A Liga das Nações e as Nações Unidas nas Especulações Proféticas
Carl Olof Jonsson
"E surgirão muitos falsos profetas, e desencaminharão muitos" (Mateus 24:11, ASV)
Por que será que numerosos indivíduos ao longo dos séculos têm gostado tanto de desempenhar o papel de profeta, apesar de as profecias deles quase nunca se tornarem realidade? As profecias deles falham com muita regularidade mas apesar disso eles continuam o seu profetizar. Uma razão importante é, sem dúvida, que ser olhado por outros como estando equipado com perspicácia e habilidades notáveis, dadas por Deus, pode dar à pessoa um certo sentimento de poder e importância. Sem dúvida, a tentação de ter o "ego" fortalecido dessa maneira tem produzido muitos falsos profetas.
Outros podem achar honestamente que são divinamente guiados até um entendimento correcto das profecias bíblicas e que receberam uma comissão de Deus para agir como seus profetas para dar avisos à humanidade e declarar as coisas futuras. Na The Watchtower de 1.º de Abril de 1972, pp. 197-200 [A Sentinela, 1.º de Outubro de 1972, p. 581, parágrafos 4 e 5], os líderes da Watch Tower Society reclamam essa posição para o seu movimento como um todo:
Este "profeta" não era um só homem, mas um grupo de homens e de mulheres. Era o grupo pequeno dos seguidores das pisadas de Jesus Cristo, conhecidos naquele tempo como Estudantes Internacionais da Bíblia. Hoje são conhecidos como testemunhas cristãs de Jeová.
E profecias é o que eles têm feito. É um facto bem conhecido de quem tenha examinado as publicações da Watch Tower dos últimos cem anos, que a literatura deles está repleta de predições, a maior parte das quais falharam, enquanto outras ainda aguardam cumprimento -- ou falhanço.
Têm sido publicados recentemente muitos panfletos e artigos atacando a Watch Tower Society devido às muitas datas que eles estabeleceram, como 1878, 1881, 1910, 1914, 1918, 1920, 1925, 1941 e 1975. O objectivo aqui não é apresentar outra variação sobre esse tema.1 Pelo contrário, a intenção é discutir algumas das poucas predições que de facto -- pelo menos em alguns aspectos -- se cumpriram. Os exemplos mais interessantes são os relacionados com a formação e óbvio falhanço das duas organizações internacionais de paz do século XX: a Liga das Nações e as Nações Unidas. As questões que serão respondidas são estas: Quão específicas foram estas predições? Originaram-se claramente no movimento da Watch Tower? Será que apoiam de alguma maneira as pretensões proféticas deste movimento religioso?
Como indicação da sua habilidade profética, os escritores da Watch Tower, no artigo "Tornando Conhecidas as Verdades Proféticas de Deus", publicado na The Watchtower [A Sentinela] de 1.º de Agosto de 1971, pp. 467 e seguintes, dão a impressão que, antes do eclodir da Guerra Mundial em 1914, praticamente todos excepto as Testemunhas estavam optimistas quanto ao futuro, pensando que se avizinhava paz, não guerra:
Os elementos políticos, religiosos e comerciais deste mundo aceitaram amplamente esse ponto de vista. Contudo, as testemunhas de Jeová tinham uma opinião que era exactamente o oposto! No número de Julho de 1879 da sua publicação oficial, The Watchtower (conhecida nesse tempo como Zion's Watch Tower [A Torre de Vigia de Sião]) foi dito aos leitores: "Deus ensina em muitos textos que uma grande época de tribulações virá sobre as nações."
É verdade que durante o século XIX prevaleceram tendências fortemente optimistas nos campos da ciência, política, economia e religião. No entanto, a afirmação da Watchtower revela uma ignorância grave quanto às opiniões defendidas nesse tempo por milhões de cristãos crentes na Bíblia. "Os Estudantes Internacionais da Bíblia" eram apenas um grupo pequeno entre muitos outros grupos maiores de cristãos que na segunda metade do século XIX predisseram que o mundo se aproximava rapidamente do grande "tempo de aflição" e da segunda vinda de Cristo. Estes grupos eram parte de uma ampla corrente, conhecida como "movimento milenarista" (assim chamado devido à crença comum num reino milenar futuro na terra, governado por Cristo). Este movimento teve as suas raízes nas primeiras décadas do século XIX e no grande interesse pelas profecias da Bíblia, suscitado pela Revolução Francesa e pelas Guerras Napoleónicas. Nos dias do Pastor Russell, o movimento milenarista tinha influenciado muitas das grandes denominações, como as igrejas Episcopal, Presbiteriana e Baptista. Já nesse tempo, o movimento milenarista incluía milhões de pessoas. Comum a todos eles era o facto de não partilharem o optimismo generalizado a respeito do futuro do mundo. Portanto, o começo da Primeira Guerra Mundial não foi uma surpresa para estas pessoas, como Dwight Wilson diz no seu livro Armageddon Now [Armagedom Agora] (Grand Rapids, 1977, pp. 36, 37):
A Primeira Guerra Mundial estimulou os pré-milenaristas para um estado de expectativa exaltada, e também trouxe um cumprimento tantalizador de alguns dos seus desejos. A própria guerra não foi um choque para estes opositores do optimismo pós-milénio; eles não só aguardavam a culminação da era no Armagedom, mas também antecipavam "guerras e relatos de guerras" como sinais do fim que se aproximava.
A seguir a essas palavras, Wilson cita um dos que comentavam o milénio, R. A. Torrey, que no seu livro The Return of the Lord [O Regresso do Senhor] escreveu o seguinte em 1913, um ano antes do eclodir da guerra:
Falamos de desarmamento, mas todos sabemos que não está a acontecer. Os nossos planos de paz actuais acabarão todos nas guerras mais horríveis que este velho mundo já viu!
Predições similares tinham sido feitas durante várias décadas por muitos escritores milenaristas, e Wilson apresenta alguns exemplos no seu livro. Portanto, a perspectiva quanto ao futuro adoptada pelos Estudantes da Bíblia não era única em nenhum aspecto. Era uma perspectiva comum a praticamente todos os cristãos fundamentalistas daqueles dias. As profecias acerca do que aconteceria no futuro eram inúmeras, embora os milenaristas geralmente não fixassem datas (havia excepções!) para os acontecimentos vindouros, como faziam os Estudantes da Bíblia. Por essa razão, foram poupados aos amargos desapontamentos que os Estudantes da Bíblia sentiram quando as suas expectativas falharam e os acontecimentos preditos por eles não ocorreram nas datas "certas".
Os Estudantes da Bíblia, bem como vários comentadores milenaristas, tinham explicado que a Guerra Mundial era o prelúdio do Armagedom.2 C. I. Scofield, o famoso tradutor da The Scofield Reference Bible [A Bíblia de Referência de Scofield], em 1916 pensava "que a guerra seria a luta de morte do actual sistema mundial, ao qual sucederia o Reino de Deus."3 Quando a guerra acabou de forma súbita em 1918, foi uma desagradável surpresa para estes "peritos" em profecia bíblica. Eles então explicaram que o período de paz seria muito curto e que o Armagedom viria com toda a certeza muito em breve. Quando a Liga das Nações surgiu, em 1919, eles predisseram imediatamente que esta organização falharia e que apenas conseguiria criar uma interrupção temporária antes do Armagedom.
Os escritores da Watch Tower têm tentado repetidamente dar a impressão de que, graças à sua perspicácia profética, predisseram o falhanço da Liga das Nações:
Quando a Liga das Nações foi estabelecida, alguns do clero da cristandade até a saudaram como sendo a "expressão política do reino de Deus na terra." Contudo, o que diziam as testemunhas de Jeová? De novo, diziam exactamente o contrário! O número de 1.º de Março de 1919 da The Watch Tower [A Sentinela] declarou: "Alívio duradouro para a humanidade sofredora não virá nem através de esforços humanos, nem através da liga das nações, por muito desejável que tal arranjo possa ser, mas somente através do poder de Cristo..."4
Os escritores da Watch Tower omitem o facto de esta atitude em relação à organização de paz ser a geralmente adoptada entre os milenaristas nesse tempo. Logo em 1918, o acima citado R. A. Torrey disse o seguinte numa conferência "profética" realizada pelos milenaristas na cidade de Nova Iorque, entre 25 e 28 de Novembro de 1918:
Agora que chegou o armistício, as mentes das pessoas em ambos os lados do oceano estão repletas de todo o tipo de esperanças e antecipações fantásticas que estão condenadas a produzir desapontamentos.5
Em seguida Torrey disse à sua audiência que "a Liga das Nações nunca pode alcançar mais do que uma interrupção temporária das hostilidades."6 Além disso, Dwight Wilson sublinha que "no fim da guerra havia pouco optimismo a respeito dos tratados de paz ou da Liga das Nações. Our Hope [Nossa Esperança], um periódico milenarista publicado por Arno C. Gaebelein, não tinha esperança nenhuma de que a Liga das Nações impediria a guerra."7
Foram feitas predições ainda mais detalhadas a respeito da Liga das Nações pelos dois comentadores bíblicos, C. F. Hogg e W. E. Vine, no seu livro Touching the Coming of the Lord [Tocando a Vinda do Senhor], publicado em Londres em 1919, pouco tempo antes de se formar a Liga das Nações. Eles explicaram que o falhanço da Liga das Nações estava predito na Bíblia, em Revelação 17:12, 13:
Tal Liga das Nações, por exemplo, da forma como é hoje proposta como panaceia para os problemas nacionais, não só foi predita nas Escrituras como sendo o último recurso da política internacional, mas também foi predito o seu falhanço.8
Vine, que escreveu essas linhas, em seguida citou Daniel 7:23, 24 e disse:
Foi dada ao Apóstolo João uma visão paralela. Ele também viu uma fera com dez chifres, e o simbolismo é explicado outra vez, mas ainda com maior detalhe: "Os dez chifres que viste são dez reis que ainda não receberam qualquer reino; mas recebem autoridade como reis, juntamente com a fera, durante uma hora (i.e., durante um curto período de tempo). Estes têm uma só mente e dão o seu poder e autoridade à fera," Rev. xvii. 12, 13. É óbvio que estes dez reis são contemporâneos. Os potentados que governam sobre eles concordam com certa política que dará a sua autoridade a um governante superior. Até agora, não existiu nenhuma liga semelhante a essa na história humana.
A partir desse texto também é evidente que a existência da Liga providenciará a oportunidade para um homem suficientemente forte dominar a situação.9
Mais adiante no livro, Vine explica:
Portanto, é claro que uma liga das nações está para vir, e esta aparentemente será uma nova forma do velho império.... Contudo, não temos justificação para concluir que os territórios da Liga das Nações, indicados pelas passagens relacionadas com os dez chifres da fera, estarão necessariamente confinados à área que acabou de ser considerada [i.e., as áreas dos impérios mundiais anteriores]. Seja qual for o arranjo, a Liga preparará o caminho para o governo do déspota final que controlará tudo.10
É muito interessante notar que as interpretações bíblicas que a Watch Tower Society começou a atribuir à Liga das Nações muitos anos depois são praticamente idênticas àquelas publicadas por Vine em 1919. É óbvio que o Presidente Rutherford e alguns dos seus colaboradores estavam bem a par, desde o início, das interpretações que vários milenaristas atribuíam à Liga das Nações. Vine e Hogg eram ambos comentadores bem conhecidos de profecias bíblicas. Além disso, a obra Vine's Expository Dictionary of New Testament Words [Dicionário Expositivo de Vive de Palavras do Novo Testamento] é muitas vezes citado nas publicações da Watch Tower. Os líderes da Watch Tower adoptaram a interpretação dele acerca de Revelação 17:11-13 no início da década de 1930, sem mencionarem a(s) fonte(s) dessa interpretação. Uma nova geração de Testemunhas é agora exposta à ideia de que os líderes da Watch Tower Society, sob a influência do espírito santo de Deus, originaram estas predições e interpretações, e isto por sua vez é usado como evidência em apoio da sua pretensão de serem o profeta de Jeová nos tempos modernos!
Tanto Vine como Hogg estavam associados com a "Open Brethren" ["Irmandade Aberta"], um ramo da "Plymouth Brethren" ["Irmandade de Plymouth"], também conhecidos como "The Darbyists" ["Os Darbyistas"]. Mas as especulações proféticas relacionadas com a Liga das Nações eram muito comuns entre os cristãos fundamentalistas de várias denominações, como por exemplo os Baptistas e os Pentecostais. Dwight Wilson escreve:
A formação da Liga das Nações produziu imediatamente especulações. As palavras que se seguem apareceram no Pentecostal Prophetic News and the Evangel [Notícias Proféticas e o Evangelho], e foram novamente impressos numa colecção que teve pelo menos cinco edições: "A Guerra Mundial originada dessa forma por ensinos de demónios tem produzido o resultado predito em Revelação 16:14. Tem reunido todos os reis da terra e de todo o mundo. Tem-nos reunido numa liga de nações que se tornará na preparação das nações para o Armagedom. O ajuntamento ou associação das nações umas com as outras é o sinal de que o fim está à vista. A Conferência de Paz de Paris preparou inconscientemente o palco para o Anticristo e para o Armagedom."11
Que dizer, então, da predição do Presidente Knorr feita em 1942 -- mesmo no meio da Segunda Guerra Mundial -- segundo a qual a organização de paz que tinha desaparecido de cena no início da guerra em 1939 "ascenderia do abismo" novamente (Revelação 17:8) depois da guerra?"12 À primeira vista, isso parece uma profecia notável. Foi uma predição que se cumpriu de forma clara. Mas não era de modo nenhum uma predição única.
Conforme se mostrou acima, já em 1919 W. E. Vine identificou a Liga das Nações com a "fera" de Revelação capítulo 17. Esta interpretação só foi adoptada pela Watch Tower Society 11 anos depois, ao ser apresentada no volume 2 do livro Light [Luz], publicado em 1930. Em 1919 a Sociedade ainda ensinava que a fera com a mulher no seu dorso, descrita em Revelação capítulo 17, era o império Romano pagão, com a apóstata Igreja de Roma "no seu dorso".13 Esta era a interpretação protestante predominante sobre a fera e a mulher desde o tempo da Reforma, no século XVI. Mas no segundo volume do livro Light [Luz], associou-se a Liga das Nações com esta visão profética, exactamente como Vine tinha feito onze anos antes. A "fera côr-de-escarlate" (Revelação 17:3) foi interpretada como sendo "A Conferência Internacional de paz de Haia", formada em 1899.14 Esta organização "funcionou até à Guerra Mundial. Então foi para o abismo e cessou funções. Depois da Guerra Mundial saiu do abismo ou cova e começou a funcionar novamente sob a forma da Liga das Nações."15 Esta interpretação esteve em vigor até 1942 (veja por exemplo o livro Enemies [Inimigos] de 1937, pp. 283 e seguintes), altura em que os líderes da Watch Tower foram obrigados a reconhecer que a Segunda Guerra Mundial também não levaria ao Armagedom. Foi por isso que se tornou necessária outra interpretação de Revelação 17.
A nova interpretação apareceu no folheto Peace -- Can It Last? [Paz -- Pode Durar?], que se baseava num discurso com o mesmo título, feito pelo Presidente da Sociedade, Nathan H. Knorr, no Outono de 1942. A Conferência Internacional de Paz de Haia era agora completamente excluída da interpretação. A "fera" era a primeira Liga das Nações. Foi "para o abismo" em 1939 quando começou a Segunda Guerra Mundial. Mas não haveria de ficar lá. Citando Revelação 17:8, o Presidente Knorr predisse: "A associação de nações do mundo levantar-se-á novamente."16
Conforme todos sabem, esta predição cumpriu-se. Mas não era difícil fazê-la nesse tempo. Conforme o próprio Knorr assinalou no folheto já mencionado (p. 21), já estavam em andamento planos para fazer reviver a organização de paz depois da guerra, tendo as Potências do Eixo, Japão e Hungria, assinado uma "nova Liga das Nações" já em 20 de Novembro de 1940. De facto, as Nações Unidas já tinham sido formadas em Washington D.C. em 1.º de Janeiro de 1942, portanto vários meses antes da "predição" de Knorr, tendo 26 nações assinando uma declaração conjunta nessa data.17
Além disso, a predição de Knorr não era nova nem única. Outros comentadores de profecias já tinham predito a mesma coisa -- alguns até dois anos antes de Knorr! Dwight Wilson refere, por exemplo, uma predição feita por Harry Rimmer, um conhecido comentador bíblico: "Harry Rimmer predisse em 1940 uma nova Liga das Nações como consequência da guerra -- e o aparecimento de um ditador universal. As Nações Unidas já chegaram, mas o ditador ainda não."18
Portanto, a Watch Tower Society não pode dizer que foi a primeira a fazer essas ou outras predições e aplicações proféticas relacionadas com a Liga das Nações e com as Nações Unidas. Os mesmos pontos de vista eram partilhados nesse tempo pelos fundamentalistas milenaristas em geral, que originaram as predições a respeito do futuro destas organizações de paz anos antes de a Watch Tower Society se ter aproveitado dessas interpretações. Os cristãos fundamentalistas em geral não modificaram a sua atitude em relação à organização de paz depois da Segunda Guerra Mundial. Eles continuam a encará-la como a "fera" de Revelação 17 e -- exactamente como a Watch Tower Society -- ensinam que a "prostituta" no seu dorso é a cristandade corrupta.19 O sociólogo Louis Gasper explica:
Os fundamentalistas acreditavam literalmente que "a mulher vestida de púrpura e escarlate" mencionada em Revelação 17 prefigura o estabelecimento de uma igreja mundial corrupta, mas colorida, que incluiria os Católicos e os Protestantes.20
A atitude da Watch Tower Society, não apenas em relação às Nações Unidas mas também em relação à "cristandade organizada e corrupta", é, portanto, compartilhada por cristãos fundamentalistas em geral. Mesmo no hábito de adoptar resoluções reprovadoras contra as Nações Unidas, a Watch Tower Society segue de perto os métodos do movimento fundamentalista:
Embora os fundamentalistas geralmente se opusessem às Nações Unidas e a criticassem com veemência, não fizeram nenhuma tentativa organizada para pressionar o Congresso no sentido de fazer os Estados Unidos sair dessa organização. A oposição deles era normalmente expressa na forma de declarações e resoluções que eram adoptadas a intervalos frequentes para indicar a sua desaprovação geral em relação às Nações Unidas.21
Conclusão
O exame que acabámos de fazer demonstrou que os pontos de vista sustentados pela Watch Tower Society acerca das organizações internacionais de paz são mais "tradicionais" do que muitas Testemunhas de Jeová pensam. São pontos de vista que, mais ou menos, têm sido partilhados por praticamente todos os cristãos fundamentalistas. Passa-se exactamente o mesmo no caso das "predições" apresentadas pela Sociedade acerca do futuro destas organizações de paz. Essas predições foram roubadas aos fundamentalistas. Portanto, se algumas destas predições parecem ter-se cumprido, isso nada prova quanto à habilidade de profetizar da Sociedade; só prova a sua habilidade em plagiar. Para fazer isso não é preciso inspiração divina. Se estas predições tivessem origem divina, os líderes da Watch Tower Society seriam obrigados a concluir que Deus as tinha dado aos cristãos fundamentalistas que estão fora da organização Watch Tower.
Resta uma questão em aberto: Será que a visão da "fera" em Revelação 17 é realmente aplicável à Liga das Nações e às Nações Unidas dos nossos dias? Mesmo que à primeira vista essa aplicação possa parecer provável, acho que tem sérios problemas. Espero voltar a este assunto num artigo futuro.
Notas
1 Para uma discussão justa, equilibrada e académica destes falhanços proféticos e da sua importância para o desenvolvimento doutrinal e organizacional do movimento Watch Tower, veja o artigo do Dr. Joseph F. Zygmunt intitulado "Prophetic Failure and Chiliastic Identity: The Case of Jehovah's Witnesses" ["Falhanço Profético e Identidade: O Caso das Testemunhas de Jeová"], publicado no American Journal of Sociology [Revista Americana de Sociologia], vol. 75, Julho 1969-Maio 1970, pp. 926-948.
2 Wilson, p. 37 e seguintes. The Watch Tower [A Sentinela], 1.º de Novembro de 1914, pp. 327, 328.
3 Wilson, p. 38.
4 The Watchtower [A Sentinela], 1.º de Agosto de 1971, p. 469.
5 Citado por Ernest R. Sandeen em The Roots of Fundamentalism [As Raízes do Fundamentalismo], Londres, 1970, p. 235.
6 Sandeen, p. 235.
7 Wilson, p. 56.
8 C. F. Hogg e W. E. Vine, Touching the Coming of the Lord [Tocando a Vinda do Senhor], Londres, 1919, p. 95.
9 Hogg e Vine, p. 96.
10 Hogg e Vine, pp. 118, 120.
11 Wilson, p. 81.
12 Veja o folheto Peace -- Can It Last? [Paz -- Pode Durar?], publicado pela Watchtower Society em 1942, p. 21.
13 Veja por exemplo Studies in the Scriptures [Estudos das Escrituras], vol. VII, publicado pela primeira vez em 1917, pp. 259, 263. O livro teve várias edições nos anos seguintes.
14 Light [Luz], vol. 2, 1930, p. 86.
15 ibid, p. 94.
16 Peace -- Can It Last? [Paz -- Pode Durar?], 1942, p. 21. A Watch Tower Society tem-se referido abertamente a esta predição como sendo evidência da habilidade profética da organização. A The Watchtower [A Sentinela] de 1960, p. 444, parágrafo 19, afirmou que eles fizeram essa predição guiados pelo espírito de Jeová. Confronte também Your Will Be Done On Earth [Seja Feita a Tua Vontade na Terra], 1958, p. 282; "Babylon The Great Has Fallen!" God's Kingdom Rules! ["Caiu Babilónia a Grande!" O Reino de Deus Já Domina], 1963, p. 585; The Watchtower [A Sentinela], 15 de Novembro de 1963, p. 696; The Watchtower [A Sentinela], 15 de Fevereiro de 1967, p. 122 e 1975 Yearbook of Jehovah's Witnesses [Anuário das Testemunhas de Jeová de 1975], p. 203.
17 The American Annual for 1944 [O Anuário Americano para 1944], p. 701, citado na The Watchtower [A Sentinela] de 1.º de Dezembro de 1971, p. 723.
18 Wilson, p. 157. A predição de Rimmer encontra-se na p. 83 do seu livro The Coming We and The Rise of Russia [O Vindouro Nós e a Ascensão da Rússia], Grand Rapids, 1940. Que os escritos de Harry Rimmer não eram desconhecidos da Sociedade é visto pelo facto de ele ser muitas vezes citado nas publicações da Watch Tower em outros assuntos. Veja por exemplo o folheto Basis for Belief in a New World [Base Para a Crença Num Novo Mundo], 1953, no qual são citadas três obras de Rimmer nas pp. 23, 27, 37 e 44.
19 Desde 1963 a Sociedade identifica a "prostituta" com a religião falsa. Veja "Babylon The Great Has Fallen!" God's Kingdom Rules! ["Caiu Babilónia a Grande!" O Reino de Deus Já Domina], 1963.
20 Louis Gasper, The Fundamentalist Movement 1930-1955 [O Movimento Fundamentalista 1930-1955], Grand Rapids: Baker Book House, 1981 (Reimpressão da edição de 1963), pp. 49, 50.
21 Gasper, p. 52.