As Testemunhas de Jeová e o Regime de Hitler

Mehmet Aslan, Grenzach-Wyhlen (Alemanha)

Índice:

  1. As Alegações 'Heróicas' das Testemunhas de Jeová
  2. Cortejando o Favor de Hitler: A Atitude das Testemunhas em Relação ao Serviço Militar
  3. Cortejando o Favor de Hitler: A Atitude Anti-Semita dos Líderes das Testemunhas de Jeová
  4. Cortejando o Favor de Hitler: A Declaração de 25 de Junho de 1933
  5. Como as Testemunhas de Jeová Foram Ilegalizadas: O Caso de Ewald Vorsteher
  6. Os Traidores: Fritz Winkler, Erich Frost, Konrad Franke, Julius Riffel, et al.
  7. Os Traidores: O Artigo na Revista Der Spiegel de 19 de Julho de 1961
  8. Os Hipócritas: Serviço Militar Permitido na Suíça, Proibido na Alemanha
  9. Verificando as Fontes Referidas Pelas Testemunhas de Jeová
  10. Os Encobrimentos das Testemunhas de Jeová: Análise das Alegações Históricas Delas
  11. Conclusão: As Testemunhas de Jeová e o Regime de Hitler

Parte 1: As Alegações 'Heróicas' das Testemunhas de Jeová

Mehmet Aslan, Grenzach-Wyhlen (Alemanha)


As 'alegações heróicas das Testemunhas de Jeová' a respeito da era de Hitler são documentadas na revista Despertai! de 22 de agosto de 1995. O título dessa edição era "O Holocausto -- Quem denunciou? 50.° aniversário da libertação dos campos de concentração 3-15".

Logo na página 2 fica claro que as Testemunhas de Jeová fizeram isso (embora o nome delas não seja mencionado, é esse o sentido de todo o artigo) e 'denunciaram'. Lemos:

"uma voz há anos expunha as atrocidades nazistas. Mas, quem deixou de denunciar?" (Despertai!, 22 de agosto de 1995, p. 2)

Num artigo intitulado "Uma voz no silêncio" as declarações da revista tornam-se mais claras. Novamente, é levantada a pergunta:

"Quem denunciou? Quem se omitiu? [...] No entanto, mesmo antes [itálico no original] da instalação dos campos de morte, uma voz proclamava os perigos do nazismo, por meio de Despertai!, a revista que você tem nas mãos. Originalmente chamada de A Idade de Ouro, mudou de nome para Consolação, em 1937. A partir de 1929, essas revistas, publicadas pelas Testemunhas de Jeová, alertaram corajosamente a respeito dos perigos do nazismo, mostrando-se à altura do que proclamava a capa: "Jornal de realidade, esperança e coragem". [...] Enquanto o mundo em geral desconhecia [...] as Testemunhas de Jeová não podiam se calar [...] e não temiam denunciar." (Despertai!, 22 de agosto de 1995, p. 3)

1. Na revista, alega-se que a partir de 1929 as Testemunhas de Jeová alertaram corajosamente a respeito dos perigos do regime de Hitler.

2. Alega-se que "Enquanto o mundo em geral desconhecia [...] as Testemunhas de Jeová não podiam se calar".

Nas páginas 4 e 5, são dadas as razões por que elas alegadamente "não temiam denunciar":

"Em retrospecto, pode-se dizer que o choque entre as Testemunhas de Jeová e o nazismo, ou nacional-socialismo, era totalmente inevitável. Por quê? Por causa de intransigentes exigências nazistas que esbarravam em três das fundamentais crenças bíblicas das Testemunhas de Jeová: (1) Jeová Deus é o Soberano Supremo. (2) Os cristãos verdadeiros são politicamente neutros. (3) Deus ressuscitará os que lhe forem fiéis até a morte. [...] Imitando os apóstolos de Jesus, elas "não fazem parte do mundo". (João 17:16) São politicamente neutras." (Despertai!, 22 de agosto de 1995, pp. 4, 5)

3. Na revista alega-se que o choque era totalmente inevitável porque "Os cristãos verdadeiros são politicamente neutros".

Mais uma vez a revista repete a alegação de que logo em 1929, as Testemunhas de Jeová tinham enfrentado o regime de Hitler. Na página 6 dizem:

"Em 1929, mais de três anos antes de Hitler chegar ao poder, a edição em alemão de A Idade de Ouro destemidamente declarou: "O Nacional-Socialismo é ... um movimento ... diretamente a serviço do inimigo do homem, o Diabo."" (Despertai!, 22 de agosto de 1995, p. 6)

4. Na revista, é feita a alegação de que a revista A Idade de Ouro em 1929 tinha publicado esta declaração:

"O Nacional-Socialismo é ... um movimento ... diretamente a serviço do inimigo do homem, o Diabo."" (Despertai!, 22 de agosto de 1995, p. 6)

Sob o subtítulo "Começam os ataques", a revista tenta descrever como foi que finalmente as Testemunhas de Jeová foram banidas sob o regime de Hitler; na página 7 dizem:

"A inabalável neutralidade das Testemunhas de Jeová e sua lealdade ao Reino de Deus eram inaceitáveis ao governo de Hitler. Os nazistas não pretendiam tolerar qualquer recusa de apoio à sua ideologia." (Despertai!, 22 de agosto de 1995, p. 7)

Segundo a revista, a conseqüência foi esta:

"Logo depois do congresso em Berlim, os nazistas voltaram a confiscar a sede em Magdeburgo, em 28 de junho de 1933. [...] Logo as Testemunhas passaram a ser despedidas do emprego. [...] Apesar desses ataques iniciais, as Testemunhas de Jeová mantiveram-se firmes e denunciaram publicamente a opressão e a injustiça." (Despertai!, 22 de agosto de 1995, p. 7)

5. Na revista, alega-se que, em 28 de junho de 1933, as Testemunhas de Jeová foram banidas devido à sua posição de "neutralidade".

Na página 8 é explicado como as Testemunhas de Jeová alegadamente expuseram [ou denunciaram] as atrocidades do regime nazi. Na página 9 dizem:

"As Testemunhas de Jeová foram os primeiros alvos dos abusos nazistas, mas elas também denunciaram com veemência as atrocidades contra os judeus, os poloneses, os deficientes físicos e outros." (Despertai!, 22 de agosto de 1995, p. 9)

6. A revista alega que as Testemunhas de Jeová também denunciaram o sofrimento de outras pessoas -- incluindo o dos judeus. Depois, nas páginas 10-13, é documentado como as Testemunhas prosseguiram denunciando Hitler. No último artigo desse número da revista, intitulado "Por que as igrejas se calaram", as igrejas da cristandade são condenadas nos termos mais fortes, por terem sido negligentes em enfrentar o regime de Hitler. Na página 14 a revista apresenta a seguinte razão para explicar por que as igrejas se calaram:

"É que o clero da cristandade e seus rebanhos haviam abandonado os ensinos da Bíblia e preferido apoiar o Estado político." (Despertai!, 22 de agosto de 1995, p. 14)

A seguir ao subtítulo da página 15, a revista fala de modo muito arrojado:

"As Testemunhas de Jeová são totalmente diferentes das religiões do mundo. Não sendo parte do mundo, não participam nas guerras das nações. [...] Sim, obedecendo às instruções de Cristo, elas têm amor entre si. (João 13:35) Isto significa que jamais vão à guerra nem ferem intencionalmente outros. [...] A professora Christine King arrematou muito bem a questão: "As Testemunhas de Jeová realmente denunciaram. Denunciaram desde o início. Denunciaram em uníssono. E denunciaram com tremenda coragem, o que é uma lição para todos nós." (Despertai!, 22 de agosto de 1995, p. 15)

Ninguém pode negar que as Testemunhas de Jeová foram perseguidas sob o regime de Hitler. No entanto, será que a História prova mesmo que o comportamento delas durante esse regime foi tão impecável como elas descrevem?

[N. do T.: as partes seguintes desta série de artigos escritos por Mehmet Aslan mostrarão que as 'alegações heróicas' das Testemunhas de Jeová são falsas.]

Os fac-símiles incluídos na edição alemã da revista Despertai! [de 22 de agosto de 1995], scaneados a 300 dpi, estão disponíveis no CD-ROM "Jehovah's Witnesses Database" [Base de Dados Sobre as Testemunhas de Jeová] que pode ser comprado de Herbert Raab, Lübecker St. 40, 45145 Essen, Germany.


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