2006-02-17

O Leite Materno, o Sangue e as Testemunhas de Jeová

O Leite Materno, o Sangue e as Testemunhas de Jeová

Colleen Ralson


No seu livro intitulado Jehovah's Witnesses and Blood Transfusions [As Testemunhas de Jeová e as Transfusões de Sangue], Jerry Bergman diz que a primeira condenação directa das transfusões de sangue que as TJ fizeram nas suas publicações foi em 22 de Dezembro de 1943, ao falarem das imunizações (p.14). Mais tarde, a Watchtower [Sentinela] de 1.º de Dezembro de 1944 radicalizou a sua posição com proibições contra comer sangue ou aceitar transfusões de sangue (ibid, p.14). Nos anos seguintes as declarações da Sociedade para as Testemunhas tornaram-se cada vez mais fortes e mais específicas, até que em 1961 decidiu-se desassociar TJ que aceitassem uma transfusão de sangue (ibid, p.17).

Esta posição das TJ contra as transfusões de sangue ainda se mantém hoje, e elas preferem morrer em vez de aceitarem uma transfusão de sangue para si mesmas ou para os seus filhos. Já foi trazido à atenção das TJ que comer sangue não é o mesmo que aceitar uma transfusão de sangue pois estão envolvidos dois sistemas distintos do corpo, o sistema cardiovascular e o sistema digestivo. Mas de nada adiantou, as TJ continuam a dizer convictamente que aceitar uma transfusão é o mesmo que "comer" sangue.

Talvez devesse ser dito às TJ que uma consequência lógica da sua posição é que uma mãe que amamente o seu filho está a violar o mandamento de Jeová pois permite que o seu bebé "coma" sangue. Pouco depois do nascimento de uma criança, aproximadamente no segundo dia depois do parto, uma substância chamada colostrum [utilizamos aqui a designação inglesa, pois não sabemos ao certo o nome que a substância tem em português], um soro branco, é produzido pela mãe e transmitido ao bebé através do leite.

"A secreção do colostrum continua durante cerca de uma semana, com uma conversão gradual para leite maduro", (Williams Obstetrics, 15.ª edição, p.378).

"Anticorpos" e "outros factores de resistência do hospedeiro, bem como imunoglobinas, têm sido descritas no colostrum e no leite humano. Estes incluem componentes de complemento, macrophages, linfócitos, lactoferrin, lactoperoxidase e lysozyme" [mantemos as designações inglesas], (ibid, p.378; ênfase acrescentada).

O Taber's Cyclopedic Medical Dictionary [Dicionário Médico Enciclopédico de Taber] explica que um macrophage é uma célula do sistema reticuloendotelial do corpo, são as células móveis que têm a capacidade de ingerir matéria (bactérias, por exemplo) existente no corpo. Este grupo de células inclui também os monócitos, que se decompõem em leucócitos, que são glóbulos brancos! (pp. R25 e L20). [Nota: as TJ não aceitam glóbulos brancos!]

Taber diz ainda que um linfócito também é um corpúsculo branco do sangue... ["glóbulo branco" é talvez uma tradução mais acertada para "white blood corpuscle"] e que normalmente constitui cerca de 25-30 porcento de todos os glóbulos brancos", (ibid, p. L44; ênfase acrescentada).

Isto coloca as Testemunhas de Jeová perante um dilema:

Será que Jeová criaria o corpo humano de um modo tal que se uma mãe amamentar de forma natural o seu bebé recém nascido, ela está a fazê-lo "comer" sangue [especificamente: glóbulos brancos], que segundo a Sociedade diz, Jeová proíbe?


Nota do Tradutor: Raymond Franz, ex-membro do Corpo Governante das Testemunhas de Jeová, comentou este assunto no seu livro In Search of Christian Freedom [Em Busca de Liberdade Cristã], p.289. Ele escreveu:

A ausência de quaisquer bases morais ou lógicas para essa proibição é também vista no facto de o leite humano conter leucócitos, de facto, contém mais leucócitos do que se podem encontrar numa quantidade equivalente de sangue. O sangue contém cerca de 4.000 a 11.000 leucócitos por milímetro cúbico, enquanto o leite de uma mãe pode conter, durante os primeiros meses de aleitação, até 50.000 leucócitos por milímetro cúbico. Isto representa entre cinco e doze vezes mais do que a quantidade presente no sangue!9

9 The New Encyclopædia Britannica (A Nova Enciclopédia Britânica), Macropœdia, Vol. 15 (1987), página 135; J. H. Green, An Introduction to Human Physiology (Uma Introdução à Fisiologia Humana), 4.ª ed. (Oxford: Oxford University Press, 1976, página 16). Acerca da quantidade de leucócitos no leite humano, veja Armond S. Goldman, Anthony J. Ham Pong, e Randall M. Goldblum, "Host Defenses: Development and Maternal Contributions," Year Book of Pediatrics ("Defesas do Hospedeiro: Contribuições do Desenvolvimento e Maternais," Anuário de Pediatria; Chicago: Year Book Medical Publishers, Inc., 1985), página 87.