial Dawn [Aurora do Milénio]; chamada mais tarde Studies in the Scriptures [Estudos das Escrituras]), Pittsburgh: Watch Tower Bible and Tract Society, 1889, pp. 77, 78. Algumas das predições foram ligeiramente alteradas nas edições posteriores.

54 Zion's Watch Tower [Torre de Vigia de Sião], 15 de Julho, 1894 (=Reprints, p. 1677).

55 Ibid., 15 de Setembro, 1901 (=Reprints, p. 2876).

56 Ibid., 1.º de julho de 1904, pp. 197, 198 (=Reprints, p. 3389).

57 Ibid., 1.º de Outubro, 1904, pp. 296, 297 (=Reprints, pp. 3436, 3437).

58 Ibid., 15 de Agosto, 1904, pp. 250, 251 (=Reprints, p. 3415).

59 Ibid., 15 de Novembro, 1904, pp. 342-344; 15 de Junho, 1905, pp. 179-186 (=Reprints, pp. 3459, 3460, 3574-3579). Ênfase acrescentada.

60 C. T. Russell, The Time is at Hand [O Tempo Está Iminente], p. 169.

61 Zion's Watch Tower [A Torre de Vigia de Sião], 1.º de Outubro, 1907, pp. 294, 295 (=Reprints, p. 4067).

62 Ibid.

63 The Watch Tower [A Torre de Vigia], 1.º de Dezembro de 1912 (=Reprints, pp. 5141, 5142). Como a Primeira Guerra Mundial rebentou em 1914 e este ano foi mantido como o fim dos tempos dos Gentios, o ponto em que esses tempos começaram precisava de ser recuado um ano, de 606 para 607 A.E.C. para não alterar o total de 2.520 anos. Embora alguns dos aderentes da Sociedade tivessem indicado este facto muito cedo (veja, por exemplo, a nota da página 32 de Great Pyramid Passages [Grandes Passagens das Pirâmides], 2.ª ed., 1924) este ajuste necessário só foi feito pela Sociedade Torre de Vigia em 1943, quando foi apresentado no livro The Truth Shall Make You Free [A Verdade Tornar-vos-á Livres], na página 239. Veja também o livro The Kingdom is at Hand [O Reino Está Iminente], 1944, p. 184. Para detalhes adicionais, veja o próximo capítulo, página 79.

64 The Watch Tower [A Torre de Vigia], 1.º de Junho de 1913, pp. 166, 167 (=Reprints, p. 5249).

65 Ibid., 15 de Outubro de 1913, p. 307 (=Reprints, p. 5328). Ênfase acrescentada.

66 Ibid., 1.º de Janeiro de 1914, pp. 3, 4 (=Reprints, p. 5373).

67 Ibid., pp. 4, 5 (=Reprints, p. 5374). Ênfase acrescentada.

68 Ibid., 1.º de Maio de 1914, pp. 134, 135 (=Reprints, p. 5450). Ênfase acrescentada.

69 Ibid., 1.º de Julho de 1914, pp. 206, 207 (=Reprints, p. 5496). Ênfase acrescentada.

70 Ibid., 15 de Agosto de 1914, pp. 243, 244 (=Reprints, p. 5516).

71 Ibid., 1.º de Novembro de 1914, pp. 327, 328 (=Reprints, p. 5567).

72 Ibid., pp. 329, 330 (=Reprints, p. 5568).

73 Ibid., 1.º de Janeiro de 1915, pp. 3, 4 (=Reprints, p. 5601).

74 Ibid., 15 de Setembro de 1915, pp. 281, 282 (=Reprints, p. 5769).

75 Ibid., 15 de Fevereiro de 1916, pp. 51, 52 (=Reprints, p. 5852).

76 Ibid., 15 de Abril de 1916, (=Reprints, p. 5888).

77 Ibid., 1.º de Setembro de 1916, pp. 263, 264 (=Reprints, p. 5950).

78 Veja acima, páginas 50, 51. Durante um longo período de tempo depois de 1914, defendeu-se que a "época de tribulação" (Mateus 24:21, 22) realmente começou nesse ano, mas a Sociedade Torre de Vigia abandonou finalmente este ponto de vista em 1969. (Veja The Watchtower [A Sentinela], 15 de Janeiro de 1970, pp. 49-56.)

79 A. H. Macmillan, Faith on the March [Fé em Marcha] (Nova Iorque: Prentice Hall, Inc., 1957), p. 48.

80 New Heavens and a New Earth [Novos Céus e Uma Nova Terra] (Brooklyn, N.Y.: Watchtower Bible and Tract Society, 1953), p. 225. Até 1922, ou seja, durante quarenta anos, os Estudantes da Bíblia tinham acreditado e ensinado que o reino de Deus começara a ser estabelecido no céu em 1878. Em 1922, o evento foi transferido para 1914. -- Veja The Time is at Hand [O Tempo Está Iminente] (= Vol. II de Millennial Dawn [Aurora do Milénio], 1889, p. 101.

81 Veja o artigo "Nascimento de uma Nação" na The Watch Tower de 1.º de Março de 1925.

82 The Watch Tower, 1.º de Outubro de 1922, p. 298; 1.º de Novembro de 1922, p. 334.

83 From Paradise Lost to Paradise Regained [Do Paraíso Perdido ao paraíso Recuperado] (Brooklyn, N.Y.: Watchtower Bible and Tract Society, 1958), p. 192.

84 Em 1929 a Watch Tower Society ainda ensinava que "a segunda presença do Senhor Jesus Cristo começou em 1874 A.D." (Prophecy [Profecia], Brooklyn, N.Y.: International Bible Students Association, 1929, p. 65.) A data exacta para a transferência da segunda vinda de 1874 para 1914 é difícil de determinar com exactidão. Encontramos durante um certo período de tempo declarações confusas nas publicações. Talvez a primeira indicação de uma mudança seja a declaração na The Golden Age de 30 de Abril de 1930, página 503, segundo a qual "Jesus tem estado presente desde o ano 1914." Contudo, a The Watch Tower de 15 de Outubro de 1930, diz de forma um tanto vaga na página 308 que "o segundo advento do Senhor Jesus Cristo ocorreu cerca de 1875." Depois, em 1931, o folheto The Kingdom, the Hope of the World [O Reino, a Esperança do Mundo], indica novamente que a segunda vinda ocorreu em 1914. E em 1932 o folheto What is Truth [O Que é Verdade?] diz claramente na página 48: "A profecia da Bíblia, completamente confirmada pelos factos físicos em seu cumprimento, mostra que a segunda vinda de Cristo ocorreu no Outono do ano 1914."

85 Jehovah's Witnesses in the Divine Purpose [As Testemunhas de Jeová no Propósito Divino] (Brooklyn, Nova Iorque: Watchtower Bible & Tract Society, 1959), p. 31.

86 Citado por I. F. Clarke em Voices Prophesying War 1763-1984 [Vozes Profetizando Guerra 1763-1984] (Londres: Oxford University Press, 1966), pp. 66, 67.

87 Ibid., p. 59.

88 Citado por Theodore Graebner no seu livro War in the Light of Prophecy. "Was it Foretold?" A Reply to Modern Chiliasm [Guerra à Luz da profecia. "Foi Predita?" Uma Resposta ao Milenarismo Moderno] (St. Louis, Mo.: Concordia Publishing House, 1941), pp. 14, 15.

89 Dwight Wilson, Armageddon Now! [Armagedom Agora!] (Grand Rapids: Baker Book House, 1977), pp. 36, 37.

90 Ibid., p. 37.

91 Graebner, op. cit., pp. 8, 9.

92 Ibid., pp. 9, 10.

93 Reprints, p. 720.

94 Reprints, p. 899.

95 Reprints, pp. 1354-1356.

96 Jehovah's Witnesses -- Proclaimers of God's Kingdom [Testemunhas de Jeová -- Proclamadores do Reino de Deus] (Brooklyn, Nova Iorque: Watchtower Bible & Tract Society, 1993), p. 134.

97 Ibid., p. 134.

98 A Watch Tower Society [Sociedade Torre de Vigia] não apresenta qualquer referência específica. E. B. Elliott publicou pela primeira vez os seus cálculos em Horæ Apocalypticæ, 1.ª ed. (Londres: Seeley, Burnside e Seeley, 1844), Vol. III, pp. 1429-1431. Robert Seeley publicou os seus cálculos em An Atlas of Prophecy: Being the Prophecies of Daniel & St. John (Londres: Seeley's, 1849), p. 9. Veja também a nota 30 do capítulo I.

99 A publicação cujo título não é mencionado é a revista The Prophetic Times. O cálculo foi apresentado no artigo "Prophetic Times. An Inquiry into the Dates and Periods of Sacred Prophecy" [Tempos Proféticos. Uma Investigação sobre as Datas e Períodos da Profecia Sagrada], escrito por um colaborador anónimo e publicada na edição de Dezembro de 1870, pp. 177-184. O autor, nas páginas 178 e 179, apresenta 12 pontos de partida diferentes para os tempos dos Gentios, desde 728 até 598 A.E.C., chegando assim a 12 datas finais diferentes que vão desde 1792 até 1922 E.C.! O ano 1914 é o penúltimo destas datas finais. O cálculo que aponta para 1914 é contado desde o ano de ascensão de Nabucodonosor, que o autor, tal como Elliott e Seeley, coloca em 606 A.E.C. Assim, também ele seguiu uma cronologia que indica para a destruição de Jerusalém a data 588 ou 587 A.E.C., não 606 A.E.C. como nos escritos de Russell, ou 607 A.E.C., como em publicações posteriores da Watch Tower.

100 Conforme mostrado neste capítulo, também Barbour e Russell começaram os tempos dos Gentios em 606 A.E.C., embora defendessem que esta era a data da desolação de Jerusalém no décimo-oitavo ano de Nabucodonosor. A data 606 A.E.C. não é mencionada em nenhum lugar no novo livro, provavelmente porque a Sociedade hoje usa 607 A.E.C. como ano inicial. Recordar aos leitores essa data anterior poderia parecer confuso, especialmente para aqueles que nunca ouviram falar dela. O modo como a Sociedade, em 1944 (no livro The Kingdom is at Hand [O Reino Está Iminente], p. 175) arranjou maneira de alterar o ponto inicial de 606 para 607 A.E.C. e ainda reter 1914 como data final, tem por sua vez uma estranha história, que foi contada no folheto The Watchtower Society and Absolute Chronology [A Sociedade Torre de Vigia e a Cronologia Absoluta] (Lethbridge, Alberta, Canadá, 1981), da autoria de "Karl Burganger" (um pseudónimo que eu usei nessa altura). Veja adiante, pp. 77-84.

101 The Time is at Hand [O Tempo Está Iminente] (=Vol. II de Millennial Dawn [Aurora do Milénio], mais tarde chamado Studies in the Scriptures [Estudos das Escrituras]), Pittsburg: Watch Tower Bible & Tract Society, 1889, pp. 76-102.

102 Jehovah's Witnesses -- Proclaimers of God's Kingdom [Testemunhas de Jeová -- Proclamadores do Reino de Deus (1993), página 135.


Índice