The Gentile Times Reconsidered (Os Tempos dos Gentios Reconsiderados) (Atlanta: Commentary Press, 1998, terceira edição) de Carl Olof Jonsson, pp. 283-311.

Capítulo 7: Tentativas de Enfraquecer a Evidência

Carl Olof Jonsson


Conforme relatado na Introdução, o manuscrito original deste trabalho foi apresentado pela primeira vez à Watch Tower Society em 1977. Durante a correspondência posterior com a sede dessa organização, foram apresentadas linhas de evidência adicionais, que mais tarde foram incluídas na edição deste trabalho, em 1983.

De posse de toda esta informação, seria de esperar que o Corpo Governante das Testemunhas de Jeová, na sede de Brooklyn, estivesse preparado para reavaliar o seu cálculo dos tempos dos Gentios de acordo com o seu anunciado interesse na verdade bíblica e nos factos históricos. Pelo contrário, eles escolheram reter e defender a data 607 A.E.C. e as interpretações baseadas nela.1

A. O APÊNDICE DO LIVRO "VENHA O TEU REINO" DA WATCH TOWER SOCIETY

A nova defesa da data 607 A.E.C. apareceu num livro publicado em 1981, intitulado "Let Your Kingdom Come" ["Venha o Teu Reino"]. No capítulo 14 (páginas 127-140) desse livro, é apresentada outra discussão do cálculo dos tempos dos Gentios, que essencialmente não difere de discussões anteriores sobre o assunto nas publicações da Watch Tower. Mas num "Apêndice ao Capítulo 14", em separado, no fim do livro, algumas das linhas de evidência que contrariam a data 607 A.E.C. são brevemente discutidas -- e rejeitadas.2 Contudo, essa discussão tem uma grave falta de objectividade e não passa de uma fraca tentativa de esconder factos.

Na área da investigação histórica, um acontecimento é geralmente considerado um "facto histórico" se for testificado por, pelo menos, duas testemunhas independentes. Reconhecemos esta regra da Bíblia: "Pela boca de duas ou três testemunhas, todo assunto seja estabelecido". (Mateus 18:16) No Capítulo 2 da primeira edição do presente trabalho foram apresentadas sete "testemunhas" históricas contra a data 607 A.E.C., sendo que pelo menos quatro delas se qualificam claramente como testemunhas independentes. A maioria dos registos que dão este testemunho sétuplo, encontram-se em documentos preservados da própria era Neo-Babilónica. Estes incluem inscrições reais, documentos de transacções comerciais e a estela [ou coluna] de Ápis, da dinastia egípcia contemporânea Saite. Só os diários astronómicos, a cronologia Neo-Babilónica de Beroso e a lista de reis do Cânone Real ("Cânone de Ptolomeu") são encontrados em documentos posteriores, mas verificou-se que estes registos foram copiados de outros anteriores que -- directa ou indirectamente -- remontam à era Neo-Babilónica.

Nos capítulos 3 e 4 da presente edição actualizada da obra, as sete linhas de evidência originais foram duplicadas para catorze. As linhas de evidência agora acrescentadas incluem evidência prosopográfica [relacionada com as biografias de indivíduos], pontos cronológicos de articulação que se encaixam uns nos outros e um número adicional de textos astronómicos (a tabuinha de Saturno e quatro eclipses lunares). A evidência contra a data 607 A.E.C. é, pois, esmagadora, e muito poucos reinos [continua na página 289]

"Apêndice ao Capítulo 14", no livro da Watch Tower Society "Let Your Kingdom Come" ["Venha o Teu Reino"] (1981), páginas 186-190:

APÊNDICE AO CAPÍTULO 14

Os historiadores sustentam que Babilônia caiu diante do exército de Ciro em outubro de 539 A.E.C. O rei era então Nabonido, mas seu filho Belsazar era co-regente de Babilônia. Alguns eruditos elaboraram uma lista de reis neobabilônicos e da duração de seus reinados, remontando desde o último ano de Nabonido até o pai de Nabucodonosor, Nabopolassar.

De acordo com essa cronologia neobabilônica, o príncipe herdeiro, Nabucodonosor, derrotou os egípcios na batalha de Carquemis, em 605 A.E.C. (Jeremias 46:1, 2) Depois de Nabopolassar falecer, Nabucodonosor voltou a Babilônia para ascender ao trono. Seu primeiro ano de reinado iniciou-se na primavera seguinte (604 A.E.C.).

A Bíblia relata que os babilônios sob Nabucodonosor destruíram Jerusalém no seu 18.º ano de reinado (19.º quando se inclui o ano de ascensão). (Jeremias 52:5, 12, 13, 29) Assim, caso se aceite esta cronologia neobabilônica, então a desolação de Jerusalém ocorreu no ano 587/6 A.E.C. Mas em que se baseia esta cronologia secular, e como se compara ela com a cronologia da Bíblia?

Algumas evidências principais desta cronologia secular são:

O Cânon de Ptolomeu: Cláudio Ptolomeu era astrônomo grego, que viveu no segundo século E.C. Seu Cânon, ou lista de reis, relacionava-se com uma obra sobre astronomia, produzida por ele. A maioria dos historiadores modernos aceita a informação de Ptolomeu sobre os reis neobabilônicos e a duração de seus reinados (embora Ptolomeu omita o reinado de Labashi-Marduque). Ptolomeu evidentemente baseou sua informação histórica em fontes que datavam do período selêucida, o qual começou mais de 250 anos depois de Ciro ter capturado Babilônia. Portanto, não surpreende que as cifras de Ptolomeu concordem com as de Beroso, sacerdote babilônico do período selêucida.

Estela de Nabonido, de Harã (NABON H 1, B): Esta estela ou coluna contemporânea com uma inscrição foi descoberta em 1956. Menciona os reinados dos reis neobabilônicos Nabucodonosor, Evil-Merodaque e Neriglissar. As cifras para estes três concordam com as do Cânon de Ptolomeu.

VAT 4956: Trata-se duma tabuinha cuneiforme que fornece informações astronômicas datando até 568 A.E.C. Diz que as observações eram desde o 37.º ano de Nabucodonosor. Isto corresponderia à cronologia que coloca seu 18.º ano de reinado em

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587/6 A.E.C. Todavia, essa tabuinha é admitidamente uma cópia feita no terceiro século A.E.C., de modo que é possível que sua informação histórica seja simplesmente a que era aceita no período selêucida.

Tabuinhas comerciais: Milhares de tabuinhas cuneiformes, neobabilônicas, contemporâneas, foram encontradas com simples registros de transações comerciais, mencionando o ano do rei babilônico em que ocorreu a respectiva transação. Tabuinhas desta espécie foram encontradas para todos os anos de reinado dos reis neobabilônicos conhecidos na cronologia aceita do período.

Do ponto de vista secular, tais tipos de evidência talvez pareçam confirmar a cronologia neobabilônica que fixa o 18.º ano de Nabucodonosor (e a destruição de Jerusalém) em 587/6 A.E.C. No entanto, nenhum historiador pode negar a possibilidade de que o atual quadro da história babilônica pode ser enganoso ou errado. Por exemplo, sabe-se que os antigos sacerdotes e reis às vezes alteravam os registros para os seus próprios fins. Ou mesmo quando a evidência descoberta é exata, poderá ser interpretada mal pelos eruditos modernos ou ser incompleta, a ponto de que matéria ainda a ser descoberta poderá alterar drasticamente a cronologia do período em questão.

Evidentemente por reconhecer tais fatos, o Professor Edward F. Campbell Jr. apresentou uma tabela que inclui cronologia neobabilônica com a cautela: "Nem se precisa dizer que estas listas são provisórias. Quanto mais se estuda a complexidade dos problemas cronológicos no antigo Oriente Próximo, tanto menos se está inclinado a pensar numa apresentação como sendo definitiva. Por este motivo, o termo circa [cerca de] poderia ser usado ainda mais liberalmente do que é." -- The Bible and the Ancient Near East (ed. 1965.), p. 281.

Os cristãos, que crêem na Bíblia, têm vez após vez encontrado que a palavra dela suporta a prova de muita crítica e tem-se mostrado exata e fidedigna. Reconhecem que, sendo a Palavra inspirada de Deus, ela pode ser usada como medidor na avaliação da história e dos conceitos seculares. (2 Timóteo 3:16, 17) Por exemplo, embora a Bíblia falasse sobre Belsazar como governante de Babilônia, os eruditos, durante séculos, estavam confusos sobre ele, porque não existia nenhum documento secular que falasse de sua existência, identidade ou posição. Finalmente, porém, os arqueólogos descobriram registros seculares

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que confirmaram a Bíblia. Sim, a harmonia interna da Bíblia e o cuidado exercido pelos seus escritores até mesmo em questões de cronologia, recomendam-na tão fortemente ao cristão, que ele coloca a autoridade dela acima das opiniões de historiadores seculares, que sempre mudam.

Mas, como nos ajuda a Bíblia a saber quando Jerusalém foi destruída, e como se compara isso com a cronologia secular?

O profeta Jeremias predisse que os babilônios destruiriam Jerusalém, e transformariam a cidade e o país numa desolação. (Jeremias 25:8, 9) Ele acrescentou: "E toda esta terra terá de tornar-se um lugar devastado, um assombro, e estas nações terão de servir ao rei de Babilônia por setenta anos." (Jeremias 25:11) Os 70 anos expiraram quando Ciro, o Grande, no seu primeiro ano, libertou os judeus e estes voltaram à sua pátria. (2 Crônicas 36:17-23) Cremos que a leitura mais direta de Jeremias 25:11 e de outros textos é que os 70 anos contam desde quando os babilônios destruíram Jerusalém e deixaram a terra de Judá desolada. -- Jeremias 52:12-15, 24-27; 36:29-31.

Todavia, os que se estribam principalmente na informação secular quanto à cronologia daquele período dão-se conta de que, se Jerusalém tivesse sido destruída em 587/6 A.E.C., certamente não se teriam passado 70 anos até Babilônia ser conquistada e Ciro deixar os judeus voltar à sua pátria. Na tentativa de harmonizar as questões, afirmam que a profecia de Jeremias começou a cumprir-se em 605 A.E.C. Escritores posteriores citam Beroso como dizendo que Nabucodonosor, após a batalha de Carquemis, estendeu a influência babilônica sobre toda a Síria-Palestina, e que, quando voltou a Babilônia (no seu ano de ascensão, 605 A.E.C.), levou cativos judaicos ao exílio. Assim calculam os 70 anos como período de servidão a Babilônia, começando em 605 A.E.C. Isto significaria que o período de 70 anos expiraria em 535 A.E.C.

Mas, esta interpretação traz vários problemas grandes:

Embora Beroso afirme que Nabucodonosor levou cativos judaicos no seu ano de ascensão, não há nenhum documento cuneiforme que confirme isso. O que é ainda mais significativo, Jeremias 52:28-30 relata cuidadosamente que Nabucodonosor levou cativos judaicos no seu sétimo ano, no seu 18.º ano e no seu 23.º ano, não no seu ano de ascensão. Também, o historiador judaico Josefo declara que, no ano da batalha de Carquemis, Nabucodonosor conquistou toda a Siria-Palestina, "exceto a Judéia", contradi-

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zendo assim Beroso e entrando em conflito com a afirmação de que os 70 anos de servidão judaica começaram no ano de ascensão de Nabucodonosor. -- Antiquities of the Jews X, vi, 1.

Além disso, em outro lugar, Josefo descreve a destruição de Jerusalém pelos babilônios e diz então que "toda a Judéia e Jerusalém, e o templo, continuaram a ser um deserto por setenta anos". (Antiquities of the Jews X, ix, 7) Declarou especificamente que "nossa cidade ficou desolada durante o intervalo de setenta anos, até os dias de Ciro". (Against Apion I, 19) Isto concorda com 2 Crônicas 36:21 e Daniel 9:2, de que os preditos 70 anos foram 70 anos de desolação total do país. O escritor Teófilo de Antioquia, do segundo século (E.C.), também mostra que os 70 anos começaram com a destruição do templo, após o reinado de 11 anos de Zedequias. -- Veja também 2 Reis 24:18 a 25:21.

Mas a própria Bíblia fornece evidência ainda mais marcante contra a alegação de que os 70 anos começaram em 605 A.E.C. e que Jerusalém foi destruída em 587/6 A.E.C. Conforme já mencionado, se fôssemos contar a partir de 605 A.E.C., os 70 anos chegariam a 535 A.E.C. Mas, o inspirado escritor bíblico Esdras relatou que os 70 anos se estenderam até o "primeiro ano de Ciro, rei da Pérsia", que emitiu o decreto que permitiu aos judeus voltar à sua pátria. (Esdras 1:1-4; 2 Crônicas 36:21-23) Os historiadores aceitam que Ciro conquistou Babilônia no outubro de 539 A.E.C. e que o primeiro ano de reinado de Ciro começou na primavera (setentrional) de 538 A.E.C. Se o decreto de Ciro foi emitido mais para o fim de seu primeiro ano de reinado, os judeus podiam ter estado facilmente de volta na sua pátria por volta do sétimo mês (tisri), conforme diz Esdras 3:1; isto seria em outubro de 537 A.E.C.

Todavia, não há maneira razoável de esticar o primeiro ano de Ciro de 538 até 535 A.E.C. Alguns tentaram eliminar o problema de modo forçado alegando que Esdras e Daniel, ao falarem do "primeiro ano de Ciro", estavam usando algum conceito judaico peculiar, que diferia da contagem oficial do reinado de Ciro. Mas isto não pode ser sustentado, porque tanto um governador não-judaico como um documento dos arquivos persas concordam em que o decreto foi emitido no primeiro ano de Ciro, assim como os escritores bíblicos relatam com cuidado e especificamente. -- Esdras 5:6, 13; 6:1-3; Daniel 1:21; 9:1-3.

A "boa palavra" de Jeová está relacionada com o período predito de 70 anos, porque Deus disse:

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"Assim disse Jeová: 'De acordo com o cumprimento de setenta anos em Babilônia, voltarei minha atenção para vós, e vou confirmar para convosco a minha boa palavra por trazer-vos de volta a este lugar.'" (Jeremias 29:10)

Daniel estribou-se nesta palavra, confiando em que os 70 anos não fossem um 'número redondo', mas uma cifra exata em que se podia confiar. (Daniel 9:1, 2) E assim veio a ser.

De maneira similar, estamos dispostos a ser guiados principalmente pela Palavra de Deus, em vez de por uma cronologia que se baseia primariamente em evidência secular ou que discorda das Escrituras. Parece evidente que o entendimento mais fácil e mais direto das diversas declarações bíblicas é que os 70 anos começaram com a desolação completa de Judá, depois de Jerusalém ter sido destruída. (Jeremias 25:8-11; 2 Crônicas 36:20-23; Daniel 9:2) Assim, contando para trás 70 anos a partir de quando os judeus voltaram à sua pátria em 537 A.E.C., chegamos a 607 A.E.C. como data em que Nabucodonosor, no seu 18.º ano de reinado, destruiu Jerusalém, tirou Zedequias do trono e acabou com a linhagem de reis judeus no trono, na Jerusalém terrestre. -- Ezequiel 21:19-27.

na história antiga podem ser estabelecidos de forma tão conclusiva como o reinado de Nabucodonosor II (604-562 A.E.C.).

A-1: Deturpações de evidência histórica

No seu "Apêndice ao Capítulo 14", a Watch Tower Society menciona brevemente algumas das linhas de evidência contra a data 607 A.E.C., incluindo o "Cânon de Ptolomeu" e a lista de reis de Beroso, mas não menciona que essas duas listas de reis são baseadas no próprio período Neo-Babilónico. Em vez disso, a publicação da Watch Tower alega que a origem das datas apresentadas nesses documentos é proveniente da era Selêucida, ou seja, cerca de três séculos mais tarde.3

Além disso, a Watch Tower Society menciona pela primeira vez a Estela de Nabonido, de Harã (Nabon. H 1, B), um documento contemporâneo que estabelece a duração de toda a era Neo-Babilónica até ao nono ano de Nabonido. Mas a Watch Tower Society não menciona outra estela contemporânea do reinado de Nabonido, a estela de Hillah, que também estabelece a duração de toda a era Neo-Babilónica, incluindo o reinado de Nabonido!

Em terceiro lugar, é mencionado o diário astronómico VAT 4956. Referindo-se ao facto de este documento ser uma cópia de um texto original do reinado de Nabucodonosor, feita durante a era Selêucida, a Sociedade repete a sua teoria de que "é possível que sua informação histórica seja simplesmente a que era aceita no período selêucida."4 No entanto, este raciocínio é completamente falacioso, pois foi provado falso por outro diário astronómico, B.M. 32312, facto este que a Sociedade não comenta, embora o conheça perfeitamente.5

Finalmente, a Sociedade menciona as tabuinhas comerciais, admitindo que os milhares de documentos contemporâneos apresentam os reinados de todos os reis Neo-Babilónicos, e que as durações dos reinados dados por estes documentos concordam com todas as outras linhas de evidência mencionadas anteriormente -- o Cânon Real, a cronologia de Beroso, as inscrições reais de Nabonido e os diários astronómicos.6 Contudo, a Sociedade não menciona que essa concordância [ou harmonia] refuta a noção de que a informação presente no VAT 4956 poderia ter sido forjada durante o período Selêucida. Além das linhas de evidência acima mencionadas, a Sociedade também ignora completamente outra forte linha de evidência contra a data 607 A.E.C., nomeadamente, a sincronia [entre esses documentos] e a cronologia Egípcia, que é contemporânea e estabelecida independentemente.

Ao omitir cerca de metade das sete linhas de evidência discutidas na primeira edição do presente trabalho (a estela de Hillah, o diário B.M. 32312 e os documentos egípcios contemporâneos) e ao deturpar algumas das outras, são ocultados os factos reais acerca da força e validade da cronologia Neo-Babilónica estabelecida. Partindo desta base, os peritos da Watch Tower passaram a fazer uma avaliação crítica da limitada evidência apresentada. Eles declaram:

No entanto, nenhum historiador pode negar a possibilidade de que o atual quadro da história babilônica pode ser enganoso ou errado. Por exemplo, sabe-se que os antigos sacerdotes e reis às vezes alteravam os registros para os seus próprios fins.7

Novamente, os factos são ocultados. Embora seja verdade que escribas da antiguidade por vezes distorceram a história para glorificar os seus reis e deuses, os peritos concordam que, embora essa distorção se encontre nas inscrições reais e outros documentos Assírios, os escribas Neo-Babilónicos não distorceram a história desta forma. Isto foi também sublinhado no Capítulo 3 (secção B-1-b) [pp. 105-108] do presente trabalho, onde A. K. Grayson, uma autoridade bem conhecida em registos históricos Babilónicos, foi citado como tendo dito:

Ao contrário dos escribas Assírios, os Babilónicos nem deixam de mencionar as derrotas Babilónicas, nem tentam transformá-las em vitórias.8

Acerca das crónicas Neo-Babilónicas, Grayson diz que "contêm um registo razoavelmente fiável e representativo de acontecimentos importantes no período de que se ocupam", e "dentro dos limites do seu interesse, os escritores são muito objectivos e imparciais".9 Acerca das inscrições reais Babilónicas (como a estela de Nabonido), Grayson observa que são "primariamente registos de actividade de construção e no seu todo parecem ser confiáveis".10

Portanto, a distorção feita pelos escribas refere-se à história Assíria, não se refere à história Neo-Babilónica, facto este que é ocultado no "Apêndice" do livro "Let Your Kingdom Come" ["Venha o Teu Reino"], da Watch Tower Society.

O próximo argumento apresentado pela Sociedade no "Apêndice" é que, "mesmo quando a evidência descoberta é exata, poderá ser interpretada mal pelos eruditos modernos ou ser incompleta, a ponto de que matéria ainda a ser descoberta poderá alterar drasticamente a cronologia do período em questão."11

Evidentemente, os peritos da Watch Tower apercebem-se que toda a evidência descoberta desde meados de 1850 até agora aponta de forma unânime para 587 A.E.C. e não para 607 A.E.C. como sendo o décimo oitavo ano de Nabucodonosor. Entre as dezenas de milhares de documentos da era Neo-Babilónica já descobertos, a Watch Tower não conseguiu encontrar o menor vestígio de apoio para a sua data 607 A.E.C. -- é por isso que menciona "matéria ainda a ser descoberta." Uma cronologia que tem de se basear em "matéria ainda a ser descoberta", devido a ser demolida por toda a matéria já descoberta, está de facto baseada numa fundação muito fraca. Se a Watch Tower acha que uma ideia, refutada por uma quantidade esmagadora de evidência já descoberta, deve ser retida por se esperar que "matéria ainda a ser descoberta" irá suportá-la, então todas as ideias, por muito falsas que fossem, poderiam ser retidas. Mas deve-se ter presente que essa fé não se baseia na "demonstração evidente de realidades, embora não observadas" (Hebreus 11:1); baseia-se somente em wishful thinking [aquilo que se desejaria que fosse verdade].

Se realmente fosse verdade que (1) "nenhum historiador pode negar a possibilidade de que o atual quadro da história babilônica pode ser enganoso ou errado", que (2) "sacerdotes e reis às vezes alteravam" os registos históricos Neo-Babilónicos, que (3) "mesmo quando a evidência descoberta é exata, poderá ser interpretada mal pelos eruditos modernos ou ser incompleta" e que (4) "matéria ainda a ser descoberta poderá alterar drasticamente a cronologia do período", que razão temos para aceitar qualquer data da era Neo-Babilónica determinada pelos historiadores -- por exemplo, 539 A.E.C. como sendo a data para a queda de Babilónia? Também esta data foi determinada unicamente com a ajuda de documentos seculares do mesmo tipo dos que se usaram para estabelecer 587 A.E.C. como sendo o décimo oitavo ano de Nabucodonosor. E das duas datas, 587 tem um apoio muito maior do que 539 A.E.C.!12

Se 587 A.E.C. deve ser rejeitada pelas razões acima mencionadas, então a data 539 A.E.C. também devia ser rejeitada pelas mesmas razões, ou até por razões mais fortes. E no entanto, a Watch Tower Society não só aceita a data 539 A.E.C. como sendo fiável, mas até deposita tanta confiança nela ao ponto de a tornar a própria base da sua cronologia bíblica!13 Se as razões que a Watch Tower invoca para rejeitar a data 587 A.E.C. são válidas, então são igualmente válidas para rejeitar a data 539 A.E.C. Rejeitar uma data e reter a outra não é apenas inconsistente; é também um triste exemplo de desonestidade intelectual.

A-2: Deturpação do que os peritos dizem

Em apoio das suas razões para rejeitar a cronologia Neo-Babilónica estabelecida por historiadores, é citada uma autoridade bem conhecida em história do Oriente Próximo.

"Evidentemente por reconhecer tais fatos," -- que o actual quadro da história Babilónica pode estar errado, que os antigos sacerdotes e reis podem ter alterado os registos Neo-Babilónicos, e que matéria ainda a ser descoberta poderia alterar drasticamente a cronologia do período:

o Professor Edward F. Campbell Jr. apresentou uma tabela que inclui cronologia neobabilônica com a cautela: "Nem se precisa dizer que estas listas são provisórias. Quanto mais se estuda a complexidade dos problemas cronológicos no antigo Oriente Próximo, tanto menos se está inclinado a pensar numa apresentação como sendo definitiva. Por este motivo, o termo circa [cerca de] poderia ser usado ainda mais liberalmente do que é."14

Esta citação é tirada de um capítulo escrito por Edward F. Campbell, Jr., que apareceu pela primeira vez em The Bible and the Ancient Near East (BANE) [A Bíblia e o Antigo Oriente Próximo], um trabalho editado por G. Ernest Wright e publicado por Routledge e Kegan Paul, de Londres, em 1961. Contudo, a Watch Tower Society não mencionou que o quadro mencionado neste trabalho abrange as cronologias do Egipto, Palestina, Síria, Ásia Menor, Assíria e Babilónia, desde c. 3800 A.E.C. até à data da morte de Alexandre o Grande, em 323 A.E.C., e embora o termo circa [cerca de] seja colocado antes de muitos dos reinos apresentados nas listas deste longo período, esse termo não é colocado antes de nenhum dos reinados apresentados para os reis do período Neo-Babilónico!

A questão é: Quando o Professor Campbell, em cooperação com o Professor David N. Freedman, elaborou as listas cronológicas na obra The Bible and the Ancient Near East [A Bíblia e o Antigo Oriente Próximo], será que ele pensava que "o atual quadro da história babilônica pode ser enganoso ou errado" no que diz respeito à era Neo-Babilónica? Será que ele pensava que existia alguma possibilidade de que "antigos sacerdotes e reis às vezes alteravam" os registos Neo-Babilónicos "para os seus próprios fins"? Estava ele, por alguma razão, preparado para colocar o termo circa [cerca de] antes de qualquer dos reinados dos reis Neo-Babilónicos? Por outras palavras, será que a Watch Tower Society dá uma imagem correcta das opiniões de Campbell e Freedman?

Quando estas perguntas foram colocadas ao Dr. Campbell, ele escreveu em resposta:

Conforme talvez já tenha concluído, estou consternado pelo uso que a Watch Tower Society fez das listas cronológicas de Noel Freedman e minhas. Temo que alguns sujeitos com excesso de zelo se aproveitarão de qualquer minudência para apoiar as suas conclusões previamente elaboradas. Este é certamente um caso em que se fez exactamente isso.

Deixe-me primeiro explicar que a divisão de responsabilidades nos quadros cronológicos em BANE atribuiu-me a maior parte da cronologia do Oriente Próximo e as datas bíblicas ao Professor David Noel Freedman, agora na University of Michigan. Nós de facto falámos acerca das qualificações que colocámos antes dos nossos quadros, mas não houve absolutamente nenhuma intenção de sugerir que havia um desfasamento de vinte anos nas datas relacionadas com Babilónia e Judá. Estou certo de que o Dr. Freedman torna explícito algures no texto do capítulo do BANE, que a data 587/6 não pode estar errada por mais de um ano, e a data 597 é uma das poucas datas seguras em todo o nosso repertório cronológico. Sei que ele continua convencido disto, tal como eu. Não existe absolutamente nenhuma evidência de que eu tenha conhecimento, que sugira a possibilidade de as datas em The Babilonian Chronicle [A Crónica Babilónica] terem sido alteradas por sacerdotes ou reis, por razões piedosas. Estou completamente de acordo com Grayson.15

O Dr. Campbell enviou as perguntas que lhe foram feitas ao Dr. Freedman, para lhe dar uma oportunidade de expressar os seus pontos de vista. Freedman tinha a dizer o seguinte sobre o assunto:

... Concordo inteiramente com tudo o que o Dr. Campbell lhe escreveu. É verdade que existem algumas incertezas acerca da cronologia bíblica para este período, mas essas incertezas originam-se em informação confusa e talvez conflitante da Bíblia, e não têm nada que ver com a informação e evidência cronológica para o período Neo-Babilónico proveniente de inscrições cuneiformes e outras fontes não bíblicas. Este é um dos períodos mais bem conhecidos do mundo antigo e podemos estar certos de que as datas estão correctas, com uma margem de erro de um ano ou algo semelhante, e muitas das datas são exactas com uma precisão de dia e mês. Não existe, portanto, qualquer base para os comentários ou juízos feitos pela Watchtower Society baseados num comentário acerca da nossa incerteza. O eu tinha especificamente em mente era o desacordo entre os peritos quanto a se a queda de Jerusalém deve ser datada em 587 ou 586. Peritos eminentes estão em desacordo sobre este ponto e infelizmente não temos a crónica Babilónica para esse episódio como temos para a captura de Jerusalém em 597 (esta data está agora fixada com exactidão). Mas esse é apenas um debate acerca de um ano, no máximo (587 ou 586), portanto é irrelevante para as opiniões das Testemunhas de Jeová que aparentemente querem rescrever toda a história dessa época e mudar as datas de forma muito dramática. Não existe qualquer base para isso.16

Assim, a Watch Tower Society, na sua tentativa de encontrar apoio para a data 607 A.E.C., deturpou as opiniões do Dr. Campbell e do Dr. Freedman. Nenhum deles acredita que os sacerdotes ou reis da antiguidade podem ter "altera[do] os registos" do período Neo-Babilónico, ou que "matéria ainda a ser descoberta poderá alterar drasticamente a cronologia do período em questão." E nenhum deles está disposto a colocar o termo circa [cerca de] antes de qualquer dos reinados apresentados nas suas listas para os reis da era Neo-Babilónica.

A única incerteza que eles assinalam é saber se a data da desolação de Jerusalém deve ser colocada em 587 ou em 586 A.E.C., e esta incerteza não provém de quaisquer erros ou obscuridades nas fontes extra-bíblicas, mas sim dos números aparentemente conflitantes dados na Bíblia, evidentemente as referências à destruição de Jerusalém como ocorrendo, num caso, no décimo oitavo ano [do reinado] de Nabucodonosor, e noutro caso, no seu décimo nono ano.--Jeremias 52:28, 29; 2 Reis 25:8.

A-3: Deturpação do que escritores da antiguidade disseram

As últimas três páginas do "Apêndice" do livro "Venha o Teu Reino" são dedicadas a uma discussão da profecia de Jeremias acerca dos setenta anos.17 Todos os argumentos apresentados nessas páginas foram completamente refutados no Capítulo 5 do presente trabalho [pp. 191-235], intitulado "Os Setenta Anos para Babilónia" (que corresponde ao capítulo 3 da primeira edição), para o qual remetemos o leitor. Aqui limitar-nos-emos a comentar alguns pontos.

Contra a declaração de Beroso, segundo a qual Nabucodonosor levou judeus como cativos no seu ano de ascensão, pouco depois da batalha de Carchemish (veja o Capítulo 5 acima, secção A-4 [p. 204]), a Watch Tower argumenta que "não há nenhum documento cuneiforme que confirme isso."18 Mas a Watch Tower Society omite isto: a declaração de Beroso é claramente apoiada pela leitura mais directa de Daniel 1:1-6.19

Daniel relata que "no terceiro ano do reinado de Jeoiaquim" (correspondendo ao ano de ascensão de Nabucodonosor; veja Jeremias 25:1) Nabucodonosor levou de Judá um tributo, consistindo em utensílios do templo e também "alguns dos filhos de Israel, e da descendência real, e dos nobres," e trouxe-os para Babilónia. (Daniel 1:1-3, TNM) É verdade que a Crónica Babilónica não menciona especificamente estes cativos judeus. Contudo, menciona que Nabucodonosor, no seu ano de ascensão, "marchou vitoriosamente em Hattu," e que "ele levou os vastos despojos de Hattu para Babilónia."20 Com toda a probabilidade, os cativos do território de Hattu estavam incluídos nestes "vastos despojos", conforme é indicado pelo Professor Gerhard Larsson:

É certo que este "pesado tributo" consistia, não apenas em tesouros mas também em prisioneiros dos países conquistados. Refrear-se de fazer isto teria sido demasiado estranho aos costumes da Babilónia e da Assíria.21

Assim, embora a Crónica Babilónica não mencione especificamente a deportação judaica (provavelmente muito pequena) no ano de ascensão de Nabucodonosor, a Crónica indica fortemente que isso ocorreu, o que concorda com as declarações directas de Daniel e Beroso.

Além disso, devemos notar que a mesma crónica Babilónica (BM 21946) fala dos vastos despojos levados para Babilónia no sétimo ano de Nabucodonosor em termos lacónicos similares. Embora seja conhecido, a partir da Bíblia (2 Reis 24:10-17; Jeremias 52:28), que estes despojos incluíam milhares de cativos judeus, a crónica não menciona nada acerca disto mas diz apenas:

Um rei da sua própria escolha ele [Nabucodonosor] designou na cidade (e) tomando o vasto tributo ele trouxe-o para Babilónia.22

Portanto, se o silêncio dos documentos cuneiformes acerca da deportação dos cativos judeus no ano de ascensão de Nabucodonosor indica, como o "Apêndice" do livro "Venha o Teu Reino" deixa implícito, que essa deportação não ocorreu, então o silêncio acerca da deportação no seu sétimo ano indicaria que esta também não ocorreu. Contudo, como a Bíblia menciona ambas as deportações, a crónica Babilónica evidentemente inclui-as nos "vastos despojos" ou tributos levados para Babilónia em ambas as ocasiões.

A Sociedade encontra outro argumento contra a deportação no ano de ascensão de Nabucodonosor no texto de Jeremias 52:28-30:

O que é ainda mais significativo, Jeremias 52:28-30 relata cuidadosamente que Nabucodonosor levou cativos judaicos no seu sétimo ano, no seu 18.º ano e no seu 23.º ano, não no seu ano de ascensão.23

Este argumento, contudo, pressupõe que Jeremias 52:28-30 contém um registo completo das deportações, o que manifestamente não é o caso. O total geral dos cativos judeus levados nas três deportações mencionadas na passagem é apresentado no versículo 30 como "quatro mil e seiscentas". Contudo, 2 Reis 24:14 diz que o número dos deportados em apenas uma dessas deportações foi "dez mil" (e talvez ainda outros 8.000 no versículo 16, se estes não estiverem incluídos no número anterior)!

Foram propostas várias teorias para explicar esta discrepância, mas nenhuma delas pode ser encarada como mais do que uma suposição. O dicionário bíblico da Sociedade Torre de Vigia, Estudo Perspicaz das Escrituras, por exemplo, declara que os números em Jeremias 52:28-30 "refere-se, pelo que parece, aos de certa categoria, ou aos que eram cabeças de famílias".24 A obra New Bible Dictionary [Novo Dicionário Bíblico] defende que "a diferença nos números deve-se, sem dúvida, a diferentes categorias de cativos sendo consideradas."25 Todos concordam que Jeremias 52:28-30 não dá um número completo dos que foram deportados, e alguns comentadores também sugerem que nem todas as deportações são mencionadas no texto.26

Pelo menos a deportação no ano de ascensão de Nabucodonosor, descrita por Daniel, não é mencionada por Jeremias -- o que não prova que essa deportação não ocorreu. Provavelmente a razão porque não está incluída entre as deportações enumeradas em Jeremias 52:28-30 é por ter sido apenas uma pequena deportação, consistindo em judeus escolhidos "da descendência real, e dos nobres" com a intenção de usá-los como servos no palácio real. (Daniel 1:3-4) O que é importante aqui é que Daniel, independentemente de Beroso, menciona esta deportação no ano de ascensão de Nabucodonosor.

Contra as declarações claras de Daniel e de Beroso, a Sociedade Torre de Vigia menciona o historiador judeu Josefo, que afirma que no ano da batalha de Carchemish (durante o ano de ascensão de Nabucodonosor), Nabucodonosor conquistou toda a Síria-Palestina "exceto a Judéia".27 A publicação da Sociedade Torre de Vigia argumenta que isto entra em conflito com a afirmação de que os 70 anos de servidão começaram no ano de ascensão. Josefo escreveu a sua obra mais de 600 anos depois de Daniel e quase 400 anos depois de Beroso. Mesmo que ele estivesse certo, isto não contradiria a conclusão de que a servidão das nações à volta de Judá começou no ano de ascensão de Nabucodonosor. A profecia de Jeremias aplica claramente a servidão, não aos judeus, mas sim a "estas nações" (Jeremias 25:11), isto é, às nações que rodeavam Judá. (Veja o Capítulo 5 acima, secção A-1 [p. 196].) De facto, Josefo até apoia a conclusão de que estas nações se tornaram subservientes a Nabucodonosor no seu ano de ascensão, pois ele declara que o rei de Babilónia nesse tempo "tomou toda a Síria, até Pelusium, excepto a Judéia." Pelusium fica na fronteira com o Egipto.

No entanto, não existe razão para acreditar que a declaração de Josefo é digna de mais confiança do que a informação dada por Daniel e Beroso. Aqui Josefo evidentemente apresenta uma conclusão de sua própria autoria, baseada numa interpretação errada de 2 Reis 24:1. O Dr. E. W. Hengstenberg, na sua discussão aprofundada de Daniel 1:1 e seguintes, faz este comentário acerca da expressão "excepto a Judéia", que aparece em Antiquities [Antiguidades Judaicas] X, vi, 1:

Não se deve pensar que Josefo obteve o parex tes Ioudaias [excepto a Judéia] de uma fonte que já não está à nossa disposição. O que se segue mostra claramente que ele extraíu [essa expressão] de um mal-entendido a respeito da passagem de 2 Reis 24:1. Por ter interpretado erradamente os três anos mencionados ali como sendo o intervalo entre as duas invasões, ele pensou que não se podia supôr que existiram invasões antes do 8.º ano de Jeoiaquim.28

Portanto, a declaração de Josefo tem pouco peso em comparação com o testemunho de Beroso, que evidentemente, ao contrário de Josefo, obteve a sua informação de fontes preservadas do próprio período neo-babilónico, e com o testemunho de Daniel, que esteve pessoalmente envolvido na deportação que ele próprio descreve.

Em seguida, a Sociedade Torre de Vigia cita duas passagens das obras de Josefo, nas quais os setenta anos são descritos como setenta anos de desolação (Antiquities [Antiguidades Judaicas] X, ix, 7, e Against Apion [Contra Apion], I, 19).29 Mas eles escondem o facto de Josefo, na sua última referência ao período da desolação de Jerusalém, declarar que a desolação prolongou-se por cinquenta anos, e não setenta! Essa declaração encontra-se na obra Against Apion [Contra Apion], I, 21, onde Josefo cita a declaração de Beroso acerca dos reinados babilónicos e diz:

Esta declaração é correcta e está de acordo com os nossos livros [isto é, com a Sagradas Escrituras]. Pois nestes está registado que Nabucodonosor, no décimo-oitavo ano do seu reinado, devastou o nosso templo, que durante cinquenta anos este cessou de existir, que no segundo ano de Ciro as fundações foram lançadas, e finalmente que no segundo ano do reinado de Dario foi terminado.30

Em apoio desta declaração Josefo cita não apenas os números de Beroso mas também os registos dos Fenícios, que apresentam a mesma duração para este período. Assim, nesta passagem Josefo contradiz e refuta as suas afirmações anteriores acerca da duração do período de desolação. Será que é honesto citar Josefo em apoio da ideia de que a desolação durou setenta anos, mas esconder o facto de ele ter argumentado, na sua última declaração acerca da duração do período, que a desolação durou apenas cinquenta anos? É muito possível e provável que nesta última passagem ele tenha corrigido as suas afirmações anteriores acerca da duração do período.

William Whiston, tradutor de Josefo, escreveu uma dissertação especial acerca da cronologia de Josefo, intitulada "Acerca da Cronologia de Josefo," que incluíu na sua publicação das obras completas de Josefo como Apêndice V.31 Neste estudo cuidadoso, Whiston indica que muitas vezes nas partes finais das suas obras Josefo tentou corrigir os números que deu anteriormente. Assim, Whiston demonstra que Josefo primeiro diz que a duração do período desde o Êxodo até à construção do templo foram 592 anos, número esse que ele [Josefo] mais tarde mudou para 612.32 Acerca do período seguinte, desde a construção do templo até à sua destruição, Josefo primeiro diz que durou 466 anos, número que mais tarde "corrigiu" para 470.33

Acerca dos setenta anos, que Josefo inicialmente conta desde a destruição do templo até ao regresso dos exilados judeus no primeiro ano de Ciro, Whiston diz que "esse é certamente um cálculo do próprio Josefo," e que os 50 anos para este período, apresentados em Against Apion [Contra Apion] I, 21, "são provavelmente a sua própria correcção [feita] na sua idade avançada."34

Se for este o caso, então Josefo até pode ser citado como um argumento contra a aplicação dos setenta anos feita pela Sociedade Torre de Vigia. Em qualquer caso, é óbvio que as declarações dele acerca dos setenta anos não podem ser usadas como argumento contra Beroso, como a Sociedade faz. O último número que Josefo indica para o período de desolação está completamente de acordo com a cronologia de Beroso, e Josefo até enfatisa este acordo!35

Além de Josefo, a Sociedade Torre de Vigia também se refere a Teófilo de Antioquia, que escreveu uma defesa do cristianismo cerca do fim do segundo século E.C. Conforme a Sociedade indica, ele começou a contar os setenta anos a partir da destruição do templo.36 Mas os escritores da Sociedade Torre de Vigia escondem o facto de Teófilo estar confuso quanto ao fim do período, pois ele primeiro diz que este fim ocorreu no "segundo ano" de Ciro (537/6 A.E.C.) e posteriormente diz que foi no "segundo ano ... de Dario" (520/19 A.E.C.).37

Outros escritores primitivos, incluindo Clemente de Alexandria (c. 150-215 E.C.), um contemporâneo de Teófilo, também disseram que os setenta anos acabaram "no segundo ano de Dario Histaspes" (520/19 A.E.C.), o que colocaria a desolação de Jerusalém cerca de 590/89 A.E.C.38

Eusébio, na sua crónica (publicada c. 303 E.C.) adoptou a opinião de Clemente, mas também tenta outra aplicação, começando com o ano em que Jeremias iniciou a sua actividade, quarenta anos antes da desolação de Jerusalém, e termina os setenta anos no primeiro ano de Ciro, que ele fixa em 560 A.E.C. Júlio Africano, em c. 221 E.C., aplica os setenta anos ao período de desolação de Jerusalém, cujo fim ele, tal como Eusébio mais tarde, data erradamente como sendo c. 560 A.E.C. É perfeitamente óbvio que estes escritores cristãos primitivos não tinham acesso a fontes que os poderiam ter ajudado a estabelecer uma cronologia exacta para este período da antiguidade.

Vemos assim que o uso que a Sociedade Torre de Vigia faz de escritores da antiguidade é muito selectivo. Eles citam Josefo na questão dos setenta anos de desolação mas escondem o facto de ele ter por fim apresentado esse período como sendo cinquenta anos. A referência que a Sociedade faz a Teófilo reflete os mesmos métodos: Citam-no, não porque ele realmente apresente evidência que os apoie, mas porque o cálculo dele concorda até certo ponto com o da Sociedade. Outros escritores cristãos contemporâneos, cujos cálculos diferem dos da Sociedade Torre de Vigia, são ignorados. Esta forma de proceder é uma clara deturpação do conjunto da evidência proveniente de vários escritores da antiguidade que discutiram este assunto.

A-4: Deturpação da evidência bíblica

Na continuação da sua discussão dos setenta anos, a Sociedade Torre de Vigia tenta mostrar que, mesmo que a evidência histórica esteja contra a aplicação que eles fazem deste período, a Bíblia está do seu lado. Em primeiro lugar, na página 188 do livro "Let Your Kingdom Come" ["Venha o Teu Reino"], eles afirmam, categoricamente: "Cremos que a leitura mais direta de Jeremias 25:11 e de outros textos é que os 70 anos contam desde quando os babilônios destruíram Jerusalém e deixaram a terra de Judá desolada."

O que se passa, contudo, é que a Sociedade recusa-se teimosamente a aceitar a leitura mais natural de Jeremias 25:11 e de vários outros textos relacionados com este assunto.39 Conforme foi discutido no Capítulo 5 [pp. 191-236] a leitura mais directa de Jeremias 25:11 mostra que os setenta anos são um período de servidão, não de desolação: "Estas nações servirão o rei de Babilónia setenta anos." (NASB) Além disso foi indicado que o outro texto de Jeremias que menciona os setenta anos, Jeremias 29:10, confirma este entendimento. A leitura mais directa da tradução melhor e mais literal deste texto mostra que aqueles "setenta anos" eram uma referência ao domínio babilónico: "Quando setenta anos estiverem completos para Babilónia." (NASB) Ambos os textos se referem claramente a Babilónia, não a Jerusalém.

Se os setenta anos se referem ao domínio babilónico, conforme mostram os versículos citados anteriormente, este período terminou no momento da queda de Babilónia, em 539 A.E.C.; e isto é dito directamente em Jeremias 25:12: "Então, depois de estarem completos setenta anos, punirei o rei de Babilónia e essa nação." (NRSV) Como esta punição teve lugar em 539 A.E.C., o fim dos setenta anos não se pode estender para além dessa data, seja para 537 A.E.C. ou qualquer outra data, pois isso estaria em conflito com uma leitura directa de Jeremias 25:12.40

Não pode haver nenhuma dúvida razoável sobre o assunto: A leitura mais directa da profecia de Jeremias (Jeremias 25:11-12 e 29:10) está em conflito directo com a aplicação que a Sociedade Torre de Vigia dá aos 70 anos. Apesar disto, eles declaram taxativamente:

Mas a própria Bíblia fornece evidência ainda mais marcante contra a alegação de que os 70 anos começaram em 605 A.E.C. e que Jerusalém foi destruída em 587/6 A.E.C.41

Que "evidência ainda mais marcante"? Isto:

Conforme já mencionado, se fôssemos contar a partir de 605 A.E.C., os 70 anos chegariam a 535 A.E.C. Mas, o inspirado escritor bíblico Esdras relatou que os 70 anos se estenderam até o "primeiro ano de Ciro, rei da Pérsia", que emitiu o decreto que permitiu aos judeus voltar à sua pátria.42

Mas será que Esdras realmente relatou isso? Conforme foi mostrado na discussão de 2 Crónicas 36:21-23, no Capítulo 5 [pp. 191-236], Esdras não indica claramente que os setenta anos terminaram no "primeiro ano de Ciro," ou em 537, como defende a Sociedade Torre de Vigia. Pelo contrário, tal entendimento das suas palavras estaria em conflito directo com Jeremias 25:12, onde se diz que os setenta anos terminaram em 539 A.E.C.! Este texto fornece a evidência mais expressiva contra a alegação de que os setenta anos terminaram em 537 A.E.C. ou em qualquer outro ano posterior a 539.

É verdade que no manuscrito original de The Gentile Times Reconsidered [Os Tempos dos Gentios Reconsiderados] (enviado à Sociedade em 1977), uma das aplicações possíveis dos setenta anos considerados era de 605 a 536/35 A.E.C. Mas aplicação foi apresentada como uma alternativa menos provável. Nas edições publicadas da obra, esta sugestão foi omitida porque, tal como a aplicação do período defendida pela Sociedade Torre de Vigia, está em conflito com a profecia de Jeremias. Ao discutir esta aplicação, a Sociedade argumenta que "não há maneira razoável de esticar o primeiro ano de Ciro de 538 até 535 A.E.C."43 Como a aplicação considerada não insinuava isso, e como não tenho conhecimento de qualquer outro comentador moderno que tente esticar o primeiro ano de Ciro "até 535 A.E.C.", essa frase parece ser apenas um falso argumento criado pela própria Sociedade Torre de Vigia, que passa completamente ao lado da questão real.44

Finalmente, a Sociedade Torre de Vigia declara:

... estamos dispostos a ser guiados principalmente pela Palavra de Deus, em vez de por uma cronologia que se baseia primariamente em evidência secular ou que discorda das Escrituras. Parece evidente que o entendimento mais fácil e mais direto das diversas declarações bíblicas é que os 70 anos começaram com a desolação completa de Judá, depois de Jerusalém ter sido destruída.45

Novamente, estas declarações dão a impressão que existe um conflito entre a Bíblia e a evidência secular no que respeita aos setenta anos, e que a Sociedade Torre de Vigia está fielmente do lado da Bíblia contra a evidência secular. Mas nada podia estar mais longe da verdade. Contrariamente ao que a Sociedade diz, os dados bíblicos e históricos concordam entre si no que diz respeito ao período em discussão. Aqui, as descobertas históricas e arqueológicas, como em muitos outros casos, apoiam e confirmam as declarações bíblicas. Por outro lado, a interpretação do período de setenta anos apresentada pela Sociedade Torre de Vigia entra em conflito com factos estabelecidos pela evidência secular. Conforme foi claramente demonstrado acima e no Capítulo 5 [pp. 191-236], a interpretação da Sociedade está também em conflito flagrante com o "entendimento mais fácil e mais direto das diversas declarações bíblicas" sobre os setenta anos, como por exemplo Jeremias 25:11-12, 29:10; Daniel 1:1-6; 2:1; e Zacarias 1:7, 12, e 7:1-5.

Portanto, o conflito real não é entre a Bíblia e a evidência secular, é antes entre a Bíblia e a evidência secular de um lado, e a Sociedade Torre de Vigia no outro lado. Como a aplicação que eles fazem dos setenta anos está em conflito tanto com a Bíblia como com os factos históricos, não tem nada que ver com a realidade e merece ser rejeitada por todos os cristãos sinceros.

SUMÁRIO

Foi demonstrado amplamente acima que a Sociedade Torre de Vigia, no seu "Apêndice" do livro "Venha o Teu Reino", não faz uma apresentação justa da evidência contra a sua data 607 A.E.C.:

(1) Os seus escritores deturpam a evidência histórica ao omitirem da sua discussão cerca de metade da evidência apresentada na primeira edição deste livro (a estela de Hillah, o diário BM 32312, e documentos egípcios contemporâneos) e ao darem a algumas das outras linhas de evidência apenas uma abordagem tendenciosa e distorcida. Eles indicam incorrectamente que sacerdotes e reis podem ter alterado documentos históricos (crónicas, inscrições reais, etc.) da era neo-babilónica, apesar do facto de toda a evidência disponível mostrar que isso não ocorreu.

(2) Eles deturpam o que autoridades em historiografia da antiguidade disseram, ao citá-las fora do contexto e ao atribuir-lhes opiniões e dúvidas que elas não têm.

(3) Eles deturpam o que escritores da antiguidade disseram, ao esconderem o facto de Beroso ser apoiado pela leitura mais directa de Daniel 1:1-6, ao citarem Josefo quando ele fala de setenta anos de desolação sem mencionarem que no seu último trabalho ele mudou a duração do período para cinquenta anos, e ao se referirem à opinião do bispo do segundo século, Teófilo, sem mencionarem que ele termina os setenta anos, não apenas no segundo ano de Ciro, mas também no segundo ano de Dario Histaspes (tal como o seu contemporâneo Clemente de Alexandria e outros), confundindo assim os dois reis.

Finalmente, (4) eles deturpam a evidência bíblica ao esconderem o facto de a leitura mais directa das passagens que tratam dos setenta anos mostra que esses anos são o período do domínio neo-babilónico, não são o período de desolação de Jerusalém. Este entendimento está de acordo com a evidência histórica, mas está em conflito evidente com a aplicação que lhe é dada pela Sociedade Torre de Vigia. É verdadeiramente angustiante descobrir que indivíduos em cuja orientação espiritual milhões de pessoas confiam, lidam de forma tão negligente e desonesta com os factos. O "Apêndice" do livro "Venha o Teu Reino", que defende a cronologia deles, não passa de mais um exercício astuto na arte de esconder a verdade.

Podemo-nos perguntar porque é que os líderes de uma organização que enfatisa constantemente o seu interesse na "Verdade", na realidade acha necessário suprimir a verdade e até opor-se-lhe?

A razão obvia é que eles não têm outra escolha, enquanto continuarem a insistir que a organização deles foi designada no ano 1919 como o único canal e porta-voz de Deus na terra. Se o cálculo 607 A.E.C.-1914 E.C. for abandonado, essa pretensão desmoronar-se-á. Então estes líderes terão de admitir, pelo menos tacitamente, que a sua organização, nos últimos cem anos, apareceu na cena mundial num falso papel e com uma falsa mensagem.

Quando o questionamento da data 607 A.E.C. tem sido ocasionalmente comentado nas publicações da Torre de Vigia em anos recentes, a única defesa tem sido uma referência ao "Apêndice" de 1981. Na revista The Watchtower [A Sentinela] de 1.º de Novembro de 1986, por exemplo, dizem que "as Testemunhas de Jeová publicaram em 1981 evidência convincente em apoio da data de 607 AEC." Em seguida o leitor é remetido para o livro "Venha o Teu Reino", páginas 127-140 e 186-190.46

Como o "Apêndice" da Sociedade só contém uma série de tentativas falhadas de minar a evidência contra a data 607 A.E.C., e como a única "evidência convincente" apresentada em apoio da data é uma referência a "matéria ainda a ser descoberta", os escritores da Torre de Vigia evidentemente jogam com o facto de a maioria das Testemunhas desconhecerem completamente os verdadeiros factos. E os líderes da Sociedade Torre de Vigia

Quando Terminaram Realmente os "Sete Tempos"?

Alguns argumentam que, mesmo que os "sete tempos" sejam proféticos e mesmo que tenham durado 2.520 anos, as Testemunhas de Jeová ainda assim estão enganadas sobre a importância de 1914, porque usam o ponto de partida errado. Afirmam que Jerusalém foi destruída em 587/6 AEC, não em 607 AEC. Se isto fosse verdade, transferiria o começo do "tempo do fim" em uns 20 anos. Entretanto, as Testemunhas de Jeová publicaram em 1981 evidência convincente em apoio da data de 607 AEC. ("Venha o Teu Reino", páginas 127-40, 186-90.) Além disso, será que os que procuram tirar de 1914 a sua importância bíblica podem provar que 1934 -- ou, quanto a isso, qualquer outro ano -- tenha tido um impacto mais profundo, mais dramático e mais espetacular na história do mundo do que 1914?

De A Sentinela, 1.º de Novembro de 1986, página 6.

querem que essa situação se mantenha. Isto é claro se lermos os avisos que são repetidamente publicados nas publicações da Torre de Vigia contra a leitura de literatura de ex-Testemunhas que sabem os factos sobre a cronologia da Sociedade. Os líderes da Sociedade Torre de Vigia evidentemente temem que se permitirem que as Testemunhas se exponham a estes factos, elas podem descobrir que a base das pretensões proféticas do movimento não passam de especulações cronológicas sem fundamento, anti-bíblicas e anti-históricas.

Assim, embora a organização Torre de Vigia provavelmente use mais a palavra "Verdade" do que a maioria das outras organizações na terra, o facto é que a verdade se tornou um inimigo do movimento. É por isso que a Torre de Vigia tem de resistir à verdade e tem de escondê-la.

É claro que qualquer pessoa ou organização tem todo o direito de acreditar no que quiser, desde que isso não prejudique outras pessoas -- que os discos voadores existem, que a terra é plana, ou, neste caso, que Jerusalém, contrariamente ao que diz toda a evidência, foi desolada em 607 A.E.C., e que, algures, pode haver "matéria ainda a ser descoberta" para apoiar essas opiniões.

Contudo, se tais "crentes" não estão dispostos a conceder a outros o direito de discordar das suas teorias, e em vez disso classificam como apóstatas sem Deus aqueles que já não adoptam o mesmo ponto de vista deles, condenam-os à Geena se eles não mudarem de ideias, forçam os seus amigos e familiares a encará-los como criminosos iníquos sem Deus que têm de ser evitados, ostracizados e até odiados, explicando que Deus em breve vai exterminá-los para sempre junto com o resto da humanidade -- nesse caso já é tempo de tais "crentes" serem responsabilizados pelas suas opiniões, atitudes e acções. Qualquer fé que tenha tais consequências graves para outras pessoas tem de primeiro provar que está solidamente baseada na realidade, não apenas em especulações insustentáveis que só podem ser apoiadas por "matéria ainda a ser descoberta."

B. DEFESAS NÃO OFICIAIS ESCRITAS POR TESTEMUNHAS

O "Apêndice" de 1981 é até agora a única tentativa oficial feita pela Sociedade Torre de Vigia para enfraquecer as linhas de evidência contra a data 607 A.E.C. apresentadas em The Gentile Times Reconsidered [Os Tempos dos Gentios Reconsiderados]. Evidentemente reconhecendo que a defesa da Sociedade é irremediavelmente inadequada, algumas Testemunhas de Jeová e membros de outros grupos de Estudantes da Bíblia dedicaram-se de sua própria iniciativa a escrever artigos em defesa da cronologia dos tempos dos Gentios. Chegaram à minha atenção cerca de meia dúzia de artigos desse tipo. A maior parte deles foram-me enviados por Testemunhas de Jeová que os leram e queriam saber a minha opinião sobre eles.

Um aspecto comum nestes artigos é a sua falta de objectividade. Todos começam com uma ideia preconcebida que tem de ser defendida a todo o custo. Outro aspecto comum é que os artigos vez após vez refletem pesquisa inadequada, resultando muitas vezes em sérios erros. Infelizmente, alguns dos artigos também recorrem repetidamente a linguagem difamatória. Em publicações académicas os autores normalmente tratam-se uns aos outros com respeito, e artigos críticos são encarados como contribuições construtivas para o debate. Não seria de esperar que também os cristãos se refreassem de usar linguagem depreciativa e desonrosa quando se referem a críticos sinceros? Classificá-los de "detractores", "ridicularizadores", etc., é exactamente o oposto da atitude recomendada pelo apóstolo Pedro em 1 Pedro 3:15.

Como os argumentos mais importantes apresentados nos artigos que chegaram à minha atenção já foram considerados nos seus devidos contextos no presente trabalho, não é necessário tratá-los aqui novamente. Uma breve descrição dos artigos elaborados por dois dos mais qualificados defensores da cronologia da Sociedade Torre de Vigia pode ser de interesse para os leitores e é apresentada abaixo.47

Rolf Furuli é uma Testemunha de Jeová que vive em Oslo, Noruega. Ele é um ex-superintendente de distrito e é encarado pelas Testemunhas norueguesas como o principal apologista dos ensinos da Torre de Vigia nesse país, e as Testemunhas frequentemente recorrem a ele com os seus problemas doutrinais. Portanto não é de estranhar que ele tenha achado ser uma tarefa importante "refutar" o meu trabalho sobre a cronologia da Sociedade Torre de Vigia a respeito dos tempos dos Gentios.

A primeira tentativa desse tipo feita por Furuli, um tratado de mais de cem páginas, intitulado "Den nybabyloniske kronologi og Bibelen" ("A Cronologia Neo-Babilónica e a Bíblia"), foi-me enviado por Testemunhas da Noruega em 1987. Tal como a Sociedade Torre de Vigia, no seu "Apêndice", Furuli tentou minar a fiabilidade das fontes históricas para a cronologia neo-babilónica apresentadas no meu trabalho. Para satisfazer os desejos das Testemunhas norueguesas (que me tinham contactado em segredo), decidi escrever uma resposta ao tratado de Furuli.

As primeiras 31 páginas da minha resposta (que tinha um total de 93 páginas) foram enviadas na primavera de 1987 para as Testemunhas norueguesas, que em breve também forneceram a Rolf Furuli uma cópia. Furuli percebeu rapidamente que a sua discussão fora exposta como insustentável, e se ele continuasse a circular o seu tratado, a minha resposta também seria posta a circular. Para evitar isto, ele escreveu-me uma carta, datada de 23 de Abril de 1987, na qual descreveu o seu tratado como apenas "notas privadas" que não representavam as suas "opiniões actuais" em "todos os detalhes", mas eram somente uma expressão da informação que lhe estava disponível na época em que foram escritas. Ele pediu-me que destruísse a minha cópia do seu tratado e que não o citasse novamente.48

Três anos depois Furuli tinha preparado um segundo tratado direccionado para derrubar a evidência apresentada no meu trabalho. Durante algum tempo Furuli tinha estado a estudar hebraico na universidade em Oslo, e no seu novo tratado de 36 páginas (datado de 1 de Fevereiro de 1990) ele tentou argumentar que a minha discussão dos setenta anos "para Babilónia" estava em conflito com o texto hebraico.

Era evidente, contudo, que o conhecimento que Furuli tinha do hebraico nesse tempo era muito imperfeito. Tendo consultado vários hebraistas escandinavos proeminentes, escrevi uma resposta de 69 páginas, demonstrando em detalhe que os seus argumentos ao longo de todo o tratado eram baseados num mal-entendido da língua hebraica. Como Furuli, na sua discussão, tinha questionado a fiabilidade do texto Massorético Hebraico (MT) do livro de Jeremias, a minha resposta também incluía uma defesa deste texto contra o texto da Septuaginta Grega (LXX).49

Até agora não tenho conhecimento de qualquer outra tentativa de Furuli para defender a data 607 A.E.C., e não sei se ele já está preparado para a defender.

Philip Couture, uma Testemunha de Jeová que reside na Califórnia, E.U.A., tem sido um membro do movimento da Torre de Vigia desde 1947. Ele tem feito há alguns anos pesquisa sobre a história e cronologia neo-babilónica, evidentemente com o objectivo de encontrar algum apoio para a data 607 A.E.C.

No outono de 1989 um amigo de New Jersey, E.U.A., enviou-me uma cópia de um tratado de 72 páginas (que incluía uma secção com páginas copiadas de vários trabalhos) intitulado A Study of Watchtower Neo-Babylonian Chronology in the Light of Ancient Sources [Um Estudo da Cronologia Neo-Babilónica da Watchtower à Luz de Fontes Antigas]. Foi escrito por um apologista anónimo da Torre de Vigia, e só muito mais tarde notei que o meu amigo tinha incluído um pedaço de papel dizendo que o autor era Philip Couture.50

Embora Couture evite cuidadosamente mencionar o meu trabalho, ele cita-o repetidamente ou faz alusões ao seu conteúdo. A razão é, evidentemente, que não é suposto ele ter lido o que as publicações da Torre de Vigia classificam como "literatura apóstata." O único crítico que Couture menciona por nome é um Adventista do Sétimo Dia, William MacCarthy, que escreveu em 1975 uma brochura sobre o cálculo que a Torre de Vigia faz dos tempos dos Gentios.51

Tal como no caso de Furuli, o tratado de Couture é uma tentativa de minar a fiabilidade das fontes históricas para a cronologia neo-babilónica. Apesar dos seus esforços, contudo, ele falha em apresentar um único argumento defensável que possa mover o peso da evidência contra a data 607 A.E.C. A razão para isto é que, independentemente de quão hábil e capaz seja uma pessoa, acabará por lhe ser impossível encontrar qualquer apoio real e válido para uma ideia que é falsa e por isso basicamente indefensável.

Cerca de metade do tratado de Couture trata de astronomia e a sua relação com a cronologia neo-babilónica. Infelizmente, esta é uma área com a qual Couture, pelo menos no tempo em que escreveu o tratado, não estava muito familiarizado. Assim, embora uma secção separada do seu tratado contenha uma "palavra de cautela" a respeito do "uso e abuso de reticências", ele próprio cai repetidamente nas mesmas armadilhas contra as quais nos avisa.52

Como este e outros pontos importantes levantados por Couture foram tratados nas várias secções do presente trabalho, não são dados aqui mais comentários sobre o seu tratado.53 Tal como no caso de Furuli, não sei se Couture já está preparado para defender a sua posição.

Alguns dos outros artigos que me foram enviados apresentam discussões das passagens bíblicas que tratam dos setenta anos, mas ignoram a evidência histórica contra a data 607 A.E.C.54 Tal discussão não é, como o autor do artigo talvez sugira, uma tentativa de defender a Bíblia contra ataques baseados em fontes seculares. Em vez disso, é uma tentativa de forçar o significado de textos bíblicos para os adaptar a uma teoria que está em flagrante conflito com todas as fontes históricas do período neo-babilónico. A escolha em tais discussões não é realmente entre a Bíblia e fontes seculares; é entre uma teoria que lhes é muito cara e a evidência histórica. Quando a realidade histórica é ignorada, essas discussões não passam de exercícios fúteis de evasivas e wishful thinking.

É de esperar que continuem as tentativas para enfraquecer a evidência histórica contra a data 607 A.E.C. apresentada neste trabalho. É provável que apareçam no futuro novas discussões preparadas pela Sociedade Torre de Vigia e/ou por outros defensores dos cálculos 607 A.E.C.-1914 E.C. Se, pelo menos à primeira vista, alguns dos argumentos apresentados em tais discussões parecerem ter alguma força, terão de ser criticamente examinados e avaliados. Se se revelar necessário, será disponibilizado na Internet um comentário rápido acerca de tais discussões.


Notas

1 Vários anos antes de o tratado ser enviado para a sede em Brooklyn, alguns membros da equipa de redacção tinham começado a ver as fragilidades das interpretações proféticas ligadas à data 1914. Estes incluíam Edward Dunlap, ex-secretário da Escola de Gileade, e o membro do Corpo Governante Raymond Franz. Estes investigadores, por essa razão, concordavam com a conclusão de que a data 607 A.E.C. para a destruição de Jerusalém é cronologicamente insustentável. Outras pessoas da equipa de redacção, que também leram o tratado, compreenderam que a data 607 A.E.C. tinha uma séria falta de apoio na história e começaram a sentir sérias dúvidas sobre a data. (A equipa de redacção nesse tempo incluía cerca de 18 membros.) Até o membro do Corpo Governante Lyman Swingle se expressou perante outros membros do Corpo, dizendo que a organização Watch Tower tinha obtido a data 1914 (que depende da data 607 A.E.C.) inteiramente do Segundo Adventismo. Contudo, as tentativas de Raymond Franz e de Lyman Swingle de trazer a evidência para a discussão pelo Corpo Governante tiveram uma resposta desfavorável. Os outros membros do Corpo não acharam apropriado discutir o assunto, mas decidiram continuar a advogar a data 1914. -- Veja Raymond Franz, Crisis of Conscience [Crise de Consciência] (Atlanta: Commentary Press, 1983 e edições posteriores), pp. 140-143, 214-216.

2 "Let Your Kingdom Come" ["Venha o Teu Reino"] (Nova Iorque: Watchtower Bible and Tract Society, 1981), pp. 186-190. O livro foi escrito pelo membro do Corpo Governante Lloyd Barry. O "Apêndice ao Capítulo 14", contudo, foi escrito por outra pessoa, possivelmente Gene Smalley, um membro da equipa de redacção. O "trabalho de cortar pedra" provavelmente foi feito por John Albu, um perito Testemunha, de Nova Iorque. Segundo Raymond Franz, Albu especializou-se em cronologia Neo-Babilónica no interesse da Watch Tower Society e fez alguma pesquisa em relação com o meu tratado, a pedido do Departamento de Redacção.

3 "Let Your Kingdom Come" ["Venha o Teu Reino"] (Nova Iorque: Watchtower Bible and Tract Society, 1981), p. 186.

4 Ibid., p. 187.

5 O diário astronómico B.M. 32312 é discutido no Capítulo 4, secção A-2 [pp. 165-168], do presente volume. Na primeira edição (1983), a discussão encontra-se nas pp. 83-86.

6 "Let Your Kingdom Come" ["Venha o Teu Reino"], p. 187.

7 Ibid., p. 187.

8 A. K. Grayson, "Assyria and Babylonia" ["Assíria e Babilónia"], Orientalia, Vol. 49:2, 1980, p. 171.

9 Ibid., pp. 170, 171.

10 Ibid., pp. 175.

11 "Let Your Kingdom Come" ["Venha o Teu Reino"], p. 187.

12 Isto foi extensivamente demonstrado anteriormente no Capítulo 2.

13 Conforme foi dito anteriormente, no Capítulo 2, desde 1955 até cerca de 1971, a data 539 era classificada como "data absoluta" nas publicações da Watch Tower. Quando se descobriu que esta data não tinha o apoio que os peritos da Watch Tower imaginavam, eles abandonaram este termo. Em Ajuda ao Entendimento da Bíblia, página 385 (= Estudo Perspicaz das Escrituras, Vol. 1, p. 613), a data 539 é considerada um "ponto fundamental" [N. do T.: no Perspicaz, chamam-lhe "ponto fixo".] E no "Let Your Kingdom Come" ["Venha o Teu Reino"], é apenas dito que "historiadores calculam", "sustentam" ou "aceitam" que Babilónia caiu em Outubro de 539 A.E.C. (pp. 136, 186, 189). Ainda assim, a Sociedade ainda 'ancora' a sua "cronologia bíblica" sobre esta data.

14 "Let Your Kingdom Come" ["Venha o Teu Reino"], p. 187.

15 Carta recebida do Dr. Edward F. Campbell, Jr., datada de 9 de Agosto de 1981. O motivo da incerteza entre os peritos quanto a se a destruição de Jerusalém ocorreu em 587 ou em 586 A.E.C. deve-se à Bíblia, não provém de fontes extra-bíblicas. Todos os peritos concordam em datar o décimo oitavo ano do reinado de Nabucodonosor como sendo 587/86 A.E.C. (de Nisã a Nisã). A Bíblia data a desolação como ocorrendo no décimo nono ano de reinado de Nabucodonosor em 2 Reis 25:8 e Jeremias 52:12 (sendo esta passagem uma repetição quase literal daquela), mas em Jeremias 52:29 diz que foi no décimo oitavo ano. Esta discrepância pode ser resolvida se for postulado para os reis de Judá um sistema não-ascensional. (Veja a secção "Métodos de reconhecimento dos anos de reinado", no Apêndice para o Capítulo 2, adiante). A data 597 A.E.C. para a anterior captura de Jerusalém e a deportação de Jeoiaquim, diz o Dr. Campbell, é uma das poucas datas históricas reconhecidas pelos peritos. O motivo é o sincronismo exacto entre a Bíblia e a Cronologia Babilónica neste ponto.--Veja as duas secções "O 'terceiro ano de Jeoiaquim' (Daniel 1:1-2)" e "Tabelas cronológicas abrangendo os setenta anos," no Apêndice para o Capítulo 5, adiante.

16 Carta recebida do Dr. David N. Freedman, datada de 16 de Agosto de 1981.

17 "Let Your Kingdom Come" ["Venha o Teu Reino"], p. 188-190.

18 Ibid., p. 188.

19 Veja a secção "O 'terceiro ano de Jeoiaquim' (Daniel 1:1-2)" no Apêndice para o Capítulo 5, adiante [p. 335].

20 A. K. Grayson, Assyrian and Babylonian Chronicles [Crónicas Assírias e Babilónicas] (Locust Valley, New York: J. J. Augustin Publisher, 1975), p. 100.

21 Gerhard Larsson, "When did the Babylonian Captivity Begin?," Journal of Theological Studies [Jornal de Estudos Teológicos], Vol. 18 (1967), p. 420.

22 A. K. Grayson, op. cit., p. 102. (Ênfase acrescentada.)

23 "Venha o Teu Reino", p. 188.

24 Estudo Perspicaz das Escrituras, Vol. 1 (1990), p. 467.

25 New Bible Dictionary [Novo Dicionário Bíblico], 2.ª edição, ed. por J. D. Douglas et al (Leicester, England: Inter-Varsity Press, 1982), p. 630.

26 Veja a discussão de Albertus Pieters em From the Pyramids to Paul [Das Pirâmides a Paulo] (New York: Thomas Nelson and Sons, 1935), pp. 184-189.

27 "Venha o Teu Reino", p. 188, citando Antiquities of the Jews X, vi, 1, de Josefo.

28 Ernst Wilhelm Hengstenberg, Die Authentie des Daniels und die Integrität des Sacharjah (Berlim, 1831), p. 57. Traduzido do [inglês, que foi traduzido do] alemão.

29 Josefo menciona os setenta anos cinco vezes nas suas obras, nomeadamente, em Antiquities [Antiguidades Judaicas] X, 6, 3; X, 9, 7; XI, 1, 1; XX, 10, 2; e Against Apion [Contra Apion], I, 19. Nestas passagens os setenta anos são referidos indistintamente como um período de escravidão, catividade, ou desolação, estendendo-se desde a destruição de Jerusalém até ao primeiro ano de Ciro.

30 O texto da obra Against Apion [Contra Apion] I, 21, de Josefo, é aqui citado a partir da tradução de H. St. Thackeray, publicada no Loeb Classical Library (Cambridge, Massachusetts, e Londres, Inglaterra: Harvard University Press, reimpressão de 1993 da edição de 1926), pp. 224-225. Alguns defensores da cronologia da Sociedade Torre de Vigia alegam que existe um problema textual com os "cinquenta anos", dizendo que alguns manuscritos têm "setenta anos" em vez de "cinquenta", em I, 21, que alguns peritos anteriores julgavam ser possivelmente uma corrupção de "setenta". Contudo, críticos textuais modernos demonstraram que essa conclusão está errada. Mostrou-se que todos os manuscritos gregos remanescentes de Against Apion [Contra Apion] são cópias posteriores de um manuscrito grego do século XI E.C., Laurentianus 69, 22. Todos os peritos modernos concordam que o número "sete" está corrompido nestes manuscritos. Mais ainda, é defendido universalmente por todos os modernos críticos textuais que as testemunhas melhores e mais dignas de confiança do texto original de Against Apion [Contra Apion] encontram-se nas citações que os Pais da Igreja fizeram desse texto, especialmente Eusébio, que faz longas citações, geralmente de forma literal e fiel, das obras de Josefo. Against Apion [Contra Apion] I, 21 é citado em duas obras de Eusébio: (1) na sua Preparation for the Gospel [Preparação para o Evangelho], I, 550, 18-22, e (2) na sua Chronicle [Crónica] (preservada apenas numa versão arménia), 24,29-25,5. Estas duas obras têm "50 anos" em I, 21. Destas duas obras, a mais importante é a primeira, da qual foram preservados vários manuscritos desde o século X em diante.

Todas as edições críticas modernas do texto grego de Against Apion [Contra Apion] têm "cinquenta" (em grego: pentêkonta) em Against Apion [Contra Apion] I, 21, incluindo as edições de B. Niese (1889), S. A. Naber (1896), H. St. Thackeray & L. Blum (1930). A edição crítica de Niese do texto grego de Against Apion [Contra Apion] ainda é vista como a edição standard, e todas as edições posteriores são baseadas nesse texto, ou são melhoramentos. Uma nova edição crítica textual de todas as obras de Josefo está a ser preparada presentemente pelo Dr. Heintz Schreckenberg, mas provavelmente ainda demorará muitos anos antes de estar pronta para publicação.

Finalmente, deve-se notar que a declaração de Josefo acerca dos "cinquenta anos" em Against Apion [Contra Apion] I, 21, é precedida da sua apresentação dos números de Beroso respeitantes aos reinados dos reis neo-babilónicos, e estes números mostram que houve um período de cinquenta anos, e não setenta, desde o 18.º ano de Nabucodonosor até ao segundo ano de Ciro. O próprio Josefo enfatisa que os números de Beroso são "tanto correctos como estão em harmonia com os nossos livros." Portanto, o contexto também obriga que a expressão correcta em Against Apion [Contra Apion] I, 21 seja "cinquenta anos".

31 Josephus' Complete Works [Obras Completas de Josefo] traduzido por William Whiston (Grand Rapids: Kregel Publications, 1978), pp. 678-708. A tradução de Whiston foi originalmente publicada em 1737.

32 Ibid., p. 684, § 14.

33 Ibid., p. 686, § 19.

34 Ibid., pp. 688, 689, § 23.

35 Against Apion [Contra Apion] I, 20-21.

36 "Let Your Kingdom Come" ["Venha o Teu Reino"], p. 189.

37 Sobre a aplicação que Teófilo faz dos setenta anos, veja A. Roberts e J. Donaldson, eds., The Ante-Nicene Fathers [Os Pais Ante-Niceanos], Vol. 2 (Grand Rapids: Wm. Eerdmans Publishing Co., reimpressão de 1979), p. 119. Provavelmente Teófilo baseou a sua data para o fim dos setenta anos em Esdras 4:24, confundindo Dario Histaspes com "Dario o Medo" de Daniel 5:31 e 9:1-2.

38 Ibid., p. 329. Esta aplicação dos setenta anos pode ter sido influenciada pelos pontos de vista rabínicos. Referindo-se à crónica rabínica Seder Olam Rabbah (SOR), o Dr. Jeremy Hughes indica que "a tradição judaica posterior reconhecia 52 anos para o exílio Babilónico (SOR 27) e 70 anos para o intervalo entre a destruição do primeiro templo e a fundação do segundo templo, apresentando como data para este evento o segundo ano de Dario (SOR 28; cf. Zc 1.12)." O período de 70 anos era "dividido em 52 anos de exílio e 18 anos desde o regresso até à fundação do segundo templo (SOR 29)." -- Jeremy Hughes, Secrets of the Times [Segredos dos Tempos] (Sheffield: JSOT Press, 1990, pp. 41 e 257.)

39 Conforme se mostra no Apêndice para o Capítulo 5, "O 'terceiro ano de Jeoiaquim' (Daniel 1:1-2)" [p. 335 e seguintes], estes textos também incluem Daniel 1:1-2 e 2:1.

40 Para uma discussão completa dos textos relacionados com os setenta anos, veja o Capítulo 5 [pp. 191-236] do presente trabalho.

41 "Let Your Kingdom Come" ["Venha o Teu Reino"], p. 189.

42 Ibid., p. 189.

43 Ibid.

44 A maioria dos comentadores considera que os setenta anos terminaram com a queda de Babilónia em 539 A.E.C., ou com o decreto de Ciro em 538, ou com o regresso do primeiro restante de judeus à palestina em 538 ou 537 (Esdras 3:1-2), ou com o início da reconstrução do templo em 536 (Esdras 3:8-10). (Cf. Professor J. Barton Payne, Encyclopedia of Biblical Prophecy [Enciclopédia de Profecia Bíblica], Grand Rapids: Baker Books, reimpressão feita em 1980 da edição de 1973, p. 339.) Curiosamente, estas alternativas (excepto a própria data 537 A.E.C. que a Sociedade Torre de Vigia defende) nem sequer são mencionadas no "Apêndice" do livro "Venha o Teu Reino"!

45 "Venha o Teu Reino", p. 190.

46 The Watchtower [A Sentinela], 1.º de Novembro de 1986, p. 6. (Ênfase acrescentada.) Uma referência similar ao "Apêndice" encontra-se na Watchtower [Sentinela] de 15 de Março de 1989, p. 22.

47 Segundo a informação que tenho, John Albu, de Nova Iorque, é provavelmente o cronologista da Torre de Vigia que tem mais conhecimentos sobre a história neo-babilónica. Disseram-me que ele preparou algum material em defesa da data 607 A.E.C., mas até agora esse material não chegou à minha atenção.

48 Como mais tarde descobri que Furuli continuou a divulgar o seu tratado junto de Testemunhas que tinham começado a questionar a cronologia da Sociedade, não vi razão para parar a circulação da minha resposta a esse tratado.

Um ponto principal na argumentação de Furuli era que as datas em alguns documentos cuneiformes da era neo-babilónica criavam "sobreposições" de alguns meses entre alguns dos reinados, que ele encarava como prova de que anos extra tinham de ser adicionados a estes reinados. Estas "sobreposições" são discutidas no Apêndice para o capítulo 3 do presente trabalho [pp. 323-329].

49 Os comentários mais importantes sobre o texto hebraico das passagens relativas aos setenta anos foram incluídos no capítulo 5 do presente trabalho, nas secções A-1, B-1, B-2, C-3 e E-1. Para comentários sobre o texto de Jeremias na LXX, veja a nota 8 do mesmo capítulo. -- Para aqueles que leram os dois tratados de Rolf Furuli e lêem sueco, as minhas respostas (93+69 páginas) estão disponíveis por uma quantia que cobre custos de cópia e de envio. O endereço é: Box 14037, S-400 20 Göteborg, Sweden.

50 Isto também me foi confirmado pelo Professor John A. Brinkman da Universidade de Chicago, autor de uma carta dirigida a Couture que fora incluída no tratado (com o nome do destinatário removido).

51 William MacCarthy, 1914 and Christ's Second Coming [1914 e a Segunda Vinda de Cristo] (Washington, D.C.: Review and Herald Publishing Association, 1975).

52 Um exemplo disto é a sua discussão do eclipse lunar de 13 de Ululu do segundo ano de Nabonido, descrito na inscrição real Nabon. No. 18, que os astrónomos modernos identificaram com o que ocorreu em 26 de Setembro de 554 A.E.C. (Este eclipse é discutido no Capítulo 3 do presente trabalho, secção B-1-c [p. 108 e seguintes].) Na página 11 do seu tratado, Couture alega que "poucos anos em qualquer das direcções existem outros eclipses lunares que são igualmente possíveis." Mas em nenhum dos seis eclipses alternativos apresentados por Couture (datando desde 563 até 543 A.E.C.) a lua se posicionou de forma a emergir da luz do sol, como é declarado explicitamente na inscrição, e três deles nem sequer são visíveis em Babilónia! Esse tipo de erros revela que Couture, pelo menos na época em que escreveu o seu tratado, não sabia como calcular e identificar eclipses lunares da antiguidade.

53 para os leitores que leram o tratado de Couture e estão interessados na minha resposta, uma refutação separada, detalhada, está disponível por uma quantia que cobre custos de cópia e de envio.

54 Um exemplo disto é um livro de 136 páginas escrito por Charles F. Redeker, The Biblical 70 Years. A Look at the Exile and Desolation Periods [Os 70 Anos Bíblicos. Um Olhar Sobre os Períodos do Exílio e da Desolação] (Southfield, Michigan: Zions Tower of the Morning, 1993). Redeker é membro dos Dawn Bible Students [Estudantes da Bíblia da Aurora], um ramo conservador de Estudantes da Bíblia, dissidente da organização Torre de Vigia, formado no início da década de 1930 em reacção às muitas mudanças nos ensinos de Russell introduzidas pelo segundo presidente da Torre de Vigia, Joseph F. Rutherford.


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